sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A Astronomia de Aristóteles

 





 

Benito Pepe

Lembramos agora a desmatematização da filosofia e da natureza enfocada por Aristóteles em detrimento do valor que seu mestre Platão dava à matemática, aqui se mostra uma das diferenças entre eles. A Astronomia de Aristóteles, segundo nos lembra Zingano, Aristóteles diria que:

A matemática é o instrumento científico utilizado para examinar o mundo do ponto de vista de sua quantidade, mas ela não é capaz de nos dar por si só a natureza do mundo. (2005, p.65)

Dessa maneira fica claro que Aristóteles apontava a matemática apenas para a quantidade. Então a física de Aristóteles diferentemente do que passará a ser na modernidade é “qualitativa” e não “quantitativa” como vigora a partir de Galileu Galilei que é quem a matematiza “definitivamente”, e seus sucessores seguem o mesmo caminho. Nas palavras de Galileu: “ A matemática é a linguagem da natureza”.

Aristóteles via a natureza e o lugar como algo qualitativo assim seria da “qualidade” de cada substância ou corpo ocupar o seu “lugar natural” e isso é o que faz parte da entelékheia de cada corpo. Então para Aristóteles, impor a um ser algo contrário à sua natureza é uma violência. É o que ocorre, por exemplo, quando retiramos uma pedra do chão, seu “lugar natural”, ao largarmos a pedra ela volta “naturalmente” para o “seu lugar”. Hierarquicamente Aristóteles configura a Terra no centro do “universo”; à sua volta, está a água; o ar está acima da terra e da água e, enfim, acima do ar, está o último elemento atmosférico, o fogo. Portanto  o fogo e o ar sobem naturalmente, enquanto a terra e água caem naturalmente, todos em  busca dos seus lugares naturais.

Não foi à toa que Aristóteles adotou a tese do geocentrismo (a terra no centro do “universo”) como para ele o movimento é eterno  adota também a tese do movimento natural, e como a terra é pesada teria que estar no centro, o lugar natural de um corpo pesado, por isso a terra estaria no centro do universo seu lugar natural. A origem desse pensamento vem da questão do mundo fechado e finito porém eterno. Para Aristóteles o universo é finito (um corpo tem que ter limites) porém ele é eterno, não foi criado ou seja não teve um momento de nascimento e também não terá um fim,  sempre existiu e sempre existirá. A partir desse pensamento ele defende a ideia do movimento eterno,  sempre houve corpos em movimento e corpos em repouso, e a Terra estaria em repouso no centro desse universo, enquanto que  os outros corpos estariam girando em movimentos circulares em torno dela.

O espaço é pleno e não há o vazio, se o vazio existisse seria o mesmo que admitir o não-ser e isso seria uma contradição lógica, dessa forma Aristóteles  de maneira metafísica,  justifica o “quinto elemento” ou “éter” que seria quem estaria preenchendo o espaço entre os corpos celestes e da mesma maneira esses “corpos” seriam constituídos de éter por isso não se deteriorariam, e não teriam outro tipo de mutação a não ser a de translação, diferentemente do que ocorre na Terra e na região sublunar, onde os quatro elementos (terra, água, ar e fogo) esses sim passiveis de toda mutação e transformação.

Dessa maneira, Aristóteles em seu tratado Do Céu, postula uma separação “física” e “real” entre a região supralunar (acima da lua) e a sublunar (abaixo da lua, o nosso mundo). Não seria possível um material daquela região “composto de éter” vir para a Terra e nem um material do planeta Terra ir para aquela região, há assim um isolamento definitivo, o céu composto de éter (incorruptível) não poderia misturar-se com a terra. Naquela região incorruptível haveria as “esferas celestes”, explicação dada por alguns astrônomos da época e que eram apoiadas e complementadas por Aristóteles para justificar o movimento dos astros “em torno da terra”.  Ali estariam girando ao redor da terra, em “círculos perfeitos”, as estrelas e os planetas que estariam “colados” às esferas, cada um na sua “esfera cristalina” correspondente.  Essa tese foi proposta primeiramente por Eudoxo (astrônomo da época de Aristóteles), Calipos (também da época) aumenta a quantidade de esferas e sofistica o sistema, Aristóteles com sua tese do “lugar natural” e do éter ou quinta essência, solidifica essa explicação e o geocentrismo; e posteriormente com Ptolomeu já no séc. II d.C alcança sua maior expressão no Almagesto.

Para explicar esse complexo de movimentos celeste, Aristóteles recorre ao ápice de toda a sua metafísica, dizendo que há um “primeiro motor”, que é imóvel, mas dá origem a todo movimento celeste. Como disse Giovanni Reale:

(…) a física Aristotélica (e também grande parte da cosmologia) é, na verdade, uma metafísica do sensível. Assim não é de surpreender o fato de que a Física esteja prenhe de considerações metafísicas, chegando até a culminar com a demonstração da existência de um Primeiro Motor imóvel: radicalmente convencido de que, “se não houvesse o eterno, não existiria tampouco o devir” (2004, p.209)

Com isso vemos claramente que, a pesar de suas diferenças com seu mestre Platão, Aristóteles herda muito do Platonismo de maneira a não se separar do supra-sensível.

Considerações finais

Aristóteles implanta a lógica (começando do nada) e com ela tem um bom instrumento, um método (um caminho) para estudar a physis, a natureza, o mundo.  Precisamos ter em mente a época em que Aristóteles viveu e seus poucos recursos, dessa maneira podemos perceber que ele foi um mestre e um ícone para o mundo ocidental, não só no que tange à filosofia, como  também para a própria ciência.

Quanto a Astronomia de Aristóteles,  abrimos um parêntesis especial para dizer que o tempo que dura o “sistema Aristotélico”, quanto à questão do Céu, é algo que por si só merece uma reflexão. Por exemplo, o sistema geocêntrico defendido por Aristóteles dura quase dois mil anos, isso mesmo! Dois milênios… até que seja refutado pelo heliocentrismo re-introduzido definitivamente por Copérnico em 1554. (embora Copérnico o tenha tomado de Aristarco de Samos (c. 310-230 a.C.)).

Outro ponto interessante é recordarmos que a separação do “mundo” em dois, sendo um supralunar (o dos astros acima da lua);  e um sublunar (o nosso mundo) “aqui em baixo” com sua separação física radical,  só é refutada muito tempo depois com Isaac Newton já no século XVII.

Assim pudemos ter uma pequena ideia da importância e relevância que Aristóteles teve e tem no mundo ocidental através de seus estudos nos diversos campos do conhecimento e que ainda hoje são considerados quando falamos em física e em astronomia, portanto não é à toa que estamos aqui mais uma vez falando de Aristóteles.

Fonte: https://www.benitopepe.com.br/2009/09/30/a-astronomia-de-aristoteles/

 

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