quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

ANTOLOGIA FILOSOFIA ANTIGA: TÁLES, ANAXIMANDRO, ANAXIMENES E HERACLITO

 



(Paolo Cugini org.)

TALES


  Tales, iniciador desse tipo de filosofia, diz que o princípio é a água (por isso afirma também que a terra flutua sobre a água) extraindo certamente esta convicção da constatação de que o alimento de todas as coisas é úmido, que até o quente se gera do úmido e vive no úmido. Ora, aquilo de que todas as coisas se geram é, exatamente, o princípio de tudo. Ele tira, pois, esta convicção desse fato e do que todas as sementes de todas as coisas têm uma natureza das coisas úmidas. (Aristóteles, metafísica, A 3, 983 b 20-27).


   Mas que essa concepção da realidade tenha siso tão originária e tão antiga não fica claro; ao contrário, afirma-se que Tales por primeiro professou essa doutrina sobre a causa primeira. (Aristóteles).


   É tradição que Tales por primeiro desvendou aos gregos a pesquisa sobre a natureza, embora existissem, como sustenta Teofrasto, também muitos outros pesquisadores. Mas Tales superou os que os precederam, a ponto de fazer esquecer a todos. (Simplício).



ANAXIMANDRO

   

  Anaximandro de Mileto[...] afirmava que princípio e elemento das coisas é o áperion, introduzindo por primeiro o termo “princípio”, e dizia que este não era nem água nem outro daqueles que se chamam elementos, mas outra natureza (physis) infinita da qual provêm todos os céus e os universos neles contidos. (Simplício, In Arist. Phys., 24,13).


  Todas as coisas são o princípio: e do infinito não há princípio, porque teria um limite. Ademais, como princípio, é ingênito e imperecível: pois o que é gerado deve Ter um fim, e o fim é próprio de toda dissolução. Por isso, dizemos, dele não pode haver princípio, mas ele parece ser o princípio das outras coisas, e parece envolvê-las todas e regê-las como dizem todos aqueles que não põem outras causas além do infinito. E [o infinito] aparece como o divino, porque é imortal e indestrutível, como dizem Anaximandro e grande parte dos fisiólogos. (Aristóteles, Física, 4,203 b 6ss).


  De onde as coisas tiram o seu nascimento, ai se cumpre a sua dissolução segundo a necessidade; de fato, reciprocamente pagam a pena e a culpa da injustiça, segundo a ordem do tempo. (O fragmento é reportado por Simplício, In Arist. Phys., 24-13 ss.)


  Alguns físicos sustentam que o mar é um resíduo da umidade originária. O espaço em torno à terra, de fato, teria sido úmido, e em seguida uma parte dessa umidade Ter-se-ia evaporado pelo sol e daí teriam derivado os ventos e as rotações do sol e da lua. O que teria restado de tal umidade nas zonas côncavas da terra teria constituído o mar, que, exatamente, está em diminuição porque evapora constantemente pelo sol, até que fiquem tudo seco. (Alexandre, Meteorol., 67,3).


   A terra fica suspensa sem ser sustentada por nada, mas fica fixa por causa da igual distância de todas as partes. (Hipólito, Ref., I, 6,3).

   Segundo Anaximandro, os primeiros animais nasceram no elemento líquido, cobertos por uma capa espinhosa; tendo crescido em idade, deixaram a água e vieram para o seco, e tendo-se rompido a capa que os cobria, pouco depois mudaram o seu modo de viver. (Aécio, V, 19,4).





ANAXÍMENES


     [O ar] se diferencia nas várias substâncias segundo o grau de rarefação e condensação e assim dilatando-se dá origem ao fogo, enquanto condensando-se dá origem ao vento e depois ás nuvens; e em grau maior de densidade forma a água, depois a terra e em seguida as pedras; as outras coisas derivam depois destas. (Teofrasto, As opiniões dos físicos, fr. 2, reportado por Simplício, In Arist. Phys., 24,26).


    Assim como a nossa alma, que é ar, nos sustenta e nos governa, assim, o sopro e o ar abraçam todo o cosmo. (Reportado por Aécio, I, 3, 4).


   Quando ele é absolutamente uniforme, é invisível, torna-se visível com o frio, com o quente, com a unidade e com o movimento. (Hipólito, Ref., I, 7, 2).


    O ar é próximo ao incorpóreo: e dado  que nascemos pelo seu fluxo, é necessário que ele seja infinito e rico, para não faltar nunca. (O fragmento é reportado por Olimpiodoro, De arte sacra, c. 25;).


     Anaxímenes diz que o frio é a matéria que se contrai e se condensa, enquanto o quente é a matéria dilatada e atenuada (exatamente esta é a expressão que ele usa). Portanto, não sem razão, segundo Anaxímenes, diz-se que o homem deixa sair da boca o quente e o frio: a respiração, de fato, se esfria se é comprimida pelos lábios cerrados, mas se ao invés sai da boca aberta torna-se quente dilatação. (Plutarco, De prim. Frig., 7, 947).




HERACLITO DE ÉFESO


    Não se pode descer duas vezes ao mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado, mas por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, dispersa-se e recolhe-se, vem e vai. (Diels-Kranz, 22 B 12,).


    Descemos e não descemos ao mesmo rio, nós mesmos somos e não somos. (Diels- Kranz, 22B 49 a)


    Esta ordem, idêntica para todas as coisas, não a fez nenhum dos Deus, nem dos homens, mas era sempre, é e será fogo eternamente vivo, que em medidas se acende e em medidas se apaga. (Diels- Kranz, 22 B 30.)


    Mutações do fogo: em primeiro lugar o mar, a metade deste a terra, a metade vento incandescente. (Diels-Kranz, 22 B 31.)


Não a mim mas ao logos ouvindo, é sábio admitir que todas as coisas são uma unidade (B 50).


     O raio governa todas as coisas (fr. 64)

      

     Sobrevindo o fogo, julgará e condenará todas as coisas. (fr. 66)


O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz (fr 67).


     O uno, o único sábio, não quer e quer também ser chamado Zeus. (fr. 32)


     A natureza humana não possui conhecimentos, a natureza divina sim. (fr. 78)


      Só existe uma sabedoria: reconhecer a inteligência que governa todas as coisas através de todas as coisas (fr. 41).


Desse logos, sendo sempre, são os homens ignorantes tanto antes de ouvir como depois de o ouvirem; todas as coisas vêm a ser segundo esse logos, e ainda assim parece inexperiente, embora se experimentem nestas palavras e ações, tais quais eu exponho, distinguindo cada coisa segundo a natureza  e enunciando como se comporta. Aos outros homens, encobre-se tanto o que fazem acordados Omo esquecem o que fazem dormindo (II) .


Não sabendo ouvir, não sabem falar (III).


Ignorantes: ouvindo, parecem surdos; o dito lhes atesta: presentes, estão ausentes (IV).


Do Logos com quem constantemente lidam, divergem, e as coisas que a cada dia encontram revelam-se-lhes estranhas (XVII).


Embora sendo o lógos comum, a massa vive como se tivesse um pensamento particular (XVIII).


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