terça-feira, 6 de maio de 2025

O MÉDIO-PLATONISMO E A REDESCOBERTA DA METAFÍSICA PLATÔNICA

 



Giovanni Reale, História da filosofia antiga

Síntese: Paolo Cugini


 

Gênese, características e expoentes do médio-platonismo

 

As ultimas vicissitudes da Academia e as origens do médio-platonismo

 

Enquanto em Atenas, a Academia morria, fora de Atenas, precisamente em Alexandria, Platonismo com características em grande parte diversas com relação ao dogmatismo ecletico-estoicizante de Antíoco e ganhava terreno.

É certo, que, a partir da segunda metade do século I a.C., o platonismo de maneira lenta, mas progressiva e constante, continuou a difundir-se e a fazer crescer a sua própria consciência e incidência ate culminar na grande síntese plotiniana que amadurecer no cristão.

Ora, a grande síntese plotiniana (e a corrente de pensamento por ela gerada) foi denominada, e justamente, “neoplatonismo”.

O platonismo desse período, tem características que estão, por assim dizer, a meio caminho do antigo platonismo de Platão e dos seus imediatos sucessores e o neoplatonismo de Plotino e dos seus seguidores. Portanto, o terreno médio-platonismo, que significa, justamente, platonismo que está no meio entre o velho e o novo, deve ser considerado, justificado e perfeitamente adequado.

 

Características gerais do médio-platonismo

 

a)    O traço mais típico do médio platonismo, vale dizer, o traço que constitui o mínimo denominador comum do pensamento de todos os seus expoentes, que sem exceção no que, remetendo-nos a conhecida imagem platônica, poderemos chamar de retomada da segunda navegação com a recuperação das suas posições essenciais, assim como das principais, conseqüências que deles decorreram. O medio-platonismo, em suma, recupera o supra-sensível o imaterial e os transcendentes e rompem nitidamente e as pontes com o materialismo dominante há muito tempo. O fundamento do sensível e do corpóreo é novamente indicado como supra-sensível e no imaterial, ou melhor, no incorpóreo, e a componente metafisico-teologica da filosofia (justamente no sentido platônico- aristotélico) não só é recuperada, mas até mesmo posta em primeiro plano.

b)    Conseqüência lógica dessa segunda navegação foi à reproposição da teoria das idéias, que, como sabemos, representa o êxito mais significativo daquela. Os médio-platônicos, antes, não só retomaram essa doutrina, mas (pelo menos alguns deles) a retomaram a fundo, buscando entregar a posição assumida por Platão com a posição aristotélica. Albino e o seu circulo, consideram as idéias no seu aspecto transcendentes como pensamentos de Deus (o mundo inteligível é identificado com atividade e com o conteúdo da suprema inteligência), e no seu aspecto imanente como formas das coisas. A transformação da teoria das idéias seguiu-se pó lógica conseqüência, uma paralela transformação da concepção de toda a estrutura do mundo incorpóreo, com conquistas que claramente anunciam o neoplatonismo.

c)     O texto que os médio-platônicos consideram ponto de referencia e do qual extraíam o esquema para o pensamento da doutrina platônica foi Timeu. Com efeito, na difícil tarefa de reduzir a filosofia platônica e sistema e na tentativa de fazer uma síntese dela, O Timeu era o dialogo que oferecia a trama mais solida. É interessante observar, a propósito disso, que os médios platônicos seguiram preferentemente um método oposto ao dos peripateticos dessa época (de Andrônico e Alexandre): de fato os primeiros consideraram que o melhor modo de conhecer Platão era compendiá-lo; os segundos, ao invés consideram que o melhor modo de compreender Aristóteles era comentá-lo. Assim enquanto o comentário prevaleceu quase exclusivamente entre os aristotélicos, o compêndio, como parece, prevaleceu entre os médio-platônicos, embora muitos tenham sido especialmente no século II d.C., os comentários dedicados aos diálogos platônicos,

d)             A “doutrina dos princípios” do Platão esotérico, ou seja, a doutrina do Uno e da Díade é retomada em parte, mas permaneceu mais como plano de fundo.

e)           O sentimento religioso que, em alguns, beirou o verdadeiro misticismo, levou os medio-platonicos a dar um notável relevo à doutrina dos Demônios, tão antiga quanto o pensamento grego. A acentuação da transigência de Deus e do divino com relação ao homem e ao mundo físico tornava necessários “mediadores”, e, justamente como mediadores entre Deus e o homem os médio-platônicos valeram-se dos demônios. Ademais, valeram-se deles também para justificar as crenças pagãs. Enfim, os fortes interesses religiosos levaram alguns a reavaliar a sapiência oriental em geral e, como se encontra nos escritos de Plutarco, em particular a egípcia.

f)             Também para os médio-platônicos, assim como para os filósofos da era precedente, o problema ético permanece predominante, mas foi reproposto e fundado de modo novo. Para toda a escola helenística a palavra de ordem tinha sido: “Segue a natureza (physis)”, e essa natureza tinha sido entendida de modo materialista e imanentista. A nova palavra de ordem dos medios-platonicos foi ao invés. “Segue a Deus”, “imita a Deus”. A redescoberta da transcendência devia, logicamente, modificar pouco a pouco toda a visão da vida proposta pela ética helenística. Justamente na assimilação ao divino transcendente e incorpóreo os médio-platônicos, concorde mente, reconheceram a autentica cifra da vida moral.

g)          A recuperação da dimensão da transcendência, com todos os corolários a ela conexos em todos os níveis, constituem uma linha de demarcação bem precisa entre o dogmatismo de Antíoco e o médio-platônismo. Portanto, o médio-platonismo nasceu, não de Antíoco, mas, ao contrario, de uma inversão da mentalidade que ensinava a filosofia de Antíoco.

 

A importância histórica e teorética e os limites do médio-platônismo

A importância do médio-platônismo, por longo tempo desconhecida, mostra-e imediatamente. Sem o movimento médio-platônico o neoplatonismo seria praticamente inexplicável. Plotino, as suas lições, comentou fundamentalmente textos médio-platônicos e textos peripatéticos influenciados pelo médio-platônismo; ademais, extraio dos médio-platônicos não só alguns problemas fundamentais, mas também as soluções relativas.

O médio-platônismo, ademais, é importante também para a compreensão do primeiro pensamento cristão, ou seja, da primeira patrística, a qual, anteriormente do neoplatonismo, extraiu daquelas, correntes as categorias de pensamento com as quais tentou fundar filosoficamente a fé.

Um fato deve ser observado a este respeito: assim como o neoplatomismo, depois de Plotino, será utilizado paralelamente pelos filósofos pagãos em favor do paganismo e pelos pensadores cristãos em favor do cristianismo assim também aconteceu, embora em medida reduziram utilizando categorias médio-platôncias, enquanto, paralelamente, os cristãos, como se disse, deduziram do médio-platônismo os instrumentos para elaborar teoreticamente a própria visão do mundo e da vida.

O médio-platônismo representa, portanto, um dos elos da união essenciais na história do pensamento ocidental.

 

A metafísica do médio-platônismo

 

O ser incorpóreo, Deus e a sua transcendência

 

Já acenamos mais de uma vez a descoberta do incorpóreo e da transcendência e a conseqüente nova concepção da realidade que dela deriva, e agora devemos examinar a maneira pela qual tal redescoberta efetuou-se. É evidente que a recuperação do incorpóreo devia comportar, em primeiro lugar, uma nova concepção de Deus e do divino, e que tal concepção devia confrontar-se sobre tudo com as concepções dos estóicos, que eram muito mais refinadas.

A marcada afirmação da transcendência de Deus devia comportar, como conseqüência, a negação da possibilidade para o homem de captar e determinar a essência de Deus, e, portanto, a negação da possibilidade de exprimi-la com palavras. Essa doutrina da incognoscibilidade e da inefabilidade de Deus, que encontramos em filo de Alexandria, é afirmada por alguns médio-platônicos, sobre tudo por Albino de modo muito claro.Os médio-platônicos não chegaram, como, ao invés, alguns neoplatônicos, a ponto de pôr Deus também acima da inteligência, A maioria deles considerou que Deus coincide com a suprema inteligência.

Portanto, a metafísica platônica é retomada junto com aas conquistas a ela aportadas por Aristóteles, o qual, ao absoluto entendido como idéia inteligível, substituirá o absoluto entendido como suprema inteligência. Antes, essas conquistas foram ulteriormente enriquecidas pelos médio-platônicos com uma verdadeira tentativa de mediação e de supremação das antíteses subsistentes, em matéria de ontologia, entre posição platônica e aristotélica.

As idéias como pensamento de Deus e a distinção entre inteligíveis primeiros ou idéias transcendentes e inteligíveis segundos ou formas imanentes às coisas

Filo chegou à doutrina das idéias como pensamentos divinos através do conceito bíblico de criação, e mediante dos conceitos dos logos, também este ligado ao conceito bíblico da sapiência ou da palavra criadora de Deus, mas do que através das doutrinas helenísticas.

Em Albino, ao invés, a formulação da doutrina sobre a qual refletimos é feita com categorias extraídas exclusivamente do pensamento grego, e, portanto, de maneira parcialmente inédita.

Dada a grande importância dessas doutrinas na historia posterior tanto do pensamento grego como do pensamento cristão, é, oportuno expô-la de maneira pormenorizada. Para compreendê-la a fundo, é necessário remeter-se as posições de Platão e de Aristóteles, que, sobre esta questão, como sabemos, encontravam-se em antítese.

Platão estabelecera como Absoluto o mundo das idéias, ou seja, o Inteligível, e o situara acima da mente e da inteligência (o Demiurgo, que é inteligência, refere-se às idéias como a entidades que o transcedendos ponto de vista ontológico e axiológico). Aristóteles, ao invés, estabelecera como absoluto a inteligência entendida como pensamento de si mesmo (pensamento de pensamento), imanentizara as idéias do sensível, transformando-as em “formas” intrínsecas às coisas, e sustentara que só dessa maneira a intuição eidética da Platão podia sustentar-se.

Com efeito, as maiores partes das aporias da metafísica platônica, como vimos o volume II, dependiam, mais que dos motivos aduzidos por Aristóteles, do fato de ter posto as idéias cima da inteligência demiurgica. Por sua vez, umas série de aporias da ontologia aristotélicas dependiam de ter situado as idéias muito abaixo da inteligência divina, mudando-as, justamente, em “formas” imanentes e introduzindo-as na matéria. O “lugar das formas”, por conseqüência, só podia ser o intelecto humano enquanto as abstrai e as pensa, e não o intelecto divino que si pensa em si mesmo.

Ora, os médio-platônicos deram-se conta de que possível mediar às diferentes visões dos dois filósofos, corrigindo uma com a outra e integrado-as reciprocamente, Podiam-se admitir as conquistas aristotélicas e afirmar que o primeiro principio é pensamento.; mas poder-se-ia igualmente manter o platônico mundo das idéias, fazendo deste o conteúdo daquele. O Deus aristotélico é pensamento que pensa a si mesmo, mas os pensamentos de deus que pensa em si mesmo são, necessariamente, eternos e imutáveis, são os eternos paradigmas e a regar de todas as coisas: são, justamente, e o que Platão chama as idéias.

Assim concebidas, as idéias transcendentes e as formas imanentes não só excluem-se mutuamente, mas as primeiras surgem como fundamentos causas, as segundas, ao invés, conseqüências e efeitos. As formas imanentes às coisas individuais são as imagens ou reflexos das idéias impressos pelo Demiurgo na matéria, Albino, chama coerentemente, as idéias consideradas como pensamentos divinos de “inteligíveis primeiros” e as formas imanentes às coisas de “inteligíveis segundo”.

A doutrina das idéias como pensamentos divinos e a conexa distinção entre inteligíveis primeiro e inteligíveis segundo imanentes representam, provavelmente, a mas feliz das tentativas de síntese entre Platão e Aristóteles efetuam até aquele momento e uma conquista essencial, da qual Plotino se beneficiará amplamente.

 

A hierarquia do divino: rumo à da doutrina das hipóstases.

Uma tendência comum a muitos méido-platônicos, expressa de modo claro já pelos mais antigos dentre eles, é a de piro nous (ou seja, a mente ou intelecto) como superior à psyché (ou seja, a alma).

Essa doutrina (com antecedentes em Platão e em Aristóteles) tem um significado antiomaterialista e antiestóico nos médio-platônicos. Diferenciando claramente o intelecto da alma e pondo-o como superior a ela, queria-se romper definitivamente as pontes com o imanentismo.

É claro que, por essa via, dever-se-ia caminhar para uma doutrina que antecipava as hipóstases plotinoana. Antes lidas em certas óticas, não poucas passagens de filósofos médio-platônicos, parecem, até mesmo conter, pelo menos um núcleo, todas as três hipóstases plotiniana, que são: o Uno, Nous e a alma.

A identificação desse enfoque, que deriva da mediação entre a aristotélica metafísica da inteligência e a platônica doutrina das idéias, explica, como já observamos acima, a razão pela qual as doutrinas pitagorizantes do Uno e da Díade do Platão esotérico permaneceram na sombra. De fato, explicadas as origens das idéias como pensamentos do intelecto divino, a Mônada e a Díade, que tinha sido introduzidas por Platão justamente para poder deduzir o mundo ideal, vinham a perder o seu originário significado e a sua importância.

 

A cosmologia médio-platônico e a origem do cosmo 

O coso sensível, apara os médio-platônismo, não é uma pura emanação ou um epigenômeno do supra-sensível. Para ser explicado, ele requer “três princípios”, ou seja, além de Deus e da idéias, um “terceiro princípio”, constituído pela matéria.

A matéria é entendida seja na linha do timeu platônico, seja na linhada conquistas aristotélicas ulteriores. Conseqüentemente, são retomadas as celebres imagens e expressões platônicas, como por exemplo “nutriz”, “matriz”, “espacialidade”, passadas porém pelo filtro aristotélicos de “substrato” e de “potencialidade”.

A gênese do cosmo é interpretada segundo o esquema do timeu, ou seja, como uma operação de Demiurgo que impõe ordem à desordem da matéria, com base no paradigma das idéias.

 

A demonologia médio-platônica

O forte relevo dado à transcendência do Deus supremo, como já observamos, comportava a necessidade de conceber o divino e o supra-sensível de modo hierárquico. Mas junto à concepção hierárquico de caráter metafísico e ontológico acima examinada, delinea-se, no âmbito do médio-platônico, uma segunda concepção hierárquica di divino de caráter propriamente místico-religioso, estreitamente ligado ao politeísmo pagão, a qual, mais uma vez, encontra preciosos pontos de ligação em Platão.

A hierarquia di divino, sob este aspecto, configura-se da seguinte maneira:

1)      deus supremo

2)      deuses secundários

3)      Demônios

Os deuses secundários são tanto as divindades incorpóreas e, portanto, invisíveis, como as divindades visíveis, tais como os astros, e são todas elas, a titulo diverso, potenciais subordinadas ao Deus supremo.

Os Demônios são inferiores aos Deuses, mas superiores aos homens. Eles são, portanto, uma natureza que pode ser chamada de “intermediária”.

A demonologia, como já acenamos, reponde a uma problemática religiosa, mais que filosófica, Deus e os Deuses não podem “misturar-se com os homens” nem “ter comércio” com eles, por motivo da sua eminência. Portanto é necessário introduzir entes que tivessem a função de mediadores, seja para executar e pôr em ato a vontade dos Deuses no mundo e entre os homens (mediadores de cima para baixo), seja para ligar, na medida do possível, os homens aos Deuses (mediadores de baixo para cima).

 

A antropologia e a ética do médio-platônismo

 

O fim do homem e a assimilação a Deus

A tese que, exprime, o fundamento e a têmpera espiritual da ética médio-platôncia é a que indica fim supremo do homem na assimilação a Deus e ao divino. O principio deriva de Platão, o qual, como vimos, o formulara de modo explicito; mas a especulação médio-platônica ele é aprofundado e enriquecido com corolários inéditos, como veremos. Em particular, deve-se observar que o supremo imperativo. “Segue a Deus” apresenta-se como a programática inversão do principio comum a todas as grandes filosofias helenísticas. ‘segue a natureza”. O novo principio, olhando bem, exprime a ruptura dos horizontes materialistas daquela ética e a total recuperação do horizonte espiritualista.

Se o supremo bem é a contemplação do Deus supremo, o intelecto primeiro, é claro que, nessa contemplação, justamente o Deus segundo ou Intelecto segundo (o Intelecto do céu) alcança a sua perfeição paradigmática, pelas razões das quais falamos ao tratar da doutrina albiniana das “hipóstases”. É esta, justamente a virtude do intelecto segundo (contemplação de Deus sumo ou intelecto primeiro), que é objeto de imitação por partes dos homens. Dito com outros termos: o fim supremo do homem é fazer, na medida e que é capaz, o que, de modo perfeito, faz o intelecto segundo ou Deus segundo: contemplar o absoluto e fazer dele a regra suprema.

 

A natureza espiritual do homem e a concepção dualista de alma e corpo

Essa concepção do fim supremo do homem como “assimilação a Deus” implica, obviamente, uma refundição espiritualista da antropologia, e, precisamente, uma reafirmação da presença do homem da dimensão incorpórea. Assim é energicamente sustentada a incorpore idade da alma, e o socrático “cuidado da alma” platonicamente entendido volta a se impor.

A alma provem de deus primeiro, e, por isso, é imaterial e incorpórea e destinada a retornar a esfera do divino da qual provem, na medida em que tenha sabido purificar-se através dos supremos conhecimentos.

A este propósito é preciso observar que alguns médio-platônicos, os que alguns estudiosos chamam de ortodoxos, sustentam a necessidade de retornar à concepção puramente da alma, julgando depreciativamente a psicologia aristotélica.

Um ultimo ponto deve ser observado a respeite disso: a afirmação da liberdade da alma, a qual, como se repete com a celebre doutrina platônica, “não tem senhores”, estando as suas escolhas básicas isentas da necessidade. Os médio-platônicos, por conseqüência, polemiza contra a doutrina estóica do fato,e, embora aceitando algumas das suas instancias, conseguem conciliar liberdade e necessidade.

 

A tábua dos valores e a virtude

O médio-platônismo (e em particular a escola de Gaio) retoma a tabua dos valores que Platão fixara na sua última obra, ou seja, as leis, contrapondo-a a redução estóica de todos os valores a um só, e reinterpretando alguns dogmas estóicos segundo essa tábua.

Apuleio, por exemplo, subdivide “os bens” em dois grandes gêneros: 1) os bens divinos e 2 os bens humanos.Ele divide, depois, cada um desses gêneros de bens em duas espécies: 1 a) Deus, 1 b) a virtude, 2 a) as boas qualidade do nosso corpo, 2 b) a posse de riquezas, de poder semelhantes. Os dos segundo gênero só são bens se e na medida em que são subordinados aos primeiros, e são usados segundo a razão.

A virtude suprema do homem é a virtude é a virtude contemplativa, da qual depende, justamente, a “assimilação de Deus”.

Todavia, os médio platônicos não hesitam em abrir espaço também para as virtudes éticas, acolhendo, portanto, as conquistas aristotélicas, e considerando-as como as virtudes relativas às partes não adicionais da alma e como realização do “justo meio” entre excesso e falta e, portanto, como realização da “justa medida”.

A verdadeira felicidade não depende dos bens humanos, mas do divinos: são esses, com efeito, e só eles que tornam a alma digna de voltar a ser companheira dos deuses, e, cm eles, a “contemplar a planície da verdade”.

 

A ética médio-platônico e a ética estóica

Sublinhou-se amiúde o caráter eclético da médio-platônica, que, junto com as conquistas platônicas, não hesitam em acolher as aristotélicas, assim como as do Pórtico. Com efeito, como prova de tal afirmação, poderíamos apresentar vários documentos. Todavia, não foi adequadamente observado o fato de só raramente os médio-platônicos acolherem conquistas posteriores a Platão que constem com o espírito platônico. De fato, na maior parte dos casos, eles repensam e refundam as novas conquistas segundo o espírito platônico.

Assim por exemplo, Albino demonstra expressamente que o celebre dogma estóico segundo o qual “só o que é moralmente bom é bem” e a conseqüente redução de todos os valores restantes a “indiferentes”, equivale à doutrina platônica segundo o qual o bem supremo consiste “no conhecimento da primeira causa” e que só este “é bem divino”, enquanto todos os outros são a penas “bens por participação”, ou seja, “bens humanos”,e todas aquelas coisas que são “separada da primeira causa” são males.

Também o dogma estóico segundo o qual “a virtude basta a si mesma”, enquanto contem em si a razão da felicidade, é considerado por Albino perfeitamente platônico.

Permanece a componente intelectualista também na ética médio-platônica. Albino afirma que a virtude é voluntária, mas não o vício:

E dado que, se existe algo dependente de nós e sem senhor, isso é a virtude (não deveria de fato , ser louvado o moralmente bom se proviesse da natureza ou de algum divino destino), a virtude é voluntária e consiste num impulso ardente, nobre, durável: do fato de a virtude ser voluntária e consiste num impulso ardente, nobre, durável: do fato de a virtude ser voluntária, segue-se a involuntariedade do vício. Quem, de fato, aconselharia voluntariamente ter na parte mais bela e mais valiosa de si mesmo o pior dos males? Se, de fato, alguém aspira ao mal, em primeiro lugar, o faz acreditando aspirar não ao mal, mas ao bem; e se alguém recorre ao mal, tal pessoa está absolutamente enganada na sua intenção de afastar um mal maior através de um mal menor, e desse modo resultará involuntário o recurso ao mal; é impossível, de fato, que alguém aspire ao mal, querendo encontrar o próprio mal, e não pela esperança de um bem ou por temor de mal maior.

Afirmar que a virtude é “voluntária” e que, ao invés, o vício, que é o seu contrario, “involuntário” e, evidentemente, contraditório. É claro que a hipoteca do intelectualismo socrático desempenha, mais uma vez, um papel determinante. O discurso de Filo com as suas bíblicas implicações, no que se refere a toda a área de temática moral, não foi minimamente acolhido pela cultura dos gregos.

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