segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O SENTIDO DE CALCEDÔNIA PELA CRISTOLOGIA DE HOJE

 




Esboço de uma hermenêutica das definições conciliares antigas

 

Tem dois fenômenos negativos que observamos na história da cristologia patrística:

1.                      A contração dogmática: a elaboração patrística, no diálogo com a cultura do tempo, para responder ás contestações heréticas, deve concentrar-se sobre alguns elementos e transcurar outros.

 

2.                      O formalismo: é fruto de uma excessiva conceitualização, que é fruto de um fechamento da reflexão sobre alguns temas.

A volta à concretude do dato bíblico sobre Cristo ajudou bastante a superar os limites da contração dogmática e do formalismo. A tarefa é abrir as portas da teologia para o kerygma do NT, à grande variedade dos seus temas e perspectivas: cosmológica, soteriologica, eclesiológica, histórica, escatológica, sem claramente renegar a pesquisa ontológica, que dominou a primeira parte da pesquisa patrística.

A tarefa, então, é resgatar as cristologias perdidas, como por exemplo a cristologia pneumática (do Cristo Espírito) e aquela do Novo Adão, com a grande força soteriologica e escatológica que elas têm.

O problema não aquilo de fazer uma releitura de Calcedônia, mas de ir as fontes do NT. É o dado bíblico que deve ser reencarnado hoje, como Calcedônia tentou de fazer naquele tempo. Trata-se de reconstruir uma nova síntese capaz de ir além da síntese calcedonese uma pessoa duas naturezas.

Problema: o que significa para nós hoje acolher o Concilio de Calcedônia?

Ponto de partida é reconhecer que a definição dogmática marca uma aquisição não reversível pela fé da Igreja: é um ponto de não retorno. O problema é entender em que consiste este dato irrenunciável e por isso sempre normativo, da definição dogmática.

No proemio de Calcedônia emerge que a definição dogmática é em função da heresia, no caso específico, das duas heresias do nestorianismo e do monofisismo. Esta indicação é confirmada por duas análises:

a.                       Da estrutura interna de Calcedônia que recusa posições heréticas, que em outros concílios se expressou com a fórmula: si quis dixerit... anatem sit.

b.                      Da história de toda a cristologia patrística: todos os concílios são respostas á heresias, tomadas de posição oficiais da Igreja sobre erros.

Na sua essência a definição conciliar é algo de negativo: indica aquilo que numa situação é percebido da Igreja como incompatível com a compreensão do dato revelado. Isso quer dizer que não tem a pretensão de dizer tudo aquilo que de positivo a Igreja entendeu até aquele momento. Porém, sendo uma negação de uma negação (a heresia), a definição dogmática é de grande positividade. Fechando, de fato, as aberturar falsas no caminho da fé, revela tudo o seu conteúdo positivo. Trata-se de uma espécie de catarse, purificação, que opera um fechamento no desenvolvimento da tradição, que permite à fé de continuar o próprio desenvolvimento.

Neste sentido a definição dogmática é uma negação de uma explicitação negativa do dado revelado, que permite um avanço na formulação da fé. Neste sentido é possível falar de: “verdade da heresia”, porque serve para melhor clarear a verdade (era esta a opinião de Santo Tomas).

O elemento positivo da definição conciliar é de mediar a tradição. Este é o único objetivo que justifica um Concilio. A história da cristologia dogmática é a construção de dois margens que impedem ao rio da tradição de transbordar à direita ou à esquerda, rumo ao adocionismo ou ao monarquismo, rumo ao nestorianismo ou ao monofisismo, permanecendo, assim, integra e em movimento.

O dogma, não para a tradição, come se fosse uma barragem, mas permite a tradição de continuar o seu percurso, graça a barragens que construiu.

O aspecto positivo das definições cristologicas antigas deve ser buscado no interno das intenções anti-heréticas.

Problema: o que exige de nós hoje a aceitação de Niceia, Calcedônia e dos outros concílios antigos?

Resposta: não repropor as soluções que a Igreja excluiu: aquela de Ario, Apolinario, Nestório, Eutique e outros. Não podemos apagar com a esponja o fruto de tanto trabalho teológico.

A definição mantém o seu sentido normativo pela fé enquanto permanece sempre valido a recusa que foi pronunciada, mas não constitui um obstáculo no desenvolvimento da cristologia. Não é o progresso da cristologia que Calcedônia poderia obstaculizar, mas o regresso.

Niceia significa, então, pela fé de todos os tempos até a parusia, que nunca será possível repropor as soluções de Ario. A definição conciliar anti-herética é como um anticorpo depois de ter superado uma doença infecciosa.

Se tudo isso for verdade, então é possível uma continua volta ao dato bíblico, uma continua avaliação da teologia com o kerygma, sem que isso queira dizer eliminar as definições que foram elaboradas anteriormente. Cada nova síntese terá que conter a anterior, evitando de reabrir os falsos caminhos, que a Igreja n passado fechou uma vez para sempre.

 

 

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