(anotações para aulas de filosofia moderna)
Paolo
Cugini
A.
O
sentido da filosofia
Foi um homem de grande cultura. Um aspecto do seu
pensamento é a grande originalidade na síntese dos autores estudados.
A sua metafisica está em perfeita consonância com a
sua vida.
Objetivo do pensamento de S.: libertar o homem das
paixões, dar-lhe um estado superior de paz e tranquilidade.
B.
A
Concepção de Deus
A ordem geométrica
S. na sua Ética escolhe o método indutivo já utilizado
por Descartes e Hobbes.
S. queria rejeitar:
a.
o
procedimento silogístico abstrato próprio de muitos escolásticos
b.
os
procedimentos inspirados nas regras retoricas próprias do Renascimento
c.
o
método rabínico da exposição excessivamente prolixas
O gosto pelo procedimento científico, típico do século
17, influenciaram a produção de S. Aparenta uma necessidade racional absoluta.
Posto Deus, tudo daí procede com rigor. Por isso o método
de Euclides parece para ele o mais adequado. Além disso o método oferece a
possibilidade de manter a distancia o objeto tratado, isento das perturbações
alógicas e irracionais.
A substância
Para S., a diferença de Descartes que caiu em
contradição, existe somente uma sub.: Deus. Somente Deus, de fato, é causa sui.
Sub. Neste sentido, é aquilo que não necessita de nada mis além de si mesma
para existir e ser concebida e, então, a sub. Coincide com a causa sui.
Deus: um ser absolutamente infinito uma sub. Constituída de uma infinidade
de atributos, cada qual deles expressando uma essência eterna e infinita.
Deus é livre, no sentido que existe e age por
necessidade de sua natureza. Deus é a única substância existente. Não é possível
pensar Deus como causa sui, sem pensá-lo como necessariamente existente (cf.
prova ontológica).
O Deus de S é o Deus bíblico, mas com algumas
diversidades fundamentais. O Deus de S. não é dotado de personalidade, de
vontade, de intelecto. Para S. conceber Deus como pessoa significa cai no
antropomorfismo.
Além disso, o Deus de S. não cria por livre escolha
algo que é diferente de si. Não é causa transitiva, mas sim causa imanente,
sendo inseparável das coisas que dele procedem. Deus é necessidade absoluta, totalmente
impessoal (um deus muito parecido com o seu autor, S.).
Deus é necessidade absoluta de ser. As coisas derivam necessariamente
da essência de Deus. É aqui que S. encontra a raiz de toda certeza, a razão de
tudo, a fonte de uma tranquilidade suprema e de uma paz total.
A necessidade é apresentada como a solução de todos os
problemas.
A substância, Deus, que é infinita, manifesta e exprime
a sua própria essência em infinitas formas e maneiras, que constituem os
atributos, que são eternos e imutáveis. Os homens conhecem somente dos destes
atributos: o pensamento e a extensão.
Deus é espacialidade. O corpo não é um atributo, mas
um modo finito do atributo da espacialidade. Nesta perspectiva, o mundo não é
contraposto a Deus, mas é algo que se prende de modo estrutural a um atributo
divino.
Os modos. São impressões da substância, aquilo que
existe me outra coisa, por meio da qual tb é concebido. Os modos procedem dos
atributos.
O intelecto infinito e a vontade infinita são modos
infinitos do atributo infinito do pensamento. Aquilo que é finito só pode ser
determinado por um atributo enquanto é modificado por uma modificação que é
finita e tem existência determinada.
O infinito só gera o infinito e o finito é gerado pelo
finito. Aqui é uma das aporias do sistema de Spinoza.
O mundo é consequência necessária de Deus. Spinoza não
atribui a Deus intelecto, vontade e o amor, pois estes são modos, enquanto Deus
é substância.
A doutrina spinoziana do paralelismo entre ordem
idearum e ordem rerum
Para Spinoza pensar e pensamento não indicam uma
simples atividade intelectual e incluem desejar e o amar. O intelecto e a mente
constituem o modo mais importante, pois é um modo que condiciona os outros
modos de pensar.
Ideia: tem raízes na essência de Deus, que não cria as
coisas segundo o paradigma de suas próprias ideias, porque não cria de modo
algum o mundo no sentido tradicional, dado que este procede necessariamente
dele (por isso não tem precisão de cria-lo).
As ideias não são produzidas em nós pelos corpos. A
ordem das ideias corre paralela á ordem dos corpos. Todas as ideias derivam de Deus
enquanto Deus é realidade pensante. Analogamente, os corpos derivam de Deus
enquanto Deus é realidade extensa.
Aqui Spinoza resolve o problema do dualismo
cartesiano. Visto que cada atributo expressa a essência divina de igual modo,
então a serie dos modos de cada atributo deverá necessariamente e perfeitamente
corresponder á serie dos modos de cada um dos outros atributos. Existe,
portanto, perfeito paralelismo, que consiste em me perfeita coincidência, enquanto
trata da mesma realidade vista sob dois diferentes aspectos.
Em função deste paralelismo Spinoza interpreta o homem
como união de alma e corpo. A alma é a ideia ou conhecimento do corpo. A
relação entre mente e corpo é constituída por um paralelismo perfeito.
C.
O
conhecimento
Toda ideia é objetiva, tem uma correspondência na
ordem das coisas. Ideias e coisas são duas faces de um mesmo acontecimento. Qualquer
ideia tem necessariamente uma correspondência corpórea e qualquer acontecimento
tem necessariamente uma ideia correspondente.
Três graus de conhecimento:
a.
empírico é ligado às percepções sensoriais e às imagens
b.
racional encontra sua expressão típica na matemática. É a
forma de conhecimento que se baseia em ideias adequadas, que são comuns a todos
os homens. Capta as causas das coisas e o encadeamento das causas,
compreendendo sua necessidade.
c.
Intuitivo:
visão das coisas em seu proceder de Deus.
Relação entre os três gêneros de conhecimento. São
conhecimentos das mesmas coisas e aquilo que os diferencia é apenas o nível de
clareza e distinção.
Se o conhecimento de Deus é pressuposto indispensável para
o conhecimento de todas as coisas, Spinoza deve admitir que o homem conhece
Deus de modo preciso.
A distinção entre verdadeiro e falso se dá no segundo gênero
do conhecimento e também no terceiro. De fato, as coisas são como as
representam a razão e o intelecto e não como as apresenta a imaginação. É próprio
da razão considerar as coisas como necessárias e não como contingentes. Enfim o
conhecimento intuitivo capta as coisas sob espécie de eternidade.
Consequências morai[1]s. Esta doutrina é útil para a vida:
1.
Ensina
que nós agimos unicamente pelo querer de Deus e somos partícipes da sua
natureza divina. Aqui está nossa suprema felicidade.
2.
É
útil enquanto nos ensina de que modo devemos nos comportar em relação as coisas
do destino ou que não está em nosso poder;
3.
Facilita
a vida social enquanto ensina a não se irritar contra ninguém, a não desprezar,
a não ironizar, a não conflitar;
4.
Facilita
a sociedade comum, ensina de que modo os cidadãos devem ser governados e
dirigidos, para que realizem livremente aquilo que é melhor.
D.
O
ideal ético de Spinoza
O homem confirma a ordem da natureza. As paixões não se
devem a fraqueza, mas á potencia da natureza e, por isso, não devem ser detestadas
e censuradas, mas explicadas e compreendidas.
Paixões: resultantes da tendencia de perseverar no próprio
ser por duração indefinida, tendencia que é acompanhada pela consciência, que é
a ideia respectiva. Quando a tendencia refere-se a mente, chama-se de vontade;
quando se refere também ao corpo, chama-se apetite. Aquilo que favorece
positivamente a tendencia a perseverar no próprio ser se chama alegria; o contrário
chama-se dor. Destas duas paixões basilares brotam todas as outra.
Spinoza fala de paixão como uma ideia confusa e
inadequada. Como força da natureza as paixões são irrefreáveis e uma gere a
outra com logica matemática.
Não podemos dizer de nenhuma realidade natural que ela
seja imperfeita. Nada daquilo que existe carece de algo: é aquilo que deve ser.
O bem e o mal não indicam nada que existe ontologicamente
nas coisas consideradas em si, mas são modos de pensar.
Toda consideração de caráter finalístico e axiológico é
banida da ontologia de Spinoza. Na sua perspectiva o bem é o útil e o mal o seu
contrário. Virtude é somente o útil e o vicio o seu contrário. Quando o homem
segue a razão alcança seu próprio útil para si e para todos.
Vicio é ignorância e virtude é conhecimento (cf. Sócrates).
Se é verdade que as paixões são ideias confusas, então quando formemos em nós
uma ideia clara e distinta as paixões sumirão. “Clarifica tuas ideias: deixará
de ser escravo das paixões”.
Quando nós compreendemos que Deus é causa de tudo,
tudo nos dá alegria e tudo produz amor a Deus. O amor intelectual por Deus é a
visão de todas as coisas sob o signo da necessidade (divina) e a aceitação
alegre de tudo aquilo que acontece, precisamente porque tudo aquilo que
acontece depende da necessidade divina.
E.
Religião
e Estado em Spinoza
A religião permanece no nível do primeiro gênero do
conhecimento, em que predomina a imaginação. Os profetas se destacaram pelo
poder da fantasia e não pelo intelecto. A religião visa obter a obediência, ao
passo que a filosofia visa a verdade. Por isso os regimes tirânicos valem-se da
religião para conseguir seus objetivos. A religião é alimentada pelo temor e
pela superstição.
O conteúdo da fé se reduz a poucos pontos fundamentais:
a.
Existe
Deus justo e misericordioso, modelo de vida autêntica.
b.
Deus
é único.
c.
Deus
é onipresente, tudo lhe é conhecido,
d.
Deus
detém o direito e o domino supremo sobre tudo e não faz nada para obrigação de
uma lei, mas segundo seu absoluto beneplácito.
e.
O
culto a Deus consiste na justiça e na caridade, no amor ao próximo.
f.
Todos
aqueles que obedecem a Deus são salvos.
g.
Deus
perdoa os pecados de quem se arrepende.
Para Spinoza a fé não requer dogmas verdadeiros, mas
dogmas piedosos: há lugar para diferentes seitas religiosas.
Cristo foi a própria boca de Deus. Cristo teve
entendimento da verdade.
Spinoza foi um incansável defensor do Estado do
direito. Por sua
natureza todo individuo é determinado a existir e operar de certo modo e que
este comportamento é necessário. O pacto social origina-se da utilidade que
dele deriva e nela se fundamenta. O Estado para o qual são transferidos os
direitos na constituição do pacto social não pode ser o Estado absoluto de que
fala Hobbes. Alguns direitos do homem são inalienáveis, porque renunciando a
eles o home renuncia a ser homem. O fim do Estado não é a tirania, mas a
liberdade.
Bibliografia
B. SPINOZA, Obra completa Vol. 1-4, Perspectiva,
Lisboa 2014-2019.
B. SPINOZA, Èthica, Autêntica, São Paulo2009.
B. SPINOZA, Tratado político, Martins Fontes,
São Paulo 2009.
H. RIZK, Compreender Spinoza, Vozes, Petrópolis
2010.
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