Paolo Cugini
1. O impulso cartesiano
Encontramos na filosofia de H. dois grandes motivos metódicos que remontam a Descartes:
A realização de uma crítica geral de tudo quanto parece se impor a nós de maneira demasiada evidente como os preconceitos;
A ideia de uma reforma de todos os saberes pela descoberta do seu fundamento único no sujeito seguro de si mesmo
a. Da dúvida à epoché
H. prossegue na dúvida metódica realizada por Descartes, mas lhe se dissocia em quatro pontos:
• da negação da suspensão: a epoché coloca entre aspas a verdade atribuída aos sentidos, enquanto D. as rejeitava totalmente.
• Em D. a dúvida é provisória, enquanto em H. é definitiva;
• De uma motivação natural a outra transcendental. Enquanto D. dúvida de tudo enquanto a epoché se atém apenas à minha determinação voluntária;
• Em D. o ego permanece isento de todo questionamento. Com a epoché mesmo o eu encontra-se submetido à suspensão de sua realidade.
b. Do ego cogito ao ego transcendental
I. Uma filosofia voltada para o sujeito. A busca do fundamento não mais fora da realidade, mas a partir do sujeito. D. vê no cogito aquilo que especifica a pessoa: não podemos ser sem pensar. H. inventa uma cientificidade que repousa sobre a subjetividade de um sujeito singular, detentor de uma verdade absoluta situada em sua intuição interna.
II. A radicalização husserliana. O fundamento de H. é o ego transcendental e ele também está submetido a epoché.
2. A referência ao transcendental kantiano
a. Pontos de proximidade.
H. considera a fenomenologia como idealismo transcendental:
• Idealismo: Kant e Husserl definem o conhecimento como atividade de um sujeito dirigida a um objeto ao qual o primeiro confere o seu sentido. Isso quer dizer que conhecer supõe uma capacidade a priori do espírito de encontrar coisas que se tornam para ele objetos conhecidos.
• Transcendental. Busca de estruturas primárias apriorísticas da subjetividade.
b. De um transcendental ao outro.
a) O subjetivismo kantiano. Na perspectiva kantiana o sujeito se torna o centro do processo do conhecimento, a detrimento do objeto. Pelo Contrário H. insiste no fato de que a coisa se dá ela mesma a mim.
b) Das estruturas apriorísticas do sujeito ao ego como individuo concreto. Em Kant transcendental se opõe a empírico. Na fenomenologia o ego transcendental constitui um objeto que lhe é dado em uma experiencia ela mesma transcendental. Na fenomenologia o ego transcendental corresponde á originalidade da experiencia sensível: o ego transcendental é o individuo concreto.
3. A ancoragem empirista
a. A ambivalência da relação da fenomenologia com o empirismo
a) Uma crítica radical. O empirismo é o cavalo de batalha contra o qual Husserl constrói sua análise das vivências gerais da consciência. Segundo Husserl não atingimos a generalidade de uma vivência ou de uma categoria pela generalização do fato, mas estabelecendo, desde o começo, uma estrutura apriorística e ideal da experiencia.
b) A gênese sensível da idealidade. A partir do 1920 H. analisa o processo de surgimento do ideal a partir da experiencia concreta do sujeito.
b. O empirismo transcendental
a) Não dualidade da consciência e do corpo. A corporeidade vem encarnar uma consciência transcendental cuja dinâmica concreta se encontra restituída: seus gestos corporais, seus hábitos, sua práxis, sua passividade, sua afetividade. Não mais se opõe uma consciência pensante a um corpo receptáculo, mas é a totalidade unitária do corpo e do espírito que simplesmente se dá, em sua qualidade carnal unitária.
b) Não oposição entre idealidade e realismo: sujeito transcendental e mundo sensível na fenomenologia se ordenam um ao outro na descoberta de seu copertencimento carnal. A correlação do a priori da subjetividade e daquele do mundo encontra sua unidade originaria na carne, entendida como movimento originário da encarnação.
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