Esboço de uma hermenêutica
das definições conciliares antigas
Tem dois fenômenos negativos
que observamos na história da cristologia patrística:
1.
A
contração dogmática:
a elaboração patrística, no diálogo com a cultura do tempo, para responder ás
contestações heréticas, deve concentrar-se sobre alguns elementos e transcurar
outros.
2.
O
formalismo: é fruto de
uma excessiva conceitualização, que é fruto de um fechamento da reflexão sobre
alguns temas.
A volta à concretude do dato
bíblico sobre Cristo ajudou bastante a superar os limites da contração
dogmática e do formalismo. A tarefa é abrir as portas da teologia para o
kerygma do NT, à grande variedade dos seus temas e perspectivas: cosmológica,
soteriologica, eclesiológica, histórica, escatológica, sem claramente renegar a
pesquisa ontológica, que dominou a primeira parte da pesquisa patrística.
A tarefa, então, é resgatar as
cristologias perdidas, como por exemplo a cristologia pneumática (do Cristo
Espírito) e aquela do Novo Adão, com a grande força soteriologica e
escatológica que elas têm.
O problema não aquilo de fazer
uma releitura de Calcedônia, mas de ir as fontes do NT. É o dado bíblico que
deve ser reencarnado hoje, como Calcedônia tentou de fazer naquele tempo.
Trata-se de reconstruir uma nova síntese capaz de ir além da síntese calcedonese
uma pessoa duas naturezas.
Problema: o que significa para nós hoje acolher o Concilio de
Calcedônia?
Ponto de partida é reconhecer
que a definição dogmática marca uma aquisição não reversível pela fé da Igreja:
é um ponto de não retorno. O problema é entender em que consiste este dato
irrenunciável e por isso sempre normativo, da definição dogmática.
No proemio de Calcedônia
emerge que a definição dogmática é em função da heresia, no caso específico,
das duas heresias do nestorianismo e do monofisismo. Esta indicação é
confirmada por duas análises:
a.
Da
estrutura interna de Calcedônia que recusa posições heréticas, que em outros
concílios se expressou com a fórmula: si quis dixerit... anatem sit.
b.
Da
história de toda a cristologia patrística: todos os concílios são respostas á
heresias, tomadas de posição oficiais da Igreja sobre erros.
Na sua essência a definição
conciliar é algo de negativo: indica aquilo que numa situação é percebido da
Igreja como incompatível com a compreensão do dato revelado. Isso quer dizer
que não tem a pretensão de dizer tudo aquilo que de positivo a Igreja entendeu
até aquele momento. Porém, sendo uma negação de uma negação (a heresia), a
definição dogmática é de grande positividade. Fechando, de fato, as aberturar
falsas no caminho da fé, revela tudo o seu conteúdo positivo. Trata-se de uma
espécie de catarse, purificação, que opera um fechamento no desenvolvimento da
tradição, que permite à fé de continuar o próprio desenvolvimento.
Neste sentido a definição
dogmática é uma negação de uma explicitação negativa do dado revelado, que
permite um avanço na formulação da fé. Neste sentido é possível falar de:
“verdade da heresia”, porque serve para melhor clarear a verdade (era esta a opinião
de Santo Tomas).
O elemento positivo da
definição conciliar é de mediar a tradição. Este é o único objetivo que
justifica um Concilio. A história da cristologia dogmática é a construção de
dois margens que impedem ao rio da tradição de transbordar à direita ou à
esquerda, rumo ao adocionismo ou ao monarquismo, rumo ao nestorianismo ou ao
monofisismo, permanecendo, assim, integra e em movimento.
O dogma, não para a tradição,
come se fosse uma barragem, mas permite a tradição de continuar o seu percurso,
graça a barragens que construiu.
O aspecto positivo das
definições cristologicas antigas deve ser buscado no interno das intenções
anti-heréticas.
Problema: o que exige de nós hoje a aceitação de Niceia,
Calcedônia e dos outros concílios antigos?
Resposta: não repropor as soluções que a Igreja excluiu:
aquela de Ario, Apolinario, Nestório, Eutique e outros. Não podemos apagar com
a esponja o fruto de tanto trabalho teológico.
A definição mantém o seu
sentido normativo pela fé enquanto permanece sempre valido a recusa que foi
pronunciada, mas não constitui um obstáculo no desenvolvimento da cristologia.
Não é o progresso da cristologia que Calcedônia poderia obstaculizar, mas o
regresso.
Niceia significa, então, pela
fé de todos os tempos até a parusia, que nunca será possível repropor as
soluções de Ario. A definição conciliar anti-herética é como um anticorpo
depois de ter superado uma doença infecciosa.
Se tudo isso for verdade,
então é possível uma continua volta ao dato bíblico, uma continua avaliação da
teologia com o kerygma, sem que isso queira dizer eliminar as definições que
foram elaboradas anteriormente. Cada nova síntese terá que conter a anterior,
evitando de reabrir os falsos caminhos, que a Igreja n passado fechou uma vez
para sempre.
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