quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Aulas de filosofia da religião

 



O FUNDAMENTO TRANSCENDENTE DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

 

(Problema de confundir, reduzir Deus com a minha experiência)

 

 

de Paolo Cugini

 

1. A aporia antológica da relação religiosa

 

Aporia: o divino como fundamento absoluto, aparece dependente da consciência religiosa que o põe.

 

A consciência religiosa, do seu lado, não consegue garantir a absoluteza do divino, na base exclusiva da própria experiência.

 

Perigo: Deus pode se tornar uma projeção do homem – é a crítica de Fenerbach.

 

  • A reflexão filosófica, não parece capaz de expressar positivamente aquilo que consegue intuir.
  • Só captando em um saber pré-reflexivo, anterior à pesquisa racional, como um dato da experiência vivida. Seria possível dar forma plenamente inteligível à alteridade de Deus.

 

Experiência religiosa: é o lugar não-teorético aonde a alteridade de Deus se testemunha de si mesma como infinita plenitude de ser e valor, determinado no homem a consciência existencial e antológica da própria limitação.

 

·         Sendo que a “diferença” se manifesta ela é sabida e afirmada.

 

  1. Bertuleti:  A idéia de manifestação pertence a dimensão da verdade da experiência religiosa.

 

2. A Dialética da manifestação divina:

            Para justificar a origem transcendente da religião, é necessário averiguar a possibilidade antológica de seu aparecer na imanência do mundo do homem.

 

  1. Welte: O infinito pode mostrar-se positivamente no contexto da finitude, só se a sua manifestação se inscreve entre as condições da finitude.

 

Conseqüência: o além essente torna-se um essente para a experiência humana.

 

O eterno adquire o seu tempo aonde a revelação aconteceu. (Ler p. 187)

 

Problema: como é possível que o totalmente além se revela na plenitude sem perder na imanência a Alteridade e a transcendência? (Eternidade no tempo tudo no profundo)

 

K. Rachner: O problema é sobre o sentido da transcendência. Se esta é concebida na sua separação absoluta com a alteridade então não existe possibilidade de revelação. Se, pelo contrário, para a transcendência entendemos “o ato com o qual se estabelece em relacionamento, sem que esta signifique unidade e identidade dos seus termos, mas montando a alteridade.

 

Neste caso a transcendência expressa o modo peculiar de se relacionar com o mundo.

 

É claro que a manifestação do divino no mundo pode acontecer só através das mediações não finitas.

 

Schimtz: Esta é a dialética transcendência – de um lado Deus deve se servir desta realidade para manter a própria transcendência sobre tudo o finito. (Ler p. 198).

 

3. A possibilidade antológica da manifestação do absoluto

 

Problema: Como deve ser pensado o Absoluto porque seja possível a sua autocomunicação ao existente finito, sem comprometer a sua absoluteza em tal relação?

Mesmo porque o Absoluto manifesta já eternamente si mesmo a um dentro dá-se, necessariamente igual a si mesmo enquanto constituído da sua autodiferenciação na figura daquele que tudo recebe, este pode comunicar si mesmo também a um outro radicalmente diferente de si, necessariamente colocado como finito para distingui-lo da alteridade interdivina, sem que em tal ato seja comprometido a própria absoluteza.

 

 

 

 

O OBJETO DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

 

1. O divino e os seus rostos

(ler e traduzir p. 57-59)

 

2. As características essenciais do Divino

a) Presença

O divino nas religiões é testemunhado como uma presença.

·         O homem toma consciência desta presença enquanto se manifesta como algo de diferente que surpreende.

·         Seja que o divino seja percebido como força impessoal que envolve o cosmo, seja que se manifesta com características pessoais, ele se mostra sempre como o  “perante”, perante qual o homem é colocado e não é possível ficar neutral.

b) Potencia Salvífica

O Sagrado se apresenta como potência (Kabad Dunamis). A manifestação da potência de Deus transforma o homem e o seu mundo.

·         A erupção do Sagrado projeta um ponto fixo no meio a atmosfera fluida do espaço. O centro é lei aonde existe uma possibilidade de ruptura e de comunicação entre céu e terra.

É o simbolismo do centro p. 1.  

 

O Sagrado é salvação sobretudo  de morte.

 

·         No universo o homem religioso capta uma lei: a vida morre pra depois renascer. ler p. 62-63  - simbolismo da Lua.

 

Fundamento da totalidade

 

·         O divino deu forma e consistência ao mundo e à vida do homem.

 

Muduino: eterno – dá forma ao universo, é lei a qual deve conformar-se o agir do homem.

 

Budismo: a lei do buda e a sua mensagem de libertação é o durico absoluto inscrito na ordem do mundo.

 

Taoísmo: tão é a via na lei cíclica e unitária da natureza.

 

Confúcio: do céu procede a ordem do mundo e da vida que resplandece na consciência.

 

Islan: Qualquer ato público e privado começa com a formula no nome de Deus clemente e misericordioso porque cada pensamento e projeto do homem pode substituir só se vive no submisso a Allan.

 

Deus é senhor da vida, fundamento e principio das coisas que são. ]

 

Sendo que o divino é fundamento e plenitude do ser, o homem religioso sabe que não pode viver fora dele.

 

As atribuições do Ser Supremo

 

1)      Deus que tudo sabe

 

Onisciente

 

 

A PROBLEMÁTICA GENEALOGICA DA EXPERIENCIA RELIGIOSA

·         Fruto da pesquisa:

A manifestação do divino, media simbolicamente, é a  fonte da experiência religiosa.

·         Especificidade da religião: o ato da experiência religiosa acontece (genealogicamente falando) por força da distancia, no abandono.

 

Em cada realidade o conhecimento acontece na tomada de distancia.

 

Triplice Perceptiva: Índice

a)      Percepção da sua infinita diferença qualitativa.

b)      Percepção do seu sumo valor.

c)      Percepção da sua santidade.

 

1)      Problema: é preciso pesquisar as condições de possibilidade de conhecimento do divino na experiência.

2)      Problema: a abordagem hermeneutica se for o único , não pode excluir a possibilidade de duvida racional.

3)      Problema: como pode o homem religioso finito, ter certeza de ter conhecido o Sagrado na sua transcendência?

 

HUSSERL: O fenômeno é aquilo que se oferece a uma consciência.

 

I. L. Marion: Aquilo que aparece é aquilo que se oferece Adoração, oração, Sacrifício, etc. são, nessa altura,  atado de direito.

 

Heidegger: O fenômeno é aquilo que se mostra a si mesmo, também só para indícios – este é o ser – pode se apresentar a fenomenalidade porque seu indicio o anuncia.

 

O invisível pode ser considerado um fenômeno autentico, Segundo Mounier, nesta perspectiva a relação divina pode entrar no âmbito do fenômeno, e a fenomenologia parece oferecer a  pelo seu conhecimento.

 

·         O dar-se fenômeno pressupõe, sempre, um eu, qual ponto de referência do aparecer e qual seu pressuposto e condição de possibilidade.

 

Porém se revelação divina é tal se não se deixa reduzir no horizonte de possibilidade do eu.

 

Morion: é a este nível que encontramos a aporia.

 

Henry: a peculiar modalidade da revelação consiste uma ruptura de descontinuidade entre a aparição inicial e aquilo que depois manifesta de ser mesmo.

 

Problema: existe um fenômeno que se apresente com estas características?

 

Marion: é o “fenômeno Saturado”.

Fenômeno aonde o fenômeno oferece, no sinal da revelação, muito mais das intenções, dos significados elaborados pelo eu, saturado, assim o horizonte da consciência.

 

Se tudo aquilo que se mostra se doa, nem tudo se dá, nem tudo se dá de mesma maneira.

 

·         O fenômeno saturado representa o arquétipo e vão a exceção dos fenômenos (ler p. 184).

 

 

Marion aponta 4 casos de fenômeno saturado:

 

·         Evento histórico

·         Carne

·         Ídolo

·         Ícone

 

A revelação é o modelo que os resume a todos numa mesma aparição.

 

·         A revelação, enquanto fenômeno saturado, deve ser pensado como um dom sem reciprocidade, ou seja, e sem uma condição transcendente que forneça a razão.

·         A transcendência da datidade, parece reinar para uma doação originária do ser qual ato constitutivo da mesma consciência fenomenológica; sobretudo se se faz valer o conceito de um fenômeno saturante a intuição do eu.

(p. 185)

 

Max Scheler: (A fenomenologia essencial da religião).

 

  • A religião pertence originariamente ao espírito humano.

Os atos religiosos são os atos mais imediatos e profundos da pessoa.

 

  • Existe no homem um supernite (uma excedência) de forças e de exigências espirituais, uma insuprimível tensão ao absoluto – o homem é orientado a Deus.

 

Não existe ninguém que não tenha fé – existem somente formas diferentes de idolatria.

 

  • A experiência religiosa, expressa aquilo que é mais especifico do ser humano.
  • A religião é centrada no objeto absoluto que se revela.

 

É a auto revelação de Deus que está na origem da experiência religiosa.

 

 

 

 

 

O CONHECIMENTO DO DIVINO NO HORIZONTE SIMBÓLICO

 

·         Segundo a fenomenologia da religião os indícios são os símbolos.

 

·         Função conhitiva do símbolo religioso.

 

A operação simbólica vem para suprir s deficiência de conhecimento imediato da realidade divina.

 

  • Enquanto “médium”, aonde toma forma a manifestação do Sagrado o símbolo é testamento e expressão de um evento de encontro e de comunhão com a transcendência.
  • Por isso o símbolo religioso é um instrumento de conhecimento.
  • A função do símbolo não é aquela de promover um conhecimento só mental da realidade, mas de estabelecer uma relação vital com o Sagrado.
  • O valor cochecitivo do símbolo é anafasico – a sua potência de significação encontra-se com a intencionalidade relativa ao Sagrado.

 

 

 

 

 

 

 

O CONHECIMENTO SIMBÓLICO DO DIVINO E A SUA ESPECÍFICA EVIDÊNCIA

 

  • O conhecimento simbólico do divino é de tipo intuitivo.
  • A iraparia divina não se impõe ao sujeito conhecente em modo objetivo, só para a evidência existem exusivel de símbolo isso por  dois motivos:

 

1)      O Sagrado, na sua manifestação, não se identifica nem materialmente nem antologicamente com o símbolo, mas sim intencionalmente.

2)      O elemento material do símbolo não é revelador sem o contexto da experiência religiosa, aonde é envolvida a interioridade do sujeito.

 

  • nada entra na consciência sem ser ativamente transformado em objeto consciente.
  • No plano do espírito, receber é sempre perceber, estruturar, articular.
  • O conhecimento simbólico não tira mas exige e supõe a atividade conhecitiva do sujeito, que se desenvolve não de uma forma discursiva, mas intuitiva.

(Exemplo dos sacramentos hoje).

 

  • CIRCULARIDADE CONHECITIVA: símbolo – realidade significada

 

Se através dos símbolos se abre o conhecimento da realidade simbolizada e se na luz desta ultima, os mesmos símbolos são percebidos como tais e tornam-se relativos.

 

  • Se trata de uma evidência intuitiva:

 

Aquilo que na experiência religiosa é percebido imediatamente no plano simbólico não é o ser de Deus, mas o sinal dele, inscrito na mediação simbólica da intencionalidade relativa. Neste sentido tal evidência é mediada.

 

 

O CARATER REALÍSTICO DO CONHECIMENTO SIMBÓLICO DO DIVINO

 

M. Scheler: Considera a revelação religiosa como uma relação simbólica e, esta, como a categoria genealógica mais adequada para entender de que maneira o divino possa realmente revelar-se e ser conhecido através de um ser contingente, sem recorrer a um processo lógico dedutivo.  

 

Relação simbólica – é uma relação antológica – tem o fundamento no objeto.

 

Relação lógica -  tem o fundamento no sujeito.

 

Exemplo: conhecimento interpessoal do eu e das suas experiências (alegria, dor, vergonha, etc.), que vão acontecer não por analogia, mas por percepção imediata nas expressões corpóreas do rosto, dos gestos, das palavras.

 

  • Na medida em que o homem se deixa geniar do movimento intencional da mediação simbólica do evento revelativo, é capaz de colher também a realidade do divino e da sua comunicação.

 

M. Scheler: Tudo aquilo que sabemos de Deus o sabemos necessariamente através de Deus.

 

  • A conexão entre ato religioso e fundamento divino não é do tipo dedutivo, mas intuitivo e claro é como o relacionamento de uma ópera de arte e o seu autor.
  • A razão filosófica, explicitado o valor antológico dos atos religiosos pode concluir legitimamente à existência do fundamento transcendente deles.

 

CONCLUSÃO: O conhecimento simbólico é o mais adequado para findar o conhecimento do Sagrado na experiência religiosa.

 

 

O PRESSUPOSTO ONTOLOGICO DA EXPERIENCIA RELIGIOSA

 

PROBLEMA: Existe no homem uma disposição antropológica, em pressuposto transcendental, como condição de possibilidade do fenômeno religioso?

 

1. Schleiermacher (a doutrina da fé – 180)

 

  • Necessidade da autonomia da religião da metafísica e da moral.
  • A religião faz parte da essência do homem, apesar que se realize na historia., se tematizou as  condições a priori de possibilidade de tal experiência.

 

Pressuposto transcendental – “ o sentimento de absoluta dependência” – religiosidade.

 

Este sentimento expressa a nossa criaturalidade e vos coloca constantemente perante Deus.

 

·         Não é uma categoria psicológica: a experiência religiosa faz parte da constituição da autoconsciência – é o a priori religioso do espírito humano.

A.     Caraccielo: a religião é entendida como uma estrutura da consciência humana.

 

Critica de Hosseu – Ler p. 171

 

R. Otto (O Sagrado)

 

·         No Sagrado (luminoso) nos deparamos com um momento conhecitivo puramente a priori.

·         O luminoso entra na mais profunda raiz conhecitiva da mesma alma, sem dúvida solicitada pelas experiências empíricas sensíveis.

·         O Sagrado constitui uma categoria puramente a priori, pois é necessário pressupor uma atividade categorial da alma para sinalizar e reconhecer o Sagrado.

·         No espírito humano é desta forma latente, uma predisposição a religião, que solicitada por estivardos externos, desperta.

 

O luminoso, como apriori da experiência religiosa, não é nem razão, nem vontade mas intuição e sentimento.

 

Trata-se de um a priori da intuição religiosa que perante a manifestação do Sagrado se expressa como uma emoção e acompanha esta experiência como critério de identificação.

 

  • Esta emoção se manifesta na dialética de fascinaus e tremendeu, que provoca no homem o sentimento de finitude, da dependência em relação ao Sagrado.

 

Missea Eliade – O Sagrado não é uma etapa na historia da consciência, mas um elemento na estrutura de tal consciência.

 

  • Contradição desta teoria: O Sagrado é transcendente – transcendental?

 

 

 

 

 

 

 

O PRESSUPOSTO ONTOLOGICO DA RELIGIÃO

 

  • A religião é elemento constitutivo  da transcendência humana?

 

Resposta: A religião é a forma que atualiza a estrutura essencial da transcendência humana.

 

  • O pressuposto da religião não pode ser procurado numa faculdade da emoção – é o mesmo homem o pressuposto da religião. É neste nível que se abre uma perspectiva antropológica.
  • A religião enquanto abertura ou transcendente, não é algo que se tem, mas define o mesmo ser do homem. É a tese de Zubiri (ler p. 176).

:

 

A religião não é um sentimento ou um  ato de conhecimento ou de obediência, mas o constitutivo antológico do ser pessoal do homem. 

 

O homem é antologicamente aberto ao SER.

 

CRIATURALIDADE:

Percepção de uma ligação de dependência radical – é um permanente e antológico ser a Deus relacionados, que não compromete a absoluta de Deus, pois é mesmo do absoluto colocar a realidade finita como distinta de si, sem prejudicar a liberdade.

 

Cf. Robuer – p. 177.

 

Zubiri: O pressuposto  antológico de cada revelação está na antológica religação do homem ao próprio fundamento transcendente.

 

A “religação” é autêntico pressuposto antológico de cada ato religioso.

 

·         Só no encanto histórico com deus, quando o homem se abre à relação religiosa, torna-se consciente de ser desde sempre constitutivo partir de tal relação.

Antes existe uma inquieta busca de sentido, uma insuprimivel tensão ao absoluto.

 

CONCLUSÃO: O homem, pela sua mesma constituição originária e essencial é intrinsecamente predisposto para acolher a manifestação do divino, um conteúdo por si mesmo inacessível as próprias forças humanas.

 

A abertura intencional a Deus não é simplesmente o encontro com uma realidade exteriormente mediada para os seus símbolos, mas a explicitação consciente de uma relação previa que é dada na sua mais profunda intensidade.

 

 

 

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