Raniero Cantalamessa, Do Kerigma ao Dogma. Estudos
sobre a Cristologia dos Padres. Milão: Vita e Pensiero, 2006.
Resumo: Paolo Cugini
Qual foi a causa da ontologização da cristologia
antiga? Foi a helenização que determinou a prevalência do interesse pela
dimensão fundamental e absoluta do ser comparado à da ação e do devir
histórico. Em todo caso, houve muita liberdade por parte dos Padres em relação
ao pensamento grego. Um exemplo é a rejeição de suas categorias teológicas.
Podemos também falar de uma deshelenização, isto é, de uma superação crítica da
abordagem grega. Exemplos.
para. Hoomousios de Nicéia marca a crise do
platonismo cristão com sua compreensão tripartida (ser infinito, finito e
intermediário) de ser de natureza médio-platônica.
b. A solução cristológica de Calcedónia assenta na
distinção entre natureza e pessoa: estabelece que a unidade e a dualidade se
situam em Cristo em dois níveis diferentes: a dualidade no da natureza e a
unidade no da pessoa. Também neste caso a fórmula de uma hipóstase em duas
pessoas constitui uma das principais inovações cristãs em comparação com o
helenismo. A distinção, de facto, entre substância e pessoa é desconhecida do
pensamento clássico.
O que acontece no uso das categorias cristologicas
mais importantes do NT?
a. Pneuma: ontologiza-se ao passar do sentido dinâmico
do modo de agir, de estar presente e de se manifestar do Cristo ressuscitado na
Igreja, ao sentido mais estático da substância. Desta forma pode-se dizer que é
helenizado. Mas, num nível mais profundo, é simultaneamente uma deshelenização,
porque Pneuma a partir de um conceito eticamente neutro e impessoal ligado à
corporeidade, passa a identificar, de acordo com a Bíblia, uma realidade
pessoal, eticamente colorida, uma realidade espiritual, o que cria uma
alteridade metafísica e ética em relação ao corpo, de modo a permitir que o
esquema Espírito-carne expresse a antítese Deus-homem.
b. Logos. A partir de um princípio abstrato e
metafísico, historiciza-se a ponto de ser identificado com um homem que nasceu,
viveu e morreu.
É o próprio esquema de realidade típico dos gregos
(Deus-universo-homem) que está a ser transformado nas mãos dos cristãos num
sentido antropocêntrico.
A ontologização nada mais foi do que a forma como a
mensagem em torno de Cristo foi historicizada na cultura grega, nela se
encarnou, tornou-se grega com os gregos. Foi uma viagem em direção ao mundo,
não uma entrega ao mundo.
A helenização e a deselenização são dois aspectos
interligados de um único processo: a historicização do querigma bíblico.
Segundo Cantalamessa: “pode-se dizer que a helenização é culpa da heresia e a
deshelenização é mérito da ortodoxia. Isso significa que, enquanto a heresia
tem caráter fortemente conservador, a ortodoxia se manifesta com a
característica da criatividade.
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