quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

ANTOLOGIA: EMPÉDOCLE E OS ATOMISTAS

 



EMPÉDOCLES

              

     Outra coisa direi: não há nascimento de qualquer das coisas

     Mortais, nem termo funesta;

     Mas só misturar-se e dissolver-te de substâncias mistas

     Existe e entre os homens chama-se nascimento. (fr. 8)


     Mas. Eis, discerne a prova das palavras que já te disse,

     se que no que antes disse havia alguma falta na forma dos elementos;

     volta, pois, o olhar para o sol quente de se ver luminoso em toda parte,

     e quantas são essências ambrosias e se banham de ardor e de chama

[candente, e a chuva, em toda parte friorenta e nebulosa,

e a terra brota tudo o que é sólido e compacto. (fr. 21)


   Estas coisas [os elementos e as duas forças] todas são iguais e igualmente primevas, mas cada uma reage a própria honra e cada uma tem seu caráter,

E a seu turno predominam no decorrer do tempo,

E além delas não se acrescenta ou deixa de existir [alguma coisa]

Porque se se destruíssem totalmente já não seriam, 

E o que poderia aumentar esse todo, e de onde viria?

E onde se destruiriam, pois não há nada ausente delas.

São, pois, estas que são, e pensando  uma através das outras,

Tornam-se ora aquelas coisas sempre eternamente iguais (Diels-Kranz, 31 B 17, vv.2735).


   Em turnos prevalecem [amor e ódio] no recorrente ciclo,

E entre si se fundem e se somam nas vicissitudes do destino.

São, pois, estes, que são [os elementos], e passando uns através dos 

[outros

tornam-se homens e outras estirpes ferinas,

ora por amizade convergindo em unidade de harmonia,

ora, ao invés, separadamente, cada um levado pela inimizade da contenda,

até que depois de terem crescido na unidade do todo, de novo se abismam.

Assim, como o Uno, muitas coisa resultam,

Deste modo estas se tornam e não é estável a sua vida;

E enquanto não cessam nunca de se transformar

Por isso são sempre imóveis no ciclo [do universo]. (fr.26).


  Mas de todas as partes [era] igual e por todas infinita,

Esfera redonda que goza da sua envolvente solidão. (Diels-Kranz, 31 B 28)


  Mas, de seu dorso não irrompem duas ramificações,

Nem [possui] pés, nem ágeis joelhos, nem fecundas pudendas,

Mas esférico era e [de todo lado] igual a si mesmo. (Diels-Kranz, 31 B 29).


   Vaticínio do Fado, decreto antigo dos Numes, 

Sempiterno, com amplos juramentos bem selado,

Que se alguém mancha os membros de sangue culpável,

Ou impiamente jura, seguindo [a contenda],

(algum  dos demônio que tiveram por sorte longa vida)

vá errante longe dos bem-aventurados por três vezes dez mil estações,

e renascendo no tempo em toda espécie de se4res mortais,

mude os dolorosos caminhos da vida.

Porque a força do éter lança-os no mar,

O mar sobre a terra cospe-os, a terra nos turbilhões

Do sol luminoso, que os lança nos vórtices do éter:

Um do outro os acolhe e todos os odeiam.

Um deste agora sou eu, fugitivo dos deuses e errante,

Porque prestei fé à curiosa Contenda... (Diels-Kranz, 31 B 115).


Porque fui um tempo menino e menina,

Arbusto, passarinho e mudo peixe mar... (Diels-Kranz, 31 B 117).


De que honra e de quanta grandeza de felicidade,

[aqui entre os mortais me encontro, banido do Olimpo!] (Diels-Kranz, 31 B 119)



OS ATOMISTAS


 Leucipo e Demócrito explicaram a natureza das coisas sistematicamente, e ambos com a mesma teoria, pondo um princípio conforme coma natureza [dos fenômenos]. Porque alguns dos antigos filósofos [os eleatas] conceberam o ser como necessariamente uno e imóvel: diziam, com efeito, que o vazio é o não-ser, e não podia, portanto haver movimento, não existindo o vazio separado; e não podia existir a multiplicidade, não havendo nada que separasse as coisas[...]. Leucipo, ao invés, afirma Ter encontrado a via de raciocínios que, dando uma explicação de acordo com a percepção sensível, não levasse a negar nem a geração nem a destruição nem o movimento nem a multiciplidade das coisas. Enquanto, de um lado, ele faz concordar a sua doutrina como fenômenos, de outro, aos que sustentam o Uno porque não podem existir o movimento sem o vazio, ele concede que o vazio é não-ser e que o Ser nada é não-ser, pois o Ser em sentido próprio é absolutamente pleno. Mas esse absolutamente pleno não é uno, antes, um infinito número de corpos, invisíveis pela pequenez de seu volume. E estes corpos estão em movimento vazio (parte ele, de fato, existe o vazio) e reunindo-se, dão lugar à geração e, separando-se á destruição. Eles exercem e recebem ações quando se põem em contato: o que é, de fato, a prova de que não são um. E geram as coisas coligando-se e estreitando-se; enquanto daquele Uno “segundo a verdade” não deriva multiplicidade nem da real multiplicidade a unidade, pois isso é impossível; mas com Empédocles e outros dizem que os corpos sofrem modificações através dos poros, assim Leucipo diz que toda mudança e todo efeito sofrido se produz deste modo, vale dizer, pela separação e pela destruição que se determina por meio do vazio, e pelo acréscimo que Empédocles, se é verdade que os poros não são absolutamente ininterruptos. É impossível que sejam ininterruptos: porque não existiria mais sólido senão os próprios poros, isto é, tudo seria vazio. Os corpos, portanto, que se põem em contato devem necessariamente ser indivisíveis; e vazios os seus intervalos [...]. Do que se disse, para Leucipo, a geração e a destruição seriam dois processos que se realizam quer mediante o vazio, quer mediante o contato [...] (Aristóteles, a geração e a corrupção, A 8, 324 b 35ss – Diels-Kranz, 67 A 7.)


   Leucipo diz que tudo acontece conforme a necessidade e que esta corresponde ao fato. Diz, com efeito, no seu livro Sobre a Inteligência: “Nada se produz sem motivo, mas tudo com uma razão e necessariamente”. (Diels-Kranz, 67 B 2)


    Tudo se produz conforme a necessidade, pois a causa das formas de todas as coisas é o movimento vorticoso que ele que ele [Demócrito] chama exatamente de necessidade (Diógenes Laércio, IX, 45 - = Diels-Krans, 68 A 1). 

     

    Demócrito às vezes refuta as aparências sensíveis e diz que nelas nada nos aparece conforme a verdade, mas só conforme a opinião, e que o verdadeiro nos objetos consiste em que estes são átomos e vazio. De fato, ele diz: “Opinião (é) o doce, opinião o amargo, opinião o quente, opinião o frio, opinião a cor, verdade, os átomos e o vazio”, vale dizer: considera-se e opina-se que existem as qualidades sensíveis, mas na verdade não existem, mas somente os átomos e o vazio. Nos livros probatórios , depois embora tivesse prometido atribuir valor de credibilidade à sensação, também não se encontra que eles a condene. Diz, com efeito: “Nós, na realidade, não conhecemos nada que seja invariável, mas só os aspectos mutáveis segundo a disposição do nosso corpo e do que nele penetra ou lhe resiste. (fr. 9 – Sexto Empírico)


     Nos Cânones [Demócrito] afirma que existem dois modos de conhecimento, mediante a inteligência, reconhecendo a esta a credibilidade em julgar o verdadeiro, enquanto ao outra dá o nome de obscuro, negando-lhe a segurança em conhecer o verdadeiro. Diz textualmente: “Há duas formas de conhecimento, um genuíno e outro obscuro; ao obscuro pertence todos esses objetos: visão, audição, olfato, gosto e tato. A outra forma é genuína, e os objetos desta são escondidos [ao conhecimento sensível ou obscuro]”. Depois, mostrando a superioridade do conhecimento genuíno sobre o obscuro, prossegue dizendo: “ Quando o conhecimento obscuro não pode mais alcançar um objeto menor, nem com a vista nem com o ouvido nem com olfato nem com o gosto nem com a sensação do fato, mas deve dirigir a pesquisa ao que é ainda mais sutil, então socorre-lhe o conhecimento genuíno, como o que possui justamente um órgão mais fino, apropriado para pensar”. (fr. 11 – Sexto Empírico)


    Á alma pertence a felicidade (Diels-Kranz, 68 B 170)


    A felicidade não consiste nos rebanhos nem no ouro. A alma é a morada da nossa sorte (Diels-Kranz, 68 B 171


    Quem prefere os bens da alma escolhe o que tem valor mais divino, quem prefere os bens do corpo, escolhe os bens humanos. (Diels-Kranz, 68 B 37).


    Os homens não se tornam felizes nem pelos dotes físicos nem pela riqueza, mas pela retidão e pela prudência (Diels-Kranz, 68 B 40; Cf. também B 105)


     Valoroso não é só o que vence os inimigos, mas também aquele que sabe dominar os próprios desejos. Há homens que dominam sobre cidades e são escravos das mulheres (Diels-Kranz, 68 B 124).


      Verdadeira bondade não é o simples fato de não cometer ações injustas, mas o não-querer cometê-las. (Diels Kranz, 68 B 62)


      Não nos devemos envergonhar mais diante dos homens que diante de nós mesmo; e não se deve fazer o mal mais facilmente quando ninguém virá a saber do que quando todos saberão; mas é preciso envergonha-se sobretudo diante de si próprio e imprimir-se na alma esta norma, nada fazer de inconveniente. (Diels-Kranz, 68 – B 264).


Nenhum comentário:

Postar um comentário

FENOMENOLOGIA E HERMENÊUTICA CALENDÁRIO 2025

  FEVEREIRO 13: Introdução ao curso. Contesto histórico e cultural na base do surgimento da fenomenologia. 20: Husserl e a sua escola (prime...