[Fonte: Wikipedia]
O Primeiro
Concílio de Niceia foi um concílio de bispos cristãos, reunidos na cidade de Niceia da Bitínia (atual İznik, província de Bursa, Turquia) pelo Imperador
Romano Constantino
I em 325. Constantino I
organizou o concílio nos moldes do senado
romano e o presidiu, mas não votou
oficialmente as Questões de fé. Este concílio ecumênico foi a primeira tentativa de alcançar um consenso na Igreja através de
uma assembleia representando toda a cristandade. Ósio, bispo de Córdoba, provavelmente um legado
papal, pode ter presidido suas
deliberações. Seus principais feitos
foram a resolução da questão cristológica da natureza divina de Jesus e sua relação com Deus Pai; a construção
da primeira parte do Credo
Niceno; a fixação da data da Páscoa e a promulgação da lei
canônica em sua primeira forma.
Visão geral
O
Primeiro Concílio de Niceia foi o primeiro concílio ecumênico da Igreja. Seus feitos resultaram em um dos primeiros símbolos
da fé e doutrina cristã, chamado de Credo
Niceno. Com a criação deste credo,
estabeleceu-se um precedente para os concílios locais e regionais subsequentes
(Sínodos), realizados pelos bispos, para criar declarações de
crença e cânones da ortodoxia doutrinária — com a intenção de definir a unidade das crenças para toda a cristandade verdadeira.
Derivado
do grego koiné (em grego: οἰκουμένη; romaniz.: oikouménē; "o habitado"),
"ecumênico" significa "no mundo todo; de âmbito geral,
universal". O termo, de modo geral, foi usado para se referir à Terra
conhecida e habitada, o que naquele momento da história se referia em
grande parte ao Império
Romano. Os primeiros usos do termo
aplicados a um concílio são em "Vida de Constantino", escrito por Eusébio de Cesareia em torno de 338, no qual ele afirma que "ele convocou um
concílio ecumênico" (em grego: σύνοδον οἰκουμενικὴν συνεκρότει; romaniz.: sýnodon oikoumenikḕn synekrótei), e numa carta ao Papa
Dâmaso I e aos bispos
latinos do Primeiro Concílio de
Constantinopla em 382.
Um dos
propósitos do concílio foi resolver as divergências que surgiram dentro
da Igreja de Alexandria sobre a natureza de Jesus e sua relação com o Pai. Discussões sobre a origem do Filho envolveram dois posicionamentos: se ele não teve
começo e foi gerado pelo Pai a partir de seu próprio ser ou se teve começo e
foi criado do nada. Alexandre e Atanásio, ambos
de Alexandria, tomaram
a primeira posição e o popular presbítero Ário, de quem vem o termo arianismo, tomou a segunda. O concílio decidiu,
esmagadoramente, contra os arianos. De aproximadamente 318 participantes,
todos, com exceção de dois, concordaram em assinar o credo e estes dois,
juntamente com Ário, foram banidos para a Ilíria. Outro resultado do concílio foi um acordo
sobre quando celebrar a Páscoa, a mais importante festa do calendário eclesiástico, decretado em uma epístola à Igreja de Alexandria na qual se diz:
“ |
Nós também lhe enviamos as boas novas do acordo
relativo à sagrada Páscoa, isto é, em resposta às suas orações, esta questão
também foi resolvida. Todos os irmãos do Oriente que até o momento seguiram
a prática judaica, a partir de agora, observarão o costume dos
romanos e de vocês e de todos nós que, desde os tempos antigos, mantivemos a
Páscoa juntamente convosco. |
” |
Historicamente
significativo como o primeiro esforço para alcançar um consenso na
Igreja através de uma assembleia representando toda a cristandade, o concílio
foi a primeira ocasião em que os aspectos técnicos da cristologia foram discutidos.[18] Por meio dele, estabeleceu-se um precedente para
os concílios gerais posteriores adotarem credos e cânones. Este concílio é,
geralmente, considerado o início do período dos primeiros sete concílios
ecumênicos da história do cristianismo.
Características e propósitos
O
Primeiro Concílio de Niceia foi convocado pelo Imperador Constantino,
o Grande, em consequência das
recomendações de um sínodo liderado por Ósio de Córdoba no tempo pascal de 325. Este sínodo havia sido encarregado de investigar o problema
causado pela controvérsia ariana no leste grego do mundo greco-romano.[19] Para a maioria dos bispos, os ensinamentos
de Ário eram heréticos e perigosos para a salvação das almas.[20] No verão de 325, os bispos de todas as
províncias foram convocados a Niceia, um lugar razoavelmente acessível a muitos
representantes, particularmente os da Ásia Menor, Geórgia, Armênia, Síria, Palestina, Egito, Grécia e Trácia.
Este foi
o primeiro concílio geral na história da Igreja convocado por Constantino I. No
Concílio de Niceia, "a Igreja deu seu primeiro grande passo para
definir a doutrina revelada, de forma mais precisa, em resposta a um desafio de
uma teologia herética".
Participantes
Constantino
convidou todos os 1 800 bispos da igreja cristã dentro do Império Romano (cerca
de 1 000 no leste e 800 no oeste), mas apenas um número menor e
desconhecido compareceu. Eusébio de Cesareia calculou mais de 250, Atanásio de Alexandria contou 318, e Eustácio de Antioquia estimou aproximadamente 270 (todos os três estavam presentes no
concílio). Mais tarde, Sócrates de Constantinopla registrou mais de 300, e Evágrio, Hilário de Poitiers, Jerônimo, Dionísio Exíguo e Rufino de Aquileia registraram 318. O número 318 é preservado nas liturgias da Igreja
Ortodoxa.
Representantes
vieram de todas as regiões do Império
Romano, incluindo a Britânia. Os
bispos participantes receberam gratuitamente viagens de suas sedes
episcopais para o concílio, bem como
alojamentos e viagens de retorno. Esses bispos não viajaram sozinhos, cada um
tinha permissão para trazer consigo dois presbíteros e três diáconos, de modo que o número total de participantes poderia
ser estimado em torno de 1 800. Eusébio fala de uma quantidade de
acompanhantes quase inumerável, composta de padres, diáconos e acólitos. Um manuscrito siríaco lista os nomes dos bispos
orientais, registrando vinte e dois da Cele-Síria, dezenove da Palestina, dez da Fenícia, seis da Arábia etc.,
apesar da distinção entre bispos e presbíteros ainda não ter se formado
completamente nessa época. Os bispos
orientais formaram a grande maioria, entre eles, dois patriarcas ocuparam
lugares de destaque: Alexandre de Alexandria e Eustácio de Antioquia. Muitos dos padres reunidos — por exemplo, Pafúncio de Tebas, Potamão de
Heracleia e Paulo de Neocesareia — haviam se apresentado como confessores da
fé, chegando ao concílio com as marcas de perseguição em seus rostos. Essa
posição é defendida por Timothy Barnes, um estudioso da patrística, em seu livro "Constantino e Eusébio". Historicamente,
a influência desses confessores martirizados tem sido vista como essencial, mas
pesquisas recentes colocaram isso em dúvida.
Outros
participantes notáveis foram Eusébio de Nicomédia; Eusébio de Cesareia, considerado o pai da história da Igreja; circunstâncias sugerem a
participação de Nicolau de
Mira (sua vida foi a semente
para as lendas sobre o Papai Noel); Macário de Jerusalém, futuramente um fiel defensor de Atanásio; Aristácio
I da Armênia (filho de São Gregório, o Iluminador); Leôncio de Cesareia; Jacó de Nísibis, um antigo eremita; Hípio
de Gangra; Protógenes de Sárdica; Melício de Sebastópolis; Aquiles de Lárissa (considerado o "Atanásio da Tessália") e Espiridão,
o Taumaturgo, que ganhava a vida como pastor,
mesmo sendo bispo. De lugares estrangeiros participaram João, bispo
da Pérsia e
da Índia;
Teófilo, bispo dos godos e
Estratófilo, bispo de Bichvinta, na Geórgia. As províncias de língua
latina enviaram pelo menos cinco
representantes: Marco de Calábria, da Itália;
Ceciliano de Cartago,
da África; Ósio de Córdoba, da Hispânia; Nicásio
de Dijon, da Gália; e Dômno de Estridão, da região do Danúbio.
Atanásio
de Alexandria, um jovem diácono e companheiro do bispo Alexandre de Alexandria,
estava entre os assistentes. Atanásio, possivelmente, passou a maior parte da
sua vida lutando contra o arianismo. Alexandre de Constantinopla, então presbítero, também estava presente como representante de seu bispo
idoso.
Os
partidários de Ário incluíam Segundo de
Ptolemais, Teono de Marmárica, Zéfrio e Dates, todos vindos da Pentápole líbia. Outros adeptos incluíam Eusébio de Nicomédia, Paulino de Tiro, Átio de Lida, Menofanto de Éfeso e Teógnis de Niceia.
"Resplandecente
em púrpura e ouro, Constantino fez uma entrada cerimonial na abertura do
concílio, provavelmente no início de junho, mas respeitosamente estabeleceu os
bispos à sua frente."[6] Como Eusébio descreveu,
Constantino "passou pelo meio do assembleia, como algum mensageiro
celestial de Deus, vestido em vestes que brilhavam como se fossem raios de luz,
refletindo o brilho radiante de um manto de púrpura, e adornado com o esplendor
brilhante de ouro e pedras preciosas."[38] O imperador esteve presente como superintendente
e presidente, mas não deu nenhum voto oficial. Constantino organizou o concílio
nos moldes do senado romano. Ósio de Córdoba, possivelmente, presidiu as deliberações, provavelmente, como um representante
pessoal do papa. Eusébio de Nicomédia
provavelmente proferiu o discurso de boas-vindas.
O
Papa Silvestre I, que
exercia seu pontificado na época, não compareceu ao concílio. Nos primeiros
concílios, os papas não participavam e costumavam enviar representantes seus,
entretanto, é importante ressaltar que as sedes patriarcais sempre eram
consultadas na resolução das grandes questões. Papa Silvestre I foi informado
da condenação de Ário, ocorrida no Sínodo de Alexandria (320 a 321), e para o
Concílio de Niceia enviou dois presbíteros romanos como representantes, Vito e
Vicente. Uma fonte da influência do Bispo de Roma é que as assinaturas dos três
clérigos — Ósio, Vito e Vicente — estão sempre em primeiro lugar, bem como a
citação de seus nomes pelos historiadores do concílio, o que seria estranho se
eles não fossem representantes do papa, dado que o concílio se deu no Oriente e
os três clérigos eram ocidentais.
Agenda e procedimentos
A agenda
do concílio incluiu:
·
A questão ariana sobre a relação
entre Deus, o Pai, e Deus, o
Filho, não apenas em sua forma
encarnada, como Jesus, mas
também em sua forma anterior a criação do mundo.
·
A data de celebração da Páscoa;
·
O cisma meleciano;
·
Vários assuntos de disciplina da
Igreja que resultaram em vinte cânones:
·
Estrutura organizacional da
Igreja;
·
Padrões de dignidade e adequação
de comportamentos e antecedentes para o clero;
·
Reconciliação dos lapsis, com estabelecimento de normas para arrependimento e
penitência pública;
·
Readmissão à Igreja de hereges e
cismáticos, incluindo questões sobre quando a reordenação e o rebatismo seriam
necessários;
·
Prática litúrgica, incluindo
questões sobre o lugar dos diáconos e a prática da oração durante a liturgia.
O
concílio foi formalmente aberto em 20 de maio, na estrutura central do palácio imperial em Niceia,
com discussões preliminares da questão ariana. O imperador Constantino chegou
quase um mês depois em 14 de
junho. Nestas discussões, algumas
figuras dominantes foram Ário e seus vários adeptos. "Cerca de 22
bispos do concílio, liderados por Eusébio de Nicomédia, vieram como partidários
de Ário, mas quando algumas das passagens mais chocantes de seus escritos foram
lidas, elas eram quase universalmente vistas como blasfêmias." Os bispos Teógnis de Niceia e Máris de Calcedônia estavam entre os primeiros apoiadores de Ário.
Eusébio
de Cesareia chamou a atenção para o credo batismal de sua própria diocese em Cesareia, na
Palestina, como uma forma de reconciliação. A maioria dos bispos concordou. Por
algum tempo, os estudiosos pensaram que o Credo Niceno original foi baseado
nesta declaração de Eusébio. Hoje, a maioria dos estudiosos acreditam que o
Credo é derivado do credo batismal de Jerusalém, como Hans Lietzmann propôs.
Os bispos
ortodoxos conquistaram a aprovação de cada uma de suas propostas sobre o Credo.
Depois de estar em sessão por um mês inteiro, o concílio promulgou em 19 de
junho o Credo
Niceno original. Esta profissão de fé foi
adotada por todos os bispos, "exceto dois da Líbia, que tinham sido intimamente associados à Ário desde
o início".[21] Nenhum registro histórico explícito de suas
discordâncias foi preservado e as assinaturas desses bispos estão simplesmente
ausentes do Credo. As sessões continuaram a tratar de assuntos menores
até 25 de agosto.
Controvérsia ariana
A
controvérsia ariana surgiu em Alexandria quando o recém-reinstaurado presbítero Ário
começou a difundir visões doutrinárias contrárias às de seu bispo, Alexandre de Alexandria. As questões disputadas centraram-se na natureza e no relacionamento
de Deus (o Pai) e do Filho de Deus (Jesus). Os desacordos surgiram de ideias
diferentes sobre a divindade e o que significava para Jesus ser o Filho de
Deus. Alexandre sustentava que o Filho era divino, exatamente no mesmo sentido
que o Pai é, co-eterno com o Pai, do contrário ele não poderia ser um Filho
verdadeiro.
Ário
enfatizou a supremacia e singularidade de Deus Pai, significando que o Pai é
todo-poderoso e infinito, e que, portanto, a divindade do Pai deve ser maior
que a do Filho. Ário ensinou que o Filho teve um começo, e que ele não possuía
nem a eternidade nem a verdadeira divindade do Pai, mas foi feito
"Deus" somente pela permissão e poder do Pai, e que o Filho era o
primeiro e a mais perfeita das criaturas de Deus.
As
discussões e debates arianos no concílio estenderam-se de 20 de maio a 19 de
junho de 325.[43] De acordo com relatos lendários, o debate
tornou-se tão acalorado que, a certa altura, Ário foi atingido no rosto
por Nicolau de Mira, que mais tarde seria canonizado. Este relato é quase certamente
apócrifo, já que o próprio Ário não estaria presente na câmara do concílio
devido ao fato de que ele não era um bispo.
Grande
parte do debate dependia da diferença entre ser "nascido" ou
"criado" e ser "gerado". Os arianos viram isso,
essencialmente, como o mesmo, ao contrário dos seguidores de Alexandre. O
significado exato de muitas das palavras usadas nos debates em Niceia ainda não
estavam claras o suficiente para os falantes de outras línguas. Palavras gregas como "essência" (ousia), "substância" (hypostasis), "natureza" (physis), "pessoa" (prosopon), traziam uma variedade de significados extraídos de
filósofos pré-cristão e que implicaram em mal-entendidos até que foram
finalmente esclarecidos. A palavra homoousia, em particular, foi inicialmente desprezada por
muitos bispos por causa de suas associações com os hereges gnósticos (que a usavam em sua teologia), e porque suas
heresias haviam sido condenadas no Sínodo de Antioquia em 264-268.
Argumentos a favor do arianismo
Segundo
relatos encontrados, o presbítero Ário defendeu a supremacia
de Deus, o Pai, e sustentou que o Filho de Deus
foi criado com um ato da vontade do Pai. A premissa era que o Filho foi a
primeira criatura de Deus, antes de todas as eras, teve um começo e somente o
Pai não teve começo. A argumentação era que tudo o mais foi criado por meio do
Filho, desse modo, somente o Filho foi criado diretamente por Deus. Ário
acreditava que o Filho de Deus era capaz de ter livre arbítrio do certo e
errado; que "se Ele fosse um filho, no sentido mais verdadeiro, devia
ter vindo depois do Pai, e obviamente houve um tempo quando Ele não existia, e
portanto, era um ser finito"; e que Ele estava sob a autoridade e
grandeza de Deus, o Pai. Ário insistiu que a divindade do Pai era maior que a
do Filho. Os arianos recorreram às escrituras, citando afirmações bíblicas
como «o Pai é maior do que eu» (João 14:28) e também que o Filho é «primogênito de toda a
criação» (Colossenses
1:15).
Argumentos contra o arianismo
A visão
oposta originou-se da ideia de que gerar o Filho é, em si mesmo, a natureza do
Pai, que é eterno. O Pai sempre foi um Pai e tanto o Pai como o Filho sempre
existiram juntos, eternamente e consubstancialmente.[47] O argumento contra os arianos afirmavam que
o Logos (o
"Verbo") era "eternamente gerado", portanto, sem
começo. Os adversários de Ário acreditavam que seguir a visão ariana destruía a
unidade da divindade e tornava o Filho desigual ao Pai e insistiram que tal
visão transgredia as escrituras, que afirmam que «Eu e o Pai somos
um» (João 10:30) e «o Verbo era Deus» (João 1:1). Eles declararam, como fez Atanásio, que o Filho não teve começo,
mas teve uma "derivação eterna" do Pai e, portanto, era co-eterno com
ele e igual a Deus em todos os aspectos.
Resultado do debate
O
concílio declarou que o Filho era verdadeiro Deus, coeterno com o Pai e gerado
de sua mesma substância, argumentando que tal doutrina codificava melhor a
apresentação bíblica do Filho, assim como a crença cristã tradicional sobre ele
transmitida pelos apóstolos. Essa crença foi expressa pelos bispos no Credo de
Niceia, que formou a base do que é conhecido atualmente como Credo Niceno-Constantinopolitano.
Credo Niceno
Um dos
projetos empreendidos pelo concílio foi a criação de um Credo, uma declaração
de um resumo da fé cristã. Vários credos já existiam; muitos credos eram
aceitáveis para os membros do concílio, inclusive Ário. Desde os primórdios,
vários credos serviram como meio de identificação para os cristãos, como meio
de inclusão e reconhecimento, especialmente no batismo.
Em Roma, por exemplo, o Credo dos Apóstolos era popular, especialmente para o uso na Quaresma e na época da
Páscoa. No Concílio de Niceia, um credo
específico foi usado para definir claramente a fé da Igreja, incluir aqueles
que a professavam e excluir aqueles que não a professavam. Elementos
distintivos do Credo Niceno, talvez pela mão de Ósio de Córdoba, foram acrescentados,
alguns especificamente para combater o ponto de vista ariano. Jesus Cristo
é descrito como:
"Luz
da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro", o que proclama sua divindade;
"Gerado,
não criado", o que afirma que ele não é uma mera criatura, trazida à
existência a partir do nada;
"Consubstancial
ao Pai", o que afirma que, embora seja "Deus verdadeiro" e Deus
Pai também seja "Deus verdadeiro", eles são um único ser, de acordo
com o que é encontrado em João 10:30. O termo grego homoousios (que
significa consubstancial, isto é, "da mesma substância") é atribuído por Eusébio a
Constantino que, nesse ponto particular, pode ter escolhido exercer sua
autoridade.
Tais
questões levantadas seriam seriamente controvertidas no futuro. No final do
credo veio uma lista de anátemas, concebida para repudiar explicitamente as alegações
dos arianos:
A visão
de que "houve um momento em que Ele [o Filho] não
existiu" foi rejeitada para manter a co-eternidade do Filho com o
Pai;
A opinião
de que ele era "mutável ou sujeito a mudanças" foi
rejeitada para sustentar que o Filho, tal como o Pai, estava além de qualquer
forma de fraqueza ou corruptibilidade e, o mais importante, que Ele não poderia
abandonar a perfeição moral absoluta.
Assim, em
vez de um credo batismal aceitável tanto para os arianos quanto para seus
oponentes, o concílio promulgou um que era claramente contrário ao arianismo e
incompatível com o núcleo distintivo de suas crenças. O texto desta profissão
de fé é preservado em uma carta de Eusébio para Atanásio, para sua congregação
e outros lugares. Embora fossem os mais anti-arianos, aqueles que defendiam o
termo consubstancialidade, a homoousia (traduzida como "da mesma substância",
que havia sido condenado no Sínodos de Antioquia em 264-268, estavam em minoria. O credo foi aceito pelo concílio como
uma expressão da fé comum dos bispos e da antiga fé de toda a Igreja.
O bispo
Ósio de Córdoba, um dos defensores do termo consubstancialidade, ajudou o
concílio a entrar em um consenso. Na época, ele era o confidente do imperador
em todos os assuntos da Igreja. Ósio esteve à frente das listas de bispos, e
Atanásio atribui a ele a formulação real do credo. Grandes líderes como Eustácio de Antioquia, Alexandre de Alexandria, Atanásio e Marcelo de
Ancira, todos aderiram à posição da
consubstancialidade.
Apesar de
sua simpatia por Ário, Eusébio de Cesareia aderiu às decisões do concílio,
aceitando todo o credo. O número inicial de bispos que apoiavam Ário era
pequeno. Após um mês de discussão, em 19 de junho, restavam apenas dois: Teono
de Marmárica, na Líbia, e
Segundo de Ptolemaida. Máris de Calcedônia, que inicialmente apoiou o
arianismo, concordou com todo o credo. Da mesma forma, Eusébio de Nicomédia e Teógnis de Niceia também concordaram, exceto por certas declarações.
O
imperador então determinou que todos que se recusassem a endossar o credo
seriam exilados. Ário,
Teono e Segundo recusaram-se a aderir ao credo e foram exilados na Ilíria, além
de serem excomungados. As obras de Ário foram condenadas a serem confiscadas e consignadas
às chamas, enquanto seus partidários
foram considerados "inimigos do cristianismo". No entanto, a
controvérsia continuou em várias partes do império. O Credo foi alterado para uma nova versão
pelo Primeiro Concílio de
Constantinopla em 381, o chamado Credo Niceno-Constantinopolitano.
Cálculo da Páscoa
A festa
da Páscoa cristã está ligada à Páscoa
judaica e à festa dos pães
ázimos, pois os cristãos acreditam que
a crucificação e a ressurreição de Jesus ocorreram no tempo dessas observâncias. Já no pontificado
do papa Sisto I, alguns cristãos colocaram a Páscoa em um domingo no mês lunar de nissan. Para determinar qual mês lunar deveria ser designado
como nissan, os cristãos confiavam na comunidade judaica. No final do
terceiro século, alguns cristãos começaram a expressar insatisfação com o que
consideravam ser o estado desordenado do calendário judaico. Eles argumentaram que os judeus contemporâneos estavam identificando
incorretamente o mês de nissan, escolhendo um mês cujo décimo quarto dia
caía antes do equinócio da primavera.[54]
Os
cristãos, argumentavam alguns pensadores, deveriam abandonar o costume de
confiar nos judeus e fazer seus próprios cálculos para determinar qual mês
deveria ser denominado nissan, definindo a Páscoa dentro desse sistema
independente, um nissan cristão, que sempre determinaria a data
depois do equinócio. Eles justificaram essa ruptura com a tradição argumentando
que era, de fato, o calendário judaico contemporâneo que rompera com a tradição
ao ignorar o equinócio e que nos tempos antigos o décimo quarto dia
de nissan nunca havia precedido o equinócio. Outros achavam que
a prática costumeira de confiar no calendário judaico deveria continuar, mesmo
se os cálculos judaicos estivessem errados do ponto de vista cristão.
A
controvérsia entre aqueles que defendiam os cálculos independentes e aqueles
que defendiam a confiança contínua no calendário judaico, conhecido como quartodecimanos, foi formalmente resolvida pelo concílio, que
endossou o procedimento independente que esteve em uso por algum tempo em Roma
e Alexandria. A Páscoa deveria ser um domingo em um mês lunar escolhido de
acordo com critérios cristãos — com efeito, um nissan cristão — e não
no mês de nissan definido pelos judeus. Aqueles que defendiam a
confiança contínua no calendário judaico foram convidados a aderir à posição
majoritária. Que eles não o fizeram imediatamente é revelado pela existência de
sermões, cânones e tratados escritos contra essa prática no final do
século IV.
Essas
duas regras, independência do calendário judaico e uniformidade universal, eram
as únicas regras para a Páscoa explicitamente estabelecidas pelo concílio.
Nenhum detalhe para o cálculo foi especificado; estes foram trabalhados na
prática, um processo que levou séculos e gerou uma série de controvérsias (ver também cálculo da Páscoa). O concílio aparentemente não determinou que a Páscoa deve cair no
domingo, por exemplo.
O
concílio também não decretou que a Páscoa nunca deveria coincidir com décimo
quarto dia de nissan (o primeiro dia dos pães sem fermento, agora
comumente chamado de "Páscoa") do calendário hebraico. Ao endossar a mudança para cálculos independentes, o concílio separou o
cálculo da Páscoa de toda dependência, positiva ou negativa, do calendário
judaico. A alegação de que a Páscoa deve sempre seguir o décimo quarto dia
de nissan no calendário hebraico, não foi formulada até depois de
alguns séculos. Naquela época, o acúmulo de erros no calendário juliano solar e lunar havia feito com que a Páscoa sempre estivesse próxima
ao décimo quarto dia de nissan do calendário hebraico.
Cisma meleciano
A
supressão do cisma meleciano foi outro assunto importante que antecedeu o
Concílio de Niceia. Foi decidido que Melécio deveria permanecer em sua própria
cidade, Licópolis no Egito, mas sem exercer autoridade ou o poder de ordenar novos
membros para o clero; ele foi proibido de entrar nos arredores da cidade ou de
se dirigir para outra diocese com o propósito de ordenar seus súditos. Melécio
reteve seu título episcopal, mas os clérigos ordenados por ele deviam receber
novamente a imposição das mãos, o que de fato invalidou as ordenações
realizadas por Melécio. O clero ordenado por Melécio recebeu ordens de dar
precedência àqueles ordenados por Alexandre e de não realizarem nenhuma ação
sem o consentimento do bispo Alexandre.
No caso
da morte de um bispo não-meleciano ou eclesiástico, a sé
episcopal desocupada poderia ser
entregue a um meleciano, desde que ele fosse digno e a eleição popular fosse
ratificada por Alexandre. Quanto ao próprio Melécio, os direitos e
prerrogativas episcopais lhe foram retirados. Essas medidas brandas, no
entanto, foram em vão; os melecianos juntaram-se aos arianos e causaram mais
discórdia do que nunca, estando entre os piores inimigos de Atanásio. Os
melecianos finalmente acabaram extintos em meados do século V.
Promulgação da lei canônica
O
concílio promulgou vinte novas leis da Igreja, chamadas cânones (embora
o número exato esteja sujeito a debate), isto é, regras imutáveis de
disciplina. Os vinte, como listados pelos "Padres Nicenos e
Pós-Nicenos",[63] são os seguintes:
1.
Proibição da auto-castração;
2.
Estabelecimento de um período mínimo de estudo para os catecúmenos (pessoas que estudam para receber o batismo);
3.
Proibição da presença de uma mulher mais jovem na casa de um clérigo, que
poderia colocá-lo sob suspeita de prática do casamento espiritual (onde um
homem e uma mulher castos vivem juntos, como irmão e irmã);
4.
Ordenação de um bispo na
presença de pelo menos três bispos provinciais e com confirmação do bispo metropolitano;
5.
Provisão de dois sínodos provinciais
a serem realizados anualmente;
6.
Confirmação de antigos costumes, dando jurisdição sobre grandes regiões aos
bispos de Alexandria, Roma e Antioquia;
7.
Reconhecimento dos direitos honorários da sé de Jerusalém;
8.
Provisões sobre os novacianistas;
9–14.
Provisão de processo leve contra os lapsi durante a perseguição sob o imperador
Licínio;
15–16.
Proibição da remoção de sacerdotes das localidades para as quais foram
ordenados;
17.
Proibição de usura entre
os clérigos;
18.
Precedência de bispos e presbíteros antes dos diáconos em receber a Eucaristia (santa comunhão);
19.
Declaração da nulidade do batismo realizado pelos hereges seguidores de Paulo de Samósata;
20.
Proibição de ajoelhar aos domingos e durante o Pentecostes (os cinquenta dias que se iniciam na Páscoa). De
pé era a postura normativa para a oração neste momento, como ainda é entre os cristãos
orientais. Ajoelhar-se era considerado mais apropriado para a oração
penitencial, distinto da natureza festiva do tempo
pascal e de sua lembrança em todos
os domingos. O cânone em si foi projetado apenas para garantir uniformidade de
prática nos horários designados.
Concluindo
a reunião em 25 de julho de 325, os padres do concílio comemoraram o vigésimo
aniversário do imperador. Em seu discurso de despedida, Constantino informou ao
público como ele era avesso à controvérsia dogmática; ele queria que a Igreja
vivesse em harmonia e paz. Em uma carta circular, ele anunciou a unidade de
prática realizada por toda a Igreja na data da celebração da Páscoa cristã.
Efeitos do concílio
Os
efeitos a longo prazo do Concílio de Niceia foram significativos. Pela primeira
vez, representantes de muitos dos bispos da Igreja se reuniram para concordar
com uma declaração doutrinária. Também pela primeira vez, o imperador
desempenhou um papel, chamando os bispos sob sua autoridade e usando o poder do
estado para dar o efeito às ordens do concílio.
Em curto
prazo, no entanto, o concílio não resolveu completamente os problemas que foi
convocado para discutir e um período de conflito e agitação continuou por algum
tempo. O próprio Constantino foi sucedido por dois imperadores arianos no Império Romano do Oriente: seu filho, Constâncio
II, e Valente. Este
não conseguiu resolver as questões eclesiásticas notáveis e, sem sucesso,
confrontou Basílio de Cesareia sobre o Credo Niceno.
Os
poderes pagãos dentro do império procuraram se manter e, às vezes, restabelecer
o paganismo na sede do imperador (ver Arbogasto e Juliano, "o Apóstata"). Arianos e melecianos logo recuperaram quase todos
os direitos que haviam perdido e, consequentemente, o arianismo continuou a se
espalhar e a ser um assunto de debate dentro da Igreja durante o restante do
século IV. Quase imediatamente, Eusébio de Nicomédia, bispo ariano e primo de Constantino I, usou sua influência na corte para
obter o auxílio que Constantino oferecia aos bispos nicenos e proto-ortodoxos
para os arianos.
Eustácio de Antioquia foi deposto e exilado em 330. Atanásio, que sucedeu Alexandre como
bispo de Alexandria, foi deposto pelo Primeiro Sínodo de Tiro em 335 e Marcelo de
Ancira o seguiu em 336. O próprio
Ário retornou a Constantinopla para ser readmitido na Igreja, mas morreu pouco
antes de ser recebido. Constantino morreu no ano seguinte, depois de finalmente
receber o batismo do arcebispo Eusébio de Nicomédia, e "com sua morte
na primeira rodada da batalha depois que o Concílio de Niceia foi
encerrado".
Função de Constantino
O
cristianismo era ilegal no Império Romano até que os imperadores Constantino e
Licínio concordaram, em 313, em legalizá-lo através do chamado "Édito de Milão". No entanto, o cristianismo niceno não se tornou a religião do estado do Império
Romano até o Édito de Tessalônica em 380. Nesse meio tempo, o paganismo permaneceu legal e presente nos
assuntos públicos. As moedas cunhadas por Constantino e por outros motivos
oficiais, até o Concílio de Niceia, ainda afiliavam-no ao culto pagão do Sol
Invicto. Inicialmente, Constantino
encorajou a construção de novos templos pagãos e tolerou sacrifícios tradicionais. Mais tarde em seu reinado, ele deu ordens para a pilhagem e a demolição dos templos
romanos.
A função de Constantino em relação a Niceia era o de supremo líder civil
e autoridade no império. Como imperador, a responsabilidade de manter a ordem
civil era dele, e ele procurou que a Igreja se mantivesse unida e em paz.
Quando foi informado pela primeira vez sobre os distúrbios em Alexandria devido
às disputas arianas, ele ficou "muito perturbado" e
repreendeu Ário e o bispo Alexandre por
terem originado a perturbação e por terem permitido que ela se tornasse
pública. Consciente também da diversidade de opinião em relação à
celebração da Páscoa e na esperança de resolver ambas as questões, ele enviou o
bispo Ósio de Córdoba (Hispânia) para formar um concílio da Igreja local
e "reconciliar aqueles que estavam divididos". Quando essa
embaixada falhou, ele procurou convocar um concílio em Niceia,
convidando "os homens mais eminentes das igrejas de todos os
países".
Constantino
ajudou na montagem do concílio, organizando as despesas de viagem dos bispos,
bem como a hospedagem em Niceia, para que fossem cobertas com fundos
públicos. Ele também forneceu e mobiliou um grande salão no palácio como
um local para discussão, para que os participantes fossem tratados com
dignidade. Ao dirigir-se à abertura do concílio, ele "exortou os
bispos a unanimidade e concórdia" e pediu-lhes que seguissem as
sagradas escrituras: "Deixe, então, toda disputa contenciosa ser
descartada; e procuremos na palavra divinamente inspirada a solução das
questões em discussão."
Então, o
debate sobre Ário e a doutrina da Igreja começou. "O imperador deu
atenção paciente aos discursos de ambas as partes" e deferiu a
decisão aos bispos. Este foi o início da prática de usar o poder secular
para estabelecer a ortodoxia doutrinária no seio do cristianismo, um exemplo seguido por todos os imperadores
cristãos posteriores, que levou a um círculo de violência e resistência cristã
expressa em termos de martírio.
Equívocos, Cânone bíblico
Não há
registro de qualquer discussão sobre o cânone bíblico no concílio. O desenvolvimento do cânone da
Bíblia levou séculos e estava
quase completo (com exceções conhecidas como "Antilegomena", textos escritos cuja autenticidade ou valor é
contestado) no momento em que o Cânone Muratori foi escrito.
Em
331, Constantino comissionou cinquenta Bíblias para a Igreja de Constantinopla, mas pouco se sabe sobre isso (na verdade, não é sequer certo se seu
pedido foi para cinquenta cópias do Antigo e Novo Testamentos, apenas o Novo
Testamento ou apenas os Evangelhos). Alguns estudiosos acreditam que esse
pedido forneceu motivação para as listas de cânones. No "Comentário de
Tobias e Judite", escrito por Jerônimo, ele afirma que o Livro de
Judite foi "determinado
pelo Concílio de Niceia como tendo sido contado entre o livros das escrituras
sagradas", o que alguns utilizaram para sugerir que o Concílio de Niceia
teria discutido quais documentos estavam enumerados entre as escrituras
sagradas, mas a frase provavelmente significa simplesmente que o concílio usou
Judite em suas deliberações sobre outros assuntos e que, por isso, ele deve ser
considerado canônico.
A
principal fonte da ideia de que o cânone da Bíblia foi determinado no Concílio
de Niceia parece ser Voltaire, que popularizou uma história em que o cânone foi
determinado após orarem sobre todos os livros concorrentes colocados em um
altar durante o concílio. A fonte original desta "anedota fictícia" é
o "Synodicon Vetus",[79] um relato pseudo-histórico dos primeiros
concílios da Igreja de 887 DC:
Trindade
O
Concílio de Niceia tratou, principalmente, da questão da divindade de Cristo.
Mais de um século antes, o termo "trindade"
(em grego: Τριάς; em latim: trinitas) foi usado nos escritos de Orígenes (185-254) e Tertuliano (160-220), e uma noção geral de um "divino
em três", em algum sentido, foi expresso nos escritos do segundo século
de Policarpo, Inácio e Justino. Em Niceia, questões relativas ao Espírito
Santo foram deixadas, em grande
parte, sem solução e assim permaneceram pelo menos até que o relacionamento
entre o Pai e o Filho ter sido resolvido por volta do ano 362.[82] Assim, a doutrina em uma forma mais completa foi
formulada no Concílio de Constantinopla em 360,[83] e uma forma final foi formulada em 381,
primariamente trabalhada por Gregório de Nissa.[84]
Questões disputadas
Função do Papa (bispo de Roma)
Os católicos romanos afirmam que a ideia da divindade de Cristo foi finalmente confirmada
pelo Bispo de Roma e que foi essa confirmação que deu ao concílio sua
influência e autoridade. Em apoio a isso, é citado a posição dos
primeiros pais da Igreja e sua expressão da necessidade de todas as igrejas concordarem com
Roma (ver Santo Irineu de
Lyon, "Contra
Heresias").
No
entanto, protestantes e ortodoxos orientais não acreditam que o concílio tenha visto o bispo de Roma como o chefe
jurisdicional da cristandade, ou alguém que tenha autoridade sobre outros
bispos presentes no concílio. Para sustentar essa hipótese, eles citam o cânone
6, no qual o bispo romano pode ser visto simplesmente como um dos vários
líderes influentes, mas não aquele que tem jurisdição sobre bispos de outras
regiões.[85]
De acordo
com o teólogo protestante Philip
Schaff, "os pais nicenos
passaram este cânon não como algo novo, mas apenas como confirmação de uma
relação existente com base na tradição da Igreja; e isso, com especial
referência a Alexandria, por causa dos problemas existentes lá; Roma foi
nomeada apenas para ilustração; e Antioquia, junto com todas as outras
eparquias ou províncias receberam seus direitos admitidos. Os bispados de
Alexandria, Roma e Antioquia foram colocados substancialmente em pé de
igualdade." Assim, de acordo com Schaff, o bispo de Alexandria deveria
ter jurisdição sobre as províncias do Egito, da Líbia e da Pentápole, assim
como o bispo de Roma tinha autoridade "com referência à sua própria
diocese".[86]
Mas de
acordo com o James F. Loughlin, há uma interpretação católica romana
alternativa. Envolve cinco argumentos diferentes "extraídos
respectivamente da estrutura gramatical da sentença, da sequência lógica das
ideias, da analogia católica, da comparação com o processo de formação do
Patriarcado Bizantino e da autoridade dos antigos",[87] em favor de uma compreensão alternativa do
cânone. De acordo com essa interpretação, o cânone mostra o papel que o bispo
de Roma tinha quando ele, por sua autoridade, confirmou a jurisdição dos outros
patriarcas — uma interpretação que está de acordo com a compreensão católica
romana do papa. Assim, o bispo de Alexandria presidiu o Egito, a
Líbia e a Pentápole,[10] enquanto o bispo de Antioquia "gozava
de autoridade semelhante em toda a grande diocese de Oriens [do Oriente]",
e tudo pela autoridade do bispo de Roma. Para Loughlin, essa era a única razão
possível para invocar o costume de um bispo romano em um assunto relacionado
aos dois bispos metropolitanos de Alexandria e Antioquia.[87]
No
entanto, interpretações protestantes e católicas romanas têm, historicamente,
presumido que alguns ou todos os bispos identificados no cânone estavam
presidindo suas próprias dioceses na época do concílio — o bispo de Roma sobre
a Diocese da Itália, como Schaff sugeriu, o bispo de Antioquia sobre
a Diocese do Oriente, como Loughlin sugeriu, e do bispo de Alexandria sobre a Diocese do
Egito, como sugerido por Karl Josef von Hefele. Segundo Hefele, o concílio havia designado para
Alexandria "toda a diocese civil do Egito",[88] entretanto, essas suposições já foram provadas
como falsas. Na época do concílio, a Diocese do Egito ainda não existia, então
o concílio não poderia atribui-la a Alexandria. Antioquia e Alexandria estavam
ambas localizadas dentro da diocese civil do Oriente, Antioquia sendo a
principal metrópole, mas nenhuma administrava o todo. Da mesma forma, Roma
e Milão estavam ambas localizadas na diocese civil da
Itália, sendo Milão a principal metrópole,[89][90] ainda que não administrasse o todo.
Essa
questão geográfica relacionada ao Cânone 6 foi destacada pelo escritor
protestante Timothy F. Kauffman como uma correção ao anacronismo criado pela
suposição de que cada bispo já estava presidindo uma diocese inteira na época
do concílio.[91] Segundo Kauffman, uma vez que Milão e Roma
estavam ambas localizadas na Diocese da Itália, e Antioquia e Alexandria
estavam ambas localizadas dentro da Diocese do Oriente, uma relevante
"congruência estrutural" entre Roma e Alexandria era prontamente
aparente para os bispos reunidos: ambas tinham sido consagradas para
compartilhar uma diocese da qual não eram a principal metrópole. A jurisdição
de Roma na Itália foi definida em termos de várias províncias adjacentes da
cidade desde o reordenamento do império por Diocleciano em 293, como indica a versão latina mais antiga
do cânone,[92] e o restante das províncias italianas estavam
sob a jurisdição de Milão.
Esse
arranjo provincial da jurisdição romana e milanesa na Itália, portanto, era um
precedente relevante e fornecia uma solução administrativa para o problema que
o concílio enfrentava — a saber, como definir a jurisdição alexandrina e
antioquena dentro da Diocese do Oriente. No cânone 6, o concílio deixou a maior
parte da diocese sob a jurisdição de Antioquia e designou algumas províncias da
diocese para Alexandria, "já que o costume é o mesmo para o bispo de
Roma"
Nesse
cenário, um relevante precedente romano é invocado, respondendo ao argumento de
Loughlin sobre por que o costume de um bispo em Roma teria qualquer influência
sobre uma disputa sobre Alexandria no Oriente e ao mesmo tempo corrigindo o
argumento de Schaff de que o bispo de Roma era invocado a título de
ilustração "com referência à sua própria diocese". O costume do
bispo de Roma foi invocado a título de ilustração, não porque ele presidisse a
Igreja inteira ou sobre a Igreja ocidental ou mesmo sobre "sua própria
diocese", mas porque ele presidia algumas províncias de uma diocese que
foi administrada de outra maneira a partir de Milão. Com base nesse precedente,
o concílio reconheceu a antiga jurisdição de Alexandria sobre algumas
províncias da Diocese do Oriente, uma diocese que era administrada a partir de
Antioquia.
Celebração litúrgica
As
Igrejas de Bizâncio celebram os padres do primeiro concílio ecumênico no sétimo
domingo da Páscoa (o domingo antes de Pentecostes).[94] O Sínodo da Igreja Luterana-Missouri celebra o
primeiro concílio ecumênico em 12 de junho. A Igreja Copta celebra a assembleia
do primeiro concílio ecumênico, geralmente, em 18 de novembro. A Igreja Armênia
celebra os 318 padres do santo concílio de Niceia em 1 de
setembro.
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