terça-feira, 9 de janeiro de 2024

GEORGE BERKELEY (Irlanda 1685-1753)

 




Anotações de Paolo Cugini

 

Vida e significado da obra de Berkeley

Era empenhado num projeto apologético contra o materialismo, o ateísmo e os livres pensadores, por isso desenvolve uma teoria do conhecimento nominalista e fenomenista.

Era pastor anglicano e professor de grego. Era da ideia que a Europa estava numa fase de grande decadência moral. Realizou algumas viagens na Europa e, de forma especial, a Itália.  

Em 1734 é nomeado bispo de Cloyne, na Irlanda.

Berkeley foi um dos mais significativos e influentes filósofos do período moderno, tendo trazido decisivas contribuições para a Filosofia da Ciência e da Matemática, a Psicologia da Percepção, a Teoria da Linguagem e a Metafísica. Como um dos grandes representantes do empirismo britânico, Berkeley teve um papel fundamental na passagem da filosofia de Locke para a de Hume. Seus Princípios do conhecimento humano (1710) e os Três diálogos entre Hylas e Philonous (1713) são clássicos do pensamento filosófico e apresentam perene interesse para os estudiosos da teoria do conhecimento.

 

 

 

As ideias: esse est percipi

1710 publica: Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. Analisa as bases do ceticismo, do ateísmo e das irreligiosidades. Berkley tenta desfazer a imagem substancialista-materialista do universo elaborada pela ciência moderna. Causas primarias deste erro:

a.       Crença no valor das ideias abstratas;

b.      Crença de que como contrapartida às qualidades secundarias existem qualidades primarias;

Ele é em desacordo com Newton e Locke, com o universo newtoniano feito de substância material independente da mente. ´contra a psicologia lockiana que admite ideias abstratas.

Berkeley sustenta que o nosso conhecimento é conhecimento de ideias e não de fatos. Portanto, os objetos do nosso conhecimento são ideias.

As ideias derivam das sensações, elas provêm dos sentidos. Por isso Berkeley escreve um livro sobre a visão. “Da vista obtenho as ideias da luz e das cores. Com o tato percebo o duro e o macio. O olfato me fornece os odores. O ouvido me transmite o som”.

 

A teoria de George Berkeley de que a matéria não existe vem da ideia de que “as coisas sensíveis são aquelas que são imediatamente percebidas pelo sentido”. Todo o conhecimento vem da percepção; o que percebemos são ideias, não coisas em si mesmas; uma coisa em si deve ser uma experiência externa; então o mundo consiste apenas de ideias e mentes que percebem essas ideias; uma coisa só existe na medida em que percebe ou é percebida. Através disso, podemos ver que a consciência é considerada algo que existe, para Berkeley, devido à sua capacidade de perceber. "O 'Ser', do objeto, significa ser percebido ao passo que o 'ser', do sujeito, significa perceber. “

A teoria de Berkeley baseia-se fortemente em sua forma de empirismo, que por sua vez depende fortemente dos sentidos. Seu empirismo pode ser definido por cinco proposições: todas as palavras significantes significam ideias; todo nosso conhecimento é sobre nossas ideias; todas as ideias vêm de fora ou de dentro; se vêm de fora devem-se aos sentidos, e estas são chamadas de sensações, se vêm de dentro eles são as operações da mente, e são chamadas de pensamentos. Berkeley esclarece sua distinção entre ideias dizendo que elas "são impressas nos sentidos", "percebidas atendendo às paixões e operações da mente", ou "são formadas pela ajuda da memória e da imaginação".

Por isso, segundo Berkeley, não existem ideias abstratas e, por isso, a mente humana não tem capacidade de abstração. Toda ideia é apenas uma sensação singular. Nós não percebemos o cavalo, mas este cavalo. Estamos claramente na frente de um nominalismo bastante acentuado, pois nós conhecemos somente ideias e estas coincidem com as impressões dos sentidos, que são sempre singulares, concretas, individuais.

Cada coisa existe somente quando é percebida: esse est percipi, pois não há percepção a partir do nada. Nosso conhecimento ´feito de sensações; a mente percebe sensações e as combina. Ponto e acabou.

Por essa razão é perigosa a distinção entre qualidades primarias e secundarias. É por este caminho que Berkeley desmonta o ateísmo e o materialismo. De fato, a existência da matéria independente da mente constitui a base do materialismo e do ateísmo.

Os objetos do nosso conhecimento são as ideias, estas se reduzem a sensações; as combinações constantes de ideias são coisas. As ideias e suas combinações estão na mente: as sensações são sempre concretas e individuais e por isso as ideias abstratas são meras ilusões.

O esse das coisas é um percepi. E não é possível que elas possam ter uma existência qualquer fora das mentes ou das coisas pensantes que as percebem. Nós só podemos dizer que uma coisa existe porque a percebemos: sua existência se reduz ao seu ser percebida.

Deus e as leis da natureza

As ideias percebidas atualmente pelos meus sentidos não dependem da minha vontade. Portanto elas são produzidas por outra vontade. As ideias dos sentidos são mais fortes, mais vivas e distintas do que as ideias da imaginação. Elas têm estabilidade, ordem, coerência. De onde provém esta estabilidade?

A admirável conexão desta serie ordenada de ideias demostra a sabedoria de Deus. E as regras fixas, os métodos segundos os quais a Mente da qual dependemos suscita em nós as ideias dos sentidos, são chamadas Leis da natureza.

Portanto é Deus que explica a estabilidade, a ordem, a coerência das ideias; é Deus que suscita em nós as ideias segundo regras fixas.

Com tudo isso Berkeley não entende retirar nada da vivacidade e variedade da natureza. “Existe uma rerum natura e a distinção entre realidade e quimeras conserva toda a sua força”.

Aquilo que Berkeley nega é aquilo que os filósofos chamam de matéria ou substância corpórea. A negação da matéria não empobrece a vida.

 

BIBLIOGRAFIA

BERKELEY, G. Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. https://www.academia.edu/72932711/Tratado_Sobre_Os_Princ%C3%ADpios_do_Conhecimento_Humano_George_Berkeley_1_

BERKELEY, G. Obras filosóficas. São Paulo: Unesp, 2010.

BERKELEY, G. Alcifron ou o filósofo meticuloso. São Paulo: Unesp, 2022.

BERKELEY, G. Tratado sobre a visão. São Paulo: Unicamp, 2010. 

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