terça-feira, 26 de março de 2024

A CONTAMINAÇÃO HERMENÊUTICA BÍBLIA E COMUNIDADE

FACULDADE CATÓLICA DO AMAZONAS

CURSO DE TEOLOGIA PASTORAL




 

 Paolo Cugini

[Artigo publicado na IHUnisinos: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/603187-a-biblia-e-o-problema-da-interpretacao-a-comunidade-dos-fieis-antes-das-escrituras-artigo-de-paolo-cugini

 

 Demorou, mas até que chegou o tempo de entender

Demorou vários séculos para lermos a Bíblia e entender o significado, ou seja, para compreendermos aquilo que ela quer dizer além da pua letra. Demorou séculos para a Bíblia se tornar a Palavra de Deus para homens e mulheres e dizer algo para eles, por suas experiências, para ajudá-los a viver de uma maneira autêntica sua humanidade, a partir de sua realidade. Demorou milênios para sair da idolatria da letra para finalmente entrar no mundo do Espírito. Era impossível, de fato, que palavras escritas há alguns milênios atrás pudessem dizer algo significativo para o homem e a mulher de hoje. Era impossível para um texto velho como este ser atual, vivo. Na verdade, nenhuma palavra é pura. Também os discursos que encontramos na Bíblia, estão mergulhados na cultura, tradições locais, idiomas ligados a uma determinada região, visões do mundo inerentes a um determinado período histórico. Os filósofos Heidegger e Gadamer nos ensinaram que qualquer idioma nunca é puro, mas é portador de tradições que devem ser compreendidas, interpretadas.

Como foi possível pensar que a letra, tão impregnada de terra e história, pudesse permanecer atual por todos os séculos e por todas as culturas de todos os tempos e latitudes? No entanto, aconteceu assim. Embora São Paulo tenha alertado que a letra mata e que é o espírito que dá vida, no entanto por muitos séculos a Palavra viva foi aprisionada na letra morta. Sem dúvida, há um sentido literal que deve ser ouvido e respeitado. 

O sentido espiritual

Já os Padres da Igreja, porém, exortaram os fiéis a buscar o sentido espiritual. Para ajudar nesta pesquisa, desenvolveram o método tipológico, pondo em paralelo os textos do Novo Testamento com os do Primeiro Testamento. Desta forma, se destacava o caráter de cumprimento da presença de Jesus na história, para evidenciar a continuidade da história da salvação. O método tipológico permitiu, então, entender como em perspectiva de salvação, a vinda de Jesus Cristo foi o ponto culminante do processo histórico-salvífico. Até o método alegórico, desenvolvido por Filo de Alexandria algumas década antes da vinda de Jesus, ofereceu algumas ideias importantes para sair dos pântanos da letra. Demorou vários séculos para chegar, com Schleiermacher, para tomar a sério a questão da interpretação do texto sagrado. No intervalo, houve a diatribe de Lutero com a Igreja, o que atrasou os tempos. 

Porquê a Igreja demorou tanto para entender que a letra precisa ser interpretada para liberar o conteúdo que traz?

Como é possível?

Um texto como a Bíblia, que vem de longe e é portador de muitas tradições, de muitas mãos, que emana o grito vindo de tantas culturas, de tantas histórias, não pode ser lido superficialmente, não pode ser lido apenas no nível literal. Como é possível pensar que basta ler um texto como este para compreender imediatamente o seu significado? Como é possível identificar a Palavra de Deus com a letra? Quantas pessoas têm sido destruídas, no sentido literal do termo, porque o significado foi identificado com a pura letra! Galileu é o exemplo mais notável. Mas não há necessidade de incomodar Galileu. É suficiente observar o que também está acontecendo hoje em muitas comunidades cristãs, não apenas católicas. Na introdução à Bíblia das comunidades neopentecostais está claramente escrito que, embora reconheçam seu valor, rejeitam a contribuição do método histórico-crítico aplicado à Bíblia. É melhor viver com a cabeça na areia do que enfrentar a realidade. Se apesar de todos os esforços seja da ciência que da filosofia hermenêutica para compreender melhor o sentido do texto, há quem os rejeite e se esconda atrás da letra, quer dizer que, neste ponto especifico, Deus e a religião não têm mais nada a ver com isso. Neste ponto, entramos no espaço delicado da psicanálise, que não é do nosso interesse neste trabalho.

 

A Bíblia na época medieval

Se observarmos o curso da história de forma síncrona, notamos que, quando mais no debate da Igreja o enfoque é o problema do papel do papado, então o debate sobre a Palavra de Deus perde de interesse. Essa distonia é percebida pela leitura dos documentos oficiais da Igreja em que, a certa altura, as citações da Escritura perdem cada vez mais peso a favor de citações das encíclicas dos papas. A escassa atenção às Escrituras é, sem dúvida, uma das razões fundamentais que impulsionaram o problema da interpretação. A atenção para ouvir a Palavra foi substituída pela formulação de dogmas e doutrina. Ser católico significava, em determinado momento da caminhada histórica, conhecer a doutrina. Não se percebeu que, desta forma, caímos numa espécie de gnosticismo vulgar, a baixo custo. Neste clima teológico e espiritual, o devocionismo moderno encontrou espaço no coração do catolicismo. Se não é mais a Palavra de Deus para guiar a comunidade cristã, mas um conjunto de preceitos que foram memorizados juntamente com a participação de alguns ritos, então, a dimensão individual da vida espiritual, desconectada do nível social, foi facilitada. Em certo sentido, poderíamos dizer que, em determinado momento do caminho, a Igreja não estava mais interessada e não precisava mais interpretar a Sagrada Escritura. A vida espiritual já estava cheia de devoções e preceitos que cumpriam a tarefa de alimentar a fé dos fiéis. Além disso, a Escritura da época dos Padres, deixou de ser a principal referência que alimentava a vida da comunidade. Mesmo na liturgia a Palavra de Deus não teve um papel central, mas secundária, também porque na liturgia, a partir do século VIII com Amalário de Métis, iniciou um processo de ritualização progressiva. A Palavra de Deus, que causa a conversão dos corações, não é mais importante, mas o que importa de agora em diante é ver o corpo sacramentalizado de Cristo. Os grandes pregadores das ordens mendicantes da época medieval, preocupados em estimular o sentido de culpa dos ouvintes, mais do que uma autêntica conversão do coração, que leva a uma escolha consciente e para um compromisso comunitário, impulsionaram ao máximo o envolvimento dos sentimentos na experiencia da fé, ao invés da razão. O cristianismo, além de se tornar a religião do império, passa a ser um fator social e político. 

A época moderna

O distanciamento entre ciência e fé, entre religião e razão, que ocorreu na época moderna, encontrou o terreno favorável para a mudança que o próprio Cristianismo viveu desde a época de Constantino no século IVo. Ao mesmo tempo, no entanto, é justo salientar que, mesmo nesta época, a fé e a ciência moderna não se ignoraram totalmente. Vários cientistas, de fato, nunca esconderam a própria fé e os interesses pelo mundo religioso. Acima de todos, vale a pena mencionar Isac Newton que, entre seus inúmeros escritos científicos, também incluiu alguns comentários bíblicos.

A necessidade de abordar a Palavra de Deus de maneira crítica ocorre no Ocidente seja como consequência da importância que as igrejas protestantes atribuíam à Bíblia, tanto por causa da mudança do contexto social e cultural. Por um lado, o Iluminismo, por outro o crescimento da abordagem científica da realidade devido às descobertas e invenções da era moderna, abriram espaço para uma contaminação positiva também no tecido religioso e eclesial. A razão está cada vez mais separada da fé, relegando-a à esfera da magia. Por outro lado, a Igreja, depois do tempo dos Padres, mergulhou na defesa do poder temporal e de intrigas políticas, que havia abandonado o interesse nas dissertações sofisticadas, relegando-as ao debate universitário entre franciscanos e dominicanos. 

 

O começo de um novo estilo

O problema hermenêutico, ou seja, da interpretação dos textos, nasceu do impulso das ciências modernas que passam a abordar um texto antigo numa nova maneira. Percebemos que um texto não é apenas a expressão do pensamento de um autor, mas ele mesmo traz consigo resíduos culturais de seu tempo, opiniões, modos de ser e de falar. Para apreender a objetividade do texto, ou chegar perto dele, requer um esforço científico significativo. É com a Nouvelle Histoire que desenvolve seu projeto científico em torno da revista Les Annales fundada em 1924, que é manifestada toda a eficácia do arsenal científico para analisar um período histórico a partir de seus documentos. Psicanálise, antropologia, etologia, geografia, arqueologia: tudo que pode ajudar a intervir para melhor compreender um período histórico, um documento, é bem-vindo. Há uma primeira observação que me parece necessária: doravante é claro que nenhum texto pode ser observado por uma só perspectiva. O texto contém uma pluralidade de conteúdos, que requerem uma pluralidade de ferramentas a serem compreendidas. Se isso é geralmente verdade, ainda mais para os textos antigos como, precisamente, os textos da Bíblia. Finalmente, saímos do infantilismo idólatra de primazia da letra. Pluralidade de expressão que encontramos já expressa pelo texto bíblico, que é tudo menos um texto único e uniforme.

A Igreja nas trincheiras

A Igreja oficial tem se defendido ao extremo diante da abordagem científica dos textos sagrados.  Do seu ponto de vista, o problema não era tanto em entender melhor um texto, mas em perder a prioridade de interpretação sobre o mesmo. Admitir o método histórico-crítico significava permitir que outra pessoa metesse o nariz em algo que sempre foi prioridade exclusiva do magistério eclesial. O problema não era a compreensão, mas a autoridade sobre texto. A polêmica modernista, que teve na encíclica Pascendi de Pio X em 1907 o auge extremo, foi o terreno cultural em que uma guerra perdida foi travada. O Divino afflante Spiritu de Pio XII de 1943, de fato, reabriu as portas dos estudos bíblicos, mostrando que agora era impossível resistir à evidência hermenêutica da necessidade de uma nova abordagem aos textos sagrados. Não foi, na verdade, apenas a pressão que veio de mundo científico em geral, mas também das novas correntes teológicas, como a Nouvelle Théologie, que impulsionou a Igreja a se abrir ao novo.  

Entre hermenêutica e linguagem

Alguém pode se perguntar: por que essas resistências por parte da Igreja? Haveria muitas respostas que poderiam ser dadas e que temos em parte esboçado acima. O importante é que ocorreu a contaminação científica na era moderna, que não permite que a religião se isole e se feche, aliás ela abre as portas para outra contaminação mais profunda: a contaminação hermenêutica. No final das contas, a relação entre um texto e um leitor não envolve apenas tradições culturais, aspectos antropológicos e geográficos, mas também e sobretudo a linguagem. Se Deus fala ao homem usando seu plano de comunicação e compreensão, significa que é isso nível que precisa ser explorado.

Em Letra ao Humanismo (1946), o filosofo alemão Martin Heidegger argumentou que a linguagem é a casa do ser. A linguagem é o que o homem dispõe para conhecer o mundo. Nossa experiência do mundo é condicionada pelo fato de termos uma linguagem que herdamos. Ter uma linguagem significa que o homem é dialógico. Hermenêutica é uma palavra incomum. A hermenêutica deriva do deus Hermes (Mercúrio), o deus que traz mensagens aos deuses. Hermenêutica, nesta perspectiva, é a arte de interpretar mensagens que não são evidentes. É um conjunto de regras destinadas à interpretação de textos. No século passado, se falava da hermenêutica como uma filosofia. É uma filosofia que pensa que o fenômeno da interpretação não diz apenas a respeito da relação com textos difíceis, mas é um fenômeno que diz respeito a toda existência. Quando olhamos para o mundo, o interpretamos, temos os padrões que herdamos com a língua materna. 

“Não existe experiência do mundo - diz o filosofo italiano Gianni Vattimo - senão por meio de uma linguagem que herdamos, o conhecimento é então a interpretação ao invés do reconhecimento de algo objetivo. Isto não é um defeito. Qualquer relação com o mundo é interpretação: este não é um limite, mas um patrimônio ".

 Isso também se aplica ao texto bíblico. Os autores, enquanto escrevem um texto inspirados, eles também transmitem, por meio da linguagem, o que herdaram da cultura em que viveram, das ideias que tinham sobre o mundo, das razões que os levaram a escrever. Há, então, uma intencionalidade na linguagem, que é interpretação e que, portanto, deve ser aprofundada. Compreender este aspecto é compreender o significado profundo do mistério da encarnação, o paradoxo da eternidade que entra no tempo. Afinal, o texto sagrado é a manifestação deste mistério. Acreditar na Palavra de Deus significa acreditar na encarnação do Verbo e na possibilidade de encontrar Deus na carne humana, na letra escrita. Por isso, a compreensão exige um esforço, um cansaço que fala de um desejo de encontrar Deus. A hermenêutica forneceu uma ferramenta importante para ajudar qualquer um para entender o texto. Podemos argumentar com segurança que a hermenêutica tem mudado o caminho da Igreja, libertando-a, por assim dizer, da sua jaula de ouro, forçado a enfrentar o mundo. 

Habitar a linguagem bíblica com uma atenção hermenêutica, deveria produzir por seus leitores e pelas comunidades que tem como referência a Bíblia, uma atitude dialógica e tolerante. Se a Palavra de Deus precisa, pra ser melhor compreendida, de uma diversidade de ferramentas hermenêuticas e heurísticas, da mesma maneira a comunidade que se reúne em torno do texto deve agir, ou seja, não se fechar, mas permanecer aberta aos diversos significados dos quais o texto é portador. A contaminação hermenêutica permitiu à comunidade cristã remover o véu sobre o significado autêntico da verdade que a Bíblia pretende comunicar. Longe de ser uma verdade axiomática e matemática, o que exige uma assimilação fria e asséptica dos conteúdos, a revelação da verdade de Deus em Jesus Cristo ocorre no nível da história e é neste nível que deve ser encontrada. Se isso for verdade, a interpretação do texto é auxiliada tanto pelo método histórico-crítico que da hermenêutica para compreender plenamente o seu significado.

Conclusão: comunidade e palavra de Deus

 É, no entanto, a comunidade reunida que pode captar o significado profundo da Palavra revelada. A Palavra de Deus é, na verdade, uma palavra contextualizada, que fala a uma comunidade específica que vive em um contexto específico. É a comunidade que se torna o lugar privilegiado para a compreensão da Palavra. A contaminação hermenêutica, além de auxiliar na compreensão do texto, tem contribuído para trazer a Palavra de Deus de volta ao seu lugar espiritual original, ou seja, a comunidade dos fiéis reunidos. Desta forma, o prejuízo provocado ​​pela devoção moderna, que causou o fechamento da dimensão religiosa na esfera individual, é atenuado graças a dimensão comunitária da religião. Escrevo atenuado porque o devocionalismo com a tendência para o fechamento na esfera individual ainda é, não apenas muito viva e presente no panorama religioso atual, mas também incentivado. Para sairmos do pântano individualista e assim redescobrir a dimensão comunitária do cristianismo é preciso acolher as contribuições mais significativas da abordagem hermenêutica da Sagrada Escritura.

 

 


sábado, 23 de março de 2024

CALENDÁRIO DE TEOLOGIA PASTORAL 2024

 




FEVEREIRO Um percurso histórico da teologia Pastoral

6 Apresentação do curso e impostação da problemática

13 A ação Pastoral na Igreja primitiva e nos Padres da Igreja

20 A ação Pastoral na época medieval

27 A ação pastoral na época moderna até a preparação do Concilio Vaticano II

 

MARÇO A proposta pastoral do Concilio Vaticano II

5 Sinodalidade (Pe Louis Miguel Modino)

12 O estilo do C VII. A Igreja dos pobres e a Igreja Povo de Deus

19 Liturgia e Pastoral

26 Dei Verbum

 

ABRIL A Teologia Pastoral na América Latina e a proposta pastoral de Papa Francisco

2 Medellin - Puebla

9 A proposta das CEBs e o Documento 100 da CNBB

16 A proposta pastoral de Papa Francisco: Evangelii Gaudium

23 A proposta pastoral de Papa Francisco: Laudato Sii e Fratelli tutti

30 Prova de grupo (leifos) e individual na sala

 

MAIO Temas atuais da Teologia Pastoral

Igreja e pessoas homossexuais

14  A mulher na Igreja. A experiencia das primeiras comunidades e das comunidades indígenas

21Pastoral urbana

28 Teologia Pastoral e política

 

JUNHO

4  Inculturação e contaminação pastoral: o caso Amazonas

11 Prova

sexta-feira, 22 de março de 2024

LEIBNIZ (Lipsia 1646-1716)

 



LEIBNIZ (Lipsia 1646-1716)

Paolo Cugini

 

(anotações do professor)

 

Ele tentou reconciliar a tradição filosófica de Aristóteles e com a religião cristã e com o pensamento científico.

 Se ocupou de matemática, física, política, religião, filosofia. Em contemporânea com Newton formaliza o cálculo infinitesimal. Leibniz não foi um escritor sistemático, mas escreveu muitos livros.

a.   Ensaio de Metafisica

b.   Monadologia (1714)

c.    Novos ensaios sobre o intelecto humano

 

DEBATE COM A FILOSOFIA DO SEU TEMPO

Ordem contingente

A filosofia no tempo de Leibniz vive uma profunda crise. De um lado tinha a visão finalística de tipo Aristotélico e religioso. Deus é livre e criou o mundo de uma forma com um fim preciso. É uma visão que garante a liberdade.

Em paralelo emergiu no ‘600 a visão dos mecanicistas de Spinoza, e dizia que o nosso mundo não admite a liberdade. Tudo acontece com princípios de causa e efeitos e, por isso, não existe liberdade. Tudo acontece segundo uma lei intrínseca. O mundo existe porque a substância se expressou desta maneira. Que o mundo exista deste jeito é uma lei e não podia ser feito de forma diferente. Ninguém escolheu como fazer o mundo: se trata de leis intrínsecas, necessárias. O universo não é livre, pois o universo não tem fins, objetivos. Esta é também a ideia de Newton no campo da física. O mecanicismo sustenta que não existem objetivos no universo.

Leibniz tenta de colocar em comunhão estas duas visões. Ele faz um exemplo. Colocar pontos num quadro, de forma livre. Depois vamos passar uma linha nestes pontos. Se desenhamos esta linha e colocar nos eixos cartesianos conseguiremos um cálculo. Esta é a prova que o mundo não é o único possível. Os pontos podiam ser colocados de uma forma diferente. Leibniz demostra que o nosso mundo podia ser feito de forma diferente: existem infinitos mundos possíveis, mas pode ter regularidade.

É possível que existe liberdade e ordem: não é uma contradição. Em Leibniz Deus existe e escolhe de criar um mundo ordenado, mas livre. Deus escolheu o melhor dos mundos possíveis do ponto de vista do objetivo que Deus quer alcançar: esta é a ideia de Leibniz. Somente um mundo se realiza entre todos aqueles que podiam serem realizados. Este foi o único mundo que pode levar a alcançar o objetivo de Deus, que para nós é obscuro, E para alcançar estes objetivos o mundo passa também através do sofrimento.

 

VERDADE

1.      Verdade de razão: é o campo da lógica. O triangulo tem três latos. É uma verdade a priori, que basta a razão para demostrar isso. É uma verdade idêntica, dizem que uma coisa é igual a si mesma. São aplicados os princípios de identidade e de não-contradição. A frase explica algo que já nós conhecemos. Não posso dizer, de fato, que o triângulo não tem três lados. Aqui ordem e necessidade coincidem, mas é verdade somente no campo da lógica.

 

2.      Verdade de fato: campo da realidade. Cesare passou o Rubicão. Esta é uma verdade de fato e posso sempre pensar o seu contrário. Aqui não tem necessidade. Cesar podia passar o rio ou podia não passar o Rubicão. As verdades de fato não são idênticas em si mesmas. Pode acontecer ou pode não acontecer: são possibilidades que dizem de uma liberdade, que não existe na verdade de razão. Estas verdades são conhecíveis a posteriori e não a priori: esta é uma outra diferença entre verdade de fato e verdade de razão.

Aprofundando nos demos conta que as coisas não são tão separadas como aparece. As verdades da razão derivam da razão, são inatas. Para Locke nada é inato. Para Leibniz existem, pois as verdades de razão se baseiam sobre ideias inatas e no começo são confundidas e se tornam claras através da experiencias. Kant retomará a reflexão de Leibniz.

As verdades de fato derivadas da experiencia: Cesar passou o Rubicão. Cesar (A) Rubicão (B): A faz B. Cesar é aquele homem que passou o Rubicão: A é igual a A+B. Quando é que isso é verdade na matemática, quando B é igual a 0. O que significa quer é igual a 0, significa que a segunda parte da frase seja entendida já na primeira. O problema é que isso acontece nas verdades idênticas. A informação a mais é somente aparência. As verdades de fato não são muito diferentes das verdades de razão. Em Deus as duas verdades coincidem. As verdades são de fato para nós, que não sabemos aquilo que vai acontecer, mas Deus sabe tudo.

3.      A razão suficiente:  Um sujeito que tenha a disposição suficientes dados pode explicar porque um fenômeno se realiza numa maneira em vez que numa outra.

Aqui é o paradoxo da liberdade que se encontra no cristianismo.

 

COSMOLOGIA E FISICA

Leibniz acha que o mundo é diferente de como aparece. Leibniz achaque superando a aparência pode se encontrar uma verdade mais profunda. Atrás da superfície existe uma verdade profunda que deve ser descoberta. Leibniz continua a reflexão do ponto em que tinha chegado Descartes, que tinha estabelecido que Deus tinha dado ao mundo duas características: extensão e movimento. Segundo Leibniz o mundo é constituído de átomos que a um certo ponto não são divisíveis. Leibniz a um certo ponto ache que o atomismo é errado.

Lei da continuidade: na natureza não faz saltos. Duas características do mundo: energia, a força. O atomismo é absurdo. Leibniz estuda a natureza, as formigas. Se não existe um fundamento material, isso quer dizer que a matéria não pode ser fundamento das coisas. Deve ter algo de diferente. Leibniz ache que Descartes errou. É a força viva que se conserva, a energia cinética. Enquanto o movimento se transmitia através da matéria para Descartes, por Leibniz o fundamento do mundo é algo de imaterial.

A matéria não é raiz das coisas, mas também a matéria se fundamenta sobe a força, a energia. O movimento, o tempo, a matéria é uma maneira da energia de se manifestar. A matéria não existe em si, mas é um reflexo da energia.

Dois tipos de forças: passiva e ativa.

·      Passiva: resistência que a força opõe a energia.

·      Ativa: força que empurra as coisas.

A matéria é a manifestação da energia. a realidade é feita forças ativas e passivas. Somos a tentativa de nos realizarmos e, ao mesmo tempo, a energia passiva se opõe. Aquilo que freia a energia é a matéria. A matéria é a força como ela se manifesta. 

Leibniz supera o dualismo de Descartes entre rex cogitans e rex extensa. Este dualismo criava problemas. Segundo Leibniz Descares errou, pois, a matéria não existe, mas é somente uma maneira da força, da energia se manifestar. A rex extensa é na realidade rex cogitans. A raiz das coisas é espiritual.

 

MONADOLOGIA

Monade: Segundo Leibniz em cada matéria, evento tem a semente daquilo que poderia acontecer. Deus conhece a razão suficiente de todos os passos. Constituem o ser. Nós somos formados por monades. São substancias espirituais.

As substâncias individuais são as almas. Estas substâncias individuais contém os sinais de tudo aquilo que irá acontecer. Tudo está escrito na semente originaria.

Substâncias individuais: são interligadas entre elas. As substâncias individuais não contêm somente as sementes daquilo que irá acontecer pessoalmente, mas também no universo. Tudo está interligado.

1696: começa a falar de monades, que são substâncias espirituais.

Monade: átomo espiritual. O espírito é possível dividir até chegar a uma substância minimal, que é chamada monade, a menor parte de uma substância. Não tem forma e é eterna. Deus criou as monades e somente ele pode destruí-las. Monade não é a alma, é algo menor. É uma força. Nós somos formados de tantas monades. Todo corpo é formado de tantas monadas.

As monadas contêm os sinais daquilo que serão e também os sinais de todo o universo. As monadas são átomos fechados, não tem janelas, não comunicam com o externo, não tem relações.  Se a força corresponde as mondas então devem existir monadas com características diferentes. Tem uma hierarquia das monadas: existem monadas mais perfeitas de outras.

Também Deus é uma monada, é a monada mais perfeita.

Não tendo janelas a monada não consegue a influenciar o mundo externo, mas se representa o externo, o cosmo do próprio ponto de vista. Somente Deus tem uma representação perfeita de tudo.

Todas as coisas são constituídas de monadas. Os seres viventem são agregados de monadas, mas de diferentes níveis. Existe uma monada que tem unidos tudo: a monada dominante. O homem é algo de diferente. Existe uma monada superior que garante a unidade de todas as monadas. É a monada dominante, que Leibniz chama de alma. Isso vale para todos os seres viventes, ou seja, plantas e animais. Também Aristóteles falava isso.

 

A matéria é a monade na sua passividade. As monades não tem janelas, não se falam. Apesar disso, se representam o mundo, dentro delas tem uma imagem de tudo aquilo que existe. Para descartes entre alma e corpo a comunicação é continua. No sistema de Leibniz isso é mais complicado. Como é possível que aquilo que imagino corresponde a realidade. Este é um problema presente no sistema de Leibniz.

Percepção: capacidade de representar o mundo

Apetições: capacidade de passar de uma representação a outra.

A mondas tem as duas.  Algumas tem a apercepção, ou seja, a consciência das nossas percepções. Nas monadas das pedras, por exemplo, é presente o reflexo do mundo. Todos os corpos agem sobre de nós. As monadas são uma forma de forças, e sentem a realidade, percebem a realidade. Todas as monadas tem percepção.

O ser humano é feito de monadas e tem a monada dominante, eu percebo, se representa o mundo e se rende conta de perceber, ou seja, tem apercepção.

Leibniz fala de matéria prima e segunda.

Matéria prima: monadas elementares, privas de vida, são inferiores, monadas que percebem, mas não tem apercepção.

Monadas segundas: são os agregado de monadas, como o nosso corpo.

Toda monade tem em si a consciência de tudo aquilo que tem ao seu redor. No começo esta consciência é muito confundida. Quando a monada se desenvolve a percepção se torna mais evidente. Por isso Leibniz é um inatista. As monades conhecem o mundo porque é já dentro delas, apesar que no começo seja confuso. O nosso conhecimento não depende, então, da nossa experiencia, mas sim do conhecimento inato das monadas.

Exemplo: estou percebendo uma mesa na minha frente. Esta percepção não depende da minha experiencia, mas sim das monadas. O meu conhecimento é de tipo a priori, é uma passagem da percepção para uma apercepção. Tudo aquilo que nós faremos são já escritas dentro de nós. É uma forma do pensamento aristotélico de potência e ato.

Problema: como recebemos dados do externo?

Doutrina da harmonia preestabelecida: exemplo dos dois relógios. Deus e o artífice dos relógios. Como é possível que os dois andam juntos? Como é possível que a alma e o corpo sejam em sincronia? Rex cogitans e rex extensa.

Primeira hipótese: No homem a alam e corpo são como os dois relógios. Como fazem a caminhar juntos. Para descartes a solução foi a glândula pineal. Segundo Leibniz esta posição é pouco profunda e não explica o problema.

Segunda hipótese: ocasionalistas. Existe uma intervenção constante do construtor dos relógios. É um Deus que intervém constantemente. Segundo Leibniz alguns fenômenos acontecem sem a intervenção de Deus. ´uma visão redutiva de Deus.

Terceira hipótese: harmonia preestabelecida. Deus criou os relógios para que funcionem bem. Nós temos monades e estas são sempre em harmonia entre elas, porque Deus as construiu bem sem precisar intervir depois.

Nas monadas já tem escrito tudo aquilo que acontecerá: esta é a consequência da criação de Deus, que cria tudo com cuidado e ordem. Até quando não vivo o determinado evento, não o conheço. Tudo é já escrito, mas temos consciência quando acontece. Não somos necessitados, porque as coisas acontecem: é uma forma de inatismo potencial. Não aprendemos das coisas do mundo, mas a nossa vida é uma realização das nossas potencialidades. O mundo externo não tem nenhuma possibilidade de ensinar algo pra nós. É o innatismo radical. É importante lembrar que quando Leibniz escreve, na Inglaterra está se desenvolvendo o pensamento empirista, que sustenta o exato contrário daquilo que Leibniz afirmava. Os sentidos, para Leibniz, não são fonte de conhecimento.

 

 

quinta-feira, 21 de março de 2024

PROVA DE HISTÓRIA DE FILOSOFIA MODERNA (simulado) 22 março 2024

 






FACULDADE CATÓLICA DO AMAZONAS


 

Responder a quatro perguntas:

Prova em grupos de dois (escolhidos pelo professor)

 

1.       Porque é importante estudar filosofia Moderna. As teorias de Riolando Azzi, Todorov, Smith, Linda Tuhiwai. A importância de compreender as mudanças de paradigmas.

 

2.       A partir do humanismo com Pico da Mirandola a cultura ocidental toma a distância da fundamentação metafisica e da Igreja para afirmar as próprias teorias.

 

3.       Porque é tão importante na época moderna o tema da astronomia?

 

 

4.       A importância da carta de Galileu que foi lida na sala

 

5.      A astronomia antes de Copérnico. Passagem do modelo geocêntrico de Aristóteles e Ptolomeu para o modelo heliocêntrico de Copérnico.

 

 

6.      Por que Kepler demorou a passar do círculo para a elipse?

 

7.      Kepler utiliza os cálculos de Tyko Brahe que, apesar de tudo, era contrário ao modelo heliocêntrico copernicano.

 

 

8.      Galileu e o método científico.

 

9.      Giordano Bruno: as consequências do sistema copernicano. O universo infinito pressupõe a possibilidade da existência de outros mundos abitados por seres viventes. Se Deus não mora mais no céu isso significa que o mistério continua a obra da criação na natureza. Deus molda a realidade por dentro. Os problemas de Giordano Bruno com a Igreja até a morte na fogueira.

 

 

10.  O método moderno: Francisco Bacon.

 

11.  O pensamento metafisico de Baruch Spinoza.

 

 

 

PROVA DE TEOLOGIA PASTORAL 26 março 2024

 



FACULDADE CATÓLICA DO AMAZONAS


 

Aprofunda um dos seguintes temas:

 

1.       Análise do conceito de teologia. As condições de possibilidade de um discurso sobre Deus. A percepção da nossa ideia de Deus que assimilamos e a disponibilidade a mudá-la. Entre método dedutivo e indutivo em teologia.

 

2.       O que entendemos com o termo pastoral. Como conhecer a realidade. A teoria do paradigma de Thomas Khun para entender a complexidade da realidade. Todorov e o conhecimento do outro no processo de colonização dos povos indígenas. A teologia Pastoral como caminho de evangelização.

 

 

3.       Caminho histórico da proposta pastoral. A igreja primitiva e a centralidade da Palavra e Deus. A presença das mulheres na igreja primitiva. A identificação da Igreja com o Império Romano a partir do IV. Século e a mudança da perspectiva pastoral.

 

4.       O desenvolvimento do papado na idade média: o exemplo de Gregório VII. A mudança da proposta pastoral é visível na maneira de celebrar a liturgia. A crise luterana e a proposta pastoral do Concilio de Trento. Leitura na sala de alguns documentos da Igreja no período medieval.

 

 

5.       A proposta pastoral da Igreja no período da modernidade. O caso Galileu como paradigma da dificuldade da Igreja acompanhar a novidade do método moderno. O problema astronômico e a dificuldade de acompanhar a mudança de perspectiva. Uma igreja que se fecha em si mesma produz documentos apologéticos e de menosprezo daquilo que não consegue entender. O período modernista e o nascimento do Movimento litúrgico e da Nouvelle Théologie. O tema da liberdade de consciência da Mirari voz (1832) até a Amoris Laetitia, que mostra a dificuldade da Igreja de acompanhar as mudanças culturais. A novidade do Concilio Vaticano II. 

 

6.       A proposta pastoral do Concilio Vaticano II. O estilo dialógico análise de Christoph Theobald. Uma mudança radical de paradigma comparado com os Concílios anteriores. Como este estilo dialógico se manifestas em alguns documentos e eventos sucessivos ao Concílio: Evangelii Nuntiandi; Ut unum Sint; Encontro inter-religioso de Assis do 1995. Quatro etapas da hermenêutica da reforma segundo Theobald.

 

7.       O debate conciliar sobre a Igreja pobre e dos pobres na pesquisa de Matteo Mennini. A tarefa de Paul Gouthier e o Colégio Belga. O envolvimento do cardeal Lercaro e Giuseppe Dossetti. Pobre e comunismo no debate conciliar.

 

8.       A eclesiologia conciliar da Igreja povo de Deus no estudo de Paul Neuner. Relação clero e leigos no debate conciliar.

 

9.       A proposta pastoral da liturgia do Concilio Vaticano II. Percurso histórico da liturgia. Passagem da visão comunitária da eucaristia a uma visão mais individualista. A perca de contato com as origens. A liturgia como possibilidade de viver os traços da humanidade de Jesus. A participação ativa dos fiéis como proposta central da reforma litúrgica do Vaticano II. Uma liturgia celebrada numa eclesiologia do Povo de Deus. A proposta de uma liturgia inculturada na Querida Amazonia de Papa Francisco.

 

Notas:

·         No máximo duas laudas.

O trabalho pode ser realizado em grupo

·         Enviar até terça feira a meio dia ás seguinte e-mail: manausfcm@gmail.com

·         Se precisar de esclarecimentos pode me procurar no watts app: +393319183700

 

AS HISTÓRIAS DA PÁSCOA EM JERUSALÉM (Jo 20-21)

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