Anotações de Paolo Cugini
Vida e significado da obra de Berkeley
Era empenhado num projeto apologético contra o
materialismo, o ateísmo e os livres pensadores, por isso desenvolve uma teoria
do conhecimento nominalista e fenomenista.
Era pastor anglicano e professor de grego. Era da
ideia que a Europa estava numa fase de grande decadência moral. Realizou algumas
viagens na Europa e, de forma especial, a Itália.
Em 1734 é nomeado bispo de Cloyne, na Irlanda.
Berkeley foi um dos mais significativos e influentes
filósofos do período moderno, tendo trazido decisivas contribuições para a
Filosofia da Ciência e da Matemática, a Psicologia da Percepção, a Teoria da
Linguagem e a Metafísica. Como um dos grandes representantes do empirismo
britânico, Berkeley teve um papel fundamental na passagem da filosofia de Locke
para a de Hume. Seus Princípios do conhecimento humano (1710) e os Três
diálogos entre Hylas e Philonous (1713) são clássicos do pensamento filosófico
e apresentam perene interesse para os estudiosos da teoria do conhecimento.
As ideias: esse est percipi
1710 publica: Tratado sobre os princípios do
conhecimento humano. Analisa as bases do ceticismo, do ateísmo e das
irreligiosidades. Berkley tenta desfazer a imagem substancialista-materialista
do universo elaborada pela ciência moderna. Causas primarias deste erro:
a.
Crença
no valor das ideias abstratas;
b.
Crença
de que como contrapartida às qualidades secundarias existem qualidades
primarias;
Ele é em desacordo com Newton e Locke, com o universo
newtoniano feito de substância material independente da mente. ´contra a
psicologia lockiana que admite ideias abstratas.
Berkeley sustenta que o nosso conhecimento é
conhecimento de ideias e não de fatos. Portanto, os objetos do nosso
conhecimento são ideias.
As ideias derivam das sensações, elas provêm dos
sentidos. Por isso Berkeley escreve um livro sobre a visão. “Da vista obtenho as
ideias da luz e das cores. Com o tato percebo o duro e o macio. O olfato me
fornece os odores. O ouvido me transmite o som”.
A teoria de George Berkeley de que a matéria não
existe vem da ideia de que “as coisas sensíveis são aquelas que são
imediatamente percebidas pelo sentido”. Todo o conhecimento vem da percepção; o
que percebemos são ideias, não coisas em si mesmas; uma coisa em si deve ser
uma experiência externa; então o mundo consiste apenas de ideias e mentes que
percebem essas ideias; uma coisa só existe na medida em que percebe ou é
percebida. Através disso, podemos ver que a consciência é considerada algo que
existe, para Berkeley, devido à sua capacidade de perceber. "O 'Ser', do
objeto, significa ser percebido ao passo que o 'ser', do sujeito, significa perceber.
“
A teoria de Berkeley baseia-se fortemente em sua forma
de empirismo, que por sua vez depende fortemente dos sentidos. Seu empirismo
pode ser definido por cinco proposições: todas as palavras significantes
significam ideias; todo nosso conhecimento é sobre nossas ideias; todas as
ideias vêm de fora ou de dentro; se vêm de fora devem-se aos sentidos, e estas
são chamadas de sensações, se vêm de dentro eles são as operações da mente, e
são chamadas de pensamentos. Berkeley esclarece sua distinção entre ideias
dizendo que elas "são impressas nos sentidos", "percebidas
atendendo às paixões e operações da mente", ou "são formadas pela
ajuda da memória e da imaginação".
Por isso, segundo Berkeley, não existem ideias
abstratas e, por isso, a mente humana não tem capacidade de abstração. Toda
ideia é apenas uma sensação singular. Nós não percebemos o cavalo, mas este
cavalo. Estamos claramente na frente de um nominalismo bastante acentuado, pois
nós conhecemos somente ideias e estas coincidem com as impressões dos sentidos,
que são sempre singulares, concretas, individuais.
Cada coisa existe somente quando é percebida: esse est
percipi, pois não há percepção a partir do nada. Nosso conhecimento ´feito de
sensações; a mente percebe sensações e as combina. Ponto e acabou.
Por essa razão é perigosa a distinção entre qualidades
primarias e secundarias. É por este caminho que Berkeley desmonta o ateísmo e o
materialismo. De fato, a existência da matéria independente da mente constitui a
base do materialismo e do ateísmo.
Os objetos do nosso conhecimento são as ideias, estas
se reduzem a sensações; as combinações constantes de ideias são coisas. As
ideias e suas combinações estão na mente: as sensações são sempre concretas e
individuais e por isso as ideias abstratas são meras ilusões.
O esse das coisas é um percepi. E não é possível que
elas possam ter uma existência qualquer fora das mentes ou das coisas pensantes
que as percebem. Nós só podemos dizer que uma coisa existe porque a percebemos:
sua existência se reduz ao seu ser percebida.
Deus e as leis da natureza
As ideias percebidas atualmente pelos meus sentidos
não dependem da minha vontade. Portanto elas são produzidas por outra vontade.
As ideias dos sentidos são mais fortes, mais vivas e distintas do que as ideias
da imaginação. Elas têm estabilidade, ordem, coerência. De onde provém esta
estabilidade?
A admirável conexão desta serie ordenada de ideias demostra
a sabedoria de Deus. E as regras fixas, os métodos segundos os quais a Mente da
qual dependemos suscita em nós as ideias dos sentidos, são chamadas Leis da
natureza.
Portanto é Deus que explica a estabilidade, a ordem, a
coerência das ideias; é Deus que suscita em nós as ideias segundo regras fixas.
Com tudo isso Berkeley não entende retirar nada da
vivacidade e variedade da natureza. “Existe uma rerum natura e a distinção
entre realidade e quimeras conserva toda a sua força”.
Aquilo que Berkeley nega é aquilo que os filósofos
chamam de matéria ou substância corpórea. A negação da matéria não empobrece a vida.
BIBLIOGRAFIA
BERKELEY, G. Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. https://www.academia.edu/72932711/Tratado_Sobre_Os_Princ%C3%ADpios_do_Conhecimento_Humano_George_Berkeley_1_
BERKELEY, G. Obras filosóficas. São Paulo:
Unesp, 2010.
BERKELEY, G. Alcifron ou o filósofo meticuloso.
São Paulo: Unesp, 2022.
BERKELEY, G. Tratado sobre a visão. São Paulo:
Unicamp, 2010.
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