terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

NORMA E CONSCIÊNCIA EM ALGUNS DOCUMENTOS DA IGREJA

 



CURSO DE TEOLOGIA PASTORAL

FACULDADE CATÓLICA DO AMAZONAS-MANAUS

 

 

GAUDIUM ET SPES (1965)

16. No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado(9). A consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser (10). Graças à consciência, revela-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo (11). Pela fidelidade à voz da consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual e social. Quanto mais, portanto, prevalecer a recta consciência, tanto mais as pessoas e os grupos estarão longe da arbitrariedade cega e procurarão conformar-se com as normas objectivas da moralidade. Não raro, porém, acontece que a consciência erra, por ignorância invencível, sem por isso perder a própria dignidade. Outro tanto não se pode dizer quando o homem se descuida de procurar a verdade e o bem e quando a consciência se vai progressivamente cegando, com o hábito do pecado.

 

JOÃO PAULO II - VERITATIS SPLENDOR (1993)

57. O mesmo texto da Carta aos Romanos, que nos fez ver a essência da lei natural, também indica o sentido bíblico da consciência, especialmente na sua conexão específica com a lei: «Porque, quando os gentios, que não têm lei, cumprem naturalmente os preceitos da lei, não tendo eles lei, a si mesmos servem de lei. Deste modo, demonstram que o que a lei ordena está escrito nos seus corações, dando-lhes testemunho disso a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os» (Rm 2, 14-15).

De acordo com as palavras de S. Paulo, a consciência, de certo modo, põe o homem perante a lei, tornando-se ela mesma «testemunha» para o homem: testemunha da sua fidelidade ou infidelidade relativamente à lei, ou seja, da sua essencial rectidão ou maldade moral. A consciência é a única testemunha: o que acontece na intimidade da pessoa fica velado aos olhos de quem vê de fora. Ela dirige o seu testemunho somente à própria pessoa. E, por sua vez, só esta conhece a própria resposta à voz da consciência.

58. Jamais se apreciará adequadamente a importância deste íntimo diálogo do homem consigo mesmo. Mas, na verdade, este é o diálogo do homem com Deus, autor da lei, modelo primeiro e fim último do homem. «A consciência — escreve S. Boaventura — é como o arauto de Deus e o seu mensageiro, e o que diz não o ordena de si própria mas como proveniente de Deus, à semelhança de um arauto quando proclama o édito do rei. E disto deriva o facto de a consciência ter a força de obrigar».Portanto, pode-se dizer que a consciência dá ao próprio homem o testemunho da sua rectidão ou da sua maldade, mas conjuntamente, e antes mesmo, é testemunho do próprio Deus, cuja voz e juízo penetram no íntimo do homem até às raízes da sua alma, chamando-o fortiter et suaviter à obediência: «A consciência moral não encerra o homem dentro de uma solidão intransponível e impenetrável, mas abre-o à chamada, à voz de Deus. Nisto, e em nada mais, se encontra todo o mistério e dignidade da consciência moral: em ser o lugar, o espaço santo no qual Deus fala ao homem».

59. S. Paulo não se limita a reconhecer que a consciência faz de «testemunha», mas revela também o modo como ela cumpre uma tal função. Trata-se de «pensamentos», que acusam ou defendem os gentios relativamente aos seus comportamentos (cf. Rm 2, 15). O termo «pensamentos» põe em evidência o carácter próprio da consciência, o de ser um juízo moral sobre o homem e sobre os seus actos: é um juízo de absolvição ou de condenação, segundo os actos humanos são ou não conformes com a lei de Deus inscrita no coração. E é precisamente acerca do julgamento dos actos e, simultaneamente, do seu autor e do momento da sua definitiva actuação que fala o Apóstolo, no mesmo texto: «Como se verá no dia em que Deus julgar, por Jesus Cristo, as acções secretas dos homens, segundo o meu Evangelho» (Rm 2, 16).

O juízo da consciência é um juízo prático, ou seja, um juízo que dita aquilo que o homem deve fazer ou evitar, ou então avalia um acto já realizado por ele. É um juízo que aplica a uma situação concreta a convicção racional de que se deve amar e fazer o bem e evitar o mal. Este primeiro princípio da razão prática pertence à lei natural, mais, constitui o seu próprio fundamento, enquanto exprime aquela luz originária sobre o bem e o mal, reflexo da sabedoria criadora de Deus, que, como uma centelha indelével (scintilla animae), brilha no coração de cada homem. Mas, enquanto a lei natural põe em evidência as exigências objectivas e universais do bem moral, a consciência é a aplicação da lei ao caso particular, a qual se torna assim para o homem um ditame interior, uma chamada a realizar o bem na realidade concreta da situação. A consciência formula assim a obrigação moral à luz da lei natural: é a obrigação de fazer aquilo que o homem, mediante o acto da sua consciência, conhece como um bem que lhe é imposto aqui e agora. O carácter universal da lei e da obrigação não é anulado, antes fica reconhecido, quando a razão determina as suas aplicações na realidade concreta. O juízo da consciência afirma por último a conformidade de um certo comportamento concreto com a lei; ele formula a norma próxima da moralidade de um acto voluntário, realizando «a aplicação da lei objectiva a um caso particular»

PAPA FRANCISCO - AMORIS LAETITIA (2016)

300. Se se tiver em conta a variedade inumerável de situações concretas, como as que mencionamos antes, é compreensível que se não devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canónico, aplicável a todos os casos. É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares, que deveria reconhecer: uma vez que «o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos», as consequências ou efeitos duma norma não devem necessariamente ser sempre os mesmos. Os sacerdotes têm o dever de «acompanhar as pessoas interessadas pelo caminho do discernimento segundo a doutrina da Igreja e as orientações do bispo. Neste processo, será útil fazer um exame de consciência, através de momentos de reflexão e arrependimento. Os divorciados novamente casados deveriam questionar-se como se comportaram com os seus filhos, quando a união conjugal entrou em crise; se houve tentativas de reconciliação; como é a situação do cônjuge abandonado; que consequências têm a nova relação sobre o resto da família e a comunidade dos fiéis; que exemplo oferece ela aos jovens que se devem preparar para o matrimónio. Uma reflexão sincera pode reforçar a confiança na misericórdia de Deus que não é negada a ninguém». Trata-se dum itinerário de acompanhamento e discernimento que «orienta estes fiéis na tomada de consciência da sua situação diante de Deus. O diálogo com o sacerdote, no foro interno, concorre para a formação dum juízo correto sobre aquilo que dificulta a possibilidade duma participação mais plena na vida da Igreja e sobre os passos que a podem favorecer e fazer crescer. Uma vez que na própria lei não há gradualidade (cf. Familiaris consortio, 34), este discernimento não poderá jamais prescindir das exigências evangélicas de verdade e caridade propostas pela Igreja. Para que isto aconteça, devem garantir-se as necessárias condições de humildade, privacidade, amor à Igreja e à sua doutrina, na busca sincera da vontade de Deus e no desejo de chegar a uma resposta mais perfeita à mesma». Estas atitudes são fundamentais para evitar o grave risco de mensagens equivocadas, como a ideia de que algum sacerdote pode conceder rapidamente «excepções», ou de que há pessoas que podem obter privilégios sacramentais em troca de favores. Quando uma pessoa responsável e discreta, que não pretende colocar os seus desejos acima do bem comum da Igreja, se encontra com um pastor que sabe reconhecer a seriedade da questão que tem entre mãos, evita-se o risco de que um certo discernimento leve a pensar que a Igreja sustente uma moral dupla.

ALGUNS ASPECTOS DA PROPOSTA PASTORAL DO CONCILIO VATICANO II

 




 

Paolo Cugini

 

 

 

 

Apesar de todos os esforços envidados por Joseph Ratzinger para demonstrar a continuidade do Concílio Vaticano II com os concílios anteriores [1], não há dúvida de que o Vaticano II foi uma verdadeira lufada de ar fresco, que rompeu com o estilo de Igreja vigente e indicou um novo caminho. Se quisermos falar de continuidade é com a Igreja dos primeiros séculos. Não é por acaso que o próprio Concílio Vaticano II, em diversas ocasiões e em vários documentos, convidou os fiéis a regressar às fontes, a procurar as razões do seu caminho na Igreja da idade de ouro, a Igreja dos Padres. Quais são, então, os aspectos que contaminaram toda a Igreja, apesar dos esforços feitos depois do Concílio para amortecer o seu impacto inovador?

 

1.   O Concilio: uma questão de estilo

Primeiro de tudo o estilo. O teólogo francês Christoph Theobald [2]esclarece que o tão alardeado princípio da pastoral, como chave hermenêutica dos textos do Concílio Vaticano II, não emerge diretamente da estrutura do corpus, mas é de natureza estilística: “Indica um caminho de proceder, uma conversão ou uma reforma individual e colectiva, como sublinha com força o discurso final de Paulo VI» [3]. É a forma de gerir o conflito e a violência dentro da Igreja que dá ao Vaticano II a sua credibilidade evangélica. São várias as passagens em que fica evidente esta escolha do estilo evangélico. Theobald indica aquela passagem da Dignitatis Humanae em que, na busca da verdade, o texto mostra respeito pelas verdades dos outros. Nesta situação, como noutras, o Concílio Vaticano II opta pelo estilo do diálogo em vez da condenação, como tinha acontecido nos concílios anteriores. É por isso que, segundo Theobald, falar em estilo pastoral é uma forma de reconhecer a mudança de paradigma na forma de enfrentar os problemas na Igreja. Para confirmar esta opinião, Theobald relata a tese de John W. O'Malley segundo a qual a novidade do Concílio consiste no evento linguístico que ele representa. “Pouco a pouco – afirma O'Malley – o Vaticano II configurou um novo jogo linguístico, isto é, uma nova retórica única em si, que culmina na Gaudium et Spes [4].

Segundo O'Malley, o estilo resulta de dois elementos: um gênero literário e uma terminologia adequada a ele. O'Malley identifica o gênero literário na eloqüência epidítica que substitui a judicial. No que diz respeito à terminologia, identifica cinco traços: a acentuação das relações horizontais; a insistência no serviço em detrimento do controle; orientação para o futuro; a substituição de uma terminologia inclusiva pela de exclusão; a preponderância da participação ativa de todos sobre a adesão passiva. Theobald sustenta que para identificar os traços distintivos do estilo pastoral do Vaticano II é necessário ligar o corpus ao próprio evento conciliar, que entre outras coisas é a indicação da Officina Bolognese liderada por Giuseppe Alberigo. Se levarmos a sério o princípio da pastoralidade indicado por João XXIII no Concílio, é necessário colocar a unidade no modo de proceder, em vez de procurar os géneros literários. Esta forma de proceder “ consiste em compreender imediatamente o corpus textual do Vaticano II como expressão de uma experiência extratextual, uma experiência de escuta da palavra de Deus e de encontro eficaz com a infinita variedade daqueles a quem a assembleia deseja dirigir-se” [5].

Segundo Theobald, o estilo pastoral do Vaticano II não pode ser reduzido nem à configuração sincrónica de um acontecimento linguístico ((O'Malley) nem à experiência histórica dos actores conciliares (escola de Bolonha), " mas enquadra-se bem num contexto evangélico". modo de proceder e de chegar a um acordo, inscrito no corpus textual aberto que, precisamente por causa desta <abertura>, permanece por sua vez intimamente ligado a um modo de se colocar hic et nunc entre a Palavra de Deus e os seus possíveis receptores” [6]. O princípio pastoral e ecuménico está carregado de duas implicações importantes: a sua ligação com a ideia de reforma e a sua relação com o enraizamento histórico e contextual dos destinatários do Evangelho são progressivamente explicitadas e refluem na forma gradual do magistério. O autor está consciente de que a adoção de um modo de proceder evangélico não pode ser imposta, mas depende da conversão não programável dos participantes. Talvez este tenha sido o problema de adotar um estilo dialógico e atento à diversidade dentro do Conselho formado por muitas pessoas de todos os cantos do mundo.

Para mostrar o valor da recepção do estilo pastoral do Concílio Vaticano II, Teobaldo oferece alguns exemplos. A primeira é a Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi de 1974. Como afirmou o próprio autor da Exortação, o objetivo principal do Concílio era tornar a Igreja do século XX cada vez mais adequada para anunciar o Evangelho à humanidade no século XX. O outro exemplo, relatado pelo autor, é a encíclica Ut Unum sint de João Paulo II , de 1995, que propõe uma releitura do que surgiu no debate teológico sobre o tema do ecumenismo, em harmonia com o documento conciliar Unitatis redintegração. Segundo Theobald, o estilo do texto é evangélico e narrativo. O tom dialógico e aberto também pode ser percebido na pergunta que o Papa faz para ajudá-lo a realizar o melhor possível o serviço do primado. O último exemplo proposto de recepção do estilo de Pastoral indicado pelo Concílio Vaticano II é o encontro inter-religioso de Assis em 1986. A principal novidade deste evento é, segundo Theobald, a visualização, os gestos de respeito pela diferença religiosa no coração da humanidade. Há uma grande mensagem de abertura que vem deste acontecimento memorável: “Uma nova forma de articular a alteridade do outro e o que nos une: há uma forma de compreender o fundamento comum da comunidade humana que não é a superação ou supressão da diferença religiosa mas, pelo contrário, respeito por esta última em Deus [7].

No terceiro capítulo da primeira parte, Theobald aborda o problema da recepção do Concílio Vaticano II, colocando em segundo plano a função normativa da história na teologia católica. Diante dos critérios clássicos de interpretação - Teobaldo cita os lugares teológicos de Melchior Cano em que a história ocupava o décimo e último lugar - o Concílio Vaticano II, justamente pelo seu caráter pastoral, parece ter um valor canônico menor que os anteriores. Ou é um género novo que provocou a própria mutação do “dogmático” e do “doutrinário” ao inseri-los na mesma relação pastoral que é marcada pela história. Para Theobald a resposta só pode ser encontrada dando espaço à história do Vaticano II. Desde 1962 tem sido destacada a articulação entre estilo pastoral e estilo ecumênico. Karl Rahner destacou isto pela primeira vez e a maioria dos oradores serão inspirados por este argumento. Theobald salienta que a partir do terceiro e quartos períodos do Concílio serão especificadas duas outras implicações do princípio da pastorícia. A primeira diz respeito à introdução do vocabulário da “reforma”, que implica levar em consideração a receptividade ecuménica. A segunda determinação diz respeito à posição histórica e cultural dos receptores e, consequentemente, à historicidade da própria revelação. Num certo sentido, o princípio da pastorícia permanece controverso e não tem efeito de retorno na interpretação global do corpus do Concílio. Tudo isto porque, para além das primeiras aparências que viram emergir a centralidade do tema eclesiológico na elaboração dos textos, na realidade esta centralidade desaparece à medida que o Concílio continua. Há, segundo Theobald, uma abertura histórica que advém do processo de aprendizagem dentro do Concílio, o que significa que: “ a formulação relativamente completa do princípio da pastorícia de 1965 permanece sem efeito de retorno no tratamento de um certo número de questões particulares, na compreensão do vínculo indissolúvel entre o <doutrinário> e o <pastoral> e, mais ainda, na compreensão do estatuto normativo do corpus conciliar na sua totalidade [8]. É por esta razão que Theobald se pergunta se a elaboração de um catecismo como um compêndio de toda a doutrina católica, proposta em 1985 e criada em 1992, é o sintoma de uma confusão que hoje é ainda mais profunda.

Sobre o problema do valor teológico dos textos, Theobald apoia a tese de O. Semmelroth . Na verdade, é este autor quem sustenta que, se o Concílio não utilizou os meios de definição dogmática, é sempre tendo em vista a forma pastoral que molda também o compromisso doutrinal. Desta forma, o Concílio conseguiu integrar a consciência histórica do nosso tempo. A recepção do princípio da pastoral pelo Concílio exigiu, sem dúvida, um longo processo de aprendizagem e assimilação, mesmo nas décadas que se seguiram ao próprio Concílio. Este princípio da pastoral, que fala da historicidade da verdade anunciada por Jesus, só é compreensível se tivermos em conta que a relação original entre Jesus e os seus seguidores é a fundadora da própria historicidade do processo da tradição. É, então, a criatividade dos discípulos, como receptores activos da mensagem de Jesus, que se torna visível no caminho conciliar de recepção e transmissão do Evangelho às novas gerações, com a ajuda do Espírito Santo. É por esta razão que Theobald afirma que: “ O Concílio Vaticano II inaugurou a própria mutação da dogmática, ligada na sua forma clássica ao cristianismo, e colocou a “normatividade”, inscrita na identidade cristã, num outro nível, que está dentro do relação pastoral tradicional, que também é sempre marcada pelo seu contexto cultural e histórico” (138).

 Inspirando-se na célebre expressão de Bento XVI que, a propósito do Concílio Vaticano II, falou da hermenêutica da reforma, Theobald indica quatro etapas da referida reforma. Em primeiro lugar, o Vaticano II é sem dúvida o primeiro Concílio geral que põe em jogo a totalidade da tradição cristã nas suas diversas etapas, mesmo que esta consciência pertença ao período pós-conciliar. Em segundo lugar, Teobaldo sublinha o facto de a aquisição da Dei Verbum consistir em ter iniciado a integração entre as fases patrística, medieval e moderna na tradição da Igreja. Nessa perspectiva, a tradição no sentido processual do termo torna-se o conceito integrador. Em terceiro lugar, Theobald apoia a tese de Rahner que em 1966 afirmou que o Vaticano II representa o primeiro Concílio de uma Igreja no processo de globalização. Finalmente, ao percebermos a tarefa de reinterpretar o Evangelho para o nosso tempo, podemos questionar-nos novamente sobre o estatuto normativo dos textos do Vaticano II e do seu género. Su pode assim afirmar que: “O Concílio oferece-nos uma visão do mistério da Igreja no coração da história da humanidade iluminada pela luz do Deus Trinitário” [9].

Segundo Theobald, o principal desafio hoje consiste em aprofundar os modos de proceder que o concílio soube inventar. O que está em jogo numa leitura genética ou processual do Vaticano II é poder colocar o futuro do Evangelho e da Igreja na sociedade nas mãos de todo o povo de Deus. No capítulo sétimo, Theobald reflete sobre o conceito de estilo que, segundo ele, está implicado no princípio pastoral proposto ao Concílio por João XXIII. São três aspectos indispensáveis que o conceito de estilo evoca. Primeiro, a singularidade de uma obra ou a criatividade única do seu autor. Este trabalho criativo não pode desenvolver – e este é o segundo aspecto – o seu efeito específico apenas num processo específico de encontro onde: “o espectador, o ouvinte ou o leitor se envolvem pessoalmente no processo criativo de colocá-lo em forma artística [10]. Este efeito do trabalho sobre o seu receptor desdobra-se, em terceiro lugar, no mundo. O estilo, então, fala de uma forma de habitar o mundo. O Vaticano II ajudou a compreender que o cristianismo não pode ser plenamente compreendido através de afirmações dogmáticas, mas deve ser compreendido como um processo de encontros e relações mútuas. É isso que se vislumbra no estilo de Jesus, que não se limitava a oferecer informações, mas transmitia conteúdos através das relações que estabelecia. Segundo Theobald, a perspectiva fundadora da Lumen Gentium e o ponto de partida da visão eclesiogenética da Ad Gentes podem convergir precisamente a partir desta indicação do estilo evangélico, que remete sempre a uma reciprocidade entre relação e anúncio. “ A presença eclesial do cristianismo mostra-se como um processo específico de encontros e relações mútuas no mundo, que se torna sacramental quando as pessoas envolvidas neste processo na sua singularidade, especialmente as últimas de um grupo ou sociedade, tornam-se sinais messiânicos [11]. A Lumen Gentium aprofunda a discussão sobre o estilo no capítulo relativo à vocação universal à santidade na Igreja (c. V). Considerando o progresso da Igreja na Europa, Theobald afirma que o seu futuro só pode ser abordado através de uma relação criativa com as origens do Cristianismo. Por isso, o autor sublinha como etapas significativas do renascimento pela Igreja de elementos importantes do estilo das origens, a hospitalidade, a relação com a Sagrada Escritura, a percepção das dimensões corporais da fé, a tomada em consideração da universalidade da Igreja e, finalmente, a vida contemplativa.

No último capítulo Teobald aborda o tema da recepção da Gaudium et Spes. O autor centra-se em analisar detalhadamente, sobretudo, a recepção franco-alemã do princípio dos sinais dos tempos. Theobald sublinha a tipologia da recepção germano-alemã tal como foi apresentada por Hans-Joachim Sander, que argumentou que: “a novidade fascinante e perturbadora da constituição consiste na sua forma de articular o que não pode ser relativizado, isto é, a verdade, e o que é relativo, isto é, os lugares onde se questiona . ” [12]Os sinais dos tempos são, portanto, segundo Sander, indícios de lugares em meio a este tempo. Libertam algo que está silenciado, mas que é representativo da luta pela humanidade do homem e por condições de vida dignas dele. O Cardeal Lehman, a propósito deste debate, sustentou que a versão final da Gaudium et Spes deve ser relida hoje, prestando atenção a muitas partes do texto que, segundo ele, envolvem diferentes níveis, por vezes cheios de tensões e contradições. Em todo o caso, segundo Teobaldo, é necessário admitir as dificuldades que dependem do carácter incompleto do texto da Gaudium et Spes e do carácter sectorial da sua abordagem pelas diferentes disciplinas teológicas. O autor destaca também o novo contexto cultural que provoca o discernimento de novos sinais dos tempos que devem ser interpretados. A este respeito, Teobaldo indica um triplo critério de discernimento. Em primeiro lugar, a fé, que deve ser entendida como histórias de cura, isto é, como uma fé que surge no contacto com o Senhor, mas que já está em acção no seu interlocutor. A Gaudium et Spes conhece o equivalente desta fé antropológica que define com a ajuda de noções como a dignidade humana e a vocação do homem. Outro elemento importante desta fé, tal como é apresentada nos evangelhos, é a sua presença naqueles que não fazem parte do povo de Israel. É a maravilha da fé do outro que constitui o segundo critério de discernimento na época atual. O último critério que Teobaldo sublinha é a fecundidade com que os acontecimentos messiânicos, produzidos pela fé, abrem a história de alguém e influenciam multidões. “ Este critério – sublinha o autor – encontra-se nos sinóticos, por exemplo na parábola do semeador, mas já está em ação na missão apostólica de Paulo. Dificulta o processo de discernimento porque o tipo de fecundidade messiânica para a qual tende nunca deixa de se misturar com os acontecimentos produzidos pela opinião pública e eclesial, formando com eles uma espécie de corpus permixtum [13].

Na conclusão, Theobald reitera que considera o Concílio Vaticano II o primeiro de uma Igreja que se tornou global e intercultural, mas, ao mesmo tempo, o último de um cristianismo euro-atlântico. Perante a possível crítica a uma leitura parcial em chave eurocêntrica dos textos do Concílio Vaticano II, especialmente no que diz respeito à Gaudium et Spes, o autor defende-se argumentando que “o catolicismo europeu e euro-atlântico permanece insubstituível na polifonia da as Igrejas particulares». Para além destas afirmações que abrem portas a muitas críticas, podemos acompanhar Theobald quando afirma que é possível abandonar uma leitura predominantemente eurocêntrica no contexto histórico actual, reflectindo sobre a consciência de que a sua visão messiânica e genética da Igreja é apoiada e atravessada por uma hermenêutica pastoral. Nessa perspectiva, percebe-se nas páginas dos textos conciliares o respeito absoluto pela alteridade do outro e, portanto, pela pluralidade de pontos de vista. Para o autor, esta sensibilidade é visível na centralidade dada aos pobres, em conformidade com a perspectiva dada pelo grupo conciliar “a Igreja dos pobres”. A maior surpresa de Teobaldo em relação ao debate pós-conciliar consiste na percepção do pouco espaço dado à liturgia. Apesar disso, devem ser retomadas e exploradas as recomendações do Sacrosantum Concilium sobre a participação ativa dos fiéis, que tinham a intenção de dar aos fiéis os traços de uma fé adulta.

O estilo evangélico de diálogo, mais do que de julgamento, de escuta, mais do que a presunção sumária de sentir-se obrigado a indicar ao mundo o que deve fazer, contaminou positivamente o caminho da Igreja. Os conselhos pastorais, órgãos sinodais nos vários níveis, representam sem dúvida o fruto positivo do esforço realizado pelo Concílio.

 

2.   A Igreja pobre e dos pobres

Outro elemento surgido no Concílio Vaticano II que contribuiu para contaminar toda a Igreja foi o debate sobre a Igreja pobre e os pobres. É verdade que pouco deste debate foi incluído nos documentos do Concílio. Na realidade as reflexões propostas e debatidas no Concílio deixaram uma marca profunda em muitos bispos, a ponto de contaminar as suas escolhas futuras nas dioceses a que pertencem. Para uma análise aprofundada do debate conciliar sobre o tema em questão, acompanhe o trabalho recente de Matteo Mennini, [14]que visa reconstruir um debate que marcou profundamente o Concílio Vaticano II e que ajuda a compreender melhor o significado do pontificado atual. do Papa Francisco, nomeadamente o debate sobre a Igreja e os pobres. Os dois pontos de referência desta investigação histórica são a actividade do grupo do Colégio Belga e o papel do seu principal animador, nomeadamente o padre francês Paul Gautheir [15]. A pesquisa busca contextualizar o debate eclesial no contexto dos acontecimentos para não correr o risco de reduzi-lo a uma simples disputa teológica interna. O trabalho está estruturado em três partes. Na primeira, Mennini reconstrói a gênese do tema em questão, apresentando também os principais protagonistas do debate conciliar sobre a Igreja dos pobres. O primeiro deles é o Papa João XXIII que na famosa mensagem radiofónica transmitida para anunciar a abertura do Concílio Vaticano II, anunciou que: “Diante dos países subdesenvolvidos a Igreja apresenta-se como é e quer ser, como a Igreja de todos, e particularmente da Igreja dos pobres [16]. Linguagem simples e clara que expressava o desejo de abrir um diálogo com o mundo sobre as questões candentes da atualidade e, entre elas, a desigualdade social. Além disso, o início da década de 60 do século passado ainda estava muito próximo do fim da Segunda Guerra Mundial e as nações estavam envolvidas na reflexão sobre o tipo de progresso económico a propor. “Afirmou-se uma perspectiva dinâmica que, a partir da Segunda Guerra Mundial e do paralelo ao processo de descolonização, substituiu a definição de atraso pela de subdesenvolvimento” [17].

O Papa João XXIII com as suas intervenções mostra que o Concílio Vaticano II não pretendia apenas parar para esclarecimentos no interior da Igreja, mas queria oferecer a sua contribuição para enfrentar as grandes questões do mundo contemporâneo. Uma figura importante no debate sobre a Igreja dos pobres à qual Mennini dedica muito espaço ao longo da pesquisa é o padre francês Paul Gauthier. Próximo das experiências dos irmãozinhos de Charles de Foucauld e atento à experiência dos padres operários já presentes na França desde a década de 1930, Gauthier distribuiu durante as primeiras semanas do Concílio um dossiê intitulado: “Jesus, a Igreja e os pobres”, que oferecerá aos bispos e teólogos a oportunidade de aprofundar a sua reflexão sobre a relação entre a Igreja e os pobres. O dossiê surgiu da percepção de que a igreja, tendo perdido contato com a classe trabalhadora, havia perdido contato com os pobres. Daí a questão central: a separação entre a Igreja e as massas trabalhadoras foi um sintoma da ruptura mais profunda entre a Igreja e Cristo? Gauthier colocou o dedo na ferida da percepção que o mundo tinha de uma Igreja distante das massas trabalhadoras: “Gauthier ligou a ideia de que Cristo havia entrado no mundo dos trabalhadores e dos pobres diretamente à doutrina de Mystici Corporis, na qual ele afirmou que aquilo que provém da plenitude divina de Cristo flui para a Igreja para que esta se assemelhe tanto quanto possível a Ele [18]. No dossiê Gauthier recordou a Igreja à sua vocação original de anunciar o Evangelho aos pobres e, para realizar este projeto, era necessário viver entre eles. O padre francês se tornaria o líder de um grupo de bispos reunidos em outubro de 1962 pelos bispos Himmer e Hakim para começar a refletir sobre as questões candentes do dossiê de Gauthier. O encontro produziu diversas conclusões e propostas, entre as quais a de eliminar os obstáculos que impediam a Igreja de mostrar ao mundo do trabalho a sua verdadeira natureza e missão. A percepção partilhada pelo grupo é que os pobres não conseguem aceitar as mensagens da Igreja porque ficam escandalizados com os sinais externos e o nível de vida dos seus membros. Dois membros do grupo, os Bispos Mercier e Hélder Camara, propuseram recorrer ao Papa para que o Concílio tratasse explicitamente da pobreza da Igreja. Mennini mostra o esforço do grupo de trabalho para desenvolver um texto que mostrasse a relação intrínseca entre a atenção aos pobres, a igreja pobre e a liturgia. Segundo o grupo, existe uma pompa litúrgica que ofende os pobres. A Igreja dos pobres deve, portanto, ser visível tanto no estilo de vida dos ministros como nas celebrações litúrgicas. “Não existe o perigo de que a suntuosidade dos móveis e das vestes litúrgicas possa constituir motivo de escândalo para quem assiste às cerimónias?” [19].

São observações deste tipo, expressas na sala do Conselho pelos representantes do colégio belga, que animaram os debates do Conselho. Foi expressa cada vez mais uma profunda preocupação por uma compreensão renovada da pobreza da Igreja como condição para a sua credibilidade no mundo e que a pobreza da Igreja não poderia ser simplesmente um tema entre outros. Segundo Mennini, foi precisamente esta forte presença do Colégio Belga no Concílio que provocou o debate da Igreja pobre e dos pobres mesmo fora das câmaras do Vaticano. Na verdade, o autor cita cartas pastorais de muitos bispos e revistas católicas que falam ampla e profundamente sobre o tema em questão. Entretanto, Paul Gauthier, verdadeiro líder do grupo de trabalho constituído sobre o tema da pobreza da Igreja, lançou em 1963 um novo livro no qual perguntava por que era tão difícil falar da Igreja de os pobres. Gauthier estava consciente de que o problema da Igreja dos pobres punha em causa a estrutura eclesiológica tradicional. “Para um cristão – sublinha o autor – Cristo está tão presente nos pobres como na Eucaristia e na hierarquia. Admitir isto significou muito mais do que uma orientação pastoral, não é a atualização de uma prática, mas do próprio conteúdo da fé” [20]. Tornou-se assim, cada vez mais claro que o movimento desencadeado pelas reuniões do Colégio Belga e, sobretudo, pela ação de Paul Gauthier, ultrapassou o âmbito do próprio Concílio e influenciou o debate pastoral de muitas dioceses. Os encontros no Colégio Belga deram início à promoção de uma experiência concreta e visível de pobreza na Igreja e de evangelização dos pobres. O próprio Gauthier iniciou uma reflexão sobre a pobreza numa perspectiva ecumênica e a relação da Igreja com o comunismo, que o grupo de trabalho olhou com grande preocupação pastoral. Durante a segunda sessão do Conselho, os membros do grupo do Colégio Belga reuniram-se para analisar o trabalho realizado. Monsenhor Himmer afirmou que, ao lado de aspectos positivos, incluindo a difusão da sensibilidade em relação ao tema da Igreja pobre e dos pobres entre os fiéis leigos, havia, no entanto, algumas dúvidas. Himmer argumentou que as próprias categorias nas quais ele vinha trabalhando há algum tempo não eram claras. “O que significa Igreja dos Pobres? Como foi entendida a presença de Cristo nos pobres? Qual é a relação entre uma Igreja que quer viver na pobreza, a evangelização dos pobres e as formas de ajuda paternalista?” [21]. 

O debate sobre a Igreja dos pobres torna-se cada vez mais tenso com o passar do tempo, até porque nem todos conseguem acompanhar a impetuosidade e as contínuas provocações de Paul Gauthier. Alguns exegetas e teólogos como De Lubac, Mollat e Martelet , depois de terem analisado os projetos de documentos produzidos pelo grupo para serem discutidos nas sessões conciliares, consideraram aqueles textos demasiado ideológicos e não isentos de erros graves.

Na terceira e última parte do livro Mennini aborda o tema da relação da Igreja com a modernidade. Encontramo-nos num ponto de viragem no Conselho. A morte do Papa João XXIII e a eleição de Paulo VI criaram muitas tensões tanto no mundo eclesial como civil. A grande questão que muitos se colocavam era perceber se o novo Papa tinha continuado no estilo do Papa João. Desde os primeiros movimentos, como afirma Mennini e, sobretudo, a primeira encíclica de Paulo VI, a Ecclesiam suam, dissipou todas as dúvidas. A encíclica, de facto, estabeleceu como ponto de partida a atitude daquele diálogo que tinha sido característico do estilo do Papa João. Um dos pontos mais quentes desta nova etapa conciliar a partir do tema que o livro trata, segundo o autor, gira em torno do novo livro de Paul Gauthier: Le Concile et l' Eglise des Pauvres . Segundo Mennini, o Texto de Gauthier, enviado em forma de manuscrito a Himmer e a vários bispos para coletar as primeiras opiniões, encontrou muita resistência. O problema do estilo, da forma correta de utilizar e propor as teses mais significativas da Igreja dos pobres desenvolvidas pelo grupo, começa cada vez mais a surgir. Mercier esperava que as aquisições teológicas do grupo do Colégio Belga fossem retrabalhadas por Congar e Mollat, a fim de estimular novas pesquisas, e assim garantir maiores garantias sobre o referencial teórico a ser apresentado na comissão conciliar. São estudadas diversas estratégias sobre como apresentar o problema da Igreja dos pobres no debate conciliar. Por um lado, há aqueles que sustentam que é necessário antes de tudo falar diretamente com Paulo VI e, por outro, aqueles que não consideram necessária tal abordagem. Neste contexto, o autor destaca a ação do então bispo de Bolonha Lercaro, coadjuvado por Giuseppe Dossetti. À medida que avançamos na reflexão percebemos cada vez mais que: “não bastava afirmar a necessidade do espírito de pobreza dos indivíduos, mas era preciso condenar o das instituições e, ainda mais, as formas modernas de usura, superando o caridade caritativa de esmola para desenvolver estruturas de cooperação em favor da autonomia dos pobres [22].

Neste ponto o debate se amplia para a busca das causas da pobreza. O Bispo Zoungrana do Alto Volta falou em nome de 70 bispos africanos, argumentando que o atraso no desenvolvimento, especialmente em África, se deveu a vários factores. Antes de mais nada foi necessário considerar a questão demográfica, o uso da terra, combinada com a limitada possibilidade de investimentos e a consequente falta de competitividade comercial dos países pobres. O debate na Câmara do Conselho continuou sobre o tema da questão dos trabalhadores e do comunismo. Pela narrativa relatada por Mennini podemos perceber a grande importância que tiveram as intervenções de Woytila, que fez questão de apresentar e argumentar os perigos do marxismo e, ao mesmo tempo, apresentar a Igreja como única alternativa a ele. A partir deste momento, as intervenções no debate conciliar centraram-se no tema do ateísmo dos pobres e dos trabalhadores influenciados pelo comunismo. Também neste caso foram esclarecedoras as reflexões propostas por Paul Gauthier: “O ateísmo dos pobres, diferente do dos ricos, escondeu uma oração, silenciada pela propaganda que abusou da ignorância das massas, pela miséria que causou um sentimento de abandono e injustiça . ”[23]

Segundo Gauthier, a condenação do comunismo pela Igreja teria distanciado ainda mais os trabalhadores e, portanto, os pobres, da Igreja. Muitos dos pedidos propostos tanto por Gauthier como pelo grupo reunido no Colégio Belga não foram aprovados ou foram aprovados de forma muito obscura. Foi por esta razão e com esta consciência que um grupo de cerca de sessenta bispos conciliares reuniu-se no dia 16 de Novembro de 1965, cerca de vinte dias após o encerramento do Concílio, para celebrar uma missa durante a qual assinaram um pacto que ficou na história como o pacto das catacumbas. Neste texto, os bispos presentes no evento declararam a sua disponibilidade para viver com sobriedade no que diz respeito à alimentação, à habitação e aos meios de transporte “de uma forma coerente com a vida quotidiana do nosso povo” [24]. Declararam também que não queriam possuir nada, confiando a gestão financeira a leigos. O compromisso estendeu-se também ao envolvimento dos irmãos e da sociedade civil neste estilo de sobriedade evangélica.

 

3.   Igreja Povo de Deus

O outro tema que contribuiu para repensar a forma como a Igreja se apresenta ao mundo e que a contaminou, foi a consciência de que, antes de ser uma hierarquia e de se apresentar como tal, a Igreja é o povo de Deus. Nos últimos anos, muitos estudos surgiram nesta forma de pensar a Igreja. Muito também se escreveu sobre a recuperação do conceito da Igreja como povo de Deus do ponto de vista bíblico. Parecem-me significativas as reflexões de P. Neuner, [25]pois afirma que, folheando as páginas dos documentos do Concílio Vaticano II, percebe-se como a Igreja não é mais pensada apenas em instituições e ministros ordenados e que o povo é mais amplo que eles.

Neuner analisa a ideia de leigo na concepção teológica dos Concílios Vaticano II. Depois de tomar consciência de que os textos preparatórios foram todos condicionados pela concepção eclesiológica dos últimos séculos, o autor passa à análise dos principais documentos conciliares. Folheando as páginas dos documentos do Concílio Vaticano II percebe-se como a Igreja não é mais pensada apenas nas instituições e nos ministros ordenados e que o povo é mais amplo do que eles. A reflexão sobre os leigos reúne a riqueza da investigação bíblico-patrística das décadas anteriores ao Concílio. “ Cada leigo, em virtude dos dons que lhe foram atribuídos, é ao mesmo tempo testemunha e instrumento vivo da missão da Igreja ” (LG 33). Já a partir de passos como este se percebe a intenção dos padres conciliares de ir além dos contrastes, de caminhar em direção a uma visão da Igreja como povo de Deus. Nesta perspectiva, Neuner sublinha a importância histórica do decreto sobre o apostolado de o laicato que afirma que os leigos são nomeados pelo Senhor para o apostolado. Nos mais diversos âmbitos típicos da complexidade do tempo presente, a missão da Igreja muitas vezes só pode ser exercida por leigos. Esta presença significativa dos leigos na comunidade é reiterada na Sacrosanctum Concilium, onde é sublinhada a participação activa de todos os fiéis na celebração eucarística. Neuner fala sem rodeios da ruptura das declarações conciliares sobre os leigos com respeito ao ensino oficial anterior. “A valorização dos leigos na Igreja é um dos pontos em que o Concílio se superou” [26]. Neuner reconhece, no entanto, que o Concílio Vaticano II foi extremamente atencioso com a sua minoria conservadora. Integrar as minorias era um desejo dos padres conciliares e sobretudo de Paulo VI. Em qualquer caso, “nas declarações do Concílio sobre os leigos vemos uma consciência nova e fundamental que está em descontinuidade com uma longa tradição do sinal oposto [27].

Na terceira parte Neuner analisa os desenvolvimentos conciliares, ou seja, o antigo problema da recepção dos ensinamentos do Concílio. Há uma consciência de que depois do Concílio os leigos assumiram de facto intensamente diversas tarefas e deveres que antes eram desempenhados pelos sacerdotes. Na Alemanha, uma etapa fundamental no caminho experimental dos primeiros anos após o Concílio foi o Sínodo de Wurzburg (1971-1975). Durante o Sínodo é questionada a responsabilidade comum de todos os fiéis, especialmente naquelas comunidades que já não podem beneficiar da presença permanente do sacerdote. Chegamos assim a perceber que existe uma missão única da igreja que é realizada pelos múltiplos serviços que devem ser exercidos na dependência uns dos outros. É o princípio da comunhão na diversidade, que por sua vez exige a valorização dos órgãos que permitem o funcionamento da comunidade como, por exemplo, o conselho pastoral. Estas aberturas são reduzidas pelo documento de 1977: “Princípios para a organização dos serviços pastorais”, elaborado pela Conferência Episcopal Alemã. A preocupação do documento é não confundir o ministério do presbítero com o dos demais ministros. O novo Código de Direito Canônico de 1983 parece superar as limitações do documento CET quando no número 208 afirma que: “Entre todos os fiéis, em virtude da sua regeneração em Cristo, existe verdadeira igualdade na dignidade e na ação, e para através desta igualdade todos cooperam na construção do corpo de Cristo ”. Esta igualdade que se baseia no batismo inclui todas as diferenças de cargos e funções. Neste ponto da investigação, Neuner centra a sua atenção naquele que, com razão, considera ser um texto chave tanto para a recepção das ideias eclesiológicas do Vaticano II como para futuros desenvolvimentos sobre o tema dos leigos na Igreja, nomeadamente o Sínodo dos bispos sobre os leigos de 1987 e a exortação apostólica pós-sinodal Christifideles Laici de 1989.

O autor não esquece o pouco conhecido, mas de fundamental importância para a eclesiologia, o sínodo extraordinário dos bispos de novembro-dezembro de 1985, para comemorar os 20 anos de a conclusão do Conselho. É neste Sínodo que foi decidido que o tema da comunhão da Igreja deveria ser considerado o conceito central do Concílio. A mensagem do Concílio sobre o povo de Deus foi assim minada para dar lugar a um conceito de Igreja que, de certa forma, trouxe de volta ao debate eclesial a relação entre hierarquia e leigos. Na verdade, como sublinha Neuner, o termo comunhão está aberto à ambiguidade, porque pode significar tanto a relação recíproca existente entre todos os membros da Igreja, como a conformidade dos fiéis às decisões da hierarquia. Foi precisamente este segundo aspecto, que foi introduzido no debate sinodal e será à luz deste significado do tema da comunhão que se realizarão os trabalhos do Sínodo dos Bispos de 1987 sobre os leigos. Christifideles laici permanece até agora o documento magisterial mais completo sobre os leigos na Igreja. A reflexão realiza-se na eclesiologia de comunhão, que inclui unidade, diversidade e complementaridade de vocações, ministérios, carismas e responsabilidades (ver n.20). A diversidade do ministério dos pastores em comparação com outros ministérios e ofícios da Igreja é repetidamente sublinhada, uma diversidade baseada na diversidade entre o sacerdócio comum dos baptizados e o sacerdócio ministerial. Mesmo os carismas que deram origem a numerosos movimentos nas últimas décadas, devem submeter-se ao julgamento dos pastores da Igreja. Destas passagens percebemos como o tema da comunhão com a hierarquia, tomou precedência sobre a ênfase na igual dignidade dos fiéis que o conceito de povo de Deus trazia consigo. Também o serviço que os leigos realizam no mundo deve realizar-se na obediência aos pastores. Neuner não deixa de notar como: “a autonomia das realidades terrenas, de que falava o Concílio, foi assim evidentemente colocada em segundo plano em relação ao pedido de obediência” [28]. Segundo Neuner, o documento sobre os leigos pretendia tornar atrativo o ministério sacerdotal. Por esta razão, João Paulo II, para evitar uma clericalização dos leigos e uma secularização do clero, deixou o ministério secular aos leigos, reservando o ministério da salvação ao clero. Como era de se esperar, o documento pós-sinodal não resolveu os problemas concretos que as comunidades enfrentavam, principalmente devido à diminuição significativa de sacerdotes e à consequente dificuldade de acompanhamento das comunidades.

Para responder a estas necessidades, o texto mais significativo data de 1994, fruto de um simpósio realizado em Roma sobre: Colaboração dos leigos no ministério pastoral dos sacerdotes. Significativa foi a dura intervenção do Papa que, a partir da clarificação do carácter sacerdotal entendido ontologicamente, definiu que, enquanto os ministros ordenados têm cargos na Igreja, os leigos só têm ministérios. Declarações fortes que revelam um desconforto na percepção da dificuldade de encontrar um caminho adequado para a crise atual. Apesar dos muitos pronunciamentos oficiais a favor do sacramento das ordens, as vocações sacerdotais continuaram a diminuir, tornando difícil encontrar uma solução para a liderança das paróquias. Neste ponto Neuner sublinha duas posições claras que, no entanto, não foram ouvidas. A primeira, foi a de Dom Walter Kasper, que propôs ordenar presbíteros aqueles que de fato já lideravam as comunidades paroquiais e que davam boas contas de si mesmos. A outra intervenção foi do Bispo Kamphaus , que argumentou que os leigos não podem ser tratados como paliativos num período de escassez de padres. “A Igreja existe apenas como povo de Deus, no qual sacerdotes e leigos caminham juntos, a tarefa a que somos chamados neste momento não é traçar linhas de separação, mas interagir”. Vozes proféticas que, no entanto, não foram ouvidas. Neste ponto Neuner mostra alguns exemplos de como algumas dioceses reagiram à falta de padres. O primeiro exemplo é a diocese francesa de Poitiers. Aqui o sistema paroquial tradicional foi abandonado em favor das comunidades locais. Para eles, o bispo nomeia a cada três anos uma equipe de nomeados, aos quais são confiados vários ministérios, entre os quais há também sacerdotes. O outro exemplo é o da igreja latino-americana onde as paróquias são constituídas por comunidades de base, lideradas por leigos. Nestes contextos o sacerdote coordena a formação dos leigos que exercem o ministério nas comunidades, bem como celebra periodicamente nas comunidades de base individuais.

Na quarta e última parte Neuner propõe reflexões sistemáticas sobre três temas específicos: a discussão sobre a Ação Católica; a recepção do Vaticano II na discussão teológica; tenta definir o secular e os limites de tal definição. Neuner, na reflexão que propôs sobre a Acção Católica, propõe os estudos de dois teólogos proeminentes como Yves Congar e Gérard Philips. Congar, num texto de 1952, que se tornará um ponto de referência para todos os estudos subsequentes sobre os leigos - Por uma teologia dos leigos -, argumentou que o clero e os leigos estão unidos orientados para o mesmo objetivo. Congar mostra como em cada um dos três ofícios – real, sacerdotal e profético – que foram transmitidos por Cristo à sua Igreja, os leigos têm direitos que lhes pertencem de forma imediata. Para apoiar isto, Congar refere-se à doutrina do sacerdócio comum, acreditando que não é necessário conceder cargos aos leigos, pois eles já são membros ativos para a construção da única igreja. Por estas razões, Congar distingue a ação dos católicos da Ação Católica. “Sempre existiu e existe um apostolado dos leigos anterior e, em alguns aspectos, mais amplo que o da Acção Católica, um apostolado que se baseava nos dons sacramentais e extra-sacramentais que constituem o cristão [29]. O dever do leigo, portanto, é saber e fazer compreender que as causas secundárias estão abertas a Deus, que é a Causa Primeira.

Poucos anos depois das reflexões de Congar, que anteciparam o debate conciliar, Gérard Philips, no seu The Laity in the Church de 1954, expressou a sua visão positiva do ponto de viragem alcançado nas últimas décadas rumo a uma nova consciência do laicato. Philips não estava convencido da divisão de campos de interesse que relegava os leigos à esfera secular, enquanto os presbíteros como guardiões do sagrado. O risco desta abordagem era fechar a igreja na sacristia e oferecer argumentos a favor de um secularismo anticlerical. Em comparação com Congar, Philips atribui um papel maior ao leigo na esfera intereclesiástica, referindo-se à família como a menor célula da igreja. Além disso, Philips destacou tanto a participação dos leigos no sacerdócio comum como o seu envolvimento no movimento litúrgico daqueles anos. No centro da reflexão de Philips está a ideia de encarnação porque, segundo ele, ajuda a superar os contrastes clássicos entre espírito e matéria, secular e profano. Por esta razão, a Philips evitou separar claramente os leigos e o clero. Neuner, na busca por uma espiritualidade laica, não deixa de mencionar as contribuições de outros importantes teólogos da época como: Friedrich Von Hugel, Franz Xavier Arnold, Alfonso Auer e Hans Urs Von Balthasar cujas contribuições, como as dos anteriores já mencionados , contribuirá significativamente na elaboração da teologia do laicato desenvolvida no debate conciliar.

Neuner dedica a segunda reflexão sistemática à recepção do Vaticano II na discussão teológica. Esta análise não poderia deixar de partir do teólogo Karl Rahner que no seu Apostolado dos Leigos de 1966 defendeu a necessidade eclesial da autonomia dos leigos. Ecoando as reflexões dos primeiros séculos do cristianismo, Rahner sustenta que um clérigo é qualquer pessoa que detém um cargo eclesial e, portanto, não diz respeito apenas ao sacerdote ou diácono que recebeu a ordenação. “Neste sentido estritamente teológico – afirma Rahner – uma mulher pode pertencer ao clero [30]. Para Rahner a Igreja não se funda nos seus ofícios, mas na obra de Jesus e na pregação do Reino de Deus.É no mundo que o leigo dá forma à sua vida cristã e ao seu apostolado. Rahner insiste neste tema porque acredita que os leigos não precisam de cargos para exercer o seu apostolado. Na verdade, os leigos, com base no batismo e na confirmação, são membros da igreja e vivem o seu cristianismo e trabalham como apóstolos durante esta vida, sem a necessidade de receber uma posição oficial. Edward Schillebeeckx, seguindo a linha de Rahner, mas indo mais longe, também sublinha tanto a autonomia do leigo na igreja como a necessidade de colocar o reflexo dos leigos no caminho da igreja. O caráter secular do leigo indica uma tarefa eclesiológica. Os leigos não são pessoas profanas, mas membros do povo de Deus no mundo secular. Nesta perspectiva, os sacerdotes e os leigos só têm serviços diferentes, têm “dons diferentes a partir de cuja coesão se constrói o corpo eclesial como comunidade de fé” [31]. A este respeito, Edward Schillebeeckx desenvolve o modelo da futura igreja que, inspirando-se na igreja antiga, uma igreja que é uma irmandade de irmãos e irmãs na qual as estruturas de poder vigentes no mundo são gradualmente eliminadas. Mesmo que haja diferenças de funções, na fraternidade todos têm direito à palavra.

 

Conclusão

O estilo evangélico exige como manifestação externa, não a pompa que vem da riqueza, mas uma sobriedade que só a pobreza pode dar. O debate sobre a Igreja pobre dos pobres, além de ser um programa dos discípulos do Senhor do lado em que decidem estar no mundo, ou seja, do lado dos pobres, também manifesta a necessidade intrínseca de uma vida pobre e sóbria como consequência da sequela. Mesmo a este nível, a contaminação provocada pelo Concílio abre um processo de desmascaramento, que evidencia a inautenticidade da riqueza da Igreja e a necessidade de promover um processo de repensar as estratégias de evangelização implementadas, que não pode ser confiada apenas às possibilidades de estruturas e condições económicas. A Igreja pobre e dos pobres acusa o modelo económico capitalista e neoliberal de ser antitético à mensagem de Jesus e ao estilo da Igreja. Se, de facto, o estilo de Jesus é pobre e a favor dos pobres, baseado na partilha e na atenção aos últimos, a proposta da visão capitalista baseada na rivalidade e na competição, que estimula um estilo de vida individualista e egocêntrico, é muito diferente. Só estando ao lado dos pobres e tocando a sua carne é possível desmascarar os discursos açucarados do capitalismo que, com os seus poderosos meios de comunicação, tende a mascarar mentiras, vendendo-as como verdade. Embora o Evangelho seja um anúncio de vida para todos, promovendo a igualdade entre homens e mulheres, a proposta do capitalismo que pagamos na nossa própria pele é um caminho de exclusão da maioria em favor de uns poucos privilegiados. A contaminação conciliar que o estilo pobre de Jesus propõe expõe o engano do discurso capitalista, que favorece a liberdade para uns poucos privilegiados à custa das multidões de pessoas pobres que vivem em dificuldades. A Igreja deve posicionar-se denunciando as desigualdades do sistema capitalista e propor um estilo de vida evangélico baseado na solidariedade, na partilha em pequenas comunidades de irmãos e irmãs.

Povo de Deus, então – e é a terceira contaminação que pretendo sublinhar promovida pelo Concílio Vaticano II – fala da igualdade dos filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs do Senhor. Igualdade que não significa negação das diferenças, mas valorização delas. Na verdade, somente numa Igreja do Povo de Deus as pessoas podem expressar a sua diversidade à medida que encontram espaço para expressá-la na comunidade. Pelo contrário, num modelo de Igreja que se identifica com o poder hierárquico, apenas alguns encontram espaço para se expressarem, em detrimento da maioria. A Igreja como Povo de Deus estimula a democracia da comunidade, que não deixa de esperar que alguém diga de cima o que fazer e pensar, mas encontra o impulso, estimulada pelo exemplo de Jesus, para procurar o caminho a seguir. escutando a Palavra e caminhando junto com os irmãos e irmãs encontrados na comunidade. As intuições conciliares expressas na Lumen Gentium e na Dei Verbum estimularam não só a Igreja latino-americana, que desde o encontro de Medellín (1968) tornou suas as indicações conciliares, promovendo e incentivando as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), mas também na as múltiplas opções pastorais implementadas nas dioceses de todo o mundo no período imediatamente pós-conciliar, para que os fiéis se tornassem cada vez mais conscientes da sua dignidade de Filhos e Filhas de Deus, membros activos da Igreja, chamados a tomar a iniciativa na vida do comunidade.

As contaminações conciliares, que, embora em alguns momentos tudo tenha sido feito para neutralizar a sua força disruptiva, são agora o fermento de uma nova forma de ser Igreja, claramente visível no atual papado de Francisco.

 



 



[1] Ao apelar para que um Ano da Fé coincida com o quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, Joseph Ratzinger falou de uma “hermenêutica correcta” desse evento. A correta compreensão do Concílio – especificam as instruções para o Ano da Fé – não é a chamada “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura, mas a hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja”.

[2] THEOBALD, C., O futuro do Conselho. Novas abordagens ao Vaticano II , EDB Bolonha 2016

[3]Ibid., pág. 37

[4]Ibid., pág. 47

[5]Ibid., pág. 63

[6]Lá pág. 96

[7]Ibid., pág. 113

[8]Ibid., pág. 124

[9]Ibid., pág. 149

[10]Ibid., pág. 146

[11]Ibid., pág. 178

[12]Ibid., pág. 193

[13]Ibid., pág. 209

[14] MENNINI, M., A igreja dos pobres. Do Concílio Vaticano II ao Papa Francisco , Guerini and Associates, Milão 2016

[15] Paul Gauthier (1914-2002) foi um padre e teólogo francês, considerado um dos precursores da Teologia da Libertação. Tem trabalhado principalmente no Médio Oriente e na América Latina em nome das pessoas mais pobres. Juntamente com Ettore Masina fundou a Rete Radie Resh pela solidariedade internacional.

[16]MENNINI, M., A Igreja dos Pobres, cit. pág. 48

[17]Ibid., pág. 56

[18]Ibid., pág. 63

[19]Ibid., pág. 74

[20]Ibid., pág. 101

[21]Ibid., pág. 130

[22]Ibid., pág. 176

[23]Ibid., pág. 205

[24]Ibid., pág. 221

[25] NEUNER, P., Por uma teologia do povo de Deus, Queriniana, Brescia 2016

[26] Ibid ., pág. 110

[27]Ibid., pág. 111

[28]Ibid., pág. 142

[29]Ibid., pág. 183

[30]Ibid., pág. 199

[31]Ibid., pág. 205

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