terça-feira, 6 de maio de 2025

Filo de Alexandria

 



 

Gênese, componentes e problemas fundamentais da filosofia de Filo

 

A gênese do pensamento filoniano e o seu papel na historia da filosofia antiga

 

Filo constituiu, sem duvida, um personagem que, com linguagem de hoje, poderemos definir “de ruptura”.Eles se encontrou a cavaleiro de duas épocas e duas culturas; não foi imune a uma serie de contradições (devidamente ampliadas por alguns estudiosos), as quais brotaram sobre tudo do fato de terem expressado idéias novas em muitos casos contermos velhos e pelo fato de que as idéias novas que quis impor derivava de uma tradição e de uma mentalidade muito diferente (e, em certos aspectos, antitética) da cultura helênica, da qual ele extraiu o seu léxico e seus instrumentos conceituais. Todavia, além dessas contradições, “a ruptura” da qual falavam evidente quase em todas as paginas de suas conspícua obra.Filo abalou nas raízes justamente o fundamento que por três séculos tinham sustentado o pensamento das grandes escolas helenísticas.De fato, ele irrompeu sobre o imperante materialismo com a recuperação da dimensão de incorpóreo, que proclamou e defendeu de modo bastante energético; a visão imanesista contrapôs uma concepção transcedentalista até mesmo avançada com relação a todas as que a Grécia tinha até então conhecido; ademais, redimensionou drasticamente a incondicionada fé na “autarquia” do homem, mostrou a necessidade de transcender a razão e de ligá-la a Deus a divina revelação do poder. Verdadeiramente, resolver os problemas últimos; enfim, fez irromper na visão do mundo e da vida profundamente imanesista e naturalista própria do helenismo uma corrente forte religiosidade de intenso misticismo destinada a mudar a Tempra do pensamento filosófico de maneira radical.

Tão conspícua renovação aconteceu com Alexandria e por obra de um homem que não era grega mas hebreu educado na cultura helênica porém embebido da fé do seu povo e firmamento conhecido da inspiração divina da Bíblia.

Todas as circunstancias são essenciais não só para compreensão de filo, mas de todo o pensamento do qual resta falar.

Em Alexandria tiveram lugar as mas notáveis tentativas de síntese entre o espírito racionalista tipicamente helênico e as instancias orientais que eram, ao invés, de natureza tipicamente religiosa e mística.Ora, entre as varias correntes da filosofia grega, duas eram particularmente hedônicas para garantir a mediação entre o racionalismo helênico e a religiosidade o misticismo orientais: o pitagonismo e, sobretudo, o platonismo. E justamente estas duas filosofias, exatamente em Alexandria, começaram a ressurgir tentando sair daquele magma estoicizante.

A tentativa de fusão entre teologia hebraica e filosofia grega operada por Filo, mesmo com todas as incertezas e numerosas aporias, constituiu um acontecimento de alcance excepcional não só no âmbito espiritual da grecidade e a do hebraísmo, mas também em geral, enquanto inaugura a aliança entre fé bíblica e razão filosofia helênica, destinada a ter tão amplo sucesso com a difusão do discurso cristão, e da qual deviam brotar as características do pensamento dos séculos posteriores. Com Filo, em uma, como foi justamente observado, começa, em certo sentido, a historia da filosofia cristão e, portanto “européia”.

 

A componente helênica

Acima de todas aquelas afirmações que tinham então se tornado patrimônio de quase todas as escolas e que constituíam uma verdadeira koiné filosófica, assim como acima das doutrinas particulares extraídas de cada uma das escolas, predomina em Filo, muito amiúde, como já antecipamos, o espírito do platonismo. Os numerosos conceitos estóicos dos quais se valeu, como observamos, são sistematicamente separados dos seus fundam netos materialistas e imanentistas e reincididos no contexto de uma metafísica espiritualista. O próprio pitagonismo sé é utilizado em certa medida, explorando sobretudo a interpretação simbólica nos números a serviço da exegese alegórica de certas passagens da Sagrada Escritura: em particular coisas muito indicativa não é acolhida à identificação das Idéias com os números e é mantido o aspecto edidético paradigmático da doutrina platônica das idéias em todo o seu alcance. De Aristóteles são acolhidas doutrinas de acordo ou facilmente concordáveis com o platonismo. Portanto, parece correto falar de um platonismo de Filo.

Mas que tipo de platonismo é reproposto pelo nosso filosofo? Trata-se de uma nova forma de platonismo, reformado em alguns pontos essenciais. Filo reconquista plenamente o conceito do incorpóreo, e, assim reúne-se ao autentico espírito do platonismo, pondo-se alem das incompreensões da Academia aclética, mas reforma o conceito de Deus, pondo-o acima das idéias, reforma a concepção das idéias, fazendo delas produções e pensamentos de Deus, transforma em sentido cracionista a atividade demiurgica da divindade, reforma o conceito de lei moral fazendo dele um “mandamento” de Deus, transforma a antropologia, introduzindo algumas novidades revolucionarias na concepção da alma, que não só os esquemas da psicologia platônica, mas também os de todas a grecidade.

 

A componente hebraica

O texto da bíblia ao qual Filo se remete não é o originário hebraico, mas a Sepuaginta, Tradução grega iniciada em lexandaria sob o reinado de Ptolomeu Filadelfo (248-246 a.C.) para responder a necessidade da comunidade hebraica que se tinha formado em Alexandria e tinha então apropriado da língua grega.

Toda tradução, em particular, se é feita de modo aprofundado, é, de algum modo, uma reinterpretarão, isto é, uma mediação. Mas Filo estava convencido de que, como a originaria em língua hebraica, assim também a bíblia em língua grega, ou seja, a própria tradução era inspirada por Deus e que, por isso, ela tinha o mesmo valor. Deus, diz expressada mente Filo, inspirou os tradutores na escolha das palavras gregas com as quais transpuseram as originárias, de modo que, propriamente falando, eles não foram tradutores, mas hierofantes e profetas.

Filo conhecei e meditou a bíblia praticamente por inteiro, dado que cita passagens de pelo menos dezoito dos livros dos quais ela é constituída, mas privilegio de maneira absoluta o Pentateuco, ou seja, a lei (Torah em hebraico, Nomos em grego), considerou Moises, o seu autor, o maior profeta e a palavra mosaica, enquanto inspirada por Deus, a amais elevada saída da boca de um homem. A palavra de Moises constituiu, pra ele, conseqüentemente, a verdade com a qual devia ser medida e a qual devia ser subordinada a palavra de todos os filósofos. De resto, ele considerou que algumas das doutrinas fundamentais dos filósofos gregos tinham antecedentes precisamente em Moises. A qualificação das filosofia mosaica, com as devidas especificações acima feitas, é a que melhor parece caracterizar a especulação filoniana.

 

O alegorismo filoniano e os seus precedentes gregos e hebraicos

O alegorismo constituí o verdadeiro taco espiritual do nosso autor. O método de filosofar filoniano coincide com o alegorismo, o qual, consiste articulamente, em encontrar e explicar o significado oculto sob as figuras, os atos e os acontecimentos narrados no Pentateuco.

Qual é a gênese, a natureza e o alcance do alegorismo filoniano?

Deve-se logo observar que o método da interpretação alegórica, na época de Filo, era difundido seja em ambiente pagão, seja, também, em alguns ambientes judaicos.

No âmbito da cultura helênica, os gramáticos alexandrinos interpretavam Homero e Hesioso em chave alegórica, e no amputo do antigo pórtico, a mitologia pagã era interpretada como símbolo de verdades fisico-teologiocas. Todavia, para os estóicos, a interpretação alegórica constituía um método complementar, ou seja, acessório e por anda essencial ao se procedimento propriamente filosófico.

Filo atribui, ademais, a comunidade hebraica dos essênios, que vivia na palestina, a pratica da meditação da maior parte das passagens da bíblia, justamente, mediante símbolos. Também da comunidade hebraica dos Terapeutas, que tinha estabelecido no Egito, Filo diz que praticava sistematicamente a interpretação alegórica, e que comparava o sentido literal ao corpo do ser vivo e o alegórico a alma.

Antes de prosseguirem, restam a observar ainda dois pontos muito importantes para a correta compreensão do alegorismo filoniano. A) Filo considera que mesmo a letra da bíblia tenha um sentido; de fato, ele rejeita, como norma, a identificação do relato bíblico com o puro mito. O sentido literal se situa, contudo, a seu ver, num plano nitidamente inferior,a permanecendo por assim dizer, extrínseco a mensagem mosaica, enquanto a interpretação alegórica sitia-se num plano decididamente superior, alcançado a própria alma da mensagem.

Ambos os significados devem ser considerados divina Revelação. B) o próprio Filo, como interprete alegórico considera-se participe da divina inspiração.

 

Filo e o prelúdio de uma grande virada do pensamento ocidental 

A primeira formulação do problema das relações entre a Revelação divina e a filosofia, ou seja, entre a fé e a razão

É evidente que aqui nos encontramos diante de uma virada essencial do pensamento ocidental, enquanto a especulação filosófica encontra-se não só diante de problemas novos, mas de problemas de tal natureza a alcance, que, para poderem ser resolvidos. Comportavam estruturalmente a crise do conceito clássico da filosofia e o desenvolvimento de perspectivas inéditas. Tratava-se, em substância, de estabelecer quais as relações entre a Revelação divina e a filosófica, ou seja, entre a fé, que é a única a poder crer numa superior Revelação divina, e a razão filosófica, que ao logos humano pede a explicação e a justificação de todas as coisas. E tratava-se, por conseqüências, de estabelecer de que e de quem dependiam as concordâncias encontráveis entre as doutrinas contidas nos textos revelados, de um lado, e nos escritos fruto da autônoma especulação filosóficas dos gregos, por outro, e de estabelecer de quem cabia a primazia: se a fé na Revelação, ou se a autônoma pesquisa da razão humana.

Para compreender a novidade desses problemas e a sua relevância, convém relembrar que o pensamento grego da era clássica, assim como o da era helenística, nunca se tinha encontrado na situação de dever defrontar-se com uma verdade ou com doutrinas consideradas reveladas, com as da bíblia, com as quais Filo é o primeiro a defrontar-se; ou com as do evangelho, com as quais se defrontarão os padres da igreja, ou as do Corão, com mas quais se medirão os pensadores Árabes. A religião helênica não tinha dogmas imutáveis comparáveis a outras religiões, nem uma casta sacerdotal com a tarefa precípua de custodiá-los; e, o que mais importa, as crenças pagãs não eram de modo nenhum consideradas “doutrinas Reveladas por Deus” no sentido bíblico, como já dissemos no primeiro volume.

É justamente Filo o pensador que por primeiro interpreta as relações entre filosofia e Revelação, em termos de subordinação ancilar das primeira a segunda, formulando uma doutrina que, através dos padres da igreja, passará para a escolástica e para o pensamento ocidental, e que permanecerá, por séculos, canônica.

O fundamento da sapiência de que fala Filo-nota-se bem é precisamente a fé, entendida como convicção sólida e indestrutível, e contraposta à incerteza dos raciocínios humanos.

 

Resumo a ruptura dos quadros helenísticos do saber filosófico: a ascensão da teologia ao primeiro plano e a proclamação do primado da spência sobre a sabedoria

 

O que dissemos até aqui é suficiente para explicar que a tripartição da filosofia, que vimos ser à base de todos os sistemas da era helenística, não podia mais fornecer quadros idôneos para conter o pensamento filoniano na verdade, o nosso filosofo acolhe formalmente a tripartição da filosofia em lógica, física e ética, mas aporta-lhe uma correção que a transforma e que, antes, acabasse por desagregá-la.

Filo, de fato, transporta a teologia do âmbito da física (que se torna pura cosmologia) para o da ética e põe expressamente como momento culminante da ética “o conhecimento do criador”, do qual deriva a santidade, a mais bela de todas as aquisições. Isso significa, como veremos, separar a concepção de Deus na concepção dos cosmos e ligá-la a do homem, contrariamente a toda tradição grega.

Mas também a concepção tipicamente helenística da superioridade da phronesis ou sabedoria sobra a sophia ou sapiência é rejeitada.  Sapiência é, para Fio, o conhecimento e o oculto de Deus, em       quanto à sabedoria diz respeito ao conduta moral, a vida prática do homem.

Mas é claro que sendo a sapiência condição da sabedoria, sendo, como se disse, a teologia (que sapiência) momento culminante da ética a sapiência acaba por incluir a própria sabedoria, ou, em todo o caso, por ligá-la estreitamente a si: poder-se ia que em Filo a sabedoria e o momento pratico da sapiência.

Esse caminho real que é a sapiência em outro lugar é afirmado como a própria palavra de Deus, ou seja, a sua revelação, a lei mosaica geral.

Essa concepção da sophia, que é ao mesmo tempo subida do homem a Deus , através de Moises e dos profetas, aos homens, rompem tanto os elementos helenísticos, como, também, os clássicos: ela inaugura um novo de entender a filosofia e abala pelas raízes as convecções da grecidade.

 

A metafisica, a teologia e a ontologia de Filo 

A superação dos pressupostos materialistas e imanentistas dos sistemas helenísticos e a reafirmação do incorpóreo e da transcendência

 

A modificação dos quadros helenísticos do saber filosófico, devia depender diretamente da erosão dos fundamentos sobre as quais se apoiavam. Com efeito, Filo tira a teologia da âmbito da cosmologia e a vida a ética, porque repudia a concepção materialista e imanentista de Deus e do divino, sustentadas por todas as escolas helenísticas, em particular pelo Pórtico, e até mesmo redimensiona radicalmente o sentido e o alcance da própria cosmologia.

De fato, do inicio ao fim dos escritos do nosso filosofo, reafirma a realidade do incorpóreo, justamente com aquela valência e com aquela densidade ontológica e metafísica que tinha ido intensa e concordemente negadas pelos expoentes não só d jardim, do Pórtico e dos céticos, mas pelos próprios seguidores degenerados da academia e do Peripato. No incorpóreo é indicada por Filo à verdadeira causa do corpóreo, e por conseqüência, invertendo a perspectiva comum a todas as escolas helenísticas, ao corpóreo, é negada toda autonomia ontológica, ou seja, capacidade de dar razão a si mesmo. As conquistas metafísicas de Platão são, assim, não só plenamente recuperadas, mas, ulteriormente fecundadas e desenvolvidas em função de alguns elementos essenciais extraídos da escritura.

Ser incorpóreo é Deus, entes incorpóreo são os logos, as potencias, as idéias e os mundos das idéias. E realidade incorpóreas são também as almas. Ora Deus, o logos, as potencias e o cosmo inteligível, as almas tem a titulo diverso e em diferentes níveis um papel bem preciso de causa e de fundamento diante d sensível, de modo que se pode dizer que o corpóreo só existe porque existe um incorpóreo e porque esse o produz, o sustenta e o mantém.

A incorporeidade de Deus coincide, com a sua absoluta simplicidade (absoluta falar de composição e de partes, as quais são, ao invés, características peculiares do corpóreo) e absoluta incorruptibilidade.

E como o conceito de incorporeidade é perfeitamente reconquistado e expresso, assim também o de transcendência, com conseqüências e clareza até mesmo superior com relação a Platão e Aristóteles.

Da existência necessária de idéias incorporais, vale dizer, de paradigmas arquétipos incorpóreos, que servem de causa exemplar das realidades corpóreas, filo está de tal modo convencido, que chega a sustentar essa doutrina como um dos fundamentos da revelação mosaica.

No que diz respeito à alma, filo não só tende a distinguir acentualmente psyché do nos para ressaltar o estatuto privilegiado desse ultimo, mas introduz novidades que o levam a posições mais avançadas com relação a Platão.

 

A nova concepção de Deus

O centro do sistema filoniano é constitui por um sentimento e por uma concepção de Deus radicalmente novos com relação à precedente tradição grega, como logo veremos.

Contudo, ele distingue, de modo mais claro e, sobretudo, de modo teoricamente mais consciente do que foi feito em precedência , dois diferentes problemas: o da demonstração da existência de Deus e b) o da determinação da sua natureza e da sua essência. O primeiro problema, diz ele, não é difícil; o segundo, ao invés, não só difícil, mas ate mesmo insolúvel.Noutros termos, segundo o nosso filosofo, a existência de Deus é compreensível, a sua essência, ao contrario, é incompreensível para o homem.

Ora, malgrado o fato de que a existência de Deus seja compreensível nota filo, nem todos os homens conseguem compreende-la, ou nem todas chegam a isso de maneira adequada. Não conseguem compreende-la, os ateus, que negam sem mais a existência de Deus, ao invés, os supersticiosos, os quais, em vez de fundarem-se sobre o uso sadio do raciocínio, confiam-se indiscriminalmente (ou seja acriticamente) as tradições. Ademias, a compreendem mal os que pretendem explicar todas as coisas com a ciência física e acabam por identificar Deus com o mundo, ou seja, os panteístas. Também a compreendem mal os que põe o mundo como incriado, acabano desse modo por admirá-lo mais que o criador e, portanto, por admitir a existência de um Deus inativo. E, enfim, compreendem mal a existência de Deus os politeístas, que introduzem uma quantidade de deuses, masculinos e femininos, velhos e jovens, e que, portanto, não compreendem a idéia do ser uno, o único a existir verdadeiramente.

As provas que Filo aduz a existência de deus são fisico-teologico, ou, se prefere, cosmológico, teológico, e são todas derivadas da tradição filosófica grega, particularmente de Sócrates, de Platão e de Aristóteles.

Esse procedimento a posterior, ou como diz filo, “de baixo para cima”, consiste numa interferência da razão, que parte das coisas, e julgando-as incapazes de si justificar a si próprias, sobe a causa que é a única a poder explicá-las, ou seja, consiste num complexo trabalho de mediação. Mais Filo considera que existe ainda outro modo de cegar ao conhecimento da existência de Deus. Trata-se de um tipo de conhecimento que não vai de baixo para cima, mas que provem diretamente e imediatamente do alto. Tal conhecimento, porém, é reservado aos eleitos, e, precisamente, aos que são verdadeiros servidores e amantes de Deus, e é um conhecimento que, por sua iniciativa, deus concede como dom a quem lhe pode e se faz digno dele, como aconteceu, de modo paradigmático, com Moises.

Nesse conhecimento privilegiado da existência de Deus não é, propriamente, o homem que vê a Deus, mas, antes, é Deus que se diz vera o homem. Em suma, trata-se de uma iniciativa de Deus que em ao homem e lhe faz dom, como dizíamos, da visão de si.

Estamos, aqui, diante de uma idéia completamente desconhecida ao pensamento filosófico grego: a do dom gratuito que Deus pode fazer aos homens por amor a eles.

O conhecimento imediato, que Deus pode dar ao homem “dando-se a ver” refere-se nota-se bem – apenas a sua existência e não a sua natureza ou essência que, como já recordamos, permanece incompreensível ao homem, pois o transcende infinitamente.

A natureza de Deus não pode ser compreendia pelo homem por causa da sua absoluta transcendência: ele transcendem não só a natureza humana, mas também a natureza do céu e de todo o universo. Deus é totalmente outro cm relação a tudo quanto conhecemos, ou, para dizê-lo com a própria terminologia filoniana, “não a nada que seja semelhante a Deus”.

Antes filo diz até mesmo que Deus esta acima (do próprio uno ou Mônada, que está acima da vida,à cima da virtude, acima da ciência, acima do próprio bem. As repetidas asserções do nosso filósofo de que Deus “é sem qualidade”, querem dizer justamente isso: que ele está acima de todas as possíveis determinações qualitativas (Deus está acima de qualquer forma e qualidade).

Deus transcende não só o ser e o mundo sensível, mas também os entes e o mundo inteligível, na medida em que como veremos é o criador de um e do outro. Portanto, Deus é fonte de toda realidade; não esta em parte alguma e, ao mesmo tempo, esta em toda parte, preenche tudo de si e tudo contem.

A transcendência ontológica de Deus comporta, necessariamente, também a sua transcendência gnoelógica, tornando-o incognoscível ao homem e, por conseqüência, tornando-o também inefável, ou seja, inexprimível e na designavel com nomes.

Essa doutrina, da qual existem traços na padecente especulação, mas sem adequadas motivações e sem os relativos desenvolvimentos, pode ser considerada uma novidade de Filo, pelo mesmos na precisa formulação que ele lhe deu (a absoluta transcendência depende, em ultima analise, do conceito de criação, ausente na especulação anterior), e constitui a fundação daquela que mais tarde, no âmbito da especulação cristã, será chamada “teologia negativa”.

È importante notar o fato de que Filo recomenda prosseguir constantemente na busca da essência de Deus; de fato, embora esta permaneça estruturalmente incompreensível, no entanto, diz ele, o homem pode chega a captar algumas propriedades que se referem a ela, justamente como acontecem com os olhos, os quais, sendo incapazes de ver o sol em si, conseguem todavia captar os seus reflexos sobre a terra e a ponta do esplendor de seus raios.

Com efeito, as varias propriedades de deus as quais Filo se refere nos seus escritos, ou exprimem, de vários modos, a diferença radical d’ele com relação a todas as outras coisas, ou exprimem alguns aspectos da sua atividade: nesse sentido seu é dito incorpóreo, único, simples, auto-suficiente, perfeito imóvel, imutável, eterno, onipresente, (e, portanto infinito), criador e pai de todas as coisas, providente, revelador da lei e assim por diante.

Já contudo, um nome que, segundo Filo, designa Deus de maneira privilegiada, no sentido que não exprime simplesmente uma das duas atividades, ou uma das suas potencias, mas, de algum modo, aproxima-se da própria origem da sua atividade e do seu poder.

Esse nome é o Ser ou o Ente ou O que possui Ser.A celebre passagem do êxodo, na qual Deus responde a Moises que queria saber seu nome, soa assim na Seputuagiana: “eu sou aquele que é”, “eu sou o ser”. Filo não explora a fundo a Valencia metafísica da expressão; todavia, não só usa este nome de modo sistemático, mas aqui e acolá parece considerar que Deus se auto define como o ser por excelência, enquanto e aquele ser que é e será sempre, e ademais é o ser que, pela sua própria natureza, faz se também as outras coisas, o ser que, seno plenamente ser, é fonte de todo outro ser.

 

A primeira formulação filosófica da doutrina da criação 

Filo é o primeiro pensador ao introduzir na filosofia a doutrina da criação, extraindo-a da bíblia e tentando media-la com a doutrina platônica do Tineu. A especulação pagã subseqüente se desfará completamente dessa posição, que, ao invés, constituirá o fundamento do pensamento cristão.

Deve-se observar que o próprio Filo evidencia dois pontos muito importantes: a) a atividade de deus produz coisas que não eram, produz todas as cosias a partir do não ser; b) Deus não é, portanto, apenas demiurgo, mas criador.

Filo sustenta a sublinha muitas vezes que tudo é graça e dom de Deus; ninguém pertence a si, mas tudo e todos a ele: tudo é livre e gratuitamente dado pela sua bondade. Trata-se de um modo de pensar e de sentir possível num contexto criacionista.

 

A doutrina do logos

 Conceito comporta de novidades, em primeiro lugar, no nível metafisico-ontologico, a começar pela teoria do logos, que assume valências verdadeiramente inéditas.

Infelizmente Filo fala freqüentemente do logos, mas prevalentemente por alusões, e, ademais, em diferentes contextos e a partir de diferentes pontos de vista, de modos que se explica bem que os estudiosos tenham proposto exegeses diversas e às vezes opostas.

Nesta sede é impossível proceder apenas pó acenos, dada à complexidade da matéria e o caráter problemático das teses.

Deus, explica Fio, querendo criar o mundo sensível de modo adequado, produz, primeiro, o mundo inteligível, que tem a função de modo incorpóreo segundo o qual deve ser realizado o mundo corpóreo, assim como faz o arquiteto, o qual, quirim construir uma grande cidade, construí primeiro o projeto dela com a sua inteligência e o fixa na sua alma, para depois traduzi-lo na sua realidade. Ora, o logos divino é, precisamente, a atividade ou potencia de Deus que cria as realidades inteligíveis, cuja a função é a de modelos e paradigmas ideais.

 

A doutrina das “potências”

Deus é atividade indefectível; ora, as potencias são, precisamente, as múltiplas manifestações dessa atividade. É evidente que nesse contexto “potencia” não significa potencialidade em sentido aristotélicos, mas força, ação, atividade. Vimos também que o logos se reduz a uma dessas atividades ou potencias, a que é própria do pensar (que veremos ser uma potencia privilegiada, que reuni todas as outras).

Ora, também para as opulências são distinguíveis os três níveis encontrado no logos. La, de fato, se consideradas em Deus, são as propriedades de Deus mesmo; mas Filo não fala expressamente desse aspeto das potencias. Consideradas, ao invés, em si, são, em certo sentido, entes incorpóreos “intermediários” enter Deus e o mundo, são as próprias junturas do universo físico.

Dado que Deus não é finito, inumeráveis são as manifestações da sua atividade, ou seja, as suas potencias., Filo menciona, porém, apenas em numero limitado e, como regar geral, só apela para as duas principais, e a estas subordina todas as outras. As duas potencias principais são: a potencia criadoura, ou seja, a potencia com a qual deus produz o universo e apotencia real com a qual o criador governa o que criou.

Essas duas potencias correspondem, como só estudiosos observam, aos dois aspectos da divindade que a antiga tradição hebraica indicava com nomes Elohim e yahweh. Elohim exprimia a potencia, e a força do bem, portanto, da criação; Yahweh, a força legisladora e punitiva. A potencia criadora ligam-se, pro exemplo, a potencia Benfeitora e a Propiciadora. A potencia criadora ligam-se, por exemplo, a potência Legisladora.

É evidente que, sendo Deus único, as potencias , que são múltiplas, revelam apenas aspectos ou projeções de Deus. Isso vale, naturalmente também para as duas principais.

A relação entre o logos e as duas supremas potencias (e, portanto, entre o logos e todas as outras potencias, que as duas principais, como vimos, são subordinadas) é expressamente te matizada por Filo.

Em alguns textos, ele considera o logos como fonte das outras potencias; noutros, ao invés ele atribui ao logos à função de reunir as outras potencias.

 

A doutrina das idéias e a reforma filoniana

As idéias, de ingênitas tornam criadas por Deus no ato do seu pensar, como arquétipos do mundo sensível, elas se tornam, desse modo, pensamento de Deus, no sentido em que Deus as cria pensando-as, mas não se esgotam na meta atividade do pensar e são também seres, ou seja, realidades, no sentido que vimos. O “lugar das idéias” torna-se o logos, que as escolhe na sua totalidade como “cosmo inteligível”.

Para transformar as platônicas idéias num cosmo inteligível produzido por uma mente e nela contido, era preciso conquistar o conceito de criação. Antes de Filo existiram seguramente algumas tentativas de situa idéias no pensamento divino, mas é igualmente seguro que faltou o fundamento que pudesse garantir o sucesso da tentativa. Depois que Filo, ao invés, a redução das idéias a pensamentos divinos tornar-se-á um dogma sempre mais difundido; mas para encontrar filósofos que a repropunham com adequadas motivações metafísicas é preciso chegar aos médio-platonicos (em particular Albino), que as situa na sua vão hipostática do supra sensível, e até mesmo até Plotino, que, não por acaso, provêm do ambiente alexandrino.

Naturalmente, enquanto criadas, as idéias cessam de ser o “Ser que verdadeiramente é”, ou seja, o ser absoluto, e o ser absoluto torna-se Deus, o Deus que, sendo justamente o ser por excelência, pode suscitar a totalidade das coisas a partir do não-ser, como vimos acima.

E, sempre enquanto criadas, as idéias deixam também de ser paradigmas absolutos e se tornam imagens que são, por sua vez, paradigmas. O modelo absoluto é Deus. O logos é já a primeira imagem, uma imagem perfeita, que, por sua vez, serve de modelo ao seres que se segue,. E enquanto o logos é a imagem perfeita de deus e o modelo de todas as coisas, as idéias são imagens particulares e, portanto, modelos particulares das coisas individuais.

É necessário observar eu a criação das idéias por pacto de Deus não é uma to temporal (como não é a geração do logos e das potencias), enquanto não acontece na dimensão do tempo.

Deus é interior no sentido ontológico as idéias que cria, enquanto é a fonte delas e, portanto, é anterior também em sentido hierárquico. Analogamente, as idéias são anteriores ao mundo em sentido ontológico e axiológico, enquanto são o seu modelo e principio paradigmático, enquanto o mundo é posterior a Deus e as idéias também em sentido cronológico, justamente porque, como se disse, a dimensão do tempo nasce com o mundo.

Filo, ademais, ligou as idéias às potencias de vários modos. Magardo a mobilidade da linguagem que ele usa e a este respeito, pode-se dizer que as idéias em geral diferem das potencias pelos seguintes motivos: a) tem uma função mais imitida (as potencias apresentam aspectos da atividade de Deus, como vimos, enquanto as idéias, na acepção mais própria do termo, são, mais especificamente, a de ser particulares da atividade pensante de Deus); b) essa função é, precisamente, a de ser modelos ou causas exemplares. Por outro lado, é preciso ulteriormente observar que, na medida em que o logos no qual elas se encontram serve também de causa instrumental e eficiente na criação do mundo, como já dissemos, então, também sob esse aspecto particular, as idéias, enquanto produzem as coisas, podem ser consideras e ditas potencias ou atividades produtoras.

 

As almas sem corpo e os anjos

Filo interpreta os anjos como o correlativo daqueles que no pensamento pagão eram chamados “Demônios”. Os anjos são “almas incorpóreas” que vivem sobre tudo na esfera do ar. Almas totalmente privadas da parte irracional, e servem de monstros de Deus. Não que deus, observa oportunamente Filo, tenha necessidades de informantes e ajudantes; somos nós que temos necessidades de intermediários e de arbítrios diante da força imensa.

 

A antropologia e a moral de Filo

 

Nova concepção da natureza do homem, ou o homem em três dimensões 

Pouco a pouco, Filo amadurece uma concepção mais avançada, fazendo irromper no homem, por assim dizer, uma terceira dimensão, da natureza tal, capaz de transformar radicalmente o significado. O valor e o alcance das outras duas. Segundo a essa nova concepção, na qual a componente bíblica torna-se dominante, o homem é constituído de: a) corpo, 2) alma-intelecto e 3) espírito que provem de Deus. Segundo essa perspectiva, o intelecto humano é corruptível, enquanto é intelecto “terrestre”, a não ser que Deus inspire uma potencia de verdadeira vida, que é o seu espírito.

O intelecto humano, considerado em si, seria cosia miserável se Deus não soprasse nela o seu espírito; O momento que realiza o entrelaçamento do homem com o divino, para Filo, não é mais, como para os gregos, a alma, nem a sua parte mais elevada, o intelecto, mas é o espírito que vem diretamente de Deus. Por conseqüência, o homem tem uma vida que se desenvolve em três dimensões, como acima se dizia: 1) seguindo a dimensão física puramente animal (corpo), 2) segundo a dimensão racional (alma intelecto), 3) segundo a superior, divina, transcendente dimensão do espírito. A alma intelecto, por si mortal, torna-se imortal na medida em que Deus lhe da o seu espírito e vive segundo o espírito. Caem assim os pontos de sustentação sobre as quais Platão tentou fundar a imo0ratalidade da alma. A alma não é por si imortal, mas pode se tornar tal na medida em que sabe viver segundo o espírito.

Justamente dessa terceira dimensão o espírito de Deus, que deriva diretamente da interpretação da doutrina bíblica da criação, dependem todas as consideráveis novidades que Filo introduz na ética. A moral torna-se inseparável da fé e da religião e desemboca numa verdadeira união mística com Deus e numa visão extática.

 

A superação do intelectualismo ético da filosofia grega e a proclamação da fé como suprema virtude

Toda ética estava baseada, como vimos amplamente no curso dessa obra, sobre dois pressupostos fundamentais: a) o homem, só com a potencia da sua razão, pode conhecer a physis, o ser, o absoluto, e, por conseqüência, pode extrair, só com o uso da razão, as normas da sua vida moral, fundadas nas próprias leis da physis; b) a “virtude” ou “aretè” humana tem a sua raiz na razão e no conhecimento, e, antes, é conhecimento no sentido de que a razão é entendida como condição necessária e suficiente da ação moral.

Fio contrapõe a estas enraizadissimas convicções dos gregos concepções de caráter nitidamente oposto.

a)      a razão humana não basta para alcançar a verdade e todos os que, obstinadamente, agarram-se a ela caem numa forma de soberba atéia da qual Cam é símbolo. Não a razão humana, mas a Deus se agarra a sapiente, com humildade, e desse tipo de homem o símbolo é Abel.

O homem não alcança a verdade se a verdade não vem a ele.

O deus bíblico não só criou o mundo e se revelou nas suas obras, mas também revelou, a alguns diretamente e a outros através desses eleito (profetas), a própria existência. Não só deu as leis do viver, estabelecendo as leis da natureza, mas explicitou essas leis, mas uma vez, através dos profetas por ele inspirados.

b) a razão, ademais, e o conhecimento são, sem duvida, necessários para poder operar o bem; todavia, eles não são as condições suficientes; é preciso ainda a liberdade e a vontade de escolher o bem e de recusar o mal. O homem pode muito bem o melhor e ficar com o pior, justamente porque foi criado livre para escolher entre o bem e mal.

Ademais, deve-se observar que, pela primeira vez, a obrigatoriedade da lei moral era justificada e fundada. Todos os filósofos gregos se afadigaram para deduzir do ser (da physis) o dever ser, obrigação moral; para Filo, ao invés, essa dedução não constitui mais um problema, por que as leis morais são o mandamento de Deus, uma vontade que, ele impõe como criador, e que, ademais, também revela diretamente além de indiretamente. E,. Pela primeira vez, são adquiridos todos os elementos necessários para explicar o pecado, ou seja a culpa moral. O pecado se apresenta, não como erro da razão, calculo mal feito, mas desobediência a um mandamento, ou seja, um não-querer de deus.

Estamos diante de uma verdadeira inversão de perspectiva com relação ao racionalismo moral dos gregos, que depende, mais uma vez, do conceito de Deus criador e revelador e de nova concepção das relações subsistentes entre o criador e a criatura privilegiada que é o homem.

Enfim, deve-se notar que a ruptura com o racionalismo helênico comporta a introdução de uma nova virtude, a da fé, situada no vértice mesmo de todas as virtudes. A virtude “teologal” da fé em Deus torna-se assim a “rainha das virtudes”, ela se reduz a própria sapiência, sapiência que, para Aristóteles, era a suprema virtude dianoética.

O novo sapiente é o homem que tem fé em Deus, que nele põe toda a sua confiança, a ele tudo entregar, buscando com todos os sentidos segui-lo e intimá-lo.

Ao lado da fé emerge a esperança o amor. Delineiam-s assim, pouco a pouco, as que são virtudes teologias do pensamento cristão.

 

O itinerário para Deus, a união mística com ele e o êxtase

Toda a filosofia de Filo é, em ultima analise, um itinerários para Deus e a própria interpretação alegórica dos personagens e dos acontecimentos narrados na bíblia, como já dissemos, é justamente uma historia da qual aqueles personagens e acontecimentos são símbolos das etapas percorridas pela alma no seu itinerário para Deus.

Nesse itinerário, três são as etapas fundamentais, no interior das quais, ulteriormente, diferentes momentos são distinguidos.

1)      A primeira etapa consiste em abandonar a contemplação e a adoração do cosmo (mentalidade caldaica, como a chama Filo) para entrar em si mesmo, com a finalidade de conhecer a si próprio. A fragilidade da contemplação do cosmo, embora corretamente contemplada, consiste no fato de que, se o cosmo pode nos levar a subir a deus como seu criador, não nos permite alcançar o ulterior conhecimento da real relação de Deus com o homem,e , portanto, não permite realizar a união com Deus. Estamos também aqui diante de uma ruptura com o espírito predominante na filosofia grega, que é em larga medida cosmocêntrico.

2)      A segunda etapa consiste, justamente, no conhecimento de si próprio, com a finalidade de definir, diz Filo com verso homérico, “que a de bem e de mal no ser palácio”, ou seja, em si próprio. Essa segunda etapa implica um conhecimento a) do nosso corpo, b) dos nossos sentidos e c) da nossa linguagem e o conseqüente afastamento desses três domínios, que se revelam enganadores. A) o corpo, de fato, revela-se como uma espécie de prisão infamante, que tem como carcereiros os prazeres e os desejos B) os sentidos nos alienam, por assim dizer, e nos atraem para os objetos dos seu desejos, fazendo-nos renunciar ao que nos é próprio em beneficio do que nos é exterior e estranho. C) a linguagem nos engana como beleza aparente dos nomes, os quais ocorrem o risco de esconder, antes que revelar, a beleza real, ou seja, correm o risco de apresentar a parecia em lugar da realidade, a copia em vez dos arquétipos. Distanciar-se e afastar-se dessas três realidades, evidentemente, não quer dizer deixar de usá-las, o que só seria possível com a morte, mas que dizer adquirir uma “mentalidade de estrangeiro” diante delas.

3)      A terceira etapa consiste em refugiar-se na nossa alma e, ao mesmo tempo, em dar-se em conta que a nossa própria alma (ou seja, o nosso intelecto) deve ser transcendência, pois, se ela não levanta os olhos acima de si, isto é, para as realidades incorpóreas e para Deus, fatalmente se encontra em situação civil com relação a alguma coisa que é apenas humana e terrena.

Essa “saída de si”, ou seja, da própria alma ou intelecto que é um “dar” o nosso pensamento a quem é a sua causa, coincide com uma união mística e extática com Deus.

O sentido desse itinerário do homem a Deus é claríssimo: do conhecimento do cosmo veremos passar ao conhecimento de nós mesmos; mas o momento essencial consiste em tomar consciência de que somos uma nulidade; é exatamente no momento em que se reconhece o próprio nada, ou seja, no momento em que se compreende que tudo o que temos não é nosso e o damos a quem no-lo deu, que Deus se dá a nós.

A vida feliz consiste, justamente, nesse transcender do humano do divino, no “viver inteiramente para Deus mas do que para si próprios.

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