Nota biografica
David Hume (Edimburgo, 7 de maio de 1711 – Edimburgo,
25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido
na Escócia, que se tornou célebre pelo seu empirismo radical e ceticismo
filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, David Hume compõe a famosa
tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes
pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria história da filosofia. David
Hume elaborou um pensamento crítico ao cartesianismo e às filosofias que
consideravam o espírito humano desde um ponto de vista teológico-metafísico.
Assim David Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos
mentais. A sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é
considerável. Teve profunda influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica
do início do século XX e sobre a fenomenologia.
David Hume foi um leitor voraz. Entre as suas fontes,
incluem-se tanto a Filosofia antiga como o pensamento científico de sua época,
ilustrado pela física e pela filosofia empirista. Fortemente influenciado por
Locke e Berkeley é a Newton que Hume deve o seu método de análise, conforme
assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana – Uma Tentativa de
Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais.
O novo cenário do pensamento
É necessário que o método de raciocínio experimental
de Bacon e Newton seja aplicado à natureza humana. Ocorre fundar a ciência do
homem em base experimentais.
Os conteúdos da mente humana são percepções,
dividindo-se em duas classes:
a.
Impressões: diz a respeito à força o a vivacidade com que as
percepções se apresentam a nossa mente; aqui Hume coloca a diferença entre
sentir e pensar, que é reduzida ao grau de intensidade. Sentir consiste em ter
impressões mais vivazes ao passo que pensar consiste em ter percepções mais
fracas. Toda percepção, então, é dupla: é sentida e pensada.
b.
Ideias: diz respeito a ordem e à sucessão temporal com que
elas se apresentam. A impressão é originaria, a ideia é dependente.
Daqui deriva o primeiro princípio da ciência da
natureza humana: todas as ideias simples provem, mediata o
imediatamente, de suas correspondentes impressões. Este princípio acaba com a
questão das ideias inatas. Além disso, há impressões:
a.
Simples:
b.
Complexas:
As ideias complexas podem ser copias das impressões
complexas, mas também podem ser fruto de combinações múltiplas.
Princípio da associação das ideias: existe entre as ideias uma força expressa pelo princípio
da associação. Este princípio é uma força que se impõe habitualmente. As
propriedades que dão origem a essa associação e fazem com que a mente seja
transportada de uma ideia para outras são três:
a.
Semelhança
b.
Contiguidade
c.
Efeito
Nominalismo humiano: apoia a tese de Berkeley: todas as ideias gerais são
ideias particulares conjugadas a certa palavra, que lhe dá um significado mais
extenso e faz com que recordem outras individuais semelhantes a elas. Por isso,
devemos recordar dois elementos importantes:
a.
Só
é distinguível aquilo que é separável;
b.
Cada
ideia é cópia de uma impressão e a impressão só pode ser particular e,
portanto, só determinada, seja qualitativa que quantitativamente, também as
ideias devem ser determinadas do mesmo modo.
Problema: como é possível que uma ideia particular seja usada como ideia geral?
Resposta: Notamos certa semelhança entre as ideias das coisas que nos aparecem,
que nos permitem dar o mesmo nome prescindindo das diferenças de grau, de
qualidade e de quantidade que elas podem apresentar. Desse modo nós adquirimos
um hábito pelo qual ao ouvir aquela palavra desperta em nossa memória umas
daquelas ideias particulares que designamos com aquele nome o com aquela
palavra.
Novidade do conceito de hábito.
Doutrina da distinção dos objetos presentes na mente
em dois gêneros:
a.
Relações
entre as ideias. Proposições
que se limitam a operar com base em conteúdos ideais, sem se referir aquilo que
existe. A matemática e a geometria são constituídas de relações de ideias.
b.
Dados
de fato.
Crítica das ideias de causa e efeito e das substâncias
materiais e espirituais
Causa e efeito são duas ideias bem distintas entre si,
no sentido de que nenhuma análise da ideia de causa pode nos fazer descobrir a
priori o efeito que dela deriva. Isso quer dizer que o fundamento de todas as
nossas conclusões sobre a causa e o efeito é a experiencia.
Problema: qual é o fundamento das próprias conclusões que extraio da experiencia?
Dois elementos:
a.
A
contiguidade e a sucessão: são experimentadas
b.
A
conexão necessária: é inferida, não é experimentada. Nós a inferimos para termos
experimentado uma conexão constante e pelo fato de termos contraído um hábito
ao constatar a regularidade da contiguidade e da sucessão, ao ponto de
tornar-se natural para nós: dada a causa esperamos o efeito.
Uma vez formado este costume gere em nós uma crença. É
precisamente esta crença que nos dá a impressão de que estamos diante de uma
conexão necessária. Portanto, segundo Hume a chave para a solução do
problema está na crença, que é um sentimento. O fundamento de causalidade
sai da esfera racional, para tornar-se emotivo.
Crítica ao conceito de substância:
a.
Tanto
em referência aos objetos corpóreos
b.
Como
no que se refere ao sujeito espiritual
Aquilo que nós captamos é uma serie de feixes de
impressões e de ideias. Em virtude da constância com que esses feixes de
percepções se apresentam a nós, acabamos por imaginar a existência de um princípio
que constitui o fundamento da coesão entre aquelas percepções. Não se trata
então, de uma impressão, mas uma nossa maneira de imaginar as coisas.
Substância espiritual: existência do eu, entendida
como realidade dotada de existência continua e autoconsciente, idêntica a si
mesma e simples. Toda ideia só pode derivar de uma impressão correspondente:
mas do eu não há nenhuma impressão precisa, por conseguinte tal ideia não
existe.
Isso vale também para os objetos.
Nós não somos nada mais de que coleções de impressões
e de ideias. Somos uma espécie de teatro onde passam continuamente as
impressões e as ideias.
Tese de Hume:
a.
A
existência das coisas fora de nós não é objeto de conhecimento, mas de crença
b.
A
identidade do eu não é objeto de conhecimento, mas de crença.
O fundamento arracional da moral e da religião
As paixões são algo natural, próprias da natureza
humana. São impressões que derivam de outras percepções. Hume distingue as
paixões em:
a.
Diretas: dependem diretamente do prazer e da dor, como o
desejo, a tristeza.
b.
Indiretas: orgulho, ambição, amor.
As paixões dizem respeito ao eu. A própria vontade
pode ser redutível as paixões, pois é como uma paixão que deriva de prazer e de
dor.
Livre-arbítrio: sinônimo de não necessidade, causalidade. A realizar
nossos atos não somos determinados por motivos externos, mas sim interiores.
A razão jamais pode se contrapor á paixão na condução
da vontade. Isso significa proclamar a vitória no jogo das paixões e negar que
a razão possa guiar e determinar a vontade.
Moral: a razão não fundamenta a moral. A moral suscita paixões. Fundamento da
moral é o sentimento particular de prazer e dor. Hume distingue diferentes
tipos de prazeres.
Sentimento de simpatia: qualidade da natureza humana mais notável.
Útil: move nossa concordância. Tudo o que contribui para a felicidade da
sociedade indica nossa aprovação e nossa boa vontade.
Religião: não tem fundamento racional e nem moral, mas o seu fundamento é instintivo.
A ideia de divino nasceu por medo da morte e da preocupação da vida futura. A ignorância
é a mão da devoção. Apesar disso Hume afirma que um povo sem religião pouco
difere dos animais.
Dissolução do empirismo. Hume nega valência ontológica do princípio de causa
e efeito. À razão cética Hume contrapõe o instinto e o elemento alógico, passional
e sentimental portador de uma segurança incontida e, portanto, dogmática. Para
Hume a última palavra deve ser deixada ao instinto, para o arracional, poi a
razão só pode ser escrava das paixões.
BIBLIOGRAFIA
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano, Porto
Alegre: LTDA, 2017.
HUME, D. Diálogos sobre a religião natural, Salvador:
Edufba, 2016.
HUME, D. Tratado da natureza humana, São Paulo:
Unesp, 2009.
HUME, D. História da Inglaterra. Da invasão de
Júlio Cesar á revolução de 1688, São Paulo: Unesp, 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário