Sintese Paolo Cugini
Para se ter um ponto onde
apoiar uma resposta, impõe-se uma reflexão sobre o que, propriamente, se
encontra em YÉYEIV, no sentido de legen,
de-por e pro-por. Legen significa
estender e prostrar, mas, ao mesmo tempo, significa também por uma coisa junto
com outra, por em conjunto, ajuntar. Legen,
de-por e pro-por, é lesen. O lesen, que mais conhecemos o lesen, no sentido de ler, é apenas uma
variedade de ajuntar – embora ela se tenha deslocado para o primeiro lugar. A
colheita de espigas apanha os frutos do solo e os recolhe. Traubenlese, a
vindima colhe as uvas dos sarmentos da cepa. Ora, apanhar e colher se dão e
acontecem num juntar. Enquanto ficarmos presos à visão comum, temos a tendência
de considerar este ajuntar, como a colheita, ou ate, como toda a colheita, Ora,
colher é mais do que um simples ajuntar. A toda a colheita pertence sempre um
recolher, que acolhe. E no recolhimento vige e opera uma ação de albergar, que
conserva. Aquele “mais” do colher ultrapassa o mero ajuntamento, por não lhe
vir acrescentar-se de fora e, muito menos ainda, por lhe ser o ultimo ato,
servindo-lhe de conclusão. O conservar da colheita toma para si e assume o
inicio de todos os passos do colher no encadeamento de sua seqüência. Olhando-se
apenas a sucessão dos atos, vemos somente uma serie em que ao apanhar e colher
se segue o ajuntar, a este, o recolher, a este, o albergar em silos e no
celeiro. Assim, confirma-se a impressão de que conservar e preservar não
pertenciam à colheita. Todavia, o que seria de uma colheita que não fosse, ao
mesmo tempo, movida e carregada pelo traço fundamental de um abrigar? Abrigar é
o primordial na essência estruturante da colheita.
O de-por e pro-por a ser pensado agora, o YÉYEIV, já
abandonou de antemão, até nem conheceu, a pretensão de postar o real, isto é,
de pô-lo no posto e lugar que ocupa. O único empenho do de-por e pro-por, como
YÉYEIV, é deixar que o que se dispõe por si mesmo num conjunto, seja entregue,
como real, à proteção que o preserva disposto. Que proteção é esta? É a
proteção da verdade. Pois o disposto num conjunto está posto e de-posto no
des-encobriamento, está instalado no des-encobrimento, é substrato subjacente
no des-encobrimento, isto é esta obrigado pelo e no des-encobrimento. Ao deixar
o real dispor-se num conjunto, o YÉYEIV se empenha por abrigar o real no
des-coberto. O KETQOAI, estar disposto para si, do UTTOKEILREVOV do substrato
subjacente, não é nada menos do que a vigência do real no des-encobrimento. É
neste YÉYEIV do UTTOKEILREVOV que se acolhe o YÉYEIV do recolhimento. O único
compromisso do YÉYEIV, enquanto deixar o real dispor-se num conjunto, é com o
obrigado do real no des-encobrimento e por isso e por isso é a preservação, que
determina, de antemão, o recolhimento constitutivo de de-por e pro-por.
YÉYEIV
é legen, de-por e pro-por. E este diz que, recolhido em si, o real é o
disponível vigente em conjunto.
O fato de YÉYEIV se dar, como legen, como de-por e
pro-por, onde dizer e falar têm sua essência, este fato aponta para a mais
antiga e a mais rica das decisões. De onde ela provem? É uma pergunta de peso
e, presumivelmente, é a mesma que esta outra: ate onde alcança os confins
extremos, donde possivelmente lhe advém a essência da língua.
O YOYOS leva o fenômeno, isto é, aquilo que se põe à
disposição, a aparecer por si mesmo, a brilhar à luz de seu mostrar-se.
Dizer é deixar o real
disponível num conjunto que, recolhido, acolhe. Pertencer ao apelo da fala não
é senão deixar o real, que se de-põe e pro-põe em conjunto, dispor-se, como um
todo, em sua disponibilidade. Este é deixar põe o disponível. E põe, como ele
mesmo. Pois põe um e o mesmo na unidade de um só. Põe a unidade de algo como ele
mesmo.
O YOYOS, o legen, o de-por, é o puro deixar dispor-se em conjunto o que, por
si mesmo, aspor, é o puro deixar dispor-se em conjunto o que, por si mesmo,
assim se prostra. O VOYOS vige, pois, no e como o puro legen, o puro de-por e
pro-por, que colhe, escolhe e recolhe no recolhimento originário de uma
colheita original de uma colheita original a partir de uma postura inaugural.
VOYOS é postura recolhedora e nada mais.
Heráclito começa a sentença recusando toda escuta pelo
simples prazer de ouvir. Funda porem, esta recusa numa indicação do sentido
próprio de escutar.
Em certo sentido, a escuta própria dos
mortais é o mesmo que o VOYOS. Por outro lado, justamente por ser e para ser um
OLROYOYETV, ela não pode ser mesmo, pois, em si mesma, não é o VOYOS. O
OLRO-YOYETV permanece antes um YÉYEIV, que só de-põe e pro-põe, e só deixa
dispor-se o que, como OLROV, já esta recolhido, como o todo de um conjunto, e
se acha disponível numa disposição que nunca provem do OLROYOYETV mas repousa
no VOYOS, na postura recolhedora.
À medida
que escuta dos mortais se tornou escuta verdadeira, acontece OLROYOYETV. À
medida que acontece OLROYOYETV é que se dá a um envio sábio. Mas onde é que se
dá e como é que se dá um envio sábio? Heráclito diz: OLROYOYETV QOOÒV EQTIV “EV
IIAVIA” “acontece um envio sábio em sua propriedade, à medida que um é tudo”.
A interpretação corrente entende a
sentença de Heráclito da seguinte maneira: é sábio escutar a pronuncia do VOYOS
e considerar o sentido do pronunciado, repetindo o que se escuta no enunciado
um é tudo. Há, pois, o VOYOS. Este tem algo a anunciar. Há, portanto, o que ele
enuncia, a saber, que tudo é um.
Toda via o “EV IIAVIA” não é o que
VOYOS anuncia na enunciação da sentença nem o que dar a entender, como o
sentido do enunciado. “EV IIAVIA” é o que o VOYOS enuncia, mas “EV IIAVIA” falo do vigor em que vige e se dá.
“Ev é
unicamente uno, por unificar”. Unifica reunido. Reúne, deixando o disponível
dispor-se como tal em seu todo, no recolhimento. O unicamente unifica como
postura recolhedora. Essa união, que recolhedoramente de-põe e pro-põe, recolhe
em si o uno unificador a fim de ele ser, como tal, o único. O “EV IIAVIA” sentença de Heráclito aponta simplesmente para
o que é o VOYOS.
Só há uma
resposta competente à pergunta o que é o VOYOS. Em nossa formulação, à resposta
é: Ó VOYOS YEYEI; o VOYOS deixa dispor-se num conjunto! O quê? IIAVTA.
Como VOYOS, a postura recolhedora posta no
des-encobrimento tudo que vige. O legen,
o de-por e pro-por é um dar abrigo. Ele abriga todo vigente em sua vigência,
donde o YEYEIV dos mortais pode extrair propriamente cada vigente. O VOYOS
posta, isto é, repõe o vigente na vigência. Vigência significa porem: tendo chegando, durar e perdurar no
des-coberto. Ao deixar dispor-se o disponível, como tal, o VOYOS
des-encobre o vigente em sua vigência. Ora, todo desencobrimento é ÁYNOÉA. ÁYNOÉIA e VOYOS são o mesmo.
Em si mesmo, o
VOYOS é simultaneamente des-velar e
velar. É a ÁYNOEIA. O des-encobrimento carece do encobrimento, da YNON, como
seu repositório onde, por assim dizer, se abastece o des-encobrimento. O VOYOS,
a postura recolhedora, tem em si o caráter de encobrir e desencobrir. Enquanto
se pode perceber no VOYOS o modo em que o “EV VOYOS” vige na unificação,
mostra-se, ao mesmo tempo, também que a união própria do VOYOS é infinitamente
diversa de tudo que se costuma apresentar e representar como síntese, copula ou
ligação. A união do YEYEIV não se reduz a um mero ajuntamento abrajente nem a
uma composição simplesmente niveladora das oposições. O “EV IIAVTA” deixa
dispor-se conjuntamente numa vigência tudo o que é di-ferente, por retirar-se
um do outro e, assim, por opor-se um ao outro, como dia e noite, inverno e
verão, paz e guerra, vigília e sono, Dioniso e Hades. Este di-ferente,
SIAOEPÓLREVOV, que é a – portador e su-portador ao longo e através da distancia
extrema entre vigente e ausente, a postura recolhedora deixa dispor-se em sua
di-ferenciação. É o próprio legen, o de-por e pro-por desta postura recolhedora
o que carrega e porta neste a-porte de toda diferenciação. É o “EV” que já é
sempre em si mesmo a - portador.
Mas em que
medida o VOYOS é o destino, destino em sentido próprio, isto é, o recolhimento
das destinações que, cada vez, endereçam tudo ao que é seu? A postura
recolhedora guarda em si toda destinação. à medida que, enviando, a deixa
dispor-se, mantém em seu lugar e curso qualquer vigente e todo ausente e
recolhe tudo, abrigando-o no todo. É assim que tudo e cada coisa pode acorda-se
e inserir-se em sua propriedade. Heráclito diz (B64): TTÁVTA OÍAKÍSEI KEPAUVÓS:
o raio, porem, dirige (para sua vigência) tudo (que vige).
De repente, o raio põe, com um golpe, todo vigente na
claridade de sua vigência. O raio mencionado dirige. Pois, de antemão, para
tudo no lugar de sua essência. Este postar, d um golpe só, é a postura
recolhedora, o VOYOS. O “raio” esta aqui, como palavra evocativa de Zeus. Sendo
o altíssimo, Zeus é o destino do universo. Assim, o AÓYOS, O “Ev” IIAVTA não
seria senão o Deus supremo. A essência do AÓYOS acenaria, pois, para a deidade
de Deus.
Em primeira linha, o “Ev, o AÓYOS, o destino de todo
envio sábio, não estão dispostos, por sua essência mais própria, a aparecer sob
o nome de “Zeus”, isto é, com Zeus: OÚK ÉOÉYEI. Só, então, é que se segue
ÉOÉYEI, mas “também o estão”.
Ó VÓYOS nomeia o ser de todo sendo, isto é, de tudo que é
e está sendo, mas não aconteceu. Em parte algumas encontram um vestígio de os
gregos terem pensado a essência da linguagem diretamente pela essência do ser.
Ao invés, representaram a linguagem foneticamente – e foram os primeiros a
fazê-lo – pela fornação, como OWVN, como voz e som vocal. A palavra grega, que
corresponde à palavra “linguagem”, é YAWQQA, língua, em sentido anatômico.
Linguagem é OWVN ONLRAVTIKN, a fornação que designa alguma coisa. Isto
significa: a linguagem tem o caráter fundamental de “expressão”. Ora, esta
representação correta da linguagem, linguagem enquanto expressão, vem de fora
mas se tornou, desde então, decisiva. E o é ainda hoje. A linguagem vale, como
expressão e vice-versa. Gostamos de representar todo tipo de expressão, como
uma espécie de linguagem. A historia da arte fala de linguagem das formas.
Outrora, porem, no inicio do pensamento ocidental, a essência da linguagem
explodiu, como um relâmpago, na luz do ser, outrora, quando Heráclito pensou o
VOYOS, como palavra-chave, a fim, de, nela pensar o ser do sendo. Mas o
relâmpago se extinguiu de repente. E ninguém lhe apanhou um raio sequer e nem a
proximidade do ser que nele se iluminou.
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