quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

ANTOLOGIA: OS SOFISTAS, PROTÁGORAS, GÓRGIAS

 




OS SOFISTAS


   Em primeiro lugar, o sofista era um caçador remunerado de jovens ricos [...] em segundo lugar, uma espécie de importador de conhecimentos que interessa à alma [...] e em terceiro lugar, não se nos mostrou como um biscateiro desta mesma coisa? [...] e em quarto lugar, um mercador dos próprios produtos científicos [...] e em quinto era uma espécie de atleta da agonístiva aplicada aos discursos, como quem tivesse reservado pra si a arte de disputar [...] depois, em sexto lugar, era algo de controvertido das opiniões que impedem a alma de saber (Platão, Sofista, 231 d-e).


       Porque se alguém vende a sua beleza por dinheiro a qualquer que o desejo, chamam-no prostituto [...], analogamente, os que vendem por dinheiro a sabedoria a qualquer um, são chamados sofistas, que é o mesmo que dizer prostitutos (Xenofonte , Memoráveis, I, 6, 13)


       A sofística é uma sabedoria aparente, não real; o sofista é um marcador de sabedoria aparente, não real (Aristóteles, Refutações sofísticos, 1, 165 a 21).


PROTÁGORAS


  1-  E não quer dizer com isso que, tal como as coisas individuais me aparecem, tais são para mim, e tais a ti, tais para ti, porque és homem como eu sou homem? [...] mas não acontece ás vezes que, soprando o mesmo vento, um de nós sente frio e outro não? E um sente pouquíssimo, outro muito? [...] E então, como chamaremos este vento: frio ou não-frio? Ou devemos acreditar em Pratágoras, que para quem sente frio é frio, para quem não sente, não é? (Platão, Teeteto, 151 e- 152)


2- Uma dupla ordem de raciocínios se faz na Grécia, pelos cultores da filosofia, torno ao bem e ao mal. Alguns sustentam que o bem  é uma  coisa, o mal , outra. Outros ao contrario, que são a mesma coisa; o que para alguns seria bem, para outros é mal; e para o mesmo indivíduo, seria ora bem, ora mal. Quanto a mim, eu me aproximo deste homens; e buscarei as provas na vida humana [...] (Raciocínios duplos, I, 1-2)


3- E depois de Ter aduzido uma série de razões inspiradas no relativismo protagoriano, do qual nos é dado testemunho paralelo por Platão (cf. Platão, Protágoras, 33 d, 334 a), concluiu o Anônimo:


4- E assim não defino o que é o bem, mas empenho-me em ensinar isto, que o bem e o mal não são a mesma coisa, mas que cada um dos dois pode ser um ou outro. (Raciocínios duplos, I, 17)


5- O meu ensinamento concerne e astúcia, seja nos assuntos privados – isto é, o melhor modo de administrar a própria casa – seja assuntos públicos – isto é, o modo de se tornar sumamente hábil no governo da coisa pública, nos atos e nas palavras. (Platão, Protágoras, 31 8e)


6- Eu [Protágoras] afirmo, sim que a verdade é exatamente como eu escrevi; que cada um de nós é medida das coisas que são e que não são; mas há uma diferença infinita entre o homem e, justamente por isso, as coisas aparecem e são para um de um modo, para outro de outro. E estou longe de negar que existam a sapiência e o homem sábio, mas antes, chamo sábio aquele que, transformando aquilo pelo que em nós certas coisas aparecem e são más, consiga fazer que estas mesmas coisas apareçam e  sejam boas. E tu não deves combater o meu raciocínio perseguindo-o nas suas palavras; mas devas antes tentar compreender, sempre mais claramente, o que quero dizer. Recorda o que já dissemos antes, que ao enfermo os alimentos parecem e são amargos, ao sadio, ao contrário, são e parecem agradáveis. Mas daí não é lícito inferir que destes dois, um seja mais sábio do que o outro – pois isso não é possível --, e nem se deve dizer que o enfermo, porque tem tal opinião, é ignorante, e é sábio o sadio porque tem opinião contrária: antes, é preciso mudar um estado no outro, porque o estado de saúde é melhor. E assim também na educação, é preciso transformar o homem de hábitos piores em homens de hábitos melhores. Ora, para esta transformações, o sofista uso os discursos como o médico usa remédios: mas ninguém jamais induziu quem quer que seja que tivesse opiniões falsas a Ter opiniões verdadeiras; nem, de fato, é possível que alguém pense coisa que para ele não existem, ou coisas estranhas àquelas das quais tenha naquele momento determinado impressão, pois somente estas são sempre verdadeiras para ele. Pois bem, aquele que, por um estado de ânimo inferior, tem opiniões conformes com a natureza deste seu estado, pode ser introduzido, creio, a um estado de ânimo superior e ter opiniões diferentes que sejam conformes com este estado superior; assim são, justamente, aqueles fantasias que alguns, por ignorância, dizem ser verdadeiras, e eu digo simplesmente que umas são melhores do que outras, nenhum, porém, mais verdadeira. E quando aos sábio, amigo Sócrates, estou longe de considerá-los desprezíveis; antes, com relação aos corpos, chamo-os médicos, com relação as plantas, agricultores. E digo que estes agricultores introduzem nas plantas, se alguma adoece, em de sensações más, sensações boas e salutares, não só verdadeiras; e os sábios e bons oradores fazem que às cidades pareça justo o bem antes que o mal. De fato, aquilo que para determinada cidade parece justo e belo, isto mesmo é, para aquela cidade, como justo e belo, enquanto ela assim o repute e considere: mas é o homem sábio que, a cada coisa individual que aos cidadãos seja má, substitui outras coisas que são e aparecem como boas. Pelas mesma razão também o sofista que é capaz de educar de tal modo os seus alunos é homem sábio e merecedor de ser pago por eles com muito dinheiro. E assim alguns são mais sábios que outros, e ninguém tem opiniões erradas; e deves resignar-te, queiras ou não queiras, a ser medida das coisas; nisso que digo funda-se, justamente, a salvação da minha doutrina (Platão, Teeteto, 166 d ss).


- Admites [Protágoras] que existem coisa boas?

             

       - Admito.


      -   E as coisas boas, disse eu, são as que são úteis aos homens?


      - Certo, por Zeus!, disse. Mas eu chamo boas também as coisas que não são úteis aos homens.              

       

      - Falas, Prtágoras, das que não são úteis aos homens ou das que não são úteis absolutamente? E chamas boas também a estas?    


- De modo algum, respondeu. Eu conheço muitas coisas que são nocivas aos homens: alimento, bebidas, remédios e muitíssimo outras que são úteis; outras, ao invés, que não são nem úteis; outras, ao invés, que não são nem úteis nem prejudiciais aos homens, mas são aos cavalos, e outras coisas que são só aos bois ou aos cães; outras, enfim, que não são úteis a nenhum animal, mas são as plantas. E das coisas úteis as plantas, algumas são boas para as raízes, mas prejudiciais para os brotos, como por exemplo o fertilizante, que é bom se posta na raiz de todas as plantas, mas se os espalhas nos brotos e nos ramos novos os arruinas. E assim também o óleo é muito nocivo para todas as plantas e péssimo para os pêlos de todos os animais, exceto para os do homem; para os pêlos do homem e para o resto do corpo, ao invés, enquanto é boa para o homem, para as partes externas do seu corpo, a mesma coisa é denosíssima para as internas. Por isso, todos os médicos proíbem os enfermos de usar o óleo, senão e, pequeníssima dose nas coisas que devem comer: o quanto basta para atenuar a desagradável impressão olfativa que pode vir dos alimentos e das bebidas. (Platão, Protágoras, 333 d-334c)


        São os Deus não tenho possibilidade de afirmar nem que são, nem que não são. (Diógenes Laércio, IX, 51)


        Protágoras de Abdera sustentou, como conceito, a mesma opinião de Diágoras [que era ateu]; mas a exprimiu com palavras diferentes, para evitar a excessiva audácia; de fato, disse que não sabia se os deuses são: o que equivale a dizer que não são. (Diels-Kranz, 80 A 23)



GÓRGIAS


1- Diante de tais questões insolúveis, levantadas por Górgias, desaparece, pelo que lhe concerne, o critério da verdade: Porque do inexistente, do incognoscível, do inexprimível não há possibilidade de juízo. (Sexto Empírico, Adv. Math., VII, 87).


2- Mediante a combinação das doutrinas sustentadas por outras categorias de filósofos que, nas suas tratações em torno ao problema dos entes, sustentam, como resulta das suas opiniões, princípios antéticos entre si – uns demonstrando a unidade do ente em vez da multiplicidade, outras a sua multiplicidade em vez da sua unidade, outros que eles são ingênitos, outros ainda que são gerados – deduz , contra uns e contra outros, que nada existe. Daí segue logicamente, ele afirma, que se existe alguma coisa, não é nem uno, nem múltiplo, nem ingênito, nem gerado: nada existirá; de fato, se algo existisse, corresponderia a uma destas alternativas. (Ps. Aristóteles, De Mel. Xenoph. Gorgia, 5, 979).


3- Que os conteúdos do pensamento [o pensado] não são existentes é de uma evidência universal. Se, de fato, os conteúdos do pensamento são existentes todos os conteúdos do pensamento são existentes, em qualquer modo que se os pense. Mas esta dedução é absurda: com efeito, se alguém pensa um homem que voa e cocos correndo sobre a praia, nem por isso um homem voa e cocos correm na praia. Consequentemente os conteúdos do pensamento não são existentes  [o pensamento não é pensamento do ser]. (Sexto Empírico, Adv. Math., VII, 78s).


4- Absolutamente falando, se por aquilo que existe se deduz a predicação da pensabilidade, pelo que não existe se deduzirá a predicação da impensabilidade. Mas esta predicação é absurda: a prova é que Sila, a Quimera, e muitos seres que não existem são pensados. (Sexto Empírico, Adv. Math., VII, 80).


5- Aquilo que alguém vê, como [...] poderia exprimi-lo com a palavra? Ou como isto poderia se tornar manifesto a quem o escuta, sem tê-lo visto? De fato, a vista não conhece os sons, e o ouvido não ouve as cores, mas os sons; e contudo, quem fala diz algo, mas não diz nenhuma cor nem uma experiência. Aquilo, pois, que alguém não concebe, como poderá concebê-lo em conseqüência da intervenção de um outro, por meio da palavra deste ou por meio de um sinal geral diferente da experiência, senão, no caso de uma cor, por tê-la vista, no caso de um rumor, por tê-lo ouvido? De fato, quem fala não diz absolutamente um rumor, nem uma cor, mas uma palavra. Consequentemente, não é possível nem mesmo figurar-se com o pensamento uma cor, mas vê-la, nem um som ouvi-lo. E mesmo que seja possível conhecer e dizer tudo aquilo que se conhece, de que modo aquele que ouve poderá representar-se conceitualmente o mesmo objeto? Com efeito, não seria possível que a mesma realidade pensada se encontrasse contemporaneamente em vários sujeitos separados entre si: o um, com efeito, seria dois. E muito embora admitindo que a mesma realidade pensada se encontre em vários sujeitos, nada impede que não se lhes mostre semelhante, pois eles não são semelhantes sob todos os aspectos, nem se encontram em idênticas condições: se, de fato se encontrassem numa idêntica condição, seria um e não dois. Por outro lado, nem sequer o mesmo sujeito evidentemente experimenta percepções semelhantes ao memsmo tempo, mas a audição dão diferentes das da visão, e agora diferente do passado. Por conseqüência, dificilmente alguém poderia Ter percepções idênticas ás de outro. Segundo esta dedução, nada existe e, mesmo que existisse, não seria de modo algum cognoscível, e mesmo que fosse, ninguém poderia manifestá-lo a outro, pelo fato de que as coisas não são palavras e ninguém consegue pensar uma coisa idêntica à que pensa outro. (Ps. Aristóteles, De Mel. Xenoph. Gorgia, 6, 980 a 20).


6- Em primeiro lugar, se queres a virtude do homem, é fácil dizer-te que é esta: ser idôneo ao tratar as coisas da cidade, e, fazendo isso, fazer bem aos amigos e o mal aos inimigos, e acautelar-se para não sofrer nada semelhante. E se queres a virtude da mulher, não é difícil responder que ela deve administrar a casa, cuidando dos negócios internos e obedecendo ao marido. E outra é a virtude da criança e do jovem e do homem e outra é a do ancião, seja livre, seja escravo. E existem muitas virtudes, de modo que não há dificuldade em dizer que coisa é uma virtude: há uma virtude relativa a cada ação e a cada idade, e a cada obra para cada um de nós. E isso também penso com relação ao vício. (Platão, Ménon, 71 e relativas). 


7- [...]  ser capaz de persuadir os juizes nos tribunais, os conselheiros no conselho; os membros da assembléia popular na Assembléia e assim em qualquer outra reunião que se tenha os cidadãos. (Platão, Górgias, 452 e). 


8- [...] considero e chamo poesia, nas suas várias formas, de um discurso com metro, e quem escuta é invadido por um tremor de espanto por uma compaixão que arranca lágrimas, por uma tormentista avidez de dor, e a alma sofre, pelo efeito das palavras, um sofrimento que lhe é próprio, ao ouvir a sorte e a desgraça de fatos e pessoas estranhas (Górgias, Elogio de Helena, s 9).


9- Floresceu então a tragédia e foi celebrada pelos contemporâneos como audição e espetáculo admirável, pois criava com as suas ficções e paixões um engano, diz Górgias, pelo qual quem engana age melhor do quem não engana, e quem é enganado é mais sábio do que quem não é enganado (Plutarco, De Glor. Ath., 5, p. 348).


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