Giovanni Reale, História da filosofia antiga
Síntese: Paolo Cugini
As características do pitagorismo
das eras helenística e imperial
Os traços peculiares do
médio-pitagorismo são os seguintes:
1) os autores médio pitagóricos tendem a fazer crer
que as doutrinas posteriores são descobertas de antigos pitagóricos, produzindo
uma série de escritos apócrifos contendo aquelas doutrinas e atribuindo-as a
pitagóricos famosos.
2) Eles demosntram uma escassa consciência da própria
identidade filosófica e, justamente por isso, sentem necessidade de ocultar-se
sob uma mascara. Nos seus escritos, falta um baricentro. Eles se limitam,
amiúde, a retomar doutrinas Platão e de Aristóteles, às vezes quase
inteiramente.
3) A doutrina dos supremos princípios da Mônada e da
Díase ou não está presente ou é escassamente explorada, e, sobretudo, não é
ontologicamente aprofundada.
4) Encontram-se infiltrações materialistas e
imanentístas; ou, quando são levantadas temáticas metafísicas, nota-se que os
autores carecem do senido especifico da perspectiva ontológica e metafisica.
5) A mentalidade do pitagorismo médio talvez estejam
ligadas às tentativas que, com relação às do pseudepígrafos, parecem mais
evoluídas e em partes mais evoluídas e em partes mais conscientes, como pôr
exemplo a do Anônimo de Alexandre Polistrone, no qual a doutrina da Mônada e da
Díase e a conseqüente doutrina dos números são explicitamente desenvolvidas,
mas são ao mesmo tempo combinadas com o materialismo estóico. O motivo pelo
qual são propensos a atribuir a tal tipo de pitagorismo tais documentos está no
fasto de que os pitagoricos mais recentes, os “neóteros”, são antimaterialistas
e estão em cerrada polêmica, seja contra o atomismo epicurista, seja contra o
corporeísmo e o imanentismo do pórtico, em plena sintonia com o paralelo
movimento médio-platônico.
Quais são, então, as
características que com exclusividade se podem denominar “neopitagóricas”, ou
seja, do pitagorismo seguramente datável entre o fim da era pagã e os primeiros
possui séculos da era cristã?
1) Os neopitagórios verdadeiros tendem, como se viu, a
lançar fora a mascara e a apresentar com seus nomes e rostos. Mas isso acontece
já na era imperial. Naturalmente, isso não deve ter acontecido repentinamente,
nem de modo exclusivo. Alguns dos próprios pseudepígrafos, por exemplo, podem
pertencer a está época, enquanto recebem algumas das características do
pitagorismo dessa mesma época, embora mantenho os velhos traços.
2) Os neopitagoricos tem a precisa consciência, da sua
identidade, na medida em que a sua doutrina revela um baricentro
preciso.Note-se que, paralelamente à aquisição dessa consciência, muda a
atitude diante de Platão e de Aristóteles, assim como diante dos filósofos da
era helenística: enquanto os mais antigos autores dos pseudepígrafos limita-se
ingenuamente a referir a antigos pitagóricos doutrinas de Platão e de
Aristóteles, o Anônimo de Fócio já estabeleceu uma regular “diadoquia”, ou
seja, uma “sucessão”, na qual Platão e Aristóteles figuram como membros da
escola pitagórica:
O nono sucessor de Pitágoras
(...) foi Platão, o qual foi aluno de Arquita, o velho; o décimo sucessor foi
Aristóteles.
Moderado de grandes e os pitagóricos mais recentes
aumentam a dose. Eles chegam até mesmo a acusar Platão, Aristóteles e os
acadêmicos de mistificação, ou seja, de terem-se apropriado das doutrinas de
Pitágoras só nos seus aspectos mais superficiais e frágeis. Com o escopo de
desacreditá-la. Refere Porfírio, remetendo a Moderado:
(...) Platão, Aristóteles, Espêsipo, Aristóxeno e
Xenócrates, no dizer dos pitagóricos, apropriaram-se com pequenas modificações
do que havia de bom naquela filosofia; e reuniram as partes vulgares e pouco
firmes, e todo que foi excogitado posteriormente pelos invejosos caluniadores
com a finalidade de destruir e ridicularizar aquela escola e as deixaram num
canto com exclusivas de tal seita.
Numênio, que, como veremos, tenta fundir
pitagorismo e platonismo, considerada Pitágoras não só inferior, mas por certos
aspectos, também superior a Platão, e afirmar que o próprio Sócrates foi
discípulo de Pitágoras.
No que diz respeito, ao invés, à relação com as
escolas helenísticas, ao neotagoricos tem plena consciência do que os divide
iremetiavelmente. Os Anônimos de sexto polemizam expressadamente, como sabemos,
contra o materialismo de Epicuro, enquanto Neumênio polemiza explicitamente
contra o pórtico.
3) tocamos assim numa das características mais
qualificastes do neopitagorismo vale dizer, a redescoberta e a reafirmação do
“incorpóreo” e do” material”, ou seja, a recuperação do horizonte perdido com
os sistemas da era helenística. Esse é um dos principais méritos dessa
corrente, a qual, juntamente com o médio-platônismo, preparou as bases dessa
corrente, a qual, juntamente com o médio-platônismo, preparou as bases da
grande síntese neoplatônica.
1) O incorpóreo não é entendido pelos neopitagóricos
do mesmo modo que os médio-platônicos, ou seja, prevalentemente com base na
metafísica das idéias de origem tipicamente platônica, mas com base na doutrina
da Mônada, da Díade e dos números.Tal doutrina é só indiretamente pitagórica e
se liga mais as especulações da antiga academia de espêusipo e de xenócrates,
que, partido das doutrinas do Platão esotérico, como já observamos muitas
vezes, tinha dado um corte acentuadamente temático (já Aristóteles lamentava
que a filosofia do seu tempo tivesse se transformado, justamente, em
matemática).
Todavia, a doutrina dos números é retomada numa
chave que, com relação à academia, acentua mais o seu caráter simbólico. Os
números exprimem algo metanumérico, ou seja, princípios mais profundos, que,
pela sua dificuldade, pouco s prestam a ser por si mesmo representados, e que,
ao invés, por meios dos números podem ser esclarecidos, no sentido que veremos
mais adiante.
2) A doutrina da Mônada e da Díade é submetida a
aprofundamentos de certa importância. A partir de uma originaria formulação que
via na Mônada e na Díade a suprema dupla de contrários, delineia-e uma
tendência sempre mais acentuada a pôr a Mônada em posição de absoluto
privilegio, distinguindo uma primeira de uma segunda Mônada e contrapondo só
essa ultima a Díade, e também tentando deduzir toda a realidade a partir da
Mônada suprema, inclusive a da própria Díade (sobre esse ponto, ademais, a
terminologia é oscilante: enquanto alguns chamam Uno a segunda).
3)
A doutrina das
idéias é dado escasso relevo e só subordinamente a doutrina dos números, os
quais, alem do modo acima acenado, são entendido de modo teológico, antes,
teosófico: desenvolve-se uma verdadeira aritmetosofia.
4)
No que se
refere à concepção do homem, os neopitagoricos elevam ao auge a doutrina da
espiritualidade da alma e da imortalidade (e, conseqüentemente, também a
doutrina da metempsicose é retomada e reafirmada). O fim do homem é indicado na
separação do sensível e na união com o divino.
5)
A ética
nepitagórica assume fortes tintas místicas; a própria filosofia é entendida
como revelação divina e a figura idéia de filosofo, identificada de maneira
paradigmática em Pitágoras, mas que a de um homem perfeito, torna-se a, de um
ser próximo a um demônio ou a um Deus, ou, pelo menos, a de um profeta ou de um
homem superior que tem comercio com os Deuses. Não é certamente exato considerar
Numênio como medico - platônico, como fazem muitos, mas tampouco é correto
considerá-lo na linha dos outros neopitagóricos. De fato, Numênio funde as duas
correntes de pensamento, e, por tal motivo, deve ser tratada a parte na medida
em que, com sua tentativa, antecipa, de certo modo, o neoplatonismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário