Giovanni Reale, história da filosofia antiga
Síntese: Paolo Cugini
As consequências espirituais da revolução operada por Alexandre Magno
A grande expedição de Alexandre Magno e a conquista do Oriente (334-323 a.c) produziram uma revelação de enorme importância, não só pelas consequências políticas que provocaram, mas também por toda uma série de mudanças concomitantes de antigas convicções, que determinaram uma reviravolta radical na vida do espírito dos gregos.
O fator masi importante foi à ruína da Polis. Alexandre destruiu a Polis em todos os sentidos, retirando-lhe toda liberdade formal e substancial, a fim de realizar o seu grandioso projeto de monarquia universal divina, que deveria reunir não só cidades, mas países e raças diversas.
Assim, de um golpe se destruía o valor fundamental da vida espiritual da Grécia clássica, que Platão, na república, e Aristóteles, na política, ao mesmo tempo teorizaram, mitificaram hipostasiaram e sublimaram. Da mesma maneira, inopinadamente, estas obras perdiam, aos olhos de quem visse a revolução de Alexandre, o seu significado e a sua vitalidade, vindo a situar-se numa pespectiva longínqua, em total de sintonia com os tempos.
Gênese e difusão do ideal cosmopolita
Dado que o grego da era clássica, como sabemos, sempre considerou a polis como o horizonte único da vida moral, além do qual o homem não podia conceber apropria existência nem com relação aos outros nem com relação a si mesmo, tendo identificado quase completamente o homem e o cidadão, é fácil compreender a ruína espiritual que a revolução de Alexanddre provocou. De cidadão, o homem torna-se simples súdito; deixa de valer pelo seu antigo valor cívico, pois todas as decisões relativas à coisa pública são tomadas sem a sua contribuição. E a vida dos novos estados desenvolve-se independetemente do seu querer; caem às razões das suas antigas paixões, sentem-se repentinamente vazio de conteúdo. As habilidades que contam não são mais as antigas virtudes cívicas, mais um saber e uma técnica que não podem ser possuídos por todos, poruqe querem conhecimentos e disposições especiais. Em todo o caso, elas perdem o conteúdo ético para adquirirem um conteúdo mais propriamente profissional. O administrador da coisa pública torna-se funcionário, o soldado um mercenário, e junto com este nasce o homem que, não sendo mais nem o antigo cidadão nem o novo técnico, assume diante do estado, uma titude de desinteresse neutro, quando não de aversão.
Junto com a revulação da realidade ético-politica clássica, surge um radical pensamento conceitual dos valores ético-político.
A Grécia não criou, depois da Polis, um novo organismo vital capaz de dar origens às novas idealidades morais e políticas que substituíssem as da Polis; em 146 a.C, perderá inclusive toda a sau liberdade, tornando-se província romana, e o ideal aspirado por Alexandre, em forma muito mais elevada, será realizado pelos romanoscom o seu império.
A descobeta do indivíduo
A ruptura da identificação entre homem e cidadão, além do aspecto prioritariamente negativo apresenatdo, teve também um aspecto positivo: o homem não podendo mais pedir à cidade aos ethos do stados e aos seus valores os conteúdos da própria vida, foi coagido, pela força dos acontecimentos, a fechar-se em si mesmo, a buscar em seu intimo novas energias, novos conteúdos morais e novas metas pelas quais viver. Assim o homem descobriu-se como indivíduo. Essa descoberta e esse novo senhorio do indivíduo degeneram também no individualismo e no egoísmo, dos quais veremos.
A distinção entre o indivíduo e o cidadão, a atenuação e, em certos casos, o desapareciemnto do sentido cívico acarretaram, em filosofia, como os estudiosos muito bem notaram, a radical distinção e a nítida separação enre ética e política. Pela primeira vez na historia, a filosofia moral, na era Helenística, graças à descoberta do indivíduo, estrutura-se de modo absolutamente autônomo, baseando-se sobre o homem como tal, considerado na sua singularidade.
A igualizaão entre gregos e bárbaros e o desmoronar dos antigos preconceitos racistas
Alexandre tentou, e não sem sucesso, a enorme empresa de assimilação dos bárbaros vencidos e da igualização desses com os gregos.
Junto com o preconceito racial, cairá também o preconceito da radical distinção dos sexos, e a mulher se encaminhará para ter reconhecidos alguns direitos que lhe tinham sido negados até então.
A transformação da cultura Helênica em cultura Helenística
A cultura Helênica difundiu-se enter todas as raças e povos, tornou-se Helenísticas. Essa difusão fatalmente comportou, além de uma perda de profundiade, uma parcela perda de pureza. O próprio baricentro da cultura acabou por deslocar-se para Alexandria, até mesmo de Roma, militar e politicmante vencedora, conquistada pelo helenismo, vieram estímulos culturais novos, marcados pelo realismo latino, que contribuíram de modo relevante para criar e difundir o fenômeno do ecletismo.
O ganho em extensão e a perda em profundidade da filosofia Helenística
Assim como a cultura Helencia, tornando-se Helenística, perde o seu vigor originário e a sua força primigênia, assim também a filosofia, em particular, perde em profundidade o qeu ganha em extensão. A perda se da justamente na dimensão da teorenticidade, portanto, na força e no vigor especulativa. O ganho se da no número imcomparavelmente superior de pessoas para as quais a filosofia, transformada essencialmente em problema de vida, sabe comunicar uma mensagem válida. A filosofia torna-se efetivamente a fonte da qual o homem henelístico extrai os valores que antes extraía da Polis e da região da Polis: oferece novos conteúdos de vida espiritual, ilumina as consciências, ajuda o homem a viver e lhe ensina como ser feliz mesmo na época em que vive, na qual todos os antigos valores parecem subvertidos.
Os filósofos da era helenística são substancialmente moralistas, grandes moralistas; são pregadores de um credo ético, são, a seu modo, apóstolos e missionários.
A filosofia Helenística esvazia quase que totalmente o sentido da “segunda navegaçã” empreendida por Platão e levada a cabo por Aristóteless. O helenismo perde assim o sentido da transcedência, do metafísico, do espiritual e não pode, portanto, pensar senão com categorias imanentistas, fisicistas e materialistas.
Ao filosofo e aos seus seguidores, na realidade, importava não só a Sophia, mas a phronesis; isto é, importava resolver o problema da vida.
Ao resolver o problema da vida, os filósofos dessa época criaram algo verdadeiramente grandioso e excepcional: o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo estabeleceram modelos de vida nos quais os homens continuaram a inspirar-se por mais de meio milênio, e permaneceram posteriormente como verdadeiros paradigmas espirituais para sempre.
A revivescência do espírito socrático
A concepção da filosofia como “arte de viver”, ou seja, como sbaedoria pratica, devia necessariamente elevar ao primeiro plano as instâncias socráticas.
Epicuro inspirou-se claramente na letra, masi que no espírito de Sócrates, ao definir a filósofia como arte médica espiritual qeu cura os males da alma, e ao declarar todo o resto verbalismo inútil.
Socráticos radicais foram também estóicos que, identificando a virtude com o exercício e desenvolvimento do lógos existentes no homem, retornaram a doutrina da virtude- ciência e a um rigoroso intelectualismo.
Socráticos consideraram-se os próprios céticos que viram na sua dúvida um desenvolvimento da dúvida e do nã-saber proclamando por Sócrates.
Porém, profundamente socrática foi, sobretudo a convicção, que é uma espécie de mínimo denominador de todos os sistemas da era helenística, de que o verdadeiro filósofo só o é na medida em que sabe realizar a pela coerência (uma “harmonia” e um “acordo”, dizia Sócrates) entre doutrina e vida, ou, melhor ainda, entre teoria e modo de viver e morrer. Filósofo não é quem sabe apenas pensar e construir sistemas, mas é, sobretudo, quem sabe viver e morre em acordo com o seu sistema. Sistema se idéia e sistema de vida deve “sintonizar-se” de nmodo perfeito.
O ideal da autarquia
A idéia, que foi de Sócrates e que algus de seus seguidores já tinham elevado ao primeiro plano, de bastar-se a si mesmo torna-se agora dominante. E isso é compreensível: numa época em que tudo se arruinava e mudava rapidamente, o homem não podia pedir aos oyutros homens ou às coisas ponto de apopio nem garantia de seguraça, devendo antes buscar e encontrar em si, e exclusivamente em si, aquilo de que precisava.
Até mesmo o fim moral aspirado por todas as escolas filosóficas helenísticas coincide fundamentalmente. Todas querem ensinar como ser Felix e todas identificam a felicidade como algo mais negativo que positivo, que constitui mais renúncia do que conquista, que implica mais amputações e eiliminação de exigências humanas do qyue enriquecimento delas, mais um anular-se do qeu desenvolver-se. Todas concordam em afirmar que a felicidade está na ataraxia, ou seja, na pas de espírito. Pirro busca a paz do espírito na total renúncia, na plena indiferença e na insensibilidade; Zenão busca-a na apatia, na impassibilidade, ou seja, na supresão de todas as paixões do ânimo; Epicuro, enfim, busca-a na aponia, isto é, na supressão da dor física e na autoraxia, ou seja, na eliminação de qual quer pertubação do ânimo. Mais é claro que esvaziar o homem das paixões humanas é esvaziá-lo de garnde parte da sua vida.
O ideal do sábio
O ideal do sábio que, às vezes, é leavdo a alturas até mesmo míticas. O sabio é o homem portador e todas as virtudes que as novas filosofias reconhecem como essenciais para viver feliz, por isso, é o homem sumamente feliz.
A divinização dos fundadores dos grandes sistemas da era helenística
Todos os fundadores de escolas aproximaram-se notavelmente, na sua vida real, ao ideal teoreticamente aspirado e pregado: por isso a impressão que sucitaram nos comtemporâneos, por muitos séculos, foi enorme admiração e de entusiasmo sem rservas. Encontramo-nos, sem duvida alguma, diante de homens que souberam dizer à sau época à palavra da qual ela tinha necessidade: e foi uma palavra quew não durou uma breve estação, mas atravessou séculos inteiros e, mesmo ao homem extrovertido de hoje (que vive uma crise semelhante à do helenismo sob certos aspectos, porque vive uma verdadeira revolução da escala de valores), se adeuqadamente escutada, poderia ter uma precisa mensagem a comunicar.
A academia platônica, seu objetivo, sua organização e sua rápida decadência
Platão pretendia preparar mediadamente, ou seja através da filosofia, os futuros verdadeiros políticos, isto é, os homens que estariam em condições de renovar radicalmente o estado.
Era poratnto, necessário fundar uma verdadeira escola.
Com a academia nasceu um organismo que, por diversos aspectos, merece ser chamado, embora com todas as devidas limitações, como veremos em seguida, se não a primeira universidade do mundo, pelo menos um antecedente que de algum modo prefigura, embora de modo embronáio, o que serão as universdades.
O objetivo último da academia não era saber e a ciência buscados unicamente na sua abstração, mas sim, como já observamos acima, pelo seui valor ético-político.
É exato o que diz Jaeger: o conhecimento, ao qual Sócrates atrubuía a capacidade de tornar bons os homens, é diferente do que normalmente tem o nome de ciência. Ele é um saber criativo e acessível seomente à alma que tenha afinidade de natureza com o que deve ser conhecido, o bom, o justo, o belo. Nisso, e não na organização da ciência, consistia o significado da fundação da academia platônica. O objetivo é a convivência de pessoas escolhidas que, tendo formado a sua alma no bem, pela sua superior atituide espiritual, podem tornar-se participantes daquele conhecimento “conclusivamente imluminador”.
Pela primeira vez na academia fluíram personalidades, mesmo estrangeiras, de formação muito diversificada e mesmo na academa produzido igualmente um encontro de ci~encias que eles cultivavam, e os vários membros da acadêmia puderam pela primeira vez ouvir juntos essas vozes diferentes, é preciso reconhecer à academia platônica o mérito de ter antecipzdo espiritualmente, sob certos aspectos (e também com as diferentes finalidade acima relacionadas), encontro do saber que, as universidade buscarão realizarão de modo sistematico.
Depois d progressivo esquecimento do sentido da “segunda navegaçã” platônica e de todas as realdiade ligadas a ela, a acadêmia não tinha mais nada de construtivo para propror. Na ética a antifa academia teve pouco a dizer a noca época. As posições muito mais audaciosas e causticas dos céticos, epicuristas e estóicos souberam comunicar espiritualembte muito mais aos seus comtemporâneos.
Assim a verdadeira voz de Platão, pouco a pouco, não foi mais ouvida enter os muros da academia. Só com o médico- platonismo e, sobretudo, com o neoplatonismo ele voltara a ser ouvida e novamente compreendida. Mai isso aconcerá no momento em que as escolas helenística estarão no seu acaso, sobretudo nmos primeiros séculos da era cristã, justamente mediante a recuperação do sentido e alcanmce da segunda navegação platônica.
O perípato Aristotélico, sua organização e sua rápida decadência
Ao lado das ciências teoréticas, praticase poiéticas, que são as propriamente filosóficas, entraram triunfamente no Perípato as ciências naturais, as analises e as classificações dos fatos particulares, o gosto pele pesqueisa na dimensão empírica. Aristóteles em pessao conduzio imponentes pesquisas de sisiologia, de bioogia e de zoologia, e Teofrasto (que junto com outros discípulos, deve ter dados cursos regulares dese os inícios da escola) fundaram a botânica. Aassim, pelo menos enquanto viveu Aristóteles, o Perípato como conjunto superou a academia, e não só a academia de Xemócrates, mas a própria academioa de Plataão, seja na dimensão horizontal, pela vastidão encicloédica do saber, seja na dimensão vertical, pela profundidade do repensamento dos problemas especulativos.
Mas asssim comop o momento mágico ficou limitado ao príodo da vida de Platão, tammbém o Perípato se estendeu a pouco além da morte de Aristóteles. Com efeito, os dois grandes tiveram idêntico destino: Platão doi traído pelos seus sucessores na academia e Aristóteles igualmente no Perípato.
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