Diógenes
e a radicalização do cinismo
(Diógenes,
o cínico) andava gritando repetidamente que os deuses concederam aos homens
fáceis meios de vida, mas que, entretanto, os esconderam da vista humana (...).
(Diógenes Laércio, VI, 44)
Segundo
alguns, (Diógenes) foi o primeiro a forrar o manto pela necessidade de
inclusive dormir com ele, e levava um bornal no qual carregava os alimentos;
servia-se indiferentemente de qualquer lugar para qualquer uso, para comer,
para dormir ou para conversar. Costumava dizer que os atenienses tinham-lhe
fornecido um lugar onde pudesse morar: e indicava o pórtico de Zeus e a sala
das procissões (...) Uma vez ordenou a alguém que lhe providenciasse uma
pequena casa; e como aquele demorasse, escolheu por habitação um barril que
havia no Metroo, como ele mesmo atesta nas Epístolas. (Diógenes Laércio, VI, 22s
(=Giannatoni, v B, 174).
A “parresía” e a “anaídeia”
Interrogando sobre qual
seria a coisa mais bela entre os homens disse:’A liberdade de palavra’.
(Diógenes Laércio, VI, 69 (=Giannantoni, v B, 473)
O estóico Dionísio conta
que, depois de Queronéia, foi capturado e conduzido a Filipe. A Filipe, que lhe
perguntou quem era, replicou: ‘Observador da tua insaciável avidez’. Por este
dito conquistou a sua admiração e foi posto em liberdade.
(Diógenes Laércio, VI, 43 (= Giannantoni, vB, 27)
Durante uma refeição, alguns
jogavam-lhe os ossos como a um cão. Diógenes, retirando-se, urinou sobre eles,
como um cão. (Diógenes Laércio, VI, 46 (=Giannantoni, v B, 146)
Expunha ao rídiculo a
nobreza de berço, a reputação e coisas semelhantes, julgando-as ornamentos
exteriores do vício (...). (Diógenes
Laércio, VI, 72 (=Giannantoni, v B, 353).
Não achava de modo algum
estranho roubar alguma coisa de um templo ou tocar a carne de qualquer animal;
nem considerava uma impiedade comer carne humana, como era claro que faziam
alguns povos estrangeiros. (Diógenes
Laércio, VI, 73 (=Giannantoni, v B, 132)
A prática do exercício
(áskesis) e da fadiga (pónos)
Dizia (Diógenes) que o exercício é duplo, espiritual e físico.
Na prática constante do exercício físico, formam-se pensamentos que tornam mais
ágil a atuação da virtude. O exercício físico integra-se e completa-se com o exercício
espiritual. A boa condição física e a força são os elementos fundamentais para
a saúde da alma e do corpo. Apresentava provas para demonstrar que o exercício
físico contribui para a conquista da virtude. Ele observava que tanto os
humildes artesãos como os grandes artistas tinham adquirido notável habilidade
pelo constante exercício da sua arte, e que os flautistas e os atletas deviam a
sua superioridade ao assíduo e trabalhoso empenho. E se estes tivessem
transferido o seu empenho também à alma, teriam conseguido resultados úteis e
concretos. Sustentava por isso que nada se pode obter na vida sem exercício,
antes, que o exercício é o artífice de qualquer sucesso. Eliminados, portanto,
os esforços inúteis, o homem que escolhe as fadigas exigidas pela natureza vive
de maneira feliz; a não-compreensão dos esforços necessários é a causa da
infelicidade humana. Até mesmo o desprezo dos habituados a viver nos prazeres a
contragosto passam a outro teor de vida, assim os que estão exercitados no modo
contrário com maior desenvoltura desprezam esses mesmos prazeres.
(Diógenes Laércio, VI 70s; cf. VI, 23 e 34 (Giannantoni, v B, 291, 174,
176)
A autarquia e a apatia
Freqüentemente (os cínicos)
alimentam-se apenas de ervas e, em todo caso, bebem somente água fresca;
qualquer alojamento é bom, mesmo um barril, como aquele onde vivia Diógenes., o
qual costumava dizer que é próprio dos deuses não ter necessidade de nada, de
quem é semelhante aos deuses, ter necessidade de pouco. (Diógens Laércio, VI, 104 (=Giannantoni, v B 135)
Louvava os que chagavam a
ponto de se casar e não se casavam, os que se preparavam para empreender uma
viagem marítima e a ela renunciavam, os que estavam par se dedicar à vida
política e não se dedicavam, os que queriam constituir uma família e não o
faziam, os que se dispunham a viver com os poderosos e em seguida abstinham-se
disso.
(Diógenes Laércio, VI, 29 (=Giannantoni, v B, 297)
Certa vez viu uma criança
que bebia no côncavo das mãos e jogou fora do bornal a caneca dizendo: “Uma
criança deu-me lição de simplicidade”. Abandonou também a bacia, ao ver um
menino que, tendo-se rompido o prato, pôs as lentilhas na cavidade de um pedaço
de pão.
(Diógenes Laércio, VI, 37
(=Giannantoni, V B, 158)
Enquanto certa vez
(Diógenes) tomava sol no Crâneo, aproximando-se, Alexandre disse: “Pede-me o
que quiseres”. E Diógenes respondeu prontamente: “Deixa-me o meu sol”.
(Diógenes Laércio, VI, 38
(Giannantoni, v B, 33)
Perguntaram
a Diógenes em que idade alguém deveria casar-se. A sua resposta foi esta:
“Quando se é jovem, ainda não, quando se é velho, não mais”.
(Diógenes Laércio, VI, 54 (Giannantoni, v B, 200)
Admitia a comunhão das
mulheres, não reconhecia o matrimônio, mas a convivência pactuada entre homem e
mulher. Em conseqüência, também os filhos deviam ser comuns.
(Diógenes Laércio, VI, 72
(=Giannantoni, v B, 353)
Quando
precisava de dinheiro, recorria aos amigos dizendo que não o pedia como dom,
mas como restituição. (Diógenes
Laércio, VI, 46 (=Giannantoni, v B, 234)
Tudo
pertence aos deuses; os sábios são amigos
dos deuses; os bens dos amigos
são comuns. Por isso os sábios possuem todas as coisas.
(Diógenes Laércio, VI, 37;
cf. VI, 72 (=Giannantoni, v B, 344)
Interrogando
sobre que raça de cão era, afirmou o seguinte:
Quando
tenho fome, um Maltês, quando saciado um Molosso, portanto, daquelas raças
louvadas pela maioria, mas com as quais não se tem coragem de sair à caça por
temor à fadiga. Assim, vós não podeis conviver comigo, porque tendes medo de
sofrer.
(Diógenes Laércio, VI, 55 (=Giannantoni, v B, 143)
Diógenes e a era helenística
Até o
bronze cede ao tempo e envelhece, mas a tua glória, ó Diógenes, permanecerá
intacta pela eternidade, pois só tu ensinaste aos mortais a doutrina de que a
vida basta a si mesma e indicaste o caminho mais fácil para viver. (Diógenes Laércio, VI, 78 (=Giannantoni, v B,
108)
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