domingo, 28 de julho de 2024

HELENIZAÇÃO E DESELENIZAÇÃO DA CRISTOLOGIA

 



 

Raniero Cantalamessa, Do Kerigma ao Dogma. Estudos sobre a Cristologia dos Padres. Milão: Vita e Pensiero, 2006.

Resumo: Paolo Cugini

 

Qual foi a causa da ontologização da cristologia antiga? Foi a helenização que determinou a prevalência do interesse pela dimensão fundamental e absoluta do ser comparado à da ação e do devir histórico. Em todo caso, houve muita liberdade por parte dos Padres em relação ao pensamento grego. Um exemplo é a rejeição de suas categorias teológicas. Podemos também falar de uma deshelenização, isto é, de uma superação crítica da abordagem grega. Exemplos.

para. Hoomousios de Nicéia marca a crise do platonismo cristão com sua compreensão tripartida (ser infinito, finito e intermediário) de ser de natureza médio-platônica.

b. A solução cristológica de Calcedónia assenta na distinção entre natureza e pessoa: estabelece que a unidade e a dualidade se situam em Cristo em dois níveis diferentes: a dualidade no da natureza e a unidade no da pessoa. Também neste caso a fórmula de uma hipóstase em duas pessoas constitui uma das principais inovações cristãs em comparação com o helenismo. A distinção, de facto, entre substância e pessoa é desconhecida do pensamento clássico.

O que acontece no uso das categorias cristologicas mais importantes do NT?

a. Pneuma: ontologiza-se ao passar do sentido dinâmico do modo de agir, de estar presente e de se manifestar do Cristo ressuscitado na Igreja, ao sentido mais estático da substância. Desta forma pode-se dizer que é helenizado. Mas, num nível mais profundo, é simultaneamente uma deshelenização, porque Pneuma a partir de um conceito eticamente neutro e impessoal ligado à corporeidade, passa a identificar, de acordo com a Bíblia, uma realidade pessoal, eticamente colorida, uma realidade espiritual, o que cria uma alteridade metafísica e ética em relação ao corpo, de modo a permitir que o esquema Espírito-carne expresse a antítese Deus-homem.

b. Logos. A partir de um princípio abstrato e metafísico, historiciza-se a ponto de ser identificado com um homem que nasceu, viveu e morreu.

É o próprio esquema de realidade típico dos gregos (Deus-universo-homem) que está a ser transformado nas mãos dos cristãos num sentido antropocêntrico.

A ontologização nada mais foi do que a forma como a mensagem em torno de Cristo foi historicizada na cultura grega, nela se encarnou, tornou-se grega com os gregos. Foi uma viagem em direção ao mundo, não uma entrega ao mundo.

A helenização e a deselenização são dois aspectos interligados de um único processo: a historicização do querigma bíblico. Segundo Cantalamessa: “pode-se dizer que a helenização é culpa da heresia e a deshelenização é mérito da ortodoxia. Isso significa que, enquanto a heresia tem caráter fortemente conservador, a ortodoxia se manifesta com a característica da criatividade.

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