segunda-feira, 9 de junho de 2025

Metafísica-Introdução

 



 

A metafísica é o ramo da filosofia que, indo além dos elementos contingentes da experiência sensorial, trata dos aspectos mais autênticos e fundamentais da realidade, segundo a perspectiva mais ampla e universal possível. Visa estudar os entes "como tais" em sua totalidade; por exemplo, Aristóteles a definiu como "a ciência do ser enquanto ser" (Metafísica, livro Γ, cap. I, 1003 a, 21-26), independentemente de suas determinações ou atributos.

Na tentativa de superar os elementos instáveis, mutáveis ​​e acidentais dos fenômenos, a metafísica concentra sua atenção naquilo que considera eterno, estável, necessário, absoluto, para tentar apreender as estruturas fundamentais do ser. Nessa perspectiva, as relações entre metafísica e ontologia são muito estreitas, tanto que, desde a antiguidade, tem sido costume encerrar o significado da metafísica na busca incessante por uma resposta à questão metafísica fundamental "por que o ser em vez do nada?".

O campo da pesquisa metafísica tradicional inclui problemas como a questão da existência de Deus, a imortalidade da alma, o ser "em si", a origem e o significado do cosmos, bem como a questão da possível relação entre a transcendência do Ser e a imanência das entidades materiais (diferença ontológica).

 

Etimologia

Aristóteles, reconhecido como o pai da "metafísica", embora nunca tenha utilizado esse termo.

O termo metafísica (em grego antigo: μετὰ τὰ φυσικά, metà tà physikà) deriva da catalogação dos livros de Aristóteles na edição de Andrônico de Rodes (século I a.C.), na qual, após o tratamento da natureza, que era a física (τὰ φυσικά), seguiu-se o da "filosofia primeira" (πρώτη φιλοσοφία) ou teoria do "ser como ser". O termo ser corresponde, simplesmente, ao particípio presente do verbo ser.

Como esses volumes foram então colocados após (μετά, metá) aqueles sobre física, tanto no sentido da ordem de publicação quanto no de importância, metafísica teria passado a significar "as coisas que vêm depois das coisas da física", isto é, os livros que seguem aqueles sobre a natureza. O prefixo meta-, no entanto, também assume o significado de "além", "acima", "acima": nesse sentido, no pensamento árabe medieval, aos objetos da "filosofia primeira" era atribuído um valor de transcendência e superioridade em relação aos objetos da física sublunar. Então, a partir de um título que designava os textos colocados após aqueles sobre física, o termo metafísica teria se tornado o nome de uma parte da filosofia.

O historiador da filosofia Giovanni Reale contesta a reconstrução lógica e cronológica da etimologia do termo "metafísica" com base no duplo significado do prefixo grego meta. A tese de Reale é que, entre os dois significados de meta, o relativo ao conceito de "sucessão" (ou "depois") é irrelevante e secundário, pois não foi levado em conta que toda a doutrina aristotélica diz respeito àquele princípio de "unidade do ser" (ou Ser como ser) que vai "além" (ou "acima") da física, e este é o único significado primário que para ele o termo meta deve assumir.

Os fundamentos da metafísica

Um dos objetivos desta disciplina é estudar os primeiros princípios de uma perspectiva qualitativa, diferentemente da matemática, que estuda sua quantidade, ou da física, que estuda seu aspecto natural. O objetivo final é, portanto, a verdade em si mesma.

 

Os limites da experiência sensorial

O pressuposto da metafísica é a investigação dos limites e possibilidades de um conhecimento que não pode derivar diretamente da experiência sensorial. Os cinco sentidos, de fato, limitam-se a receber passivamente as impressões derivadas dos fenômenos naturais dentro de uma estreita faixa de percepções e, portanto, não são capazes de fornecer uma lei capaz de descrevê-los, ou seja, não são capazes de apreender sua essência.

O objetivo da metafísica, nesse sentido, é a tentativa de encontrar e explicar a estrutura universal e objetiva que se supõe estar oculta por trás da aparência dos fenômenos. Surge, portanto, a questão de saber se tal estrutura, além de determinar a realidade, é capaz de determinar nossa própria maneira de conhecer, por meio de ideias e conceitos que correspondem à realidade.

Segundo essa linha de interpretação, somente em nosso intelecto é possível formular aqueles critérios de racionalidade e universalidade que nos permitem conhecer o mundo: a simples "sensação em ação", de fato, "tem como objeto coisas particulares, enquanto a ciência, ao contrário, tem como objeto universais, e estes se encontram, em certo sentido, na própria alma". Eis, então, a oposição radical, típica dos grandes filósofos metafísicos, desde Parmênides, Sócrates, Platão, Aristóteles, até Agostinho, Tomás, Cusano, Campanella etc., entre o conhecimento adquirido pelos sentidos e o conhecimento próprio do intelecto.

Segundo essa escola de pensamento, portanto, não pode haver conhecimento verdadeiro se ele não brotar da inteligência, que, no entanto, para ser ativada, deve primeiro tomar consciência de si mesma: se o intelecto fosse incapaz de pensar por si mesmo, não poderia sequer tomar consciência da verdade, nem ter consciência de jamais poder alcançá-la. O pensamento de si, portanto, tem sido frequentemente tomado como ponto de partida, partindo de sua capacidade de tornar possível o conhecimento imediato, universal e absoluto, pois nele o sujeito é imediatamente idêntico ao objeto, sendo o eu que se intui.

Pelo menos até Descartes, de onde o tema da autoconsciência será retomado em uma dimensão mais puramente subjetiva e psicológica, a intuição cognitiva de si permanecerá conectada à questão ontológica preponderante de um Ser a ser colocado no fundamento de sua essência íntima. Mesmo na filosofia moderna, porém, não faltam casos, por exemplo em Spinoza, Leibniz, Fichte, em que, de tempos em tempos, a subjetividade é vinculada a temas ontológicos.

Em geral, a intuição, ou apercepção, tem sido colocada como a origem e o objetivo de toda metafísica, e considerada superior tanto ao pensamento racional quanto ao conhecimento empírico: o pensamento racional baseia-se, de fato, em uma forma mediada de conhecimento, na qual o sujeito chega a apreender o objeto somente após um cálculo ou uma análise racional, e onde, portanto, ambos são separados; Da mesma forma, o conhecimento empírico é mediado pelos sentidos e, portanto, nele, mais uma vez, sujeito e objeto são separados.

 

Em vista disso, é compreensível como a maioria dos filósofos metafísicos postulou uma diferença não apenas entre consciência e percepção sensível, mas também entre intelecto e razão. O intelecto é o lugar onde a intuição é propriamente produzida e, portanto, é superior à razão por ser o primeiro princípio sem o qual não haveria conhecimento de nada; enquanto a razão é apenas um instrumento, um meio que permite comunicar e abordar discursivamente a visão intuitiva do universal.

 

A relação com a teologia

Como a metafísica "...visa identificar a natureza última e absoluta da realidade, para além de suas determinações relativas...", ela tem sido frequentemente atribuída a um caráter místico e religioso, de tensão em direção ao absoluto, a Deus e à transcendência.

Já com Aristóteles, a metafísica é a ciência do ser perfeito, isto é, o estudo de Deus: uma vez que buscava as causas primeiras da realidade, tornou-se também uma investigação de Deus. A estreita ligação com a teologia permanecerá válida por quase toda a Idade Média. Nesse sentido, é fundamental a contribuição de Tomás de Aquino, que identificou a metafísica com a teologia filosófica e, portanto, considerou possível uma síntese entre razão e fé.

De alguns pontos de vista, a Idade Média termina quando a intuição se separa da razão, quando a metafísica e a teologia tendem a ser vistas como disciplinas separadas. Alguns filósofos, incluindo Descartes e Hegel, tentarão construir uma autonomia da razão, tornando-a independente da intuição.

 

A relação com a ontologia

As relações com a ontologia também são variáveis. Ao longo da história do pensamento, filósofos atribuíram a esta disciplina significados, características e funções diferentes da metafísica: ora a ontologia foi entendida como parte da metafísica, concebendo-a como uma espécie de descrição geral do ser, preparatória para as demais disciplinas metafísicas; ora elas foram substancialmente coincididas, negando à metafísica qualquer autonomia; ou uma nova ontologia capaz de revelar as verdadeiras estruturas do ser foi oposta à metafísica tradicional.

Segundo Varzi, a ontologia antecede a metafísica: «a ontologia ocupar-se-ia de estabelecer o que existe, ou de elaborar uma espécie de inventário de tudo o que existe, enquanto a metafísica ocupar-se-ia de estabelecer o que é aquilo que existe, ou de especificar a natureza dos artigos incluídos no inventário». Segundo Mondin, a metafísica consiste na busca das causas últimas da realidade, sendo, portanto, essencialmente etiologia, enquanto a ontologia seria apenas um estudo da «fenomenologia» do ser tal como se revela.

Monismo, Dualismo, Pluralismo

Um dos problemas clássicos da metafísica é a disputa entre a concepção monista do ser e a concepção dualista. Os defensores do dualismo, dos quais Descartes é um exemplo clássico, concebem a realidade segundo uma dicotomia entre o mundo material e o mundo espiritual (o que, no homem, corresponderia à distinção radical entre corpo e alma). Os monistas, dos quais Spinoza é um exemplo, sustentam que a realidade pode ser rastreada até uma única substância. Finalmente, podemos incluir os defensores da pluralidade de planos ontológicos: um exemplo relativamente recente é Karl Popper com sua teoria do Mundo 1, Mundo 2 e Mundo 3.

 

 

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