terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

AÇÃO PASTORAL NOS TEXTOS E DOCUMENTOS

 




Época antiga

CARTA A DIOGNETO

 

Autor anonimo (II sec. d. C.).

O mistério cristão . Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida social admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põem a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, desse modo, lhes é dada a vida; são pobres, e enriquecem a muitos; carecem de tudo, e têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram;  fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, e aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.

A alma do mundo 6. Em poucas palavras, assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são vistos no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque esta a impede de gozar dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os membros que a odeiam; também os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no corpo, mas é ela que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e bebidas, a alma torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia mais se multiplicam. Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar.

Origem divina do cristianismo . De fato, como já disse, não é uma invenção humana que lhes foi transmitida, nem julgam digno observar com tanto cuidado um pensamento mortal, nem se lhes confiou a administração de mistérios humanos. Ao contrário, aquele que é verdadeiramente Senhor e criador de tudo, o Deus invisível, ele próprio fez descer do céu, para o meio dos homens, a verdade, a palavra santa e incompreensível, e a colocou em seus corações. Fez isso, não mandando para os homens, como alguém poderia imaginar, algum dos seus servos, ou um anjo, ou algum príncipe daqueles que governam as coisas terrestres, ou algum dos que são encarregados das administrações dos céus, mas o próprio artífice e criador do universo; aquele por meio do qual ele criou os céus e através do qual encerrou o mar em seus limites; aquele cujo mistério todos os elementos guardam fielmente; aquele de cuja mão o sol recebeu as medidas que deve observar em seu curso cotidiano; aquele a quem a lua obedece, quando lhe manda luzir durante a noite; aquele a quem obedecem as estrelas que formam o séquito da lua em seu percurso; aquele que, finalmente, por meio do qual tudo foi ordenado, delimitado e disposto: os céus e as coisas que existem nos céus, a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem no mar, o fogo, o ar, o abismo, aquilo que está no alto, o que está no profundo e o que está no meio. Foi esse que Deus enviou. Talvez como alguém poderia pensar, será que o enviou para que existisse uma tirania ou para infundir-nos medo e prostração? De modo nenhum. Ao contrário, enviou-o com clemência e mansidão, como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem para os homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para violentar, pois em Deus não há violência. Enviou-o para chamar, e não para castigar; enviou-o, finalmente, para amar, e não para julgar. Ele o enviará para julgar, e quem poderá suportar a sua presença? Não vês como os cristãos são jogados às feras, para que reneguem o Senhor, e não se deixam vencer? Não vês como quanto mais são castigados com a morte, tanto mais outros se multiplicam?  Isso não parece obra humana. Isso pertence ao poder de Deus e prova a sua presença.

A encarnação Quem de todos os homens sabia o que é Deus, antes que ele próprio viesse? Quererás aceitar os discursos vazios e estúpidos dos filósofos, que por certo são dignos de toda a fé? Alguns afirmavam que Deus é o fogo – para onde irão esses, chamando-o deus? — Outros diziam que é água. Outros ainda que é um dos elementos criados por Deus. Não há dúvida de que se algumas dessas afirmações é aceitável, poderíamos também afirmar que cada uma de todas as criaturas igualmente manifesta Deus. Mas todas essas coisas são charlatanices e invenções de charlatães. Nenhum homem viu, nem conheceu a Deus, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé, unicamente pela qual é concedido ver a Deus. Deus, Senhor e criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem, não só se mostrou amigo dos homens, mas também paciente. Ele sempre foi assim, continua sendo, e o será: clemente, bom, manso e verdadeiro. Somente ele é bom. Tendo concebido grande e inefável projeto, ele o comunicou somente ao Filho. 10Enquanto o mantinha no mistério e guardava sua sábia vontade, parecia que não cuidava de nós, não pensava em nós. Todavia, quando, por meio do seu Filho amado, revelou e manifestou o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas as coisas: não só participar dos seus benefícios, mas ver e compreender coisas que nenhum de nós teria jamais esperado.

 

Os Mártires de Abilene: “Sem o Domingo não podemos viver”

 

“Sine dominico non possumus” (= Sem domingo não podemos viver) Esta frase foi pronunciada pelos Mártires de Abilene (Tunísia). Em 303 DC o imperador Diocleciano, depois de anos de relativa calma, desencadeou uma violenta perseguição contra os cristãos ordenando que “os textos sagrados e os santos Testamentos do Senhor e as Escrituras divinas deveriam ser procurados, para que pudessem ser queimados; as basílicas do Senhor tiveram que ser demolidas; era necessário proibir a celebração dos ritos sagrados e das reuniões santíssimas do Senhor” (Atos dos Mártires, I). Em Abitene, um grupo de 49 cristãos, contrariando as ordens do Imperador, reunia-se semanalmente na casa de um deles para celebrar a Eucaristia dominical. É uma comunidade cristã pequena, mas diversificada.

Surpreendidos durante uma reunião na casa de Ottavio Felice, eles são presos e levados a Cartago perante o procônsul Anulinus para serem interrogados. Ao procônsul, que lhes pergunta se têm as Escrituras em casa, os Mártires confessam corajosamente que “as guardam no coração”, revelando assim que não querem de forma alguma separar a fé da vida. O próprio martírio deles se transforma numa liturgia “eucarística”.

Entre os vários testemunhos, é significativo o prestado por Emérito. Ele afirma, sem qualquer receio, que recebeu os cristãos em sua casa para a celebração. O procônsul lhe pergunta: “Por que você acolheu cristãos em sua casa, contrariando assim as disposições imperiais? ”. E aqui está a resposta de Emérito: «Sine dominico non possumus»; isto é, não podemos ser ou mesmo viver como cristãos sem nos reunirmos aos domingos para celebrar a Eucaristia.

Estes 49 mártires de Abitene enfrentaram a morte com coragem, para não negarem a sua fé em Cristo ressuscitado e não deixarem de o encontrar na celebração eucarística dominical. É o que emerge claramente do comentário que o redator dos Atos dos Mártires faz à pergunta feita pelo procônsul ao mártir Félix: “Se você é cristão, não deixe que isso seja conhecido. Em vez disso, responda se você participou das reuniões." E aqui fica o comentário:

“Como se o cristão pudesse existir sem celebrar os mistérios do Senhor ou os mistérios do Senhor pudessem ser celebrados sem a presença do cristão! Não sabes então, Satanás, que o cristão vive da celebração dos mistérios e que a celebração dos mistérios do Senhor deve ser realizada na presença do cristão, para que não possam existir separados uns dos outros? Quando você ouvir o nome de cristão, saiba que ele se reúne com seus irmãos diante do Senhor e, quando ouvir falar de reuniões, reconheça nela o nome de cristão”.

Eles foram martirizados em 303. Sua festa é 12 de fevereiro.

 

Época medieval

Dictatus Papae  Gregorio VII

 

·         Que a Igreja Romana foi fundada somente por Deus.

·         Que somente o Pontifice Romano pode ser chamado de universal com pleno direito.

·         Que somente o Pontifice pode depor e restabelecer bispos.

·         Que os legados do Pontifice, ainda que de grau inferior, em um concílio estão acima de todos os bispos, e pode contra estes pronunciar sentença de deposição.

·         Que o Papa pode depor os ausentes.

·         Que não se deve ter comunhão ou permanecer na mesma casa com aqueles que tenham sidos excomungados.

·         Que só à ele é lícito promulgar novas leis de acordo com as necessidades dos tempos, reunir novas congregações, converter uma abadia em casa canônica e vice-versa, dividir uma diocese rica ou unir pobres.

·         Que somente ele possui as insignias imperiais.

·         Que todos os príncipes devem beijar os pés do Papa.

·         Que o seu nome deve ser recitado em toda igreja.

·         Que o seu título é único no mundo.

·         Que é lícito depor o imperador.

·         Que a ele é lícito segundo as necessidades transladar os bispos de uma sede para outra.

·         Que ele tem o poder de ordenar um clérigo de qualquer igreja para o lugar que queira.

·         Que o que foi ordenado por ele pode governar a igreja de outro, mas não fazer a guerra; não pode receber de outro bispo um grau superior.

·         Que nenhum sínodo pode ser chamado de geral se não for guiado por ele.

·         Que nenhum artigo ou livro pode ser chamado de canônico sem sua autorização.

·         Que nada pode revogar sua palavra, só ele pode fazê-lo.

·         Que nada pode julgá-lo.

·         Que nada pode condenar quem apela a Sede Apostólica.

·         Que as causas de maior importância, de qualquer igreja, devem ser submetida ao seu juizo.

·         Que a Igreja Romana não erra e não errará jamais, isto está de acordo com as sagradas escrituras.

·         Que o Pontífice Romano, se houve sido ordenado em uma eleição canônica,está indubitavelmente santificado pelos mérito do Bem Aventurado Pedro como nos testemunha Santo Ennódio, bispo de Pávia, com o consentimento de muitos Santos Padres, como se encontra escrito nos decretos do bem aventurado Papa Símaco.

·         Que de baixo de sua ordem e com sua permissão é lícito aos súditos fazer acusações.

·         Que pode depor e restabelecer os bispos mesmo fora de reuniões de sínodo.

·         Que não deve ser considerado católico quem não está de acordo com a Igreja Romana.

·         Que o Pontifice pode absolver os súditos de juramento de fidelidade a iníquos.

 

Bula Licet ad capiendos

(Dirigida aos dominicanos inquisidores)

“Onde quer que lhes [hereges] ocorra pregar, estais facultados, se os pecadores persistirem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre dos seus benefícios espirituais e a proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis”.  Papa Gregório IX (1233)

 

Bula Ad Extirpanda

Lei 25.

O chefe de estado ou governante deve forçar todos os hereges que tem em custódia, desde que o faça sem os matar ou lhes quebrar os braços ou pernas, como verdadeiros ladrões e assassinos de almas e ladrões dos sacramentos de Deus e da fé cristã, para confessarem os seus erros e acusar outros hereges que eles conhecem, e especificar os seus motivos, e aqueles que eles seduziram, e aqueles que os alojaram e defenderam, assim como ladrões e assaltantes de bens materiais são levados a acusar os seus cúmplices e confessar os crimes que cometeram.  Papa Inocêncio IV (1252).

 

Época Moderna

Lutero (1517)

1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fôsse penitência.  2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental, isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes.  3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula, se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.  4. Por conseqüência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.  5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

 

27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].  28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência. 33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Deus. 34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos. 35. Não pregam cristãmente os que ensinam não ser necessária a contrição àqueles que querem resgatar ou adquirir breves confessionais. 36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência. 37. Qualquer cristão verdadeiro, seja vivo, seja morto, tem participação em todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

. 51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto - como é seu dever - a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extraem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro. 52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas. 53. São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas. 54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

 

Concilio de Trento (1545-1563)

Decreto sobre a Sagrada Escritura

Decreta também com a finalidade de conter os ingênuos insolentes, que ninguém, confiando em sua própria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada Escritura em coisas pertencentes à fé e aos costumes que visam a propagação da doutrina Cristã, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opiniões, contra o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Católica, à qual é de exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Letras; nem tampouco contra o unânime consentimento dos santos Padres, ainda que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretações. Aos medíocres, sejam declarados contraventores e castigados com as penas estabelecidas por direito. E querendo também, como é justo, colocar um freio nesta parte aos impressores que sem moderação alguma, e persuadidos de que lhes é permitido a quanto se lhes queira, imprimirem sem licença dos superiores eclesiásticos, a Sagrada Escritura, notas sobre ela, e exposições indiferentemente de qualquer autor, omitindo muitas vezes o lugar da impressão, ou muitas vezes falsificando, e o que é de maior conseqüência, sem nome de autor, e além disso tais livros impressos alhures, são vendidos sem discernimento e temerariamente, este Concílio decreta e estabelece que de ora em diante seja impressa, com a maior compreensão possível, a Sagrada Escritura principalmente a antiga edição da Vulgata, e que a ninguém seja lícito imprimir nem fazer com que seja impresso livro algum de coisas sagradas ou pertencentes à religião, sem o nome do autor da impressão, nem vende-los, nem ao menos tê-los em sua casa, sem que primeiro sejam examinados e aprovados pela Igreja, sob pena de excomunhão e de multa estabelecida no Canon do último Concílio de Latrão. Além disso, querendo o Sagrado Concílio reprimir a temeridade com que se aplicam e distorcem qualquer assunto profano, as palavras e sentenças da Sagrada Escritura podem ser utilizadas para se escrever bobagens, fábulas, futilidades, adulações, murmúrios, superstições, ímpios e diabólicos encantos, adivinhações, sortes, libelos de infâmia, ordena e manda estripar esta irreverência e menosprezo, que ninguém daqui para frente se atreva a valer-se de modo algum de palavras da Sagrada Escritura para estes e nem outros semelhantes abusos que todas as pessoas que profanem e violem deste modo a Palavra Divina, sejam reprimidas pelos Bispos, com as penas de direito a sua atribuição.

Da preparação que deve preceder o recebimento digno da Sagrada Eucaristia

Se não é decoroso que ninguém se apresente a nenhuma das demais funções sagradas, senão com pureza e santidade, muito mais notória é às pessoas cristãs, a santidade e divindade deste celeste Sacramento, com muito maior agilidade por certo devem procurar apresentar-se para receber com grande respeito e santidade; principalmente se nos lembrarmos daquelas terríveis palavras do Apóstolo São Paulo: "Quem come e bebe indignamente, come e bebe sua condenação, pois não faz diferença entre o Corpo do Senhor e outras comidas". Devido a isto deveremos sempre lembrar àquele que queira comungar, o preceito do mesmo Apóstolo: Reconheça-se o homem a si mesmo. O costume da Igreja declara que é necessário este exame para que ninguém que tenha consciência de que esteja em pecado mortal possa receber a Sagrada Eucaristia, mesmo que pareça estar muito arrependido, pois é necessária a confissão sacramental para livrá-lo dos pecados. Isto mesmo foi decretado por este Santo Concílio, e seja observado perpetuamente por todos os cristãos, e também os sacerdotes, a quem corresponde a celebração por obrigação, a não ser que lhes falte um confessor. E se o sacerdote, por alguma urgente necessidade celebrar sem haver se confessado, confesse sem prorrogação, logo que possa.

 

Época moderna-segunda parte (1800-1900)

 

Mirari Vos (Gregorio XVI, 1932)

A autoridade divina da Igreja é contestada e, tendo pisoteado os seus direitos, querem submetê-la a razões terrenas; com suprema injustiça querem torná-lo odioso para o povo e reduzi-lo a uma servidão ignominiosa. Entretanto, a obediência devida aos Bispos é quebrada e a sua autoridade é pisoteada. As Academias e Escolas ecoam horrivelmente novas opiniões monstruosas, com as quais a Fé Católica já não é atacada secretamente e de forma clandestina, mas abertamente e diante dos olhos de todos, uma guerra horrível e nefasta é travada contra ela. Na verdade, desde que as mentes dos jovens estudantes foram corrompidas pelos ensinamentos viciosos e pelos maus exemplos dos Preceptores, o colapso da Religião e a desastrosa perversão dos costumes espalharam-se amplamente.

Desta fonte tão corrupta de indiferentismo provém aquela frase absurda e errónea, ou melhor, ilusão, de que a liberdade de consciência deve ser admitida e garantida a todos: um erro muito venenoso, ao qual a liberdade plena e imoderada de opinião que aumenta sempre em detrimento da Igreja e do Estado, não faltando quem se atreva a vangloriar-se com descarada impudência de que alguma vantagem para a Religião advém de tal licença.

Para este fim é dirigida aquela terrível, nunca suficientemente execrada e abominada “liberdade de imprensa” na divulgação de escritos de qualquer tipo; liberdade que alguns ousam invocar e promover com tanto clamor. Ficamos horrorizados, Veneráveis ​​Irmãos, ao observar que extravagância de doutrinas nos oprime ou, melhor, que portentosa monstruosidade de erros se espalha e se dissemina por toda parte onde com aquela multidão infinita de livros, panfletos e escritos, certamente pequenos em tamanho, mas muito grandes em malícia, dos quais vemos com lágrimas nos olhos a maldição que sai de inundar toda a face da terra.

Sillabo (Pio IX, 1864)

Portanto, os mencionados Nossos Predecessores com força apostólica resistiram continuamente às maquinações nefastas de homens iníquos que, espalhando a espuma de suas falácias como as ondas de um mar tempestuoso e prometendo liberdade enquanto escravos da corrupção, com suas opiniões enganosas e suas mais perniciosas escritos, tentaram demolir os fundamentos da religião católica e da sociedade civil, eliminar toda virtude e justiça, depravar as almas e mentes de todos, afastar os incautos e, sobretudo, os jovens despreparados, da correta disciplina de moral., e corrompê-la miseravelmente, aprisioná-la nas armadilhas dos erros e finalmente arrancá-la do seio da Igreja Católica. Mas embora não tenhamos deixado de banir e condenar frequentemente os erros mais capitais deste tipo, a causa da Igreja Católica, a saúde das almas divinamente confiadas a nós e o bem da própria sociedade humana exigem absolutamente que mais uma vez estimulemos o seu cuidado pastoral, a preocupação em derrotar outras más opiniões, que surgem dos erros mencionados na fonte. Estas opiniões falsas e perversas são ainda mais detestáveis, porque visam, em particular, garantir que a força salutar que a Igreja Católica, por instituição e mandato do seu Autor divino, deve exercer livremente até à consumação do tempo, seja impedida e afastada ., tanto para com os homens individuais como para com as nações, os povos e seus Príncipes supremos: eles trabalham para garantir que seja eliminada a sociedade mútua e a harmonia entre o Sacerdócio e o Império, que sempre se mostraram benéficas e benéficas para as coisas ao mesmo tempo sagradas.

Lista dos principais erros da nossa época, que são notados nas alocuções consistorias, nas encíclicas e em outras cartas apostólicas da ss. nosso senhor PIO PAPA IX.

 

  § I. Panteísmo, Naturalismo e Racionalismo Absoluto

  §II. Racionalismo moderado

  §III. Indiferentismo, Latitudinarismo

  § 4. Socialismo, Comunismo, Sociedades Secretas, Sociedades Livres, Sociedades Clerico-Liberais

  § V. Erros sobre a Igreja e os seus direitos

  §VI. Erros que dizem respeito à sociedade civil, considerada tanto em si como nas suas relações com a Igreja

  § VII. Erros sobre a moralidade natural e cristã

  § VIII. Erros sobre o casamento cristão

  § IX. Erros em torno do principado civil do Romano Pontífice

  § X. Erros que se referem ao liberalismo atual

 

Pascendi (Pio X, 1907)

Levadas as coisas até este ponto, Veneráveis Irmãos, já temos muito para bem conhecermos a ordem que os modernistas estabelecem entre a fé e a ciência; notando-se que neste nome de ciência incluem também a história. Antes de tudo se deve ter por certo que o objeto de uma é de todo estranho e separado do objeto de outra. Porquanto a fé unicamente se ocupa de uma coisa, que a ciência declara ser para si incognoscível. Segue-se, pois, que é diversa a tarefa de cada uma; a ciência acha-se toda na realidade dos fenômenos, onde a fé por maneira alguma penetra; a fé, pelo contrário, ocupa-se da realidade divina, que de todo é desconhecido à ciência. Concluise, portanto, que nunca poderá haver conflito entre a fé e a ciência; porque, se cada uma se restringir a seu campo, nunca poderão encontrar-se, nem portanto contradizer-se. Se, entretanto, alguém objetar que no mundo visível há coisas que também pertencem à fé, como a vida humana de Cristo, responderão os modernistas negando.  E a razão é que, conquanto tais coisas estejam no número dos fenômenos, todavia, enquanto viveram pela fé e, no modo já indicado, foram pela mesma transfiguradas e desfiguradas, foram subtraídas ao mundo sensível e passaram a ser matéria do divino. Por este motivo, se ainda se quisesse saber se Cristo fez verdadeiros milagres e profecias, se verdadeiramente ressuscitou e subiu ao céu, a ciência agnóstica o negará e a fé o afirmará; e nem assim haverá luta entre as duas. Nega-o o filósofo como filósofo, falando a filósofos e considerando Cristo na sua realidade histórica; afirma-o o crente, como crente, falando a crentes e considerando a vida de Cristo a reviver pela fé e na fé.

Em matéria de religião, é dever da filosofia não dominar, mas servir, não prescrever o que se deve crer, mas aceitá-lo com razoável respeito, não perscrutar os profundos dos mistérios de Deus, mas piedosa e humildemente venerá-los. Os modernistas entendem isto às avessas.

No entanto não basta impedir a leitura ou a venda de livros maus; cumpre, outrossim, impedirlhes a impressão. Usem pois, os Bispos a maior severidade em conceder licença para impressão. E visto como é grande o número de livros que, segundo a Constituição Officiorum, hão mister da autorização do Ordinário, é costume em certas dioceses designar, em número conveniente, Censores, por ofício, para o exame dos manuscritos.

Já nos referimos acima aos congressos, reuniões públicas, em que os modernistas se aplicam à pública defesa e propaganda das suas opiniões. Salvo raríssimas exceções, de ora em diante os Bispos não permitirão mais os congressos de sacerdotes. Se nalgum caso o permitirem, será sob condição de não tratarem de assuntos de competência dos Bispos ou da Santa Sé, de não fazerem propostas nem petições que envolvam usurpação de jurisdição, nem se faça menção alguma de tudo o que pareça modernismo, presbiterianismo ou laicismo.

 

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