quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

OS PITAGORICOS E A NOVA CONCEPÇÃO DO PRINCÍPIO

 





Texto de Giovanni Reale

Síntese: Paolo Cugini


1.                 O número, princípio de todas as coisas

Do ponto de vista da ciência, Aristóteles estabelecera claramente que o princípio que os jônicos atribuíram á água, ao apeíron, ao ar e ao fogo, os pitagóricos, com nítida mudança de perspectiva, atribuíram ao número e aos elementos constitutivos do número.

Os pitagóricos foram os primeiros cultores sistemáticos das matemáticas, foram os primeiros a notar que toda uma série de realidade e fenômenos naturais são traduzíveis por relações numéricas e representáveis de modo matemático. Em primeiro lugar, os pitagóricos notaram como a música era traduzível por número e por determinações numéricas; eles descobriram as relações harmônicas de oitava, de quinta e de quarta e as leis matemáticas que as governam. E ao estudar os diferentes fenômenos do cosmo, também neste âmbito notaram a incidência determinante do número: são precisas leis numéricas que determinam o ano, as estações, os dias etc.; são precisas leis numéricas que regulam os tempos de incubação do feto, os ciclos do desenvolvimento e os diferentes fenômenos da vida.

Para o antigo modo de pensar, o número é coisa real, antes, a mais real das coisas, que, como tal, pode ser princípio constitutivo das demais o número é princípio das coisas assim como o forma a água de Teles ou o ar de Anaxímenes, isto é, princípio integral.

 

2. Os elementos do número: a oposição fundamental e a harmonia

“Os elementos dos números são os elementos de todas as coisas”. O que significa que os números enquanto tais não são o primum absoluto, mas ele mesmo deriva de ulteriores elementos ou princípios.

Que são esses elementos ou princípios?

Os números são todos agrupáveis em duas espécies, pares e ímpares. E porque, como sabemos cada coisa é redutível a um número, cada uma é expressão de número pares ou ímpares. Mas o par e o ímpar não são ainda os elementos últimos. Filolau fala-nos expressamente do ilimitado e do limite ou limitante, como princípio supremos de todas as coisas:

Ora, esse acordo de elementos ilimitados e de elementos limitantes é, justamente, o número, de modo que os elementos últimos dos quais resultam os números são o ilimitado e o limitante. Não é de admirar que os pitagóricos, visem nos números pares uma espécie de florescimento do elemento indeterminado, e nos números ímpares uma espécie de florescência do elemento indeterminado e determinado, e considerassem pares e ímpares, no interior do número, exatamente como os correspectivos de indeterminado e determinante.

Concluindo: o ilimitado e o limitante são os princípios primeiros: neles têm origem os números, os quais são a síntese de um e de outro elemento, mas uma síntese tal que vê no seu próprio interior e, precisamente, na série dos pares, a predominância do elemento limitado e, na série dos ímpares, a predominância do elemento limitante. Como síntese, todavia, o número representa sempre uma “amarração” do ilimitado no limite e, portanto, como tal, podem ser por sua vez, elemento delimitante e determinante das coisas.

 

3. Passagem do número ás coisas

O número era representado como um conjunto de pedrinhas, ou desenhado como conjunto de pontos, portanto era visto, ao mesmo tempo, como figura; e porque os pontos eram concebidos como ocupando espaço, ou seja, como massas, o número era visto também como figura solida. Portanto, a passagem do número ás figuras, ás coisas, para aquele modo primitivo de pensar os números, era totalmente natural. Número e coisas são, pensados como espacialmente, determinados, vale dizer, são postos no mesmo plano: os pitagoricos posteriores estabelecerão o sistema, sem abandonar essas bases. E sempre sobre estas bases, pode-se esclarecer também a tentativa de assimilar os quatro elementos aos sólidos geométricos: a terra ao cubo, o fogo á pirâmide, o ar ao octaedro, a água ao icosaedro.

Assim fica claro o modo como se dá passagem dos elementos primigênios ao numero e do número a todas as coisas.

 

4. Fundação do conceito de “cosmo”: o universo é “ordem”

O universo dos pitagóricos é um universo inteiramente dominado pelo número. E assim fica claro que esse universo devia se tornar, para os pitagóricos, um “cosmo”, que significa “ordem”.

Como, portanto, é termo que eles pela primeira vez usaram neste sentido específico, e neste sentido se manterá se como definitivamente adquirido pelo pensamento ocidental.

O logos cumpriu então um dos seus passos decisivos: o mundo deixou de ser domínio de forças obscuras, campo de misteriosas e indecifrá-veis potências e tornou-se, justamente, “a ordem” e, como tal, tornou-se transparente ao espírito. A ordem diz número e número diz racionalidade, cognoscilidade e permeabilidade ao pensamento. Afirma Filolau:

Todas as coisas conhecidas possuem número; sem este, não seria possível pensar nada, nem conhecer. Portanto, domínio do número significa domínio da racionalidade e da verdade. Se temos presente tudo isso: que todo o universo é harmonia e número e que a própria música é harmonia e número, não parecerá admirável que os pitagóricos pensassem que os céus, girando segundo o número e a harmonia, produzissem belíssimos concertos, uma celeste música de esferas: Do Caos hesiodiano passamos ao Cosmo: graças aos pitagóricos, o homem ganhou novos olhos para ver o seu mundo.


 

XENÓFANES

 

Critica da concepção dos Deuses e destruição do pressuposto da religião tradicional

 

O tema de fundo desenvolvido nos carmes de Xenófanes é cons-tituído sobretudo pela crítica da concepção dos deuses fixado de modo paradi-gmático por Homero e Hesído, esse erro consiste no antropomorfismo, convicção de que os deuses e o Divino em geral devem ter aspectos, forma, sentimentos, tendências totalmente iguais aos dos homens, portanto, os Deuses não têm e não podem ter semelhanças humana; mas é ainda menos pensável que tenham costumes humanos e, sobretudo, que cometem ações ilícitas e nefastas, como o diz a mitologia. E, analogamente, é impossível que os Deuses nasçam, porque se nascem também morrem. E é também impossível que Deus se mova e vaguei de um lugar a outro, como os Deuses erradios de Homero:

E, enfim os fenômenos celestes e terrestres, que as crenças populares identificam com as várias divindades, são explicados como fenômenos naturais, como por exemplo, o arco-íris, que se acreditava ser a deusa Íris: Depois das críticas de Xenófanes, o homem ocidental não poderá mais conceber o divino segundo formas e medidas humanas.

 

Deus e Divino segundo Xenófanes

 

Xenófanes chega a afirmar que Deus é cosmo.

Fragmento 23, Uno, Deus, sumo entre os deuses e os homens, nem por figura nem por pensamento semelhante aos homens, em primeiro lugar, ele é contrária ao espírito de toda a grecidade, ao qual, permaneceu sempre estranho o problema de se Deus é uno ou múltiplo. Em segundo lugar o verso de Xenófanes, ao mesmo tempo em que fala de “Deus” no singular, compara-o e o põe acima dos Deuses no plural, o ver, ouvir e pensar, assim como a força que tudo faz vibrar, são atribuídos a Deus, não em dimensão humana, mas em dimensão cosmológica. Portanto Xenófanes não é monoteísta, porque fala tranquilamente de “Deus”, no singular e no plural, e porque nenhum grego jamais percebeu antítese entre monoteísmo; mas é um espiritualista, porque o seu Deus é o cosmo, e a categoria do espiritual está totalmente além do ho rizonte da sua especulação e não é, por conseqüência, nem sequer dualista. Se Xenófanes identificou Deus com o universo, continuou depois a falar também de Deuses sem determinar as relações destes com aquele, e sem determinar também as relações entre o Deus-cosmo e os eventos e fenômenos singulares do cosmo.

 

A física xenofanéia

Nalguns fragmentos, tudo nasce da terra, e tudo na terra termina.

Terra e água são todas as coisas que nascem e crescem. Todas nasceram da terra e da água, parece que Xenófanes, com a terra quis explicar somente os seres terrestres e não todo o cosmo: portanto o seu princípio é diferente do princípio dos jônicos, que pretendia explicar as coisas terrestres e todo o cosmo.

 

Idéias morais

Xenófanes expressou também idéias morais de alto valor, e em particular afirmou, combatendo os preconceitos correntes, a nítida superioridade daqueles que chamaremos valores espirituais, tais como a virtude, a inteligência, a sabedoria, sobre os valores puramente vitais, como a força física dos atletas.


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