sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

DAVID HUME (Edimburgo, 1711-1776)


 


Nota biografica

David Hume (Edimburgo, 7 de maio de 1711 – Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia, que se tornou célebre pelo seu empirismo radical e ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, David Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria história da filosofia. David Hume elaborou um pensamento crítico ao cartesianismo e às filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de vista teológico-metafísico. Assim David Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos mentais. A sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.

David Hume foi um leitor voraz. Entre as suas fontes, incluem-se tanto a Filosofia antiga como o pensamento científico de sua época, ilustrado pela física e pela filosofia empirista. Fortemente influenciado por Locke e Berkeley é a Newton que Hume deve o seu método de análise, conforme assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana – Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais.

 

O novo cenário do pensamento

É necessário que o método de raciocínio experimental de Bacon e Newton seja aplicado à natureza humana. Ocorre fundar a ciência do homem em base experimentais.

Os conteúdos da mente humana são percepções, dividindo-se em duas classes:

a.       Impressões: diz a respeito à força o a vivacidade com que as percepções se apresentam a nossa mente; aqui Hume coloca a diferença entre sentir e pensar, que é reduzida ao grau de intensidade. Sentir consiste em ter impressões mais vivazes ao passo que pensar consiste em ter percepções mais fracas. Toda percepção, então, é dupla: é sentida e pensada.

 

b.      Ideias: diz respeito a ordem e à sucessão temporal com que elas se apresentam. A impressão é originaria, a ideia é dependente.

 

Daqui deriva o primeiro princípio da ciência da natureza humana: todas as ideias simples provem, mediata o imediatamente, de suas correspondentes impressões. Este princípio acaba com a questão das ideias inatas. Além disso, há impressões:

a.       Simples:

b.      Complexas:

As ideias complexas podem ser copias das impressões complexas, mas também podem ser fruto de combinações múltiplas.



Princípio da associação das ideias: existe entre as ideias uma força expressa pelo princípio da associação. Este princípio é uma força que se impõe habitualmente. As propriedades que dão origem a essa associação e fazem com que a mente seja transportada de uma ideia para outras são três:

a.       Semelhança

b.      Contiguidade

c.       Efeito

Nominalismo humiano: apoia a tese de Berkeley: todas as ideias gerais são ideias particulares conjugadas a certa palavra, que lhe dá um significado mais extenso e faz com que recordem outras individuais semelhantes a elas. Por isso, devemos recordar dois elementos importantes:

a.       Só é distinguível aquilo que é separável;

b.      Cada ideia é cópia de uma impressão e a impressão só pode ser particular e, portanto, só determinada, seja qualitativa que quantitativamente, também as ideias devem ser determinadas do mesmo modo.

Problema: como é possível que uma ideia particular seja usada como ideia geral?

Resposta: Notamos certa semelhança entre as ideias das coisas que nos aparecem, que nos permitem dar o mesmo nome prescindindo das diferenças de grau, de qualidade e de quantidade que elas podem apresentar. Desse modo nós adquirimos um hábito pelo qual ao ouvir aquela palavra desperta em nossa memória umas daquelas ideias particulares que designamos com aquele nome o com aquela palavra.

Novidade do conceito de hábito.

Doutrina da distinção dos objetos presentes na mente em dois gêneros:

a.       Relações entre as ideias. Proposições que se limitam a operar com base em conteúdos ideais, sem se referir aquilo que existe. A matemática e a geometria são constituídas de relações de ideias.

b.      Dados de fato.

Crítica das ideias de causa e efeito e das substâncias materiais e espirituais

Causa e efeito são duas ideias bem distintas entre si, no sentido de que nenhuma análise da ideia de causa pode nos fazer descobrir a priori o efeito que dela deriva. Isso quer dizer que o fundamento de todas as nossas conclusões sobre a causa e o efeito é a experiencia.

Problema: qual é o fundamento das próprias conclusões que extraio da experiencia? Dois elementos:

a.       A contiguidade e a sucessão: são experimentadas

b.      A conexão necessária: é inferida, não é experimentada. Nós a inferimos para termos experimentado uma conexão constante e pelo fato de termos contraído um hábito ao constatar a regularidade da contiguidade e da sucessão, ao ponto de tornar-se natural para nós: dada a causa esperamos o efeito.

Uma vez formado este costume gere em nós uma crença. É precisamente esta crença que nos dá a impressão de que estamos diante de uma conexão necessária. Portanto, segundo Hume a chave para a solução do problema está na crença, que é um sentimento. O fundamento de causalidade sai da esfera racional, para tornar-se emotivo.

 

Crítica ao conceito de substância:

a.       Tanto em referência aos objetos corpóreos

b.      Como no que se refere ao sujeito espiritual

Aquilo que nós captamos é uma serie de feixes de impressões e de ideias. Em virtude da constância com que esses feixes de percepções se apresentam a nós, acabamos por imaginar a existência de um princípio que constitui o fundamento da coesão entre aquelas percepções. Não se trata então, de uma impressão, mas uma nossa maneira de imaginar as coisas.

Substância espiritual: existência do eu, entendida como realidade dotada de existência continua e autoconsciente, idêntica a si mesma e simples. Toda ideia só pode derivar de uma impressão correspondente: mas do eu não há nenhuma impressão precisa, por conseguinte tal ideia não existe.

Isso vale também para os objetos.

Nós não somos nada mais de que coleções de impressões e de ideias. Somos uma espécie de teatro onde passam continuamente as impressões e as ideias.

Tese de Hume:

a.       A existência das coisas fora de nós não é objeto de conhecimento, mas de crença

b.      A identidade do eu não é objeto de conhecimento, mas de crença.

 

O fundamento arracional da moral e da religião

As paixões são algo natural, próprias da natureza humana. São impressões que derivam de outras percepções. Hume distingue as paixões em:

a.       Diretas: dependem diretamente do prazer e da dor, como o desejo, a tristeza.

b.      Indiretas: orgulho, ambição, amor.

As paixões dizem respeito ao eu. A própria vontade pode ser redutível as paixões, pois é como uma paixão que deriva de prazer e de dor.

Livre-arbítrio: sinônimo de não necessidade, causalidade. A realizar nossos atos não somos determinados por motivos externos, mas sim interiores.

A razão jamais pode se contrapor á paixão na condução da vontade. Isso significa proclamar a vitória no jogo das paixões e negar que a razão possa guiar e determinar a vontade.

Moral: a razão não fundamenta a moral. A moral suscita paixões. Fundamento da moral é o sentimento particular de prazer e dor. Hume distingue diferentes tipos de prazeres.

Sentimento de simpatia: qualidade da natureza humana mais notável.

Útil: move nossa concordância. Tudo o que contribui para a felicidade da sociedade indica nossa aprovação e nossa boa vontade.

Religião: não tem fundamento racional e nem moral, mas o seu fundamento é instintivo. A ideia de divino nasceu por medo da morte e da preocupação da vida futura. A ignorância é a mão da devoção. Apesar disso Hume afirma que um povo sem religião pouco difere dos animais.

Dissolução do empirismo. Hume nega valência ontológica do princípio de causa e efeito. À razão cética Hume contrapõe o instinto e o elemento alógico, passional e sentimental portador de uma segurança incontida e, portanto, dogmática. Para Hume a última palavra deve ser deixada ao instinto, para o arracional, poi a razão só pode ser escrava das paixões.

 

 

BIBLIOGRAFIA

HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano, Porto Alegre: LTDA, 2017.

HUME, D. Diálogos sobre a religião natural, Salvador:  Edufba, 2016.

HUME, D. Tratado da natureza humana, São Paulo: Unesp, 2009.

HUME, D. História da Inglaterra. Da invasão de Júlio Cesar á revolução de 1688, São Paulo: Unesp, 2017.  

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