Sábado 17 agosto 2024
Maromba-Manaus
Paolo Cugini
1.
O
preparo da celebração litúrgica
Existem diferentes níveis de preparação de uma
celebração litúrgica. O primeiro nível é o entendimento sobre liturgia. A
pergunta nesta altura é a seguinte: é o que a liturgia e o que deve reproduzir?
A resposta a este primeiro nível de pesquisa é
fundamental porque orienta a preparação. De fato, é esclarecendo bem o sentido
da liturgia que podemos orientar a preparação.
Para responder a esta pergunta precisamos voltar ao
Concilio Vaticano II e, de forma específica, ao documento Sacrosantum
Concilium. Quais são, então, os pontos mais importantes deste documento que
vale a pena salientar e que tem o poder de orientar a preparação de uma
celebração?
a.
A liturgia fonte e cume. Contudo, a
Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a
fonte de onde promana toda a sua força (SC, 10).
b.
Participação
ativa dos fiéis. A Igreja
está profundamente preocupada em que os fiéis não assistam como estranhos ou
espectadores silenciosos a este mistério da fé, mas que, compreendendo-o bem em
seus ritos e suas orações, participem da ação sagrada de forma consciente,
piedosa e ativa; ser formado pela palavra de Deus (SC, 48). É uma passagem
que mostra a mudança radical na abordagem litúrgica do CV II em comparação com
a tridentina. Agora, a Igreja está preocupada que os “fiéis não compareçam como
estranhos ou espectadores silenciosos”, mas participem ativamente na vida
litúrgica, esforçando-se por compreender os ritos pronunciados numa linguagem
compreensível para o povo de Deus. Por esta razão é retomada a tradição da
oração dos fiéis em resposta à Palavra de Deus: “Depois do Evangelho e da
homilia, especialmente nos domingos e dias santos de preceito”, é restaurada a
“oração comum” também chamada “dos fiéis”, “para que, com a participação do
povo”, sejam feitas orações especiais (SC, 53). A participação ativa constitui
o objetivo primeiro e imediato da reforma litúrgica: A Mãe Igreja deseja
ardentemente que todos os fiéis sejam orientados para aquela participação
plena, consciente e ativa nas celebrações litúrgicas, que é exigida pela
própria natureza da liturgia e à qual o povo cristão “raça eleita, sacerdócio
real, nação santa, povo de compra”, tem direito e dever em virtude do batismo
(SC, 14).
c.
A
liturgia deve ajudar os fiéis a viver a Comunhão. A liturgia que celebramos fundamenta e pressupõe uma
ideia de Igreja, uma eclesiologia. A liturgia desenvolvida no Concílio de
Trento pressupõe uma ideia hierárquica da Igreja, que se identifica com os seus
dirigentes, em detrimento dos fiéis leigos. Pelo contrário, a liturgia do
Vaticano II que, como vimos, convida os fiéis à participação ativa, fundamenta
uma ideia da Igreja como povo de Deus, que é precisamente a proposta feita pelo
CV II. Utilizando o termo povo de Deus, o Concílio esclarece que Deus não chama
e santifica as pessoas de forma singular, independentemente da sua relação com
os outros, mas como comunidade, precisamente como povo de Deus. Além disso, o
conceito de povo de Deus teve um papel fundamental na ressignificação do papel dos
batizados no caminho da comunidade, mostrando como todos participam da
dignidade sacerdotal, profética e real. Existe um denominador comum nos
batizados em Cristo, que precede as diferenças de ministério e serviço na
Igreja. No contexto da LG, o tema do sacerdócio comum é elemento caracterizador
da identidade do povo de Deus. A inversão da ordem determina que o sacerdócio
ministerial esteja necessariamente ligado ao sacerdócio comum, e que este se
torne o termo de referência obrigatório para a compreensão da relação entre as
duas formas de participação no sacerdócio de Cristo. É na Lumen Gentium
que encontramos pela primeira vez numa constituição conciliar uma referência ao
sacerdócio comum, após a breve menção na SC. A totalidade dos batizados é o
sujeito chamado a fazer esta oferta. O culto espiritual prestado a Deus não é
um ato individual, mas antes da Igreja como universitas fidelium, que
manifesta esta identidade sobretudo na assembleia litúrgica. Enquanto o
sacerdócio comum é uma condição que deriva do batismo, o sacerdócio ministerial
é antes uma função de serviço ao povo de Deus que deriva do Sacramento da
Ordem. É a assembleia litúrgica, especialmente a eucarística, que manifesta
“concretamente a unidade do povo de Deus, felizmente expressa e admiravelmente
produzida por este augusto sacramento” (LG, 11). Outro dato histórico que vale
a pena ressaltar, porque influenciou bastante a maneira de interpretar a
Eucaristia e que foi assimilado pelo Concílio de Trento, é a passagem da visão
comunitária da Eucaristia, para uma visão intimista e individualista. Esta
passagem é visível sobretudo na forma de compreender a Eucaristia, que
lentamente deixa de ser o sacramento da unidade da Igreja, como ensinava São
Paulo (1Cor 10), para se tornar cada vez mais relegada à esfera íntima da união
dos fiéis com Cristo. Os historiadores da liturgia afirmam que o protagonista
desta passagem que chega definitivamente ao século Xé Radberto Pascasio.4
Pascásio identifica a Eucaristia com o corpo histórico de Jesus (Mazza, 2001,
p. 61), distanciando-se assim da reflexão dos Padres. Esta mudança, que
poderíamos definir como materialista, pode ser vista no diferente uso que
Pascásio faz dos termos significativos usados pelos Padres no contexto litúrgico,
tais como: figura, verdade, sacramento e mistério. Esta mudança de ênfase causa
mal-entendidos dos textos da Tradição. Pascásio afirma a identidade da
Eucaristia com o corpo de Cristo que nasceu de Maria, sofreu, morreu e
ressuscitou. Com Ivo de Chartres – estamos no século XII – passamos da
concepção da Eucaristia como sacramento da unidade da Igreja, à concepção da
Eucaristia como união dos fiéis com Cristo (Mazza, 2001, p. 116). A passagem de
Guillaume de Saint-Thierry à Summa sentenciarum – ainda estamos no século XII
d.C. – mostra-nos a mudança definitiva sobre o tema da Eucaristia como
sacramento da união com Cristo. Através de Pietro Lombardo a mudança chegará
também a Tomás de Aquino. O Concílio de Trento nada mais fez do que ratificar e
consolidar um processo histórico já em curso há vários séculos e elaborado por
uma notável produção teológica. Mas, graças ao Movimento Litúrgico que se
desenvolveu no século XX, juntamente com a Nouvelle Théologie, que promoveu o
estudo das fontes bíblicas e patrísticas da Igreja, compreendemos a necessidade
de um regresso às origens, na tentativa de restaurar a ordem a uma tradição que
perdeu, ao longo dos séculos, o contato com os dados originais, tornando-se,
assim, uma realidade diferente da ideia do fundador
d.
A
liturgia deve reproduzir os traços da humanidade de Jesus. É o princípio da encarnação. Depois de Jesus, o mundo
pode encontrar a divindade através da humanidade de Jesus. Tarefa de uma equipe
litúrgica. Para compreendermos o significado da liturgia na vida da comunidade
cristã buscando nas origens e, de modo especial, olhando para Jesus, para os
Evangelhos, percebemos que há um traço marcante em seu modo de se relacionar
com o mundo e com as pessoas: sua humanidade. É este aspecto da humanidade de
Jesus que deve moldar a celebração litúrgica. Podemos logo afirmar que a liturgia
deveria reproduzir os traços da humanidade de Jesus, pois a partir de sua
vinda, encontramos Deus através da humanidade de seu Filho Jesus. Há um caminho
de humanização que a vida cristã deve percorrer. “Na humanidade de Jesus, nos
seus gestos humanos encontramos a divindade de Deus”. Se o mistério de Deus foi
revelado através da humanidade de Jesus, da mesma forma a liturgia deve ser
fiel ao modo desta revelação. Até a celebração da revelação de Deus deve ter a
forma do Evangelho. O modo de celebrar na liturgia deve conformar-se ao modo
como Deus se revelou em Jesus, em sua humanidade. A liturgia é revelação em
ação. Precisamente o documento conciliar Sacrosantum Concilium (SC) nos lembra
que “Através da liturgia se realiza a obra da nossa redenção” (SC 1). Foram
estas ideias que orientaram a reforma do CV II, para reconduzir a liturgia às
suas origens, isto é, ao Evangelho. Jesus falava a língua do povo, e não uma
língua sagrada. Jesus falou e se fez entender. Ele celebrou a Eucaristia pela
primeira vez em torno de uma mesa. Os primeiros discípulos partiram o pão em
suas casas. Uma humanidade, a de Jesus, caracterizada por um convívio
constante: Jesus sentava-se à mesa com todos e todas. Jesus queria para sua
comunidade uma mesa partilhada em contexto familiar; isto significa que: “as
formas rituais que o expressam não devem distanciar-se da vida”. Por isso, são
estranhas as atitudes reverenciais e distanciadas, próprias de um contexto sacrificial
e sacro, mas totalmente alheias ao contexto familiar e humano desejado por
Jesus. “Se retirarmos da liturgia o que é autenticamente humano ao mesmo tempo
tiramos o que é autenticamente divino”. Na liturgia, devemos encontrar a
gramática da vida. Isto também se aplica à linguagem da liturgia. Só uma liturgia humana pode celebrar a vida humana,
seguindo o caminho traçado por Jesus e, o sofrimento, é o ponto mais alto da
humanidade.
O valor de uma equipe litúrgica. Uma equipe litúrgica que se encontra semanalmente
para preparar a liturgia do domingo, deveria levar a sério estes dados
fundamentais que brotaram do Concilio Vaticano II. As perguntas que deveriam
nortear o encontro poderiam ser estas:
a.
De
que forma e em que momentos podemos solicitar os fiéis a participar ativamente
da liturgia?
b.
Quais
são os traços da humanidade de Jesus que deveriam ser reproduzidos na liturgia?
c.
De
que forma podemos ajeitar uma liturgia que pode ajudar os fiéis a viver a
fraternidade e sair do individualismo?
2.
As
fontes da busca
Como preparar uma
homilia? É esta a pergunta que orienta a pesquisa. Em primeiro lugar é
necessário entender a estrutura das leituras do domingo: somente assim é
possível elaborar uma reflexão.
a.
O
primeiro passo é colher o tema do evangelho do dia.
b.
Em
segundo lugar é importante verificar como a primeira leitura e o salmo podem
ajudar a aprofundar o tema do dia.
Estrutura de uma homilia:
1.
Introdução
2.
Apresentação
e articulação do tema em dois ou três tópicos.
3.
Conclusão
As fontes da reflexão:
Os critérios de interpretação conforme a Dei Verbum do
Concilio Vaticano II:
a.
Fatos
e palavra interligados (DV 4)
b.
Cristo
comprimento da revelação (DV 4)
c.
Contexto
litúrgico chave hermenêutica da Palavra
d.
A
Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem, um só deposito sagrado da
Palavra de Deus
e.
A
DV proíbe a leitura fundamentalista da Bíblia.
Indicações
·
O
maior recurso para preparar uma reflexão sobre as leituras do domingo é o
próprio contato direto com a Palavra de Deus. É a leitura continua, cotidiana
que permite do captar a profundeza da Palavra de Deus.
·
As
notas e os texto paralelos indicados na Bíblia de Jerusalém são suficientes
para preparar a homilia.
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