terça-feira, 6 de maio de 2025

O RENASCIMENTO DA FILOSOFIA PITAGÓRICA, E A FUSÃO FINAL ENTRE NEOPITAGORISMO E MÉDIO-PLATÔNISMO

 




Giovanni Reale, História da filosofia antiga

Síntese: Paolo Cugini



As características do pitagorismo das eras helenística e imperial

Os traços peculiares do médio-pitagorismo são os seguintes:

1)      os autores médio pitagóricos tendem a fazer crer que as doutrinas posteriores são descobertas de antigos pitagóricos, produzindo uma série de escritos apócrifos contendo aquelas doutrinas e atribuindo-as a pitagóricos famosos.

2)      Eles demosntram uma escassa consciência da própria identidade filosófica e, justamente por isso, sentem necessidade de ocultar-se sob uma mascara. Nos seus escritos, falta um baricentro. Eles se limitam, amiúde, a retomar doutrinas Platão e de Aristóteles, às vezes quase inteiramente.

3)      A doutrina dos supremos princípios da Mônada e da Díase ou não está presente ou é escassamente explorada, e, sobretudo, não é ontologicamente aprofundada.

4)      Encontram-se infiltrações materialistas e imanentístas; ou, quando são levantadas temáticas metafísicas, nota-se que os autores carecem do senido especifico da perspectiva ontológica e metafisica.

5)      A mentalidade do pitagorismo médio talvez estejam ligadas às tentativas que, com relação às do pseudepígrafos, parecem mais evoluídas e em partes mais evoluídas e em partes mais conscientes, como pôr exemplo a do Anônimo de Alexandre Polistrone, no qual a doutrina da Mônada e da Díase e a conseqüente doutrina dos números são explicitamente desenvolvidas, mas são ao mesmo tempo combinadas com o materialismo estóico. O motivo pelo qual são propensos a atribuir a tal tipo de pitagorismo tais documentos está no fasto de que os pitagoricos mais recentes, os “neóteros”, são antimaterialistas e estão em cerrada polêmica, seja contra o atomismo epicurista, seja contra o corporeísmo e o imanentismo do pórtico, em plena sintonia com o paralelo movimento médio-platônico.

Quais são, então, as características que com exclusividade se podem denominar “neopitagóricas”, ou seja, do pitagorismo seguramente datável entre o fim da era pagã e os primeiros possui séculos da era cristã?

1)      Os neopitagórios verdadeiros tendem, como se viu, a lançar fora a mascara e a apresentar com seus nomes e rostos. Mas isso acontece já na era imperial. Naturalmente, isso não deve ter acontecido repentinamente, nem de modo exclusivo. Alguns dos próprios pseudepígrafos, por exemplo, podem pertencer a está época, enquanto recebem algumas das características do pitagorismo dessa mesma época, embora mantenho os velhos traços.

2)      Os neopitagoricos tem a precisa consciência, da sua identidade, na medida em que a sua doutrina revela um baricentro preciso.Note-se que, paralelamente à aquisição dessa consciência, muda a atitude diante de Platão e de Aristóteles, assim como diante dos filósofos da era helenística: enquanto os mais antigos autores dos pseudepígrafos limita-se ingenuamente a referir a antigos pitagóricos doutrinas de Platão e de Aristóteles, o Anônimo de Fócio já estabeleceu uma regular “diadoquia”, ou seja, uma “sucessão”, na qual Platão e Aristóteles figuram como membros da escola pitagórica:

O nono sucessor de Pitágoras (...) foi Platão, o qual foi aluno de Arquita, o velho; o décimo sucessor foi Aristóteles.

Moderado de grandes e os pitagóricos mais recentes aumentam a dose. Eles chegam até mesmo a acusar Platão, Aristóteles e os acadêmicos de mistificação, ou seja, de terem-se apropriado das doutrinas de Pitágoras só nos seus aspectos mais superficiais e frágeis. Com o escopo de desacreditá-la. Refere Porfírio, remetendo a Moderado:

(...) Platão, Aristóteles, Espêsipo, Aristóxeno e Xenócrates, no dizer dos pitagóricos, apropriaram-se com pequenas modificações do que havia de bom naquela filosofia; e reuniram as partes vulgares e pouco firmes, e todo que foi excogitado posteriormente pelos invejosos caluniadores com a finalidade de destruir e ridicularizar aquela escola e as deixaram num canto com exclusivas de tal seita.

Numênio, que, como veremos, tenta fundir pitagorismo e platonismo, considerada Pitágoras não só inferior, mas por certos aspectos, também superior a Platão, e afirmar que o próprio Sócrates foi discípulo de Pitágoras.

No que diz respeito, ao invés, à relação com as escolas helenísticas, ao neotagoricos tem plena consciência do que os divide iremetiavelmente. Os Anônimos de sexto polemizam expressadamente, como sabemos, contra o materialismo de Epicuro, enquanto Neumênio polemiza explicitamente contra o pórtico.

3) tocamos assim numa das características mais qualificastes do neopitagorismo vale dizer, a redescoberta e a reafirmação do “incorpóreo” e do” material”, ou seja, a recuperação do horizonte perdido com os sistemas da era helenística. Esse é um dos principais méritos dessa corrente, a qual, juntamente com o médio-platônismo, preparou as bases dessa corrente, a qual, juntamente com o médio-platônismo, preparou as bases da grande síntese neoplatônica.

1)      O incorpóreo não é entendido pelos neopitagóricos do mesmo modo que os médio-platônicos, ou seja, prevalentemente com base na metafísica das idéias de origem tipicamente platônica, mas com base na doutrina da Mônada, da Díade e dos números.Tal doutrina é só indiretamente pitagórica e se liga mais as especulações da antiga academia de espêusipo e de xenócrates, que, partido das doutrinas do Platão esotérico, como já observamos muitas vezes, tinha dado um corte acentuadamente temático (já Aristóteles lamentava que a filosofia do seu tempo tivesse se transformado, justamente, em matemática).

Todavia, a doutrina dos números é retomada numa chave que, com relação à academia, acentua mais o seu caráter simbólico. Os números exprimem algo metanumérico, ou seja, princípios mais profundos, que, pela sua dificuldade, pouco s prestam a ser por si mesmo representados, e que, ao invés, por meios dos números podem ser esclarecidos, no sentido que veremos mais adiante.

2)      A doutrina da Mônada e da Díade é submetida a aprofundamentos de certa importância. A partir de uma originaria formulação que via na Mônada e na Díade a suprema dupla de contrários, delineia-e uma tendência sempre mais acentuada a pôr a Mônada em posição de absoluto privilegio, distinguindo uma primeira de uma segunda Mônada e contrapondo só essa ultima a Díade, e também tentando deduzir toda a realidade a partir da Mônada suprema, inclusive a da própria Díade (sobre esse ponto, ademais, a terminologia é oscilante: enquanto alguns chamam Uno a segunda).

3)      A doutrina das idéias é dado escasso relevo e só subordinamente a doutrina dos números, os quais, alem do modo acima acenado, são entendido de modo teológico, antes, teosófico: desenvolve-se uma verdadeira aritmetosofia.

4)      No que se refere à concepção do homem, os neopitagoricos elevam ao auge a doutrina da espiritualidade da alma e da imortalidade (e, conseqüentemente, também a doutrina da metempsicose é retomada e reafirmada). O fim do homem é indicado na separação do sensível e na união com o divino.

5)      A ética nepitagórica assume fortes tintas místicas; a própria filosofia é entendida como revelação divina e a figura idéia de filosofo, identificada de maneira paradigmática em Pitágoras, mas que a de um homem perfeito, torna-se a, de um ser próximo a um demônio ou a um Deus, ou, pelo menos, a de um profeta ou de um homem superior que tem comercio com os Deuses. Não é certamente exato considerar Numênio como medico - platônico, como fazem muitos, mas tampouco é correto considerá-lo na linha dos outros neopitagóricos. De fato, Numênio funde as duas correntes de pensamento, e, por tal motivo, deve ser tratada a parte na medida em que, com sua tentativa, antecipa, de certo modo, o neoplatonismo.

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