Giovanni Reale, História da filosofia antiga
Sintese: Paolo Cugini
A gênese do neoplatonismo: da filosofia de Amônio
em Alexandria á escola de Plotino em Roma
Platão fundara a academia para formar na filosofia,
os homens que deriva, renovar o estado; Aristóteles fundará o preto para
organizar de modo sistemático a pesquisa e o saber: Pirro, Epicuro, Zenão
fundaram os seus movimentos para tentar da aos homens a ataraxia, a paz e a
tranqüilidade da alma. A escola de Plotino tendia a um novo e ulterior fim:
aspirava ensinar aos homens a libertar-se da vida desse mundo para reunir-se ao
divino e para poder contemplar-lo até o ápice de uma união extática transcendente.
A finalidade da nova escola era, pois fortemente religiosa e mística.
Retomada e conclusão da segunda navegação
Relação
entre Plotino e os filósofos precedentes
Plotino pressupõe cerca de oito século de
especulação precedente e só pode ser compreendido levando-se em conta os
progressos essenciais do pensamento antigo nesse lado de tempo.
A filosofia de Plotino seria simplesmente
impensável fora do ambiente cultural de Alexandria tal como se formou entre o
século I a.C. e o século II d.C., ou seja, sem Filo o hebreu, sem o
médio-platônismo e o neopitagorismo, de cujas doutrinas a escola de Amônio
representou a síntese mas eficaz.
A filosofia de Plotino não é nem um ecletismo nem
uma forma de sincretismo, porque no sistema plotiniano há uma inspiração nova,
que confere um sentido inédito a velhas doutrinas.
Plotino ratifica e leva ao seu
desenvolvimento as teses do médio-platonismo e do neopitagorismo
É necessário ter presente que, no século
imediatamente anterior, ao médio-platonismo e o neopitagorismo tinham alcançado
a sua acmé. Eles tinham levado a uma crise definitiva o materialismo dos
grandes sistemas helenísticos, haviam recuperado como acima demonstramos
amplamente os resultados da segunda navegação platônica e haviam tentado até
integrá-los, reelaborá-los e ressistematizá-los, levando-se em conta sobretudo
conquistas aristotélicas, mas sem transcursar nenhum dos tópicos valorizados
pelos próprios sistemas da era helenística .
Plotino encontravam, pois, uma serie de verdades
filosóficas já conquistadas e justificadas pelos seus predecessores e,
justamente por isso, não via a necessidade de demonstrá-la e aprofundá-las,
considerando-as como já estabelecidas.
Plotino retomou os tópicos evidenciados pelo
médio-platônicos e pelos neopitagoricos, mas avançadas, desenvolveu-os a seu
pleno amadurecimento com profundidade, lucidez e audácia sem paralelos, de modo
que acabou eclipsando e fazendo esquecer seus predecessores imediatos.No
entanto, nunca como nesse caso, permanece verdadeiro principio de que o segredo
para entender os maiores reside em grande parte nos menores que os precedem .
Relações entre Plotino, o
pensamento oriental, Filo, a gnose e cristianismo
A pretensa influencia do Oriente sobre Plotino foi
amplamente redimensionados pelos estudiosos modernos.
As fontes orientais de Plotino reduzem-às que foram
helenizadas no ambiente alexandrino. Mais do que conteúdos específicos trata-se
do espírito místico e religioso, fruto de uma meditação e de uma síntese entre
categorias orientais e ocidentais;em suma trata-se do espírito do qual se
alimentaram todas as correntes de pensamentos já examinados e que floresceram
em Alexandria a partir do século I a.C.
Todavia, não ó é provável, mas quase certa
influencia de Filo, o judeu sobre o Plotino. São, de fato, notáveis as
analogias entre o pensamento filoniano e o
plotiniano.
As relações de Plotino com a gnose foram de
contraposição polemica. Naturalmente, Plotino obteve, com o confronto
dialético, maior clareza quanto a próprias posições. No entanto, deve-se
observar que os planos nos quais se movem os gnósticos e Plotino são muito
diversos e que os influxos positivos dos positivos dos primeiros sobre o
segundo foram devidamente exagerados por alguns estudiosos, tanto mais que não
conhecemos com exatidão os gnósticos aos quais Plotino se refere.
Plotino deve ter dito também
relações com os cristãos propriamente ditos. Porfírio nos fala da freqüência de
numerosos cristãos as aulas do Plotino, os quais “induziam em erros a muitos”
ao sustentar que “Platão não havia devassado a profundidade da essência
inteligível”, de modo que muitas vezes Plotino intervinha para refutá-los.
Mas esses cristãos são misturados
por Porfírio com os gnósticos ou menos identificado in toto com eles. Em todo
caso, é certo que Plotio posicionou-se expressamente contra o dogma fundamental
da ressurreição da carne. O principio fundamental do cristianismo do Deus que
se faz carne permanecendo verdadeiro Deus e tornando-se, ao mesmo tempo,
verdadeiro homem, não poderia ter sido acolhido por Plotino nem na sua
significação revolucionária de evento histórico, nem na sua significação
metafísica e teológica. Também não poderia ser acolhida a doutrina da Graça
sobrenatural. Plotino pretendia, ao invés, levar o homem a ser deus. Além
disso, estava firmemente convencido de que para tanto são suficientes às forças
do homem: a união mística com Deus, a saber, a consecução de telos supremo do
homem não acontece, como veremos através de uma graça sobrenatural, mas por uma
energia espiritual natural, que entra na dialética circular da processão e do
retorno ao absoluto.
Os eixos
do pensamento plotiniano, sua relação com a especulação precedente e sua
novidade
O pensamento plotiniano gira
inteiramente em torno de seis eixos:
1) A tese fundamental reside na nítida distinção entre
o mundo sensível e o mundo inteligível, entre o ser corpóreo e o ser
incorpóreo.
2) O segundo eixo reside na determinação do incorpóreo
em função do esquema trágico, ou seja, em função da teoria das três hipóstases,
que são o Uno, o Nous e a psyché.
3) O terceiro eixo consiste na determinação exata da
relação que une as três hipóstases, a saber, do processo segundo o qual a
segunda deriva da primeira e a terceira da segunda. O grau mais elevado produz
o mais baixo sem se diminuir, ele dá sem se empobrecer. (Essa doutrina é
comumente designada como emanação; ora, tal termo é inadequado na medida em que
se torna fonte de toda espécie de equívocos, sendo, pois, necessário
substituí-lo pelo termo processão)
4) Estritamente úmida a doutrina da processão das
hipótese é a doutrina segundo a qual a matéria sensível não constituir, por si
mesma, um principio subsistente, mas procede das ultimas das hipóstases.; por
conseguinte, o mundo sensível é inteiramente deduzido do supra-sensível.
5) Como nenhum dos metafísicos gregos, Plotino
preocupa-se em fundar a unidade de toda a realidade. Num certo sentido, como
veremos, tudo estas no Uno e no Uno está tudo, assim como cada um dos seus
degraus inferiores está no superior e é produzido e sustentado por ele. Assim,
não somente as hipóstases supra-sensíveis são unificadas, mas também o mundo
corpóreo é estreitamente envolvido pelo incorpóreo, a tal ponto que, invertendo
a maneira tradicional de falar, Plotino afirma que não é a alam que está no corpo,
mas, antes, o corpo é que está na alma, e, portanto, não o supra-sensível no
sensível, mas vice-versa. Avançando por esse caminho Plotino chega aos limites
do acosmismo, mas esse é, justamente, um traço muito peculiar da sua filosofia.
6) Nesse contexto ontológico, no qual tudo procede do
principio, nada é verdadeiramente estranho a principio (uma vez que não existe
nada que lhe seja contraposto), sendo possível, portanto, ao principio, uma
reunificação plena e total com o principio, que o homem pode realizar mesmo
enquanto ainda está em vida, na união mística e no êxtase. O homem pode
desprender-se do mundo exterior e reentrar em si mesmo, tomar posse do seu eu
verdadeiro que é alma e, já que a alma deriva do espírito e o espírito do Uno,
o homem pode retornar ao homem. Esse principio revoluciona a escala tradicional
de valores tanto clássica como helenística, e transforma a ética em acesse
espiritual, pondo a felicidade o telos do humano na união extática com o
divino.
O método de Plotino
Qual o método próprio da especulação plotiniana? É
o mesmo método da especulação platônica, a saber, a dialética, entendida no seu
sentido originário metafísico e ontológico e não no sentido lógico-metodológico
aristotélico nem, evidentemente, no sentido estóico.
Em Platão, a dialética era não apenas o método, mas
o próprio tipo de vida que caracterizava a segunda navegação vale dizer, o
método e o tipo de vida que unicamente sabe libertar o homem dos laços com o
mundo sensível, sabe fazê-lo subir ao mundo inteligível e uma vez alcançado o
mundo inteligível, sabem elevá-lo de degrau em degrau a realidade suprema, ao
principio inprincipiado, a condição incondicionada.
Assim como em Platão, também em Plotino as fazes da
dialética são duas: a primeira consiste em passar do sensível ao inteligível, a
segunda consiste em subir, de degrau em degrau, no mundo inteligível até chegar
a tocar o ápice do inteligível.
Vejamos, no entanto, que os homens são capazes de
elevar-se e, portanto de tornar-se dialéticos, para depois terminar de maneira
mais exata o método dialético. Segundo Plotino, tais homens são de três
espécies: os que têm natureza de músicos, os que têm natureza de amantes e os
que têm natureza de filósofos. Trata-se, em suma, de homens que aspiram ao
imaterial e são capazes de separar-se do sensível ou que, traz como os homens
de natureza filosófico, de alguma maneira já operaram a separação.
A dialética é a capacidade que se tem de exprimir
com a razão, sobre cada coisa, o que ela é como é diferente de outras e o que
com elas tem de comum; além disso, em que seres se encontra e qual o lugar de
cada um e se é realmente um ser; quantos são os seres e o que, sendo diferente,
é não ser.
Plotino afirma que os princípios são dados pelo
próprio espírito e são evidentes, desde que sabia acolhe-los justamente com
alma que, como veremos, depende do espírito. A dialética, por sua vez, tira
desse principio todas as conseqüências, entrelaçando e separando-os até capataz
toda a trama das relações que constitui o mundo do espírito de maneira adequada
e ate mesmo, como veremos, ate captar o próprio espírito, o Uno, o absoluto.
A dialética não é um puro de pesquisa, ou seja, um
puro instrumento. Com efeito, ele não consiste, como para Aristóteles e para a
escola estóica, na determinação de meros procedimentos racionais ou do mundo
correto de proceder nas perguntas e respostas, mas um processo de pensamento
que, como em Platão capta imediatamente o ser e a realidade.
A dialética para Plotino, como para Platão, e
também a isso já nos referimos, é elevação moral, é subida e é conversão. A
dialética não pode existir sem a virtude e, mais nada, as virtudes superiores
coincidem, ou estão estreitamente ligadas à dialética, uma vez que essas
virtudes são separadas do corpo, assimilação e identificação com o divino, e a
dialética tem em vista justamente esse alvo. Em suma, a dialética, a dialética
plotiniana desemboca na mística.
Assim com essa ultima observação, voltamos à
observação inicial acerca da natureza muito peculiar do momento culminante da
dialética plotiniana. O processo dialético platônico já terminava na intuição
do bem, ou seja, numa apreensão imediata do incondicionado.
Ora, Plotino acentua com extremo vigor a natureza
extraordinária desse momento final a ponto de contrapô-lo a ciência, e chega
até desse momento final, a ponto de contrapô-lo a ciência, e chega ate mesmo a
falar de contato, assimilação, identificada, êxtase.
Métodos
para interpretar e expor o pensamento plotiniano
As interpretações propostas pelos
historiadores da filosofia
As componentes do pensamento plotiniano, com o os
estudiosos já de há muito advertiam, são duas: uma de caráter subjetivo, ou com
diríamos hoje, existencial; a outra de caráter objetivo ou, principalmente,
especulativa. Com efeito, do principio ao fim da Enádes, emergem a ãnsia do
divino e o desejo dervoroso de unir-se a ele, o sentimento religioso e a tensão
mística, mas também é evidente, do começo ao fim da Enéades, a lúcida tentativa
de explicar a totalidade do real e de explicar, fundando-se em bases racionais,
a tendência do homem e de todas as coisas ao Divino.
Ora, os interpretes se dividiam e alguns deram
primazia a primeira componente, oferecendo-nos uma serie de interpretações que
podem ser ditas, grosso modo, de caráter religioso enquanto para outros a
primazia cabe a segunda componente, e eles nos oferecem, assim, uma serie de
interpretações mais filosóficas e metafísicas.
Em primeiro lugar, é preciso acentuar que, em
Plotino, essa duas componentes dificilmente podem ser separadas.
O caminho seguido na presente
exposição
Sabemos que já em Platão a dialética era tanto
“ascendente” como “descendente”. Assim também acontece
Doutra parte, é necessário salientar que Plotino
usa o método de baixo para cima somente poucas vezes e só quando quer provar, a
modo de verificação, que as hipóstases são três.
Mas, como regra, ele usa o método do alto para o
baixo, pois somente com ele é possível representar adequadamente a “processão”
das hipóstases, ou seja, o modo que uma deriva de outra e as relações que
reciprocamente as unem.
De resto, como teremos ocasião de ver, o princípio
supremo, o Uno, desempenha um papel absolutamente condicionante do sistema
plotiniano, de modo que nenhuma parte dele se mostra inteligível se não na sua
referencia ao Uno.
O caminho “de cima para baixo” é, pois, o mais
adequado e mais conforme a especulação plotiniana.
As articulações do sistema
Relendo o tratado da primeira enéadas dedicado à
dialética iremos encontrar justamente esse esquema. A filosofia tem partes
distintas (que é o conhecimento do inteligível e do imaterial); as duas outras
partes, expressamente mencionadas e declaradas dependentes da dialética são a
física e a ética.
Porém, considerando bem, Plotino se desinteressa
completamente do estudo dos problemas físicos examinados sob o ângulo
estritamente cientifico. O mundo físico lhe interessa só com momento da
“processão” do absoluto. Analogamente, a ética não possui uma espessura própria
e nem mesmo uma autonomia relativa. Em Plotino, a ética torna-se o caminho de
“retorno” ao Uno e somente sob esse aspecto nosso filosofo se interessa pelos
problemas do homem.
Portanto, o sistema plotiniano só surge nas suas
linhas fundamentais se recompusermos as “partes” tradicionais da filosofia no
novo esquema “circular” da “procesão” de todas as coisas do Uno e de “retorno”
do Uno.
No sistema plotiniano, com efeito, é nos apresenta
a mais audez tentativa metafísica da Antiguidade, que desloca e quebra todos os
esquemas tradicionais; as hipóstases e o próprio mundo são apenas graus ou
momento está presente, em certo sentido, o todo, o Uno, ainda que de maneira
diversa, conforme cada coisa seja capaz de conte-lo, e o todo está no Uno. Como
foi observada com razão, a “processão” dos muitos a partir do Uno é “um cominho
de Deus, a Deus, mas também um caminho em Deus, porque somente graus da vida
divina, um eterno subir da alma, segundo ritmos determinados e segundo uma lei
imanente” Juntamente por isso as “partes” da filosofia perdem sua significação
tradicional e só adquirem nova significação e novo valor no circulo da
processão e do “retorno”.
SISTEMA DE
PLOTINO:
FUNDAMENTO E
ESTRUTURA
A
primeira hipóstase: o uno
Demonstração preliminar da
existência do uno e das três hipóstases
O principio
ultimo do real para Aristóteles, era a essência (ousia) e a inteligência do
Motor e Móvel; para Plotino, ao contrario, principio ainda ulterior é Uno, o
qual está para além do ser e a essência, para além da inteligência; é o Uno que
transcende a própria ousia e o próprio Nous: ele retoma e leva as ultimas
conseqüências o núcleo central das doutrinas não escritas de Platão
notavelmente antecipadora.
Todo ser, e
ultima distancia, é tal somente em virtude da unidade.Se, com efeito, se quebra
a unidade a própria coisa deixa de substituir.Portanto, as subsistência da
coisa depende da unidade negada essa, é o próprio ser das coisa que se nega.
Perguntemos
agora, uma vez que esta comprovada que o ser dos entes depende da unidade, de
onde procede ulteriormente essa unidade? Ora, observa Plotino, todo ente físico
recebe a sua unidade da alma que é justamente uma atividade plasmadora,
formadora e coordenadora de todas as coisas sensíveis e, nesse sentido, é causa
e fundamento de sua unidade. Diremos então, que a própria alma é a unidade ou
diremos, antes, que a alma confere a unidade, mais não coincide com a unidade
em que, portanto deriva a sua unidade de algo ulterior? A resposta de Plotino é
claríssima: a graus diversos de unidade; a alma tem um degrau de unidade
superior aos dos corpos, mas ela não é a unidade.
Portanto, a
alma introduz a unidade no mundo físico, mas ela recebe cuidado do Nous.
Nessa
altura, apresenta-se o problema apresentado a respeito da alma: o Uno coincide
com o ser e com espírito ou com o Nous?
Também nesse caso a resposta negativa. O ser e o espírito, não obstante
gostem de um grau de unidade superior o da alma, não são o Uno porque implicam
multiplicidade: Dualidade de pensante e de pensado e a multiplicidade das
idéias vale dizer, a totalidade das realidades inteligíveis.
A raiz da
unidade é, portanto, algo que transcendem o próprio Nous, algo livre se
qualquer pluralidade é o Uno em si.
Para
concluir: ao buscar fundamento das coisas que é a unidade, somos obrigados a
subir do mundo físico a alma “que é a hipóstase mais baixa” e, logo, da alma
“que tem, mas não é unidade” ao espírito “que tem uma unidade mais elevada do
que a da alma, mas é multíplice também ele” a um principio ulterior
absolutamente simples: o Uno que é a hipóstase primeira o princípio
inpricipiado o absoluto.
A infinitude, a
absoluta transcendência e a inefabilidade do Uno
Características
fundamental do Uno é a infinitude e é necessário partir dela para compreender
as diferenças entre a metafísica plotiniana e a platônico-aristotelica à qual
acima acenamos. A infinitude fora atribuída ao principio somente por alguns dos
antigos filósofos da physis e, justamente, numa dimensão física. Em Platão e
Aristóteles (e, em geral, no pensamento grego), prevaleceu a idéia de que o
infinito comportasse imperfeição (isso é, que fosse sinônimo de indeterminado e
de incompleto) ao passo que o finito (no sentido de determinado e completo)
fora associado com o perfeito. Platão compreendera o primeiro principio como
limite e o principio material como o ilimitado e o infinito. Aristóteles, por
sua vez, declara impossível a existência do infinito em ato e concebera o
infinito como puramente potencial, circunscrevendo-o à categoria da quantidade
e, alem disso, afirmara que o perfeito implica sempre um fim e o fim um limite.
Era, pois, necessário, para poder fazer reviver
a antiga concepção do infinito afirmada pelos materialistas que, no fundo, uma
infinitude espácio-temporal, fundamentá-la sobre um plano novo, ou seja, o
plano do imaterial como, ao menos em certa medida, já o fizera Filo de
Alexandria.
Justamente porque não compreenderam radical
transformação sofrida pelo conceito de infinito ao ser transposto e repensado
pelo plano do imaterial, muitos historiadores da filosofia apresentaram as mais
diversas e inadequadas interpretações do Uno.
Portanto, o
infinito plotiniano não é o infinito do espaço nem da quantidade (ligada à
espacialidade), mas como já sucedia, em algumas medidas com Filo de Alexandria,
o infinito é entendido como limitada, inexaurível e imaterial potência
produtora. Nesse contexto, a palavra potencia assume não a significação de
potencialidade, por que essa significação aristotélica estava estruturalmente
ligada à matéria e ao ser corporal, mas de atividade como já com Filo.
A potência, por conseguinte, coincide com força
ativa, com a atividade, com o ato puro/, com o ato metafísico primeiro e
supremo. Compreender o Uno como potência infinita significa, em suma,
compreende-lo como energia espiritual infinita e criadora.
As conseqüências revolucionarias que o conceito
positivo de infinito imaterial comporta no âmbito da segunda navegação são as
seguintes.
1) Em primeiro lugar, o Uno não poderá
ser entendido como idéias, ou seja, no sentido platônico porque forma e
essência implicam para Platão, como já dissemos finitude pêras, ou seja,
limite: são e produzem delimitação e determinação. Mas o Uno não poderá ser
também uma substancia aristotélica, imóvel e separada, porque essa ousía, que é
inteligência que si pensa a si mesma é igualmente finita e determinada.
2) Em conseqüência, já que o ser, tal
como era entendido. Por esses filósofos, era o ser do eidos e da ousía (e
daquilo que se refere à ousía) e, portanto, ser finito, entende-se a
necessidade que sentia Plotino de por o Uno “acima do ser” e também, pelo mesmo
motivo, “acima do pensamento e de repetir essa tese através de todas as
Enéadas, com tal insistência que não deixa descansar o leitor. Trata-se aqui de
uma nova concepção da transcendência que tem vagas precedentes no âmbito da
cultura grega, mas tem um claro antecedente em Filo de Alexandria. O principio
supremo não somente transcende o mundo físico, mas transcende toda forma de
finitude, incluindo-se a finitude na qual Platão e Aristóteles havia
aprisionado o próprio inteligível e a própria inteligência.
3) Por conseguinte, compreende-se
porque Plotino tende a dar do Uno determinações prevalente mente negativas (com
efeito, enquanto é infinito, não lhe convém nenhumas das determinações do
finito que são a ele posteriores) a este a declará-lo inefável.
4) Quando Plotino, porém, atribui ao no
caracterizações positivas, não se contradiz como pesaram alguns interpretes já
que usa uma linguagem claramente analógica, tal como já fizera Filo.
As características positivas do Uno
O uno referido ao principio, não significa um
Uno particular, ou seja, uma unidade terminada, mas é um Uno-em-si, a causa e a
razão de ser da unidade de todas as outras coisas. O unos significa o
absolutamente simples que é razão de ser do complexo e do múltiplo. O uno é
potência de todas as coisas, no sentido de que, por si mesmo, ela as leva ao
ser e no ser as mantém.
O outro termo que Plotino usava freqüentemente
para designar o princípio absoluto é Agathon, isto é, Bem. Trata-se,
evidentemente, não de um bem particular, mas do bem em si ou, se assim o
quisermos, não de algo que tem o bem, mas que é o próprio bem.
Plotino explica também que, falando
propriamente, o princípio primeiro é bem são para si, no sentido que não pode
ser bem para proveito próprio, já que não tem necessidade de nada, mas é bem
para todas as outras coisas que dele tem necessidade.
Sobre o fundamento de quanto foi dito até aqui,
é possível esclarecer melhor os sentidos das afirmações segundo as quais o Uno
está acima do ser (da ousía e da essência), acima do pensamento, e também,
acima da vida. Plotino evidentemente não quer dizer que o primeiro quer dizer o
não ser, o não pensamento, ou alguma coisa sem vida. Ao contrario, ele quer
dizer que, como princípio infinito do qual derivam o ser, o pensamento e a
vida, é alguma coisa do superior a esses produtos seus. Com efeito, Plotino usa
esses termos quando se refere ao Uno, ou seja, em sentido analógico ou fala
mesmo de super-pensamento e, em certo sentido, também de super-ser e, portanto,
de super-vida.
Em resumo: o Uno subsiste não ao modo de ser
das idéias e das essências, porque elas são um ser principiado e múltiplo.
Analogamente, o Uno não pensa desdobrando em
pensante e pensado, já que esse desdobramento implica, justamente, ruptura da
unidade e, portanto, o seu pensamento transcende a nossa possibilidade de
determiná-lo e de compreendê-lo. De resto, se Plotino nega decididamente que o
Uno se pense e se tenha consciência de si mesma maneira com que o espírito,
como veremos, se pensa e se tem consciência de si da mesma maneira
decididamente, que o Uno seja inconsciente.
E não menos decididamente nega analogamente que
o Uno seja privado de vida, mês se a sua não é a vida própria do espírito nem a
da alma.
O absoluto plotiniano tem um pensamento que é
meta-pensamento, tem uma intuição que uma meta-intuição, tem uma vida que é
meta-vida; também a sua volição, como veremos, é a metavolição.
O uno como atividade livre e
autoprodutora
Por que o Uno é o que é? Formulada em outros
termos essa pergunta equivale à seguinte: por que o absoluto é, e por que o
absoluto é assim como é?
Desde logo, a) deve-se excluir que ele seja por
acaso ou por acidente, porque dessa maneira podem existir somente as coisas do
mudo sensível, sujeitas a circunstancias do devir. Nem ainda. B) ele pode
existir por uma livre escolha, do tipo da que pressupõe a existência de
contrários sobre os quis deve operar, porque ele está para alem de tudo isto.
Nem c) pode-se dizer que ele existia por necessidade porque a necessidade é
posterior a ele, antes, é justamente ele e a lei da necessidade para as outras
cosas. Muito menos d) pode-se falar, com respeito ao absoluto, de um ser, de
uma essência e de determinada natureza e explicar sua atividade em função da
sua natureza, porque como sabemos, ele transcende o ser e a essência e mesmo a
sua atividade só é tal em sentido analógico.
“Operari sequitir” esse, dirão aos medievais.
Plotino, ao contrario, para caracterizar o seu absoluto diria “esse sequitur
operari”; ou, melhor ainda, ser e operar coincide no absoluto: o primeiro
principio se autopõe, cria a si mesmo, é atividade autoprodutora.
Nele a vontade corresponde ao seu ato e,
portanto, ao ser, ele é vontade de ser o que é, é liberdade total e absoluta.
Além disso, diz Plotino, ele quer ser o que é, porque é o que é de mais
elevado, é o valor supremo e o supremo positivo.
O Uno é atividade autoprodutora, absoluta
liberdade criadora, causa de si mesmo, é o que existe por si e para si. “ele é
transcendente ao ser”.
A
processão de todas as coisas do Uno
Por que e como do Uno derivam as outras coisas?
Porque Uno, satisfeito consigo mesmo, não permaneceu em si mesmo? No fundo essa
é como freqüente vezes tivemos ocasião de observar, a pergunta metafísica de
mais árdua solução.
Para responder ao problema, Plotino se vale,
repetidamente, de imagens esplendidas e que se tornam justamente muito famosas.
Mas exatamente enquanto imagens, ela permanecem
ambíguas se não forem explicitadas conseptualmente. Infelizmente, alguns
interpretes deixaram-se atrair mais pelas imagens do que pelas aplicações
conceptuais, com grave prejuízo para compreensão do pensamento do nosso
filosofo. Todavia, é necessário partir justamente das mais famosas entre essas
imagens para poder determinar melhor a concepção teorética da qual elas são uma
ilustração preliminar.
A mais celebre, certamente, é a da luz. A
derivação das cosias do Uno é representada como irradiar-se de uma luz desde
uma fonte luminosa, na forma de círculos sucessivos que pouco a pouco diminuem
de luminosidade, enquanto a própria fonte permanece sem empobrecer-se, mesmo no
seu difundir em torno de si. O primeiro circulo luminoso depois da fonte de luz
é o Nous ou o espírito, ou seja, a segunda hipóstases; o circulo sucessivo é a
alma, ou seja, a terceira hipóstases. O circulo que vem depois assinala o momento
do apagar-se da luz e simboliza a matéria, que tem necessidade de uma
irradiação de fora, sendo já treva.
Outras duas celebres imagens são as da nascente
inexaurível que da origens aos rios e a da árvore.
Menos celebres, mas não menos interessante, é a
imagens dos círculos concêntricos: o Uno é como o centro, a segunda hipóstase é
como o circulo imóvel, ao passo que a alma é como um circulo móvel.
Observe-se porem, que se trata de círculos
estruturalmente produzidos pelo centro, ilustrando, sobretudo a relação entre o
centro e o primeiro circulo, e voltando ainda a imagem da luz.
São essa as imagens: mas, como acima
observamos, elas formas tomadas muito literalmente e alguns interpretes
acabaram por fixar-se neles, com o resultado e entender erradamente ou mesmo de
não entender os conceitos que elas derivam ajudar a esclarecer. Foi a partir
dessas margens que se falou de “emanantismo” e até de “panteísmo e de
“monismo”. Na realidade, o assunto é mais complexo do que essas formas podem
sugerir e depois de haver determinando a interpretação de todo o sistema
potiniano será possível compreender em todas as suas múltiplas valências o que
verdadeiramente significa a “processão a partir do Uno”, plotiniana. No
entanto, é possível esclarecer, de momento, uma doutrina essencial, destinada a
mostrar a processão sob uma luz inesperada.
Por enquanto, de todas as imagens pode extrair
o seguinte. O principio permanece e, permanecendo, gera no sentido de que o seu
gerar não o empobrece, não o diminui, não condiciona. O que é gerado é inferior
ao que gerou e não serve ao que gera: o que é gerado tem necessidade daquele
que o gera, e não o contrário.
Nesse ponto pode-se perguntar: dada a sua
infinita perfeição e a sua potencia transcendente, o que gera não é acaso
“necessitado” para criar? Pode a fonte de luz não emitir luz, a nascente de
água não emanar água, o corpo perfumado não exalar perfume?
É justamente nesse ponto que as imagens induzem
em engano, revelando somente um aspecto do pensamento plotiniano e ocultando o
outro, justamente o aspecto maus inédito.
Com efeito, Plotino distingui dois tipos de
atividade do Uno (e também das outras hipóstases) a) a atividade do ser e b) a
atividade que deriva desde o ser: a primeira é, por assim dizer, imanente ao
ser, ao passo que a segunda saí do ser e se dirige para fora. Em outros termos,
a atividade do ser coincide com realidade singular, enquanto a atividade que
deriva desde o ser se dirige ao outro. Ora, aplicando essa distinção ao Uno,
deve-se fala: a) e uma atividade do Uno e b) de uma atividade que deriva desde
o Uno; a) a atividade do Uno é a que o faz se, o mantém e o faz permanecer; b)
ao invés, a atividade que deriva desde o Uno é a que faz com que o Uno derive,
ou melhor, “proceda” outra realidade. É claro que a atividade desde o Uno
depende estruturalmente da atividade do Uno.
Ora aplicando essa doutrina ao problema do qual
falamos, consegue-se uma solução oposta a comente adotada e que não leva a
primeira em consideração. É verdade que as coisas procedem de Uno porque o Uno
é o que é, ou seja, infinita força que transborda; mas vimos também que a
atividade do Uno consiste justamente em querer ser o que é, ou seja, na
liberdade de ser o que é, de modo que a atividade que procede desde o Uno (ou
seja, a pretensa emanação) constitui uma necessidade em certo sentido submetida
à vontade, ou seja, uma necessidade posta por um ato livre ou, melhor,
conseqüência de um ato livre. Com razão, pois, ressentimento se observou que de
tudo isso, deve-se concluir que a vontade do Uno de ser a sua natureza é a
causa direta da emanação desde a sua natureza e que, portanto, em certo
sentido, a criação livre, nem mais nem menos de quanto o seja o próprio Uno.
Preferimos dizer que a criação (a prosceção) é uma necessidade que se segue a
um ato de liberdade.
Isto basta pôr si mesmo, para mostrar a grande
novidade da processão plotiniana.
A segunda hipóstase: o “Nous” ou o espírito
A dupla relação que liga o Uno
ao espírito
A relação da hipóstase implica, além das duas
acima explicadas, uma ulterior atividade que não é menos essencial do que elas,
uma vez que, sem está ultima as hipóstases não poderiam subsistir.
Trata-se da atividade de voltar-se para o
principio do qual cada uma das hipóstases deriva, para olhá-lo e para
contemplá-lo.
Observe-se que essa atividade contemplativa não
está de maneira alguma expressa nas celebres imagens acima examinadas. Em
conseqüência, ela foi complemente desconsideradas (e algumas vezes ignoradas)
pôr interpretes até famosos quando, na realidade, representa um do eixos em
torno dos quais gira a metafísica plotiniana.
Em particular, no que concerne à segunda
hipóstase da qual presentemente nos ocupamos, deve-se salientar que o poder e a
atividade não geram sem mais o nous e o espírito, e sim algo de indeterminado
ou informe, e sete se determina e torna-se mundo das formas voltando-se para o
Uno, olhando e contemplando o Uno, e sendo fecundando e planificado por ele
justamente pôr meio de tal contemplação (e depois também se contemplando a si
mesmo, como veremos, a o ser fecundado pela contemplação do Uno).
Esse produto indeterminado e uniforme do Uno
(antes que se volte para contemplar o Uno) é chamado pôr Plotino “alteridade”
inteligível, “matéria inteligível” e também “primeiro movimento”, ou seja,
movimento inteligível.
A linguagem esotérica não deve nos enganar:
esse material e esse movimento inteligível não são senão o pensamento
indefinido (ou como ainda se poderia dizer, o ser indefinido) que se determina
exatamente voltando para o Uno.
Para exprimir essa sua concepção, Plotino se
serve também dos princípios pitagoricos-platônicos do Uno e da díade. O produto
do Uno é a Díade indefinida, a qual, reunindo-se com o Uno, gera as idéias.
Isso significa: a) o que o Uno produz não é mais o Uno, mas Díade, já que o
pensamento pressupõe o objeto do pensamento e, portanto, implica justamente uma
dualidade: b) essa dualidade indeterminada se determina ulteriormente
voltando-se para o Uno, gerando desse modo o mundo das idéias e tornando-se
assim, como veremos, espírito.
Mas Plotino é certamente feliz quando, deixando
de lado as idéias de procedência seja platônico-aristotelica, seja
neopitagórica, atem-se aos novos conceitos forjados. Põe
ele, ora, acima dizíamos que o espírito não é de maneira nenhuma simplesmente a
potência que procede do Uno, mas que essa potência, par ser espírito, deve-se
voltar para o Uno e contempla-lo. No entanto esse também é um ponto muito
importante mesmo esse voltar-se para o Uno não é ainda o espírito e sim a causa
e a condição que o faz ser. Com efeito, Plotino distingue dois momentos: a) o
“voltar-se” da potência ao Uno, o qual fecunda, enche e planifica a potência, e
b) “refletir-se” dessa potência sobre si mesma já fecundada. Os dois momentos
(que são obviamente distintos logicamente e não cronologicamente) espelham as
duas faces do espirito. A) no primeiro momento nasce a substancia, a essência,
o ser (ou seja, o conteúdo do pensamento, verdadeira e propriamente. Essa
duplicidade de movimentos explica igualmente o principio do múltiplo: não
somente a dualidade pensamento passado, mas também a própria multiplicidade do
conteúdo (a multiplicidade das idéias).
O outro ponto a ser esclarecido: o nascimento
da segunda hipótese é nascimento de um múltiplo ou, se prefere, de um Uno
muitos, não só, como já observou, no sentido de que o espírito é inteligência e
inteligível, mais ainda no sentido de que o inteligível é multiplicidade, ainda
que unificada (como veremos, é o cosmo inteligível, mundo das idéias).
Poderíamos pensar em explicar a gênese dessa multiplicidade com a inadequação
ou incapacidade da segunda hipótese de captar o Uno na sua infinitude.
O espírito, como efeito, não pensa o Uno, o
múltiplo só nasce no interior da segunda hipóstase, no sentido de que o
espírito não vê o Uno como múltiplo, mas vê a si mesmo como múltiplo.
O espírito como ser pensamento e vida
O Uno é a
potência de todas as coisas, o espírito, pôr sua vez, é todas as coisas.
Que
significa isso?
Em primeiro lugar, deve-se salientar que o
espírito plotiniano, como já indicamos, é união indivisível de ser e de
pensamento, de inteligível e de inteligência. O espírito para Plotino, é o ser
puro de Platão, o ser que é plenamente, não é, de modo algum, afetado pelo não
ser e é, ao mesmo tempo, o pensamento do pensamento do qual falava Aristóteles.
Como tivemos ocasião de observar
freqüentemente, Aristóteles, ao prosseguir a segunda navegação platônica, pôs a
inteligência como imaterial e também que ela era a priema ousía, o ser
supremo, a pura essência; mas, ao mesmo tempo ele, de certa maneia, a
empobreceu quanto ao conteúdo extremamente no momento em que pensá-la te-la
enriquecido, atribui-lhe como objeto do seu pensamento somente a si mesma (a si
mesma como pensamento) e reservando a inteligência humana a prerrogativa de ser
o lugar das formas enquanto acolhe-las, abstraído-as do sensíveis). Mas Plotino
nega que as formas possam ser imantizadas a maneira aristotélica, reivindica
para elas uma estrutura transcendente e, na trilha dos médio - platônicos, dos
neopitagoricos e, sobretudo, de filo de Alexandria, faz da
Inteligência a morada do mundo platônico das
idéias. Para Plotino, o espírito é, assim, a morada de todos os seres (idéias)
sem exceção.
Essa identificação do ser e do pensamento trás
consigo uma radicalização da tese sustentada pôr Filo, pêlos médio-platonicos,
e pêlos neopitagoricos, segundo a qual as idéias são pensamento de Deus. Com
efeito, no contexto plotiniano, as idéias acabam sendo não somente o conteúdo
do pensamento mas elas mesmas pensamento, no sentido de que cada uma das idéias
não somente estão no espírito, mas elas mesmas são espírito.
Naturalmente o espírito é também vida, “é o
vivente perfeito”, “o vivente em si”, é “vida infinita”.
Plotino teve cuidado de sublinhar que a vida
não é necessariamente ligada à dimensão física e que também em nós há uma vida
distinta da do organismo. A vida da segunda hipóstase é a vida na dimensão do
imaterial, é vida espiritual, fora da temporalidade. De resto, Aristóteles
caracterizava o seu Motor Imóvel com a forma mais alta de vida possível, que é
a vida própria do pensamento e da inteligência, justamente na dimensão da
eternidade.
O espírito como “cosmo inteligível”
No novo
contexto da doutrina hipostática do espírito, o platônico Hiperurânio torna-se
“cosmo inteligível”.
Eis, em,
síntese, as linhas essenciais de reforma plotiniano da doutrina das idéias:
Essa
característica das idéias, que parece tão paradoxal, na verdade se explica
facilmente se tivermos presentes os dois traços essenciais do espírito em geral
(do que são momentos particulares) isto é a imaterialidade ou incorporeidade e
a infinitude (no sentido da inexauribilidade da sua potencia).
(...) Nós (...) concedemos que o ser seja
multiplicidade em razão da alteridade, mas não no sentido do lugar. Com efeito
o ser é “tudo simultaneamente” mesmo se seja, nesse sentido, pluralidade; já
que “o ser confina com o ser” e é “todo simultaneamente; o espírito igualmente
é múltiplo somente em razão da alteridade, não em sentido local, mas também
“todo simultaneamente”.
Em suma, essa alteridade na medida em que não é
alteridade de partes físicas e corpóreas mas diferenciação puramente
espiritual, entra no ser (é alteridade do ser e no ser); mas o ser é unidade,
de sorte que, nesse sentido, as idéias resultam numa multiplicidade simples e
una e uma unidade múltipla, como acima dizemos.
Eis um texto muito indicativo:
O ser será pois vario e múltiplo? Vario, sim,
mas com uma variedade simples e uma multiplicidade uma. Na verdade o ser é
forma racional e única e múltipla e o ser universal é unitário. Com efeito,
também o outro é derivado ao seu ser e a alteridade lhe pertence: compreende-se
que ela não possa entrar no não ser. Além disso, o ser entra na unidade
inesperada e onde quer que esteja o ser, mundo dele está a sua unidade e,
doutra parte, o uno é ser de si mesmo, já que é possível que coexistem presença
e distinção.
Se o espírito é infinito (e é infinito
fecundado pela infinita potencia do Uno, ainda que retratada no modo que acima
vimos) possui cada coisa singular e, vice-versa, em cada coisa deve, ser todas
as coisas pois, doutro modo, na coisa singular o ser (o espírito) estaria
diminuindo e depauperado e, portanto, de maneira alguma seria infinito.
Os seres inteligíveis, sendo muitos saio uno e
sendo uno são muitos em virtude da sua natureza ilimitada. São, assim, muitos
em uno e uno em muitos e são todos simultaneamente. O seu referido ao universal
se exerce em todo o seu ser, mas, referido ao particular se exerce igualmente
em todo o seu ser.
3)Também o caráter de eternidade do espírito
(e, portanto, das idéias) acaba tendo um novo conteúdo, e em vez de ser
determinado simplesmente como presente imóvel, ou seja, como a temporalidade
estóica, é concebido dinamicamente, sendo conexo não só com a perfeição, mas
também com a infinidade, ou seja, com a inexauribilidade da sua opotencia,
ligado portanto com o teorema do “tudo em tudo”. No espírito, o “foi” e o
“será” estão no “é”, na medida em que qualquer coisa que diga respeito ao
espírito deve está sempre contida inteiramente e atualmente no espírito. Em
suma, o futuro está no “é” do presente (como também acontece com o passado)
porque tudo está em tudo uma vez que o espírito é todas as ciosas, não tem
necessidade de nada e é inexaurível (potencia infinita).
4)
Platão
introduziu as idéias como causas verdadeiras, como a “razão” e o “porque” das
coisas sensíveis, mas teve ,muito trabalho para explicar em que sentido elas
eram causas das cosias. Nas coisas sensíveis o quê (ou seja o ser-aí das
coisas) e o porquê (ou seja, a razão do ser-aí das cosias) geralmente não
coincidem; o porquê é sempre ulterior com respeito ao ser-aí físico das coisas,
ao contrario, no mundo do espírito, o que e o porquê coincidem. Isto, levando
em conta as explicações acima, não vale somente para o espírito no seu
conjunto, mas igualmente para cada um dos seres que estão nele, ou seja, para
cada idéia. Cada idéia, assim como o espírito, é tudo em todas (o espírito é
cada ser singular do seu conteúdo). Em resumo: as idéias (como o espírito em
geral) não têm, mas são a causa do próprio ser e, portanto, pôr essa razão são
a causa de tudo mais.
5)
Na
medida em que o espírito encerra em si todas as coisas, a idéia de todas as
coisas e não somente das espécies, mas também de todas as diferenças possíveis
com as quais as espécies podem apresenta-se. Portanto, não há somente uma idéia
do homem, mas tantas idéias de homem quantas são as diferentes conformações dos
homens, quanto são as diferenças individuais. Mesmo vale igualmente para os
animais e para todas as outras coisas.
Plotino foi
levado a essa conclusão, que é diferente da Platônica, pela sua concepção
puramente negativa da matéria (que é não-ser). Com efeito, essa concepção o
impedia (como mais adiante veremos) de atribuir à matéria qualquer capacidade
de “individual” a espécie e de determinar as diferentes configurações
particulares nas quais a espécie se manifesta nos múltiplos indivíduos (pôr
exemplo, o homem como raiz aquilino ou achatado), da matéria segundo Plotino, derivam
apenas fealdade e privações (por exemplo, o ser coxo, vesgo e outras
deficiências) e tudo o que pode ser considerado inadequação na realização
empírica da idéia.
Alguns estudiosos chegaram à conclusão e que
Plotino, pôr conseguinte, admite a existência de idéias de todas as coisa
individuais. Mas isso não e exato, ou pelo menos, é muito equivoco, uma vez que
fala Plotino justamente o conceito de indivíduo como singularidade irrepetível.
Com efeito, devemos observar, de um lado, que o mundo tem para Plotino uma
historia, na qual se sucedem os vários períodos cósmicos, e durante cada um
deles e retornam sempre as mesmas coisas, de modo que o mesmo modelo se repete
sempre muitas vezes: portanto, também aquele singularismo tipo de homem ou de
animal que, em dado ciclo, foi produzido apenas uma vez com aquelas
particularíssimas diferenças, a sucessão dos ciclos, em todo caso, se repete
muitas vezes.
Doutra parte
deve-se observar que, no que diz respeito ao individuo homem, a questão
torna-se mais complexa em virtude da doutrina da metempsicose, aceita por
Plotino. Com efeito, no contexto dessa doutrina, a alma de Sócrates não é
sempre Sócrates, porque renasce com outro rosto e aparência de modo que, nesse
sentido, não poderá haver uma idéia de Sócrates.
6)
Platão
na sua metafísica esotérica, estabelecera os números ideais como princípios dos
quais derivam as idéias, e pusera princípios dos quais derivam os próprios
números o Uno e a Díade.
A mesma doutrina, já reprovada pêlos
neopitagoricos, encontramo-la também em Plotino, em parte aprofundada e tornada
mas clara, embora não alcançada a primeiro plano. Os números ideais (que devem
ser cuidadosamente distinguidos dos números matemáticos, isto é, dos números
que surgem na mente do sujeito numeramente, isto é, do sujeito que os conta)
derivam do próprio Uno. A Díade (já vimos em que sentido Plotino fala da díade)
surge também do Uno, como já o haviam sustentado muitos nascem justamente dessa
ulteriormente caracterizados pôr Plotino com a força que divide o ser e feliz
nascer à multiplicidade no ser, a regra segundo a qual nasce do ser os
múltiplos seres; e, nesse sentido, como fundamento e raiz dos seres.
7)Tudo o que se disse acima (e em particular, o
princípio segundo qual o espírito ou o ser é Uno e muitos – muitas idéias
justamente e harmonicamente unidade na variedade, simplicidade na diferença,
tudo em tudo) explica a razão pela qual Plotino denomina o Nous com expressão
filoniana, como já lembramos, “cosmo inteligível”, mundo de ordem e da harmonia
espiritual, portanto, mundo da beleza. Para Plotino, com efeito, a beleza, em
geral coincide com a forma: uma coisa é bela segundo o quanto possui de forma.
O espírito, que é o fundo das formas e da idéias, ou seja, o sistema
perfeitamente ordenado das formas nas sua totalidade (totalidade na qual uma
forma singular é todas as outras e na qual todas são unificadas, mesmo sendo
diversas) é a suprema e absoluta beleza.
As categorias do mundo inteligível
Dizíamos
acima que a distinção entre o mundo corpóreo e o mundo incorpóreo é uma das
colunas mestras do sistema plotiniano.
Mais ainda,
levando as conseqüências extremas às conclusões que derivam de tal distinção,
Plotino, afirma que o sistema aristotélico das categorias não vale para o
incorpóreo e, pôr conseguinte, estabelece dois sistemas categorias complemente
diferentes para as duas esferas da realidade.
Sendo o Uno
absolutamente simples, para ele não vale nenhum sistema categorial. O Uno é
principio transcategorial. As categorias do incorpóreo valem, portanto, para as
outras duas hipóstases e, sobretudo, para o espírito.
Essa
categoria, tiradas pôr Plotino do Sofista de Platão, com as oportunas reformas
que se impunham em virtude da sua nova metafísica, são: a) o ser ou ousía, b) a
estabilidade ou Êxtase, c) o movimento, d) o idêntico, e) o diverso ou
diferente.
Tudo, no
mundo do espírito, é usía. Além disso, o pensar do espírito implica movimento
(trata-se evidentemente, de movimento espiritual e não físico). Mas o pensar do
espírito implica do mesmo modo instabilidade ou estase, devida aos seus
conteúdos. Além disso, o espírito é identidade de si consigo mesmo, assim como
é diferença entre pensante e pensado.
Essas
distinções categorias no mundo dos espíritos são, obviamente, concebidas na
dinâmica do uno - muitos e do tudo-em-tudo, como Plotino expressamente
observava.
A doutrina
das categorias, no entanto, ainda que difusamente traída, não desempenha um
papel primário no sistema plotiniano.
Deve-se,
porem, observar como o fato de ter Plotino expressamente estabelecido que as
diversas esferas de ser postulam sistemas categorias estruturalmente diversos
constituam um avanço essencial na historia da ontologia.
A terceira hipóstase: a alma
A processão da alma desde o espírito e a
dupla revelação que vigora entre a alma e o espírito
O espírito, como vimos, é potencia infinita, ou
seja, inexaurível e justamente porque é tal, “transborda”, pôr assim dizer, e
gera outra realidade, hierárquica inferior, que é justamente a alma.
Como acontece a processão da alma a partir do
espírito?
Plotino faz uso dos mesmos módulos dos quais se
sérvio para explicar a processão do espírito a partir do Uno. Com efeito, ele
distingui (analogamente a quanto vimos a propósito do Uno), a) uma atividade do
espírito, ou seja, uma atividade que o espírito dirige a si mesmo e b) uma
atividade a partir do espírito, vale dizer, uma atividade que provem do
espírito e sai dele. A segunda atividade deriva da primeira e é, mesmo,
conseqüência da primeira na medida em que, justamente em virtude do próprio
voltar-se sobre si mesmo, o espírito produz alguma cosia diferente de si.
O resultado da atividade que procede do
espírito não é sem mas, ou seja, imediatamente a alma.
É necessário, como já vimos a propósito do
espírito com relação ao uno, que também produto da atividade que procede ao
espírito volte-se para irar e contemplar o próprio espírito: como efeito, a
alma, como produto da atividade do espírito é, em face do espírito para qual se
volta à contemplação, como a matéria com respeito à forma ou, como também se
exprime Plotino, como o indeterminado com respeito à determinação formal.
Mais ainda, voltando-se para o espírito e
contemplando-o, a alma, “através do próprio espírito”, vê o bem isto é, o Uno,
torna-se “conforme ao bem” e entra na “posse do bem”.
Em ultima analise, o fundamento primeiro da
realidade da alma reside justamente nesse seu está ligada ao Uno por meio do
espírito.
Características
essências e papel fundamental da alma no sistema plotiniano
Mas, qual é a característica especifica da alma
e a sua razão de ser, e em que se diferencia do espírito do qual, no entanto, é
“imagem e simulacro”?
A característica essencial do espírito consisti
no pensar (e eis porque, lembremo-nos, Plotino escolheu o termo Nous, que
significa justamente inteligência e pensamento, para designá-lo.) Daqui sua
dualidade (já que o pensamento é sempre pensamento do ser) e mesmo sua
multiplicidade (já que o ser é uma multiplicidade de idéias): dualidade e
multiplicidade que, pôr outro lado, e pelas razões já vistas, coincidem com a
unidade (o espírito é, essencialmente Uno - muitos). O uno, diz Plotino, se
quer pensar deve-se fazer espírito, uma vez que o Uno como tal, pelas razões
acima expostas, não pode pensar. Ora, também a alma pensa, ao menos na medida
em que mira e contempla o princípio que há gerou, vale dizer, o espírito; mas a
sua essência não consiste no pensar (do contrario não se distinguiria do
espírito), mas sim em produzir e dar a vida a todas as outras coisas que
existem (ou seja, todas as coisas sensíveis), em ordená-las e governa-las.
Ora, deve-se notar que esse “olhar” da alma, as
coisas que vieram depois dela, esse “ordenar”, “reger”, “comandar” coincidem
com o produzir, gerar e dar vida a essas mesmas coisas. A alma, como já
menciona,os, é a casa produtora primigênia, o principio criador e vivificador
de todas as coisas.
Concluído, podemos dizer que, como o Uno devia
torna-se espírito para pensar, assim devia torna-se alma para gerar todas as
coisas do mundo visível. A alma constituí o momento extremo no processo de
expansão da infinita potencia do Uno, a hipóstase cosmagônica que coincide com
o momento no qual, com ultimo dom de s, o incorpóreo gera o corpóreo,
manifestando-se na dimensão de sensível.
Com efeito, não se pode esquecer que as
hipóstases que sucedem ao Uno são, num certo sentido, o próprio Uno, na medida
em que esse é a fonte e a potência de tudo. Mas, noutro sentido, não são o Uno,
mas diferenciações da potencia do Uno, nas quais o novo que surge não destrói o
antigo, mas flui exatamente da permanência do antigo.
A
alma e a sua posição intermediária
Do que foi dito torna-se clara a significação
da posição intermediária que Plotino confere à alma. Ela é a ultima deusa, ou
seja, a ultima das realidades inteligíveis e, portanto, é a realidade que
confirma com o sensível e é, mais ainda, a causa que produz o sensível.
A alma tem, por assim dizer, “duas faces”,
orientadas numa e noutra direção.
Isso significa, note-se bem, que a natureza da
alma seja algo misto de corpo e incorpóreo. Com efeito, Plotino devolve todo o
esforço para repelir qualquer concepção que, de qualquer maneira, ligue a
natureza da alma a natureza do corpóreo. Não somente ele recusa a concepção
extrema do estoicismo, mas igualmente a concepção pitagorica da alma como
harmonia e mesmo a concepção aristotélica e, portanto, possui duas faces
porque, no gerar do corpo, a gozar de todas as prerrogativas do incorpóreo,
“acontece-lhe” ter comercio com o corpóreo pôr ela mesma produzido e, em
conseqüência, acontece-lhe ter algumas características do corpóreo, mas não no
modo pelo qual essas características são próprias do mesmo corpóreo.
Expliquemos
melhor esse ponto de notável importância. A alma, produzindo o sensível e
entrando em comercio com o sensível, embora não sendo originalmente e
primeiramente divisível, “torna-se divisível nos corpos”. Isso significa que,
quando os corpos são divididos, acontece que também a alma, que está neles, é
dividida: não porem, a maneira com que os corpos são divididos, mas, sim,
permanecendo na sua inteireza em cada uma das partes, ou seja, sem cair da
unidade do seu ser. Em suma, o torna-se divisível da alma não significa o seu
romper-se em partes sucessivamente separadas uma da outra, como acontece com os
corpos, mas o entrar inteira em todas as divisibilidade do corpo dividido, já
que ela não tem grandeza de modo que, no fim, a divisibilidade permanece
prerrogativa dos corpos, ao passo que a alma fica com a capacidade de entrar em
todas as partes.
Nesse sentido, pode-se dizer que a alma é
divisa-e-indivisa, una-multipla enquanto principio que produz, rege e governa o
mundo sensível, com sua unidade múltipla e divisa ela dá a vida a todas as
coisas com a sua unidade indivisível, reúne-se e governa. A alma é toa em todas
as partes e em todas as partes idênticas. A alma é, assim, uno-e muitos, ou
seja unidade e pluralidade, enquanto o principio primeiro é exclusivamente Uno,
o espírito é uno - muitos, e os corpos são exclusivamente muitos.
Pluralidade da alma
A questão da
unidade e da multiplicidade próprias da alma, da qual acabamos de falar,
mostra-se ainda mais complexa se a considerarmos por outro ângulo. Com efeito,
Plotino fala de uma multiplicidade da alma não somente no sentido que podemos
chamar horizontal, mas também no sentido vertical, hierárquico. O nosso
filosofo admite uma gradação hierárquica verdadeira e em sentido próprio no
âmbito da Psyché. A característica do uno - muitos, que vimos ser própria do
espírito, difere portanto, também nesse caso, da característica do uno-e-muitos
própria da alma. No espírito, cada idéia é todo o espírito (vice-versa) porque,
se assim não fosse, o espírito se apresentaria diminuído e empobrecido nas
idéias singulares. Pôr isso, no mundo do espírito e do ser não há hierarquia,
ao passo que na esfera da alma surge também essa multiplicidade hierárquica.
Os estudiosos
diverge bastante ao individual essa hierarquia de almas, dada a extre,a
variedade e mobilidade da linguagem plotiniana a esse respeito. Todavia, não
obstante essa prolivocidade da linguagem da Enéadas com respeito a alma, que
algumas vezes frisa a equivocidade, parece que a hierarquia das almas, ou
melhor, dentro do âmbito da alma, a qual Plotino refere-se, seja a seguinte.
a)
em primeiro lugar está a alma
suprema, a alma universal, ou seja, a alma na sua inteireza e pureza: essa é a
alma considerada como pura hipóstase do mundo inteligível, em união estreita
com o espírito do qual procede, e fora das declarações com o mundo sensível.
b)
Existe, em seguida, a alma do
todo, que é a alma do mundo e do universo sensível, que põe, rege e governa o
universo. A alma do universo acaba tendo assim uma relação exata do corpóreo,
mas não “desce” do corpóreo. Permanecendo na esfera do inteligível, diz
Plotino, ela se reveste do corpóreo, ou melhor, é o corpo que a ela se prende
sendo pôr ela irradiado, enquanto ela fica na esfera superior, sem ser de modo
algum afetada pelo corpo.
c)
Finalmente, há as almas
particulares, que não criam , mas animam os corpos singulares, ou seja, as
almas das estrelas e as almas dos homens e dos seres vivos particulares as
quais (especialmente as dos homens e as dos viventes terrestres) “descem” nos
corpos e, portanto, tem com os corpos relações mais estreitas do que a alma do
universo, da primeira alma derivam as outras, seja a do universo seja as almas
singulares, pôr conseguinte, essas ultimas são da mesma natureza que a alma do
universo e se diferenciam, como já dissemos, pela menor ou maior proximidade
comos corpos ou, para usar termos que explicaremos mas adiante, pelo maior ou
menor grau de contemplação (o apego ao corpo e a descida no corpo pôr causa da
alma são tanto maiores quanto mais arrefece a contemplação do espírito).
Alma, physis e logos
A
“natureza”, para Plotino, representa a fimbria extrema do mundo do incorpóreo e
é o quanto de inteligível se reflete na matéria, representando o limite extremo
no qual terminamos os seres verdadeiros.
Evidentemente, a natureza concebida dessa
maneira na o é mera atividade produtora irracional, mas, ao contrario, é
atividade produtora acompanhada da razão, Aristóteles havia mostrado na forma,
no eidos e no logos, uma das significações da physis; Plotino retoma essa
concepção e a leva as suas conseqüências extremas: a physis é eidos e logos, ou
seja “forma racional”, ou melhor, é logos ou forma racional que produz outro
logos, isto é, outra forma racional; ao invés, o eidos que é incluído na
matéria está doravante desvitalizado e, portanto, não é mais capaz de produzir
outra coisa. Em resumo, a natureza é logos que fornece as formas à matéria
sensível.
Compreende-se que Plotino, nesse contexto,
chegue a atribuir a própria physis uma “contemplação”. No entanto, já sabemos
que a physis deriva de uma contemplação (da alma). Mas é essa mesma
contemplação, na medida em que é forma racional e vida e, mais ainda,
justamente enquanto contemplação, é criadora, ou seja,. Na medida em que é
visão de formas e produtora de formas na matéria.
Também a natureza, como as realidades
inteligíveis, contemplando produz.
A
processão do sensível a partir do inteligível, a significação e o valor do
cosmos físico
Como e por que existe o universo físico? Por
que a realidade não termina com o mundo do incorpóreo e existe em outro mundo?
Comos urgiu o sensível, quais são as suas
características estruturais, sua significação e valor?
Esses são os problemas fundamentais de toda a
ontologia e de toda a metafísica. Mas eles adquirem um relevo particularmente
notável no contexto da especulação plotiniana, em virtude do caráter dedutivo,
que procede de cima para baixo, adotado pelo nosso filosofo.
No fundo, considerando-se bem, esses problemas
se inserem profundamente no problema geral ao qual aludimos no inicio: por que
o Uno não permaneceu Uno e por que do Uno derivaram também os muitos?
Mais ainda. Esses problemas constituem apenas a
formulação do aspecto mais delicado e, num certo sentido, mas dramático do
problema geral: como e por que do Uno incorpóreo derivou, alem do múltiplo
incorpóreo, também o múltiplo corpóreo?
A
processão da matéria do mundo sensível e as suas características
Dissemos que o elemento característico do mundo
corpóreo e, justamente, a matéria sensível; digamos porem, logo, que a atenção
deve voltar-se para o adjetivo e não para o substantivo. Com efeito,também no
mundo do incorpóreo existe uma “matéria”, mas é uma matéria puramente
inteligível. Vimos com a atividade ou potencia que deriva, do Uno não formam
imediatamente a segunda hipóstase, ou seja o espírito, mas sim algo que se pode
chamar de indeterminado ou de informe (um pensamento indeterminado e informe)
que se determina e se torna no ético ou mundo das formas, contemplado o próprio
Uno e sendo fecundado por ele. A potencia que deriva do uno é, portanto, como
uma matéria indefinida,que se define somente voltando-se para o Uno. Algo
análogo vimos igualmente a propósito da alma.
O resultado da atividade do espírito não é
imediatamente a alma, para ser alma deve voltar-se para o espírito, em face do
qual é como a matéria diante da forma, o indeterminado diante do determinado.
Mas a matéria inteligível tem característica própria
do inteligível, vem a ser, a simplicidade, a imutabilidade, e a eternidade, ao
passe que a sensível revela característica opostas. Por que isso sucede?
Plotino nos oferece uma primeira resposta utilizando os conceitos de “exemplar”
e “imagem” (modelo e copia). A característica de todo o tipo de matéria é o ser
indefinida, indeterminada, limitada. A matéria sensível é a imagem da inteligível,
enquanto imagem ou copia, afasta-se do ser do original e é, portanto, mais
indeterminada e, portanto, entregue ao negativo e ao mal.
Mas isto não basta inda para dar razão da
radical diferença entre a matéria inteligível (modelo) e a sensível (imagem e
simulacro da outra), uma vez que também no mundo inteligível toda hipótese é
copia ou simulacro da precedente e, no entanto, mantém a mesma natureza da
precedente, na medida em que deriva dela.
Também a matéria deriva de causas que a
precedem e, por conseguinte, do inteligível,e não é algo que se contraponha ao inteligível
desde a eternidade (como em Platão). A solução para os nossos problemas
deve,pois, ser procurada no modo segundo o qual ela deriva da precedente e no
porque ela não consiga constituir uma hipóstase ulterior: somente assim poderá
o compreender as razões pelas quais, com o surgir da matéria sensível, o ser se
perde no vir-a-ser.
No entanto, resulta claramente que a matéria é
deduzida por Plotino de causas anteriores.
A matéria sensível deriva da sua causa como
possibilidade ultima ou seja, como a fase extrema do processo no qual o impulso
para criar e a força de produzir se enfraquecem até esgotar-se completamente.
A matéria sensível torna-se, assim, esgotamento
total e, portanto, privação extrema da potencia do Uno e, por conseguinte, do próprio
Uno ou, em outros termos, privação do bem (que coincide com o Uno). Nesse
sentido, ele torna-se mal (note-se que o mal não é entendido como força
negativa oposta a positiva, mas como falta e privação do positivo).
É, portanto, compreensível que Plotino tenha
podido definir sem mais a matéria como não-ser; essa expressão não pretende
indicar o nada,. Ou seja, o não existente, mas , como não-ser; essa expressão
não pretende indicar nada, ou seja, o não existente, mas, como plotino
expressamente, o “outro ser”,. Com efeito, sendo a matéria inteligível ser,
para distinguir-se da inteligível, a sensível deve ser diversa do ser (ou não
ser aquele ser que é próprio da matéria inteligível).
Em resumo, a matéria não é anda que é próprio
do mundo do ser, do espírito e da própria alma e, em geral, do inteligível.
Plotino procura determinar razões dessa falta
de espessura ontológica, própria da matéria.
Ela é produzida pela alma, não pela alma
suprema, fixada na contemplação, mas pela fimbria ultima da alma do universo,
na qual a contemplação se enfraquece, pelo menos na medida em que alma se volta
mais para si do que para o espírito.
Finalmente Plotino procura aprofundar a razão
da natureza diferente da matéria com respeito as realidades que a precedem, com
seu conceito típico de contemplação. A alma superior contempla, e dessa
contemplação brota a força criadora da alma cósmica. Ora, essa força criadora
não é, na realidade, mais do que contemplação enfraquecida; uma contemplação
que é homogênea com respeito às da alma superior, mas sempre mais diminuída
quanto a intensidade, tanto que “nessa diminuição quase desvanece”.
Assim a matéria, produto dessa atividade que é
contemplação enfraquecida, não tem mais força para voltar-se para a que a gerou
e, por sua vez, contemplar, tanto assim que compete a alma sustenta-la, por
assim dizer, e , portanto, ordena-la, informa-la e, de alguma maneira, mante-la
suspensa do ser.
As
formas e o desenho racional do mundo, sua gênese e relação com a matéria
O mundo sensível
é constituído, na sua totalidade como nas suas partes, de matéria e forma. Mas,
diferentemente da matéria inteligível, que é força ou potencia que busca
perenemente a sua forma e que perenemente e, de fato, a possui e nela se atua,
a matéria sensível não é capacidade positiva de receber a forma, mas somente
possibilidade inerte de refleti-la, sem ser verdadeiramente informada e
vivificada.
Em suma, a material sensível é tal que é
incapaz de constitui com a forma uma verdadeira unidade.
Por esse motivo, não se pode dizer que a forme
entre verdadeiramente na matéria, mas somente “a modo de mentira”, ou seja,
superficialmente e quase aparentemente, como um objeto que se reflete num
espelho.
O que até agora dissemos permite compreender
plenamente a dupla atividade com a qual a alma cria o mundo físico.
a) em primeiro lugar, ela põe a matéria
que é como que a extremidade do circulo de luz que se apaga e torna-se
obscuridade,
b) depois dá forma a essa matéria, como
que espancando as trevas e recuperando - as para a luz. Naturalmente, as duas
operações não são cronologicamente distintas, mas só logicamente. A primeira
ação da alma deriva do extremo enfraquecer-se da “contemplação”, a segunda do
último esforço, por assim dizer, da contemplação.
Com isso indicamos a origem da forma que
reverbera no mundo sensível: ela é o quanto de espírito passa através da alma
suprema contemplante a alma criadora. Em outros termos: as idéias que constituem
como sabemos o ser e o espírito, são pensadas e contempladas pela alma com
formas e, depois, descem ao mundo físico como determinação racional, como logos
ou desenho racional do mundo, como diz Plotino com terminologia tomado do
estoicismo, mas que, no seu conteúdo conceptual, transforma em sentido
platônico.
Nesse sentido, pode-se compreender a conclusão
a que chega Plotino, ou seja, a de que no universo sensível não somente a forma
tem um nítido predomínio, mas de que, mo limite, o cosmo resolve-se quase
inteiramente na forma.
Gênese
da temporalidade
A passagem do mundo inteligível ao mundo sensível
comporta a passagem do ser ao vir-a-ser, vale dizer, da eternidade à
temporalidade, como nasce à temporalidade?
Também, m a esse problema Plotino procurou dar
uma resposta explicita. A temporalidade nasce por obra da alma conjuntamente
com a produção desse nosso universo. Mais ainda, a temporalidade coincide com a
própria atividade com a qual a alma produz o mundo físico, ou seja, com a
atividade que produz alguma cosia diferente do espírito e do ser, que estão na
dimensão do eterno.
Como já
sabemos, a eternidade é, para Plotino, vida sem mudança, vida simultaneamente
presente na sua integralidade. A vida do espírito é vida eterna justamente
porque é presença da totalidade do ser que, sempre, é tudo no todo.
Ora, a alma, por uma espécie de temeridade e
desejo de pertencer a si mesma ou, como se exprime Plotino com outra imagem,
por desejo de transferir para um diferente a visão lá do alto, não contente de
ver o todo simultaneamente, sai da nidade, avança e se distende, por assim
dizer, num prolongamento e numa serie de atos que se sucedem um ao outro, e
assim um mundo sensível feito, na verdade, segundo a imagem do inteligível, mas
que fatalmente se move e põe na sucessão do antes e do depois o que lá, ao invés,
estava junto à era simultâneo. Dessa maneira, a alma se temporiza a si mesma e,
portanto, o seu produto. O mundo está estruturalmente no tempo, assim como está
na alma e para alma.
Quando se diz a característica típica da alma,
para Plotino, é a vida, entende-se extremamente a vida na dimensão da temporalidade,
diferentemente da vida do espírito que é na dimensão da eternidade.
E a vida como temporalidade é a vida que flui
em momentos sucessivos ou, se refere, que cria no fluido, ou fluido cria os
momentos sucessivos e que, portanto, está sempre voltada para os momentos
ulteriores e sempre carregada com momentos já transcorridos.
Com essas notáveis amplificações, Plotino
repropõe a definição do tempo como imagem do eterno.
Três corolários merecem ser postos em relevo a propósito
dessa concepção do vir-a-ser.
Em primeiro lugar, o vir-a-ser perde todo o caráter
dramático e catastrófico, na medida em que nascer e morrer torna-se apenas um
jogo móvel da alma que reflete as suas formas como num espelho: trata-se –
convém notar – num jogo que tudo se conserva e nada parece já que, com diz
expressamente Plotino, nada pode ser riscado do ser.
Em segundo lugar, o próprio universo, e não
somente as suas duas artes, não parecerão, assim como não nasceu do nada num determinado
momento. A gênese do mundo é terna, ou melhor, é ab eterno, no sentido de que a
alma ab aeterno se temporaliza querendo ab aeterno fazer viver no diverso o que
ela contemplou no espírito, segundo a lei necessária da processão.
Em terceiro lugar, sendo a alma a que gera e
sustenta o mundo e todas as suas partes e sendo ela, na sua essência, vida,
tudo é vivo, mesmo o que não tem aparência de vida, a terra e todos os
elementos: em suma “não há que não viva”.
Gênese do corpóreo e da espacialidade e da sua natureza
Como o
tempo depende da atividade da alma, assim apropria corporeidade (e
consequentemente, a espacialdiade) dependem da forma, da atividade da forma
sobre a matéria.
Com efeito,
a matéria, concebida da maneira como vimos acima, não é nem massa nem extensão
e, portanto, não é corporeidade. O corpo, em geral, nasce da união da forma com
a matéria, e é o resultado da qualidade unida à matéria. Em particular, Plotino
especifica que a corporeidade enquanto tal é forma, é logos, é razão seminal
produtiva, que gera o corpo concreto em união com a matéria. Essa é uma tese
muito interessante porque representa a tentativa extrema de fazer depender do
logos e da forma qualquer determinação positiva. Já os estóicos definiam o
corpo como matéria qualificada (matéria mais qualidade), mas entendiam
qualidade como imanente a matéria num contexto materialista, ao passo que
Plotino transpõe a doutrina para um contexto espiritualista, no qual a matéria
é reflexo da forma. O corpo é portanto, em ultima analise, uma criação da
forma.
A positividade do mundo corpóreo
Essa
concepção da gênese e do mundo físico poderia, por si, da origem a duas avaliações
contrapostas do mesmo mundo. Na medida em que se trata d um mundo que, de
qualquer maneira, tem haver com uma matéria que é privado do bem, ou seja, má
poder-se-ia concluir que o mundo nasceu sob o signo do mal. Ao invés, na medida
em que se sublinha o aspecto da matéria como sobra da forma e a derivação a
partir da alma e, portanto, do espírito, ou, em ultima analise, do mundo em
geral, deve-se concluir que nasceu sob o signo do bem.
Essa segunda conclusão, conquanto não livre de
aporias, é a que Plotino deduz dos seus princípios e defende profiadamente
contra a oposta tese gnóstica.
Deve-se, no entanto, observar como a antiga
intuição platônica, segundo a qual a alma não está no mundo, mas o mundo na
alma, são levadas por Plotino as suas extremas conseqüências: a alma não
somente produz o cosmo, mas o abraça, enfeixa, recolhe no próprio seio.
É evidente que, retomadas nesse contexto, as
doutrinas estóicas da simpatia universal e da providencia recebem nova significação
espiritualistas, com amplificações inéditas.
A própria doutrina de Demiurgo e muitas
questões levantadas pêlos platônicos mudam a sua significação desde este ponto
de vista
Num certo sentido, o Demiurgo é a alma, pois é
a verdadeira causa produtora do mundo; mas a alma não produz somente enquanto
vida e geradora de vida (o que é a sua característica particular), mas enquanto
possuem em si as formas que derivam das idéias do espírito.
Nesse sentido, o espírito também é Demiurgo. Em
ultima instância, o próprio Uno entra em questão, se é verdade que o cosmo
físico devia nascer para que fosse realizada toda a potencia do Uno. Mas em
geral, no entanto, como veremos, o conceito de “contemplação criadora deveria
transformar completamente a problemática do Demiurgo.
A polemica antignostica reforçou mais ainda a
convicção de Plotino acerca da positividade dos cosmo físico. Para o nosso
filosofo, quem julga o mundo como mal nascido, comete um erro fundamental de
avaliação, olhando segundo uma ótica errada: o mundo não deve ser visto nem
julagdo como modelo, ou seja, como espírito, mas como copia que imita o modelo.
Julgado como copia, vem a ser, como imagem, então é necessário concluir que ele
é a mais bela imagem do original. De resto, Plotino diz mesmo que o mundo sensível
“existe para o espírito e olha para o alto”.
Mas ainda, não somente ele afirma que o mundo
olha para Deus, mas que, em certo sentido, o próprio mundo está
A espiritualização do cosmos é levada
verdadeiramente por Plotino até os limites do acosmismo: a matéria é reduzida à
atividade da alma enfraquecida, o corpo a forma, o mundo a um jogo móvel de
forma que se movem como num espelho, à força é suspensa do espírito e o
espírito do Uno.
Origens, natureza e destino do homem
O homem anteriormente a sua descida no mundo corpóreo
O homem não nasce no momento em que surge o
mundo corpóreo, mas preexiste a ele, ainda que noutra condição, ou seja, em
estado de alma pura.
Entretanto, Plotino diz com toda clareza que
antes do nascimento nós “estávamos lá em cima”, no mundo do ser e do espírito,
éramos “outros homens”, e mais ainda “éramos deuses”, participantes da vida
espiritual do todo, sem as sisões e as diferenças próprias da vida terrena.
Plotino explica, ademais, que as nossas almas
estavam na origem associadas à Alma universal.
É necessário observar que, nessa fase, a alma
conhece intuitivamente e simultaneamente a totalidade das cosias que estão no
Espírito e, através do Espírito, o próprio bem nesse contexto isto é, na
unidade com o espírito e com o bem, a alma tem também consciência de si.
Mas, por que as almas dos homens descem aos
corpos?
Esse é o antigo problema que preocupa Platão e
ao qual ele não soube dar uma solução unívoca, oscilando entre teses opostas: a
de uma necessita ontológica e a de uma “culpa” Plotino reto essas teses opostas
e tenta conciliá-las, com base nas conquistas da sua metafísica.
A descida aos corpos
Observe-se desde logo que a razão principal da
descida das almas particulares aos corpos individuais deve ser buscada, em
primeiro lugar, na própria lei que regula a “processão” de todas as cosias do
Uno. Segundo essa lei, portanto, a alma universal deve desenvolver todas as
suas possibilidades, e, assim deve produzir não só o universo em geral, através
da alma do cosmos, mas também todos os viventes particulares, através das almas
particulares, entre os quais está o homem; e tudo isso acontece, ou melhor, deve
acontecer, para que a infinita potencia do Uno possa alcançar o seu total
desenvolvimento e para que possa ser garantida a perfeição do todo, como vimos.
Em suma: como a alma universal não pode permanecer como puro pensamento, pois,
se assim fosse, não se teria distingui do Espírito, assim as almas particulares
não puderam permanecer como espíritos particulares, mas foram obrigadas a
assumir, para distinguir-se dos puros espíritos, a função que lhes é peculiar,
que consiste em ordenar, reger e governar as coisas sensíveis.
Ora, é evidente que, assim sendo, a “descida”
da alma aos corpos não é voluntária, enquanto não depende de uma escolha nem de
uma deliberação da própria alma e, portanto, não pode constituir uma “culpa”. Antes
Plotino admite até mesmo que, se a alma consegue fugir rapidamente do corpo,
não só recebe dano pelo fato de ter assumido um corpo, mas um enriquecimento,
seja pôr ter contribuído, como já disse, para atuação das potencialidades do
universo, seja pôr ter sofrido a própria experiência do mal (que consiste no
impacto com o corpóreo) que a faz adquirir consciências, mas clara do bem e lhe
permite desenvolver todas a suas virtudes.
Todavia, ao mesmo tempo em que diz isso,
Plotino afirma também que a tese que, para a alma, era melhor permanecer junto
ao espírito e que o descer, pôr enquanto necessário, é um “piro” e, portanto,
um mal e uma culpa (uma espécie de audácia ou de temeridade).
Voltamos assim às incertezas de Platão?
Plotino aceita ter superado a dificuldade ao
distinguir duas espécies de culpa próprias da alma.
a) A primeira espécie de culpa
consciente, em geral, na própria "descida”, a qual, como vimos, na medida
em que é inelutável, é involuntária, e o “castigo” que cabe a essa culpa é
própria experiência dolorosa da descida aos corpos. Como esse mesmo tipo de
culpa, ao seja, como essa descuida necessária, coincide a “vontade de
apartasse” ao o “retirar-se na individualidade”, da qual fala Plotino, dado que
justamente nisso consiste o fato de se tornar almas de corpos individuais e
particulares.
b) A segunda espécie de culpa diz
respeito, ao invés, a alma que já tomou corpo e consiste, justamente, no
excesso de cuidado com próprio corpo, com tudo o que daí se segue, ou seja, o
afastar-se da própria origem para pôr-se ao serviço das coisas exteriores e,
portanto, o esquecer e se mesma.
Não é, pois, a primeira espécie de
culpa, mas a segunda a que constitui o grande mal da alma, ou seja, o mal que a
leva a esquecer de se, da sua origem e, portanto, de Deus (a torna digna de
particulares castigos).
O homem e as relações entre a alma e o
corpo
Não impede, diz o filósofos, que se chama “eu”,
ou seja, homem, também um conjunto de alma e corpo, mais permanece certo que “o
homem verdadeiro” é só a alma, antes “a alma separada” e, como veremos também
aqui em baixo “separável”.
Na verdade, em vários ponto das ENÈADAS se
afiram que em nós existem como três homens e não simplesmente o homem interior
e o homem empírico. Essa tese, que a primeira vista pode chocar, porta-se muito
menos paradoxal não só se comparada com os parâmetros da antologia Plotiniana,
mas também se ligada à tradição médio-platonica da qual até o neo-historico
Marco Aurélio tirou a sua tríplice distinção do homem, em Nous, psyché e corpo.
Esta é, substancialmente, a tripartição da qual
Plotino parte, transformando-a segundo os moldes da sua antologia e dando-lhe,
pôr assim dizer, uma inusitada espessura metafísica, graças à teoria da
processão.
Essa tripartição (sobre a qual insistimos pôr
que é absolutamente fundamental para a compreensão da ética da ascética e da mística
do nosso filosofo). É proposta também em termo de alma, do sentido de que os
três homens podemos ser considerados como três almas, ou melhor, três potencias
da alma, dado que o primeiro homem não é mais que a alma considerada na sua
trangêcia com o espírito (trangêcia que, estruturalmente, nunca deixa de
existir); o segundo homem é a alma ou pensamento discursivo, que está no meio
entre o inteligível e o sensível, e o terceiro homem é a alma que vivifica o
corpo terreno.
Aquilo que de maneira própria deve ser
considerado o nosso eu é a alma e o homem intermediário (o pensamento
discursivo), que é capaz seja de tender para o melhor (o espírito), seja o pior
(o sensível o terceiro homem).
Para Plotino, o homem só é compreensível da dinâmica
desses três momentos.
Permanece verdadeiro, para ele, que o homem é
uma alma que se serve de um corpo. Todavia, pôr um lado, o corpo não é mais que
“queda da alma”, e a alma como razão governante do corpo não só permanece
superior ao corpo mesmo quando está no corpo, mas, mantém estavelmente um laço
com o absoluto, uma relação que nunca desaparece.
Decidimos o nosso destino segundo deixemos
predominar a parte sensível ou transcendamos o sensível mantendo-nos próximos a
parte superior.
A
atividade e as funções da alma
Como todas as atividades que parecem pertencer
aos corpos em geral são, na realidade, próprias da alma que as produz, assim
todas as atividades que pareceriam pertencer ao corpo particular estão, na
realidade, sob a regência direta da alma que as governa, ou, até mesmo, são
atividades próprias e peculiares dessa mesma alma e note-se que, em todos os
níveis, a alma é concebida como impassível e como capaz só de agir, porque o
incorpóreo não pode ser afetado, em qualquer modo que seja pelo corpóreo.
Como se explica, então, a sensação? Não supõe
esta, não só uma ação de corpos sobre corpos, mais também uma ação dos corpos
sobre a alma, e, portanto uma padecer da alma?
A resposta de Plotino é uma engenhosa. Ele
distingui, fundamentalmente, dois aspecto da sensação: a sensação “exterior”,
que não é mais que a afecção e a marca que os corpos produzem sobre os corpos
(e que se explica em função da lei geral da simpatia que liga reciprocamente
todas as cosias do universo entre si e com o todo), e a percepção sensitiva a
verdadeira que é ao invés uma só alma, um ato cognoscitivo da alma um ato que
capta factualmente a impressão e afecção incorpórea.
Portanto, quando sentimos, pôr um lado, nosso
corpo sofre uma fecção pôr parte de outro corpo, ao contrario, a nossa alma
entra em ação, não só no sentido de que (não lhe foge) a facção corpórea, mais
também no sentido de que ela (julga) essas afecção. Antes, para Plotino, na
impressão senhorial que se produz no nosso corpo, à alma ver (embora no nível
mais fraca e mais débil) o rastro de forma inteligíveis e, portanto, a própria
sensação é, para alma, uma forma de contemplação do inteligível no sensível.
Para nosso filósofo, a sensação é possível
enquanto a alma inferior que sente é conexa com a alma superior que tem a
percepção dos inteligíveis puros (a anamnese ou reminiscência platônica, para
Plotino, é um originaria visão intuitiva ou uma posse dos inteligíveis puros),
e o sentir da alma inferior captar as formas sensíveis como que enradiando-as
com uma luz que emana dela e que lhe vem, justamente, daquela originaria posse
que a alma superior tem das formas puras.
Plotino atribui a alma também à faculdade da
imaginação e da memória. Não é corpo pôr si, nem o corpo considerado a união
com a alma, que é capaz de recordar, mais só a alma; o corpo é ao contrario, um
impedimento a um obstáculo para a recordação e, portanto, é mais causa de
esquecimento.
Isso é evidente, diz Plotino, sobretudo no caso
da recordação e da memória de doutrina cientifica, no qual, obviamente o corpo
não tem qualquer função.
Memória e recordação tem porem, uma relação
estrutural, com a temporalidade, com o vir primeiro e depois, e a alma, na
medida em que tem relação com o corpóreo, tem também relação com a
temporalidade ao invés, tudo o que permanece na identidade e na igualdade do
eterno não tem memória, mas participa da simultâneo presença da totalidade. Deus
e o espírito não tem, portanto, memória, mas só alma possui tal atividade
justamente na medida em que, como se disse, tem relação com a temporalidade.
Como já acenamos, a reminiscência (a anamnese)
é estruturalmente diversa das memória. A reminiscência consiste num conservar
permanentemente na alma o que é de algum modo, com natural a própria ala,
enquanto lhe deriva do seu originário e estrutural contacto com as raridades superior,
A nossa alma superior, de fato, é eternamente ligada ao espírito.
Consequentemente, uma alem a alma tende a
perder as recordações ligadas ao corpóreo e ao temporal, enquanto no aquém a
anamnese das cosias sopeiros não pode nunca obscurecer-se inteiramente.
A mais elevada atividade cognoscitiva da alam
consiste, portanto, no pensamento que capta das idéias e o espírito. Acima
desta, porém, a alma possui também a capacidade, meta-nacional de captar o próprio
Uno e “unificar-se” com ele. Mas disso falaremos adiante.
Também o sentimento, as paixões, as volições e
tudo o que a eles esta ligadas às interpretados pôr Plotino assim como as exações,
as percepções e a memória, como atividade da alma. De fato, para o nosso
filosofo, é o corpo, ou seja, o animal, que sofre, enquanto a alma permanece,
propriamente, imune à afecção, age sob o corpo dando-se conta das paixões do
corpo interessando-se pôr elas consequentemente.
O
homem e a sua liberdade
Vimos que o Uno, o princípio inpricipiado, é
essencialmente liberdade, volição é causa de si. O Uno que a si mesmo (e, portanto,
põe a si mesmo), porque é bem e como bem no absoluto a realidade (absoluta) coincide
com a volição do bem (absoluto) ou com o querer ser como o bem (absoluto).
Se é assim, também a realidade do homem e da
alma deve ser buscada nessa mesma direção, e as mesmas firmações de sabor intelectualistico
deve ser lidas nessa ótica.
Contudo, deve-se observar que o próprio espírito
só é livre graças ao bem.
Ora, com a liberdade do espírito consiste em
pôr-se sobre a trilha do bem, assim, analogamente, a liberdade da alam consiste
em pôr sua vez, impor a própria força operacional na trilha do espírito e em
agir consequentemente, segundos os modos que a levam a unir-se ao espírito, e, através
do espírito, ao próprio bem.
A liberdade, pro conseqüência, segundo Plotino,
não pode consistir, na atividade pratica, ou seja, no exterior, mas na virtude,
sobretudo nas mais elevadas virtudes, de modo particular no pensamento e, especialmente,
na contemplação e, no limite, como veremos, no êxtase.
A liberdade e a vontade soberana, portanto,
para Plotino, consiste no material.
Mas entre o Uno e a realidade que se auto põe
como absoluto bem, o espírito é livre no sentido, de que o seu ato coincide com
o querer o bem enquanto é ligado absolutamente são bem, a alma, enfim, é
liberdade na medida em que, através do próprio espírito tende ao bem.
Os
destinos escatológicos da alma e o fim supremo do homem
Mas, que significa, para a nossa alma, querer e
alcançar o bem?
E, querendo e buscando o bem, quando e como a
alma o alcança?
Ao responder a esses problemas, Plotino em
parte retoma e em parte supera as tradicionais concepções da grecidade.
Deve-se observar que Plotino quer se as remeta
as concepções tradicionais órficopitagoricas, quer projete a que lhe é mais
peculiar e que estrai do ambiente alexandrino, particularmente de Filo, acentua
a separação do corpóreo e do imaterial como fim perspícuo a alcançar (de resto,
para ele a liberdade reside no imaterial).
Dada esta sua radicadissima convicção (que se
insere no sistema geral, e, particularmente, na concepção da matéria como
privação de bem), é evidente que Plotino devia rejeitar firmemente o dogma
cristão da ressurreição da carne, que ele considera expressão de uma forma de
materialismo.
Não resta, portanto, para Plotino, senão a
alternativa da metempsicose, que ele retoma e reafirma, remetendo-se largamente
a Platão, e recaindo, portanto, em todas as aporias que essa crença comporta.
Deve-se, porém, observar que crença segundo a
qual as almas dos homens podem reencarnar-se em corpos de animais ou até em
plantas (com base no tipo de vida levado na precedente existência), no contexto
da ontologia Plotiniana explica-se melhor do que no contexto da ontologia
platônica, dado que a própria alma cria, vivifica e governa todo mundo físico e
é principio de toda a forma de vida. Em todo caso, melhor do que Platão,
Plotino reafirma que o destino das almas que viveram num mundo melhor consiste
em reunificar-se com Deus.
Mas a novidade de Plotino, com relação à
tradição grega clássica, consiste em ter projetado a possibilidade de realizar
a separação do sensível e do corpóreo e de realizar plenamente a união com o
Uno, já nesta vida, mediante a unificação místico com o absoluto.
Essa doutrina, de algum modo, dava razão às
instancias da ética grega, que
O que foi o supremo ideal da era precedente é,
assim, rompido e posto a no seu caráter ilusório. Só com um firme apoio na transcendência
é possível o que em vão à era helenística tinha buscado na dimensão da
imanência.
A
reforma da tábua de valores
A tradição espiritualista grega procedente
atribuíra uma significação aos valores físicos na medida em que pudesse ajudar
de algum modo, os valores da alma, que era os valores da excelência; Plotino
não atribuiu, mas qualquer significação aos valores físicos (“envergonhava-se
de está num corpo”, disse Porfírio, e, doente, recusava os cuidados que a
medicina de então prescrevia) aos próprios valores da alma atribuía uma
significação instrumental, vale dizer, cultivou-os na media em que, através
deles, julgou possível atingir os valores religiosos, ou seja, a assimilação a
Deus na nova significação da qual falaremos.
Os
caminhos da volta ao absoluto
É evidente que, nesse novo contexto, deviam ser
retrasados de maneira nova os caminhos que levam a alcançar os valores supremos
e o absoluto.
Em primeiro lugar, plotino redimensiona a
doutrina da virtude. As “virtudes civis” tinham sido à base da ética clássica e
sobre elas Platão fundará a sua republica; para Plotino, elas são um ponto de
partida, mas de chegada. Justiça, sabedoria, fortaleza e temperança, entendidas
no sentido “político”, ou seja, “cívico” são capazes somente de fixar limites e
medidas ou aos desejos e de eliminar as falsas opiniões, sendo, portanto
somente uma pegada do bem supremo. Elas são uma condição para semelhança com Deus,
mas a assilação a Deus é algo superior a elas.
As virtudes entendidas como “purificações” são
superiores a “virtudes civis”. Com efeito, enquanto as virtudes civis se
limitam a modera as paixões, as virtudes no sentido de purificação nos livram
das paixões pôr conseguinte, permite a alma unir-se ao que lhe é afim, ou seja,
ao espírito uma vez que tal união só pode realizar-se pelo apelo do sensível e,
mesmo, a própria alma (das suas apartes inferiores).
Uma vez que a alma atinge o espírito e o
contempla, nessa contemplação a imitação do espírito as virtudes, pôr assim
dizer, se transfiguram. No espírito, as “virtudes” são como que os modelos dos
quais as virtudes da alma são imagem e cópia. Com efeito, nesse nível superior
a sabedoria torna-se contato da alma com o espírito, a justiça, o voltar-se do
ato da alma para o espírito, a temperança, o íntimo aderir da alma ao espírito
e a fortaleza, o perseverar impassível da alma no espírito impassível, sem sofrer
qualquer paixão do corpo. Em resumo: nesse nível as virtudes-paradgma são,
justamente, o modo de viver da alma que, desapegada das coisas sensíveis e
tendo reentrado totalmente em si, vive em absoluta pureza a própria vida dos
deuses, ou seja, tornando semelhante ao espírito, vive a mesma vida do espírito.
Mas, as virtudes não são o único caminho que
leva a união com o divino. Com efeito, apoiando-se em Platão, Plotino valoriza
igualmente a erótica e a dialética que são embora o titulo diverso e em medida
diferente. Modos distintos com os quais a alma se desapega.
A erótica Plotiniana é, como a Platônica,
ligada estreitamente à beleza. Ora, sabemos que a beleza é, fundamentalmente, a
forma em todos os níveis. Também a beleza sensível é forma: é, exatamente, o
transluzir da forma inteligível no sensível. Na medida em que o belo é forma, é
conatural a alma e, portanto, é capaz de fazer reentrar em si a alma e de
reconduzir-la a lembrança das suas origens divinas; e a “transfixão” que o
amante experimenta ao ver o belo, não é mais do que recordação metafísica das próprias
origens espirituais.
Como para Platão, também para Plotino há uma
“escada da beleza” que é necessário subir para alcançar o absoluto. Do belo sensível
é preciso subir aos belos costumes, as obras da virtude e a beleza da própria
alma purificada. Com efeito, a alma, purificada, torna-se idéia e, portanto,
ela mesma beleza, realizando a identificação com aquele que é fonte de toda a
beleza. Pôr esse caminho, afinal, a alma parte do belo e, transcendendo o belo sensível
pôr meio das mesmas energias que o belo desperta nela, progride através dos
vários degraus do incorpóreo até tornar-se ela mesma perfeitamente bela e
identificar-se com o belo absoluto (o espírito) e com o próprio principio do
belo (o bem, o Uno).
A reunificação com o Uno
Os caminhos
de retorno ao Uno são, substancialmente, um percorrer em sentido contrário a
“processão” metafísica a partir do Uno. E sendo que as sucessivas hipóstase derivam
do Uno pôr uma espécie de “diferenciação” e de alteridade ontológica, as quais
se acrescentam no homem de natureza moral, é evidente que o retornar ao Uno
deverá consistir em tirar toda a diferença e alteridade, ou seja numa espécie
de simplificação.
Deve-se observar que isso é possível porque a alteridade
não está na hipóstase do Uno, mas sim no que vem depois do Uno e, particularmente,
Despojar-se de toda alteridade significa no
fundo, para o homem, reentrar em si mesmo, na própria alma. Significa
desapegar-se, portanto, do corpóreo, do corpo e de tudo que lhe é inerente.
Além disso, significa desapegar-se da parte afetiva da alam e de tudo o que a
ela está ligado. Em suma significa purificar a alma de tudo o que lhe é
estranho.
Além disso, a alma deve despojar-se também da
palavra, no discurso e da razão descortiça, de tudo o que lhe causa impedimento
ou, de qualquer maneira, separa-a do Uno, até mesmo de conhecimento reflexo de
o próprio ser.
A frase que resume no modo mais nítido o
processo de purificação total da alma que quer unir-se ao Uno assim reza:
“Despoja-te de tudo”
Essa é, sem duvida, a concepção mais radical
que se pode encontrar em toda a historia do pensamento antigo.
Na verdade, as filosofias da era helenística,
pregavam a necessidade de despojar-se de todas as coisas exteriores de Pirro
tinha mesmo procurado “despojar o homem”, quer dizer liberta-lo de tudo o que
não é essencial. Mas nenhuma dessa filosofias avançou tão longe.
Ao contraio, como vimos, na tentativa de salvar
o individuo como verdadeiro absoluto caíram todos no individualismo, plotino
quer que os homens despojem mesmo daquilo que as filosofias helenísticas
queriam conserva-lhe pôr considerar que lhe pertencia quanto tal.
Para ele, só assim é possível alcançar o fim
supremo e, portanto, a felicidade.
Pode-se objetar que, pôr esse caminho Plotino
chega a reduzir a zero não só o mundo exterior, mas também, o eu e, assim, a
anular o próprio homem e que, pôr conseguinte, a sua felicidade acaba pôr ser a
felicidade do perder-se no nada.
Para Plotino, porém, o oposto é que é
verdadeiro.
Despojar-se de todas as cosias, não significa,
de modo algum, empobrecer-se ou mesmo anular-se a si mesmo, mas, ao contrario,
significa fazer-se maior enchendo-se de Deus e, portanto, do toso, ou seja, do
infinito.
Despojar-se de tudo significa o retorno da alam
a si mesma e o encontrar o vinculo metafísico que a une não somente ao ser e ao
espírito (ou seja, a segunda hipótese), mas o próprio Uno (ou seja, a primeira hipótese).
A alma caminharia justamente para o não ser
justamente não dipojando-se das coisas, mas apegando-se a elas, já que as
coisas são feitas de maneira e, portanto, de não-ser (mas é evidente que a alma
mesmo descendo pôr esse plano inclinado, não pode atingir o absoluto não-ser
pelas razões metafísicas que conhecemos). Inversamente, despojando-se de todas
as cosias chega a si mesma, chega ao ser (segunda hipótese) e, depois,
transcende do ser até alcançar o não ser na significação do que está acima do
ser, a saber. O Uno.
Portanto, longe de conduzir uma perda no anda,
o depojar-se de todas as cosas leva a alma não somente a plenitude do ser, mas
ao uno que está acima do ser, e a tocar o absoluto.
O êxtase
Esse tocar o Uno é denominada, “estase”.
Ora, é evidente que o Êxtase não pode ser uma
forma de ciência nem de conhecimento racional ou intelectual. Ao invés disso, é
um contemplar que implica um contato intimo (sem distinção de reflexa de
sujeito e objeto) com o contemplado, uma co-presença, uma união, uma unificação
total com ele, como foi fito.
Também a esse respeito pouco interpretes caíram
em erro e confundiram o êxtase com o estado de inconsciência ou com algo de
irracional ou de sub-racional.
Na verdade o eixo plotiniano não é um estado de
consciência, mas um estado de inconsciência, não é algo irracional ou sub-racional
e sim hiper-racional. No êxtase a alma se vê toda em Deus, por assim dizer, se
vê plena pelo Uno e, na medida do possível, a ele complemente assimilada. Portanto,
seu contemplar estático é um particular na substancia do Uno, com todas as
características a ele peculiares, que são o além do ser e, portanto, o está
acima do pensamento, da razão e da consciência, é indubitável que a doutrina do
êxtase tenha sido divulgada em Alexandria sobre tudo pôr Filo, mas é
indubitável também Plotino tenha repetidas vezes feito à experiência total do
êxtase. Deve-se observar, todavia que, enquanto Filo, em espírito bíblico
entendia o êxtase como graça, ou seja, como “Dom gratuito” de Deus em harmonia
perfeita com o conceito bíblico de Deus que faz ao homem Dom dele mesmo e das
cosias pôr ele criadas, Plotino reinsere essa doutrina numa visão que se mantém
presa as categorias do espírito grego: deus não faz dom dele mesmo ao homem e
os homens podem subir até ele e a ele unir-se pela sua força natural.
Natureza e
originalidade da metafísica Plotiniana
A metafísica plotiniana não é uma
forma de emanantismo oriental, nem, de panteísmo, nem de criacionismo.
Plotino fala de emanação somente nas suas
imagens, ao passo que a sua doutrina é uma negação desse conceito.
Com efeito, convêm notar o seguinte:
a) As hipóteses subseqüentes ao Uno não
são de maneira alguma um fluxo da substância do Uno.
b) Em conseqüência, não são a substância
despontecializada do Uno.
c) Finalmente elas não derivam do Uno
pôr mera necessidade natural.
O Uno é transcendente em dois níveis: a) é
transcendente (como todo o mundo incorpóreo) com respeito ao mundo corpóreo e,
b) é transcendente no âmbito da própria esfera do incorpóreo, com respeito à
alma e o espírito.
Além disso, quando Plotino afirma que todas as
coisas estão em Deus, pretende dizer, como já antes notamos, que não coincide
com a substancia de Deus, mas que derivam e dependem, todas elas, da sua
potência.
Finalmente, não é verdade que a derivação da
potência do Uno seja uma espécie de “ação natural”, mas, a processão implica uma
complexidade tal de elementos que não se pode de modo algum falar de mera “ação
natural”.
Evidentemente, a metafísica plotiniana
diferencia-se nitidamente também da metafísica criacionista pelas seguintes
razões.
a) Plotino não admite que em nenhuma
caso que a processão de todas as cosias do Uno possa ser fruto de livre escolha
e decisão. Posto o Uno, as coisas seguem-se “pôr necessidade”.
b)
Por conseguinte, permanece totalmente desconhecido para Plotino o
aspecto de contingência estrutural das cosias que derivam de Deus, aspecto que,
ao invés, é fundamental na metafísica criacionista (no contexto da ontologia de
nosso filosofo, fala de produção ex nihilo suit et subjcti não tem nenhum
sentido).
c)
Enfim, Deus é o bem, mas não é o amor que dá gratuitamente, pôr “graça”.
Erraria, porém, quem pensasse que o
criacionismo (que ele conhecia pôr meio da filosofia judaica e pôr meio de
Amônio) não tenha de modo algum influenciado a metafísica plotiniana. Com efeito,
essa metafísica mão se reduz a nenhuma das três posições examinadas acima, no
entanto, contem alguns elementos de cada uma delas, verdadeiro unicum da
historia da filosofia.
Recapitulemos os elementos
essenciais desse unicum plotiniano.
A liberdade do Uno
a “processão” e o “retorno”
A pergunta metafísica por excelência,
para os gregos, era uma só: porque existem os muitos? “Ou seja” porque do Uno
derivou um múltiplo? Com Plotino os problemas de fundo da metafísica tornam-se
dois:
1) por que há o Uno?
2)
Por que e como do Uno derivam os muitos?
O primeiro dos dois problemas é
inteiramente novo, dado que no contexto da ontologia clássica era de tudo
impensável. Se o Uno é principio, pergunta-se por que há o Uno significa
perguntar-se porque há princípio, ou seja, o principio do principio: pergunta
que Aristóteles tinha rejeitado como absurda. Com efeito, no contexto da sua
doutrina de substancia= ousiologia), resposta aos problemas se anularia num
processo ao infinito (porque do principio indicaria uma pergunta ulterior sob o
porquê do porque do principio, e assim em seguida, ao infinito).
Plotino propõe a questão sob o
influxo de certa problemática discutida pelos cristãos e, em particular, pelo
“discurso temerário” dos agnósticos. A sua resposta, até em tão não formulada
por nenhum pensador, deve ser enumerada, como já dissemos, entre os vértices da
metafísica ocidental. A causa ou a razão do Uno é a liberdade. O Uno é porque é
atividade livre auto produtora, livre causa sui, liberdade auto criadora. O uno
é liberdade no sentido que é o que quer ser ou, em outros termos, quer ser o
que é. E o que ele quer ser é o que pode ser de mais elevado, o absoluto
positivo, o bem absoluto. O oitavo tratado da sexta eneada desenvolve, todo
ele, de maneira mais clara e aprofundada, esses conceitos inteiramente novos.
O porquê do Uno é, pois, a
liberdade.
Ora, é evidente que essa solução do
primeiro problema, deriva radicalmente condicionar igualmente a solução do
segundo, permitindo uma série de novos avanços.
Dois porque, pois, do uno derivam os
muitos?
Plotino destingui no Uno “e depois
nas hipóstase sucessivas” duas formas de atividade:
a) Atividade própria do Uno e b)
atividade que brota do Uno. A) a primeira é e permanece no Uno, b) a outra
procede para fora do Uno. É evidente que as duas atividades são estruturalmente
ligadas de modo que, posta a primeira (atividade do), dela, como conseqüência,
brota a segunda (atividade a partir do).
Ora, a) atividade do Uno não pode
coincidir com a liberdade, pelas razões que acima vimos. Ao invés, b) a
atividade que procede a partir do Uno segue-se por necessidade. Mas,
certamente, não se trata de uma necessidade “física”, “natural”, ou seja, sega.
Em todo o caso, não se trata de uma necessidade que se possa interpretar em
função da categorias tradicionais da cultura grega. Trata-se, com feito, de uma
necessidade que é, sob determinado ponto de vista querida, livremente querida
ou, melhor, de uma necessidade consecutiva a um ato de liberdade. O Uno põe
livremente a si mesmo, e pondo-se livremente a si, produz necessariamente as outras
coisas, que não podem não derivar dele, que se autopôs livremente como potência
produtora infinita.
É claro, por conseguinte, que a
atividade a partir do Uno é diferente da atividade criadora do Deus livre que
“quer” as coisas e assim as produz (do nada) como “Dom” gratuito, mas é
igualmente claro que as coisas derivam a partir do Uno porque o uno quis
livremente ser o que é. E se pode parecer excessiva (ou, ao menos paradoxal) a
conclusão deduzida por algum estudioso de que a criação das coisas por parte do
Uno é tão livre quanto o é o próprio Uno, permanece, todavia verdadeiro que a
raiz as processão (necessária) a parti do Uno é a própria liberdade (a
atividade do Uno).
Mais isso não é tudo.
A gênese do múltiplo a partir do Uno
não se explica unicamente com a atividade a partir do Uno de modo linear, quase
mecânico. A atividade que deriva a partir do Uno (e das outras hipostases) pode
produzir o espírito (ou a subseqüente hipóstases e a própria realidade física),
somente se volta para contemplar. A teoria, a “contemplação criadora” sob a
qual apenas recentemente os estudiosos chamaram atenção, torna-se um dos eixos
de sustentação da metafísica plotiniana, se não mesmo o emblema dessa metafísica.
Com efeito, em um dos seus escritos mais madurecidos, Plotino põe uma equação
exata entre “contemplação” e “criação”. O criar é contemplar, u, se prefere, o
efeito do contemplar.
A contemplação criadora é a característica
comum a todas as hipóstases, a chave que abre o segredo da processão a partir
do Uno e também do retorno ao Uno dado que, como vimos o próprio êxtase é
contemplação.
A luz desse conceito (que, como foi
notado, não é mais cristãos) os esquemas tradicionais nos quais se tentou
encerrar o sistema plotiniano, mostra-se verdadeiramente inadequados.
A “contemplação
criadora”
Um estudiosos italiano escrever que
Plotino tira da sombra a contemplação até fazer dela um hipóstase: a hipóstase
criadora é a única verdadeira: na contemplação o Demiurgo místico se submerge.
A afirmação acima, levada
voluntariamente ao limite do paradoxo, contem a verdade fundamental, que, por
muito tempo escapara aos estudiosos.
De resto, o próprio Plotino, começando
o oitavo tratado da terceira Enéadas, no qual justamente ilustra o conceito de
theoria que revoluciona todos os esquemas tradicionais. Utiliza um tom de
brincadeira para abrandar o choque da nova doutrina, que deveria atingir o
leitor com muita violência.
Mas logo o tom de brincadeira é
deixado de lado e Plotino se concentra em demonstrar os dois pontos extremos da
doutrina que dizem respeito à natureza e a atividade pratica.
Com efeito, que a inteligência
contempla o no e alma contemple a inteligência (e, através dela, o próprio Uno)
não poderia parecer paradoxal, mas, ao contrario, deveria parecer de si muito
clara dada à estrutura dessas hipóstase. Ao contrario, poderiam parecer no todo
ou em parte estranhas a contemplação justamente a) a natureza e b) a práxis, a
ação. Ora, para o nosso filosofo, a natureza , ação e práxis são, também elas,
contemplação e produto de contemplação.
É evidente que (e com isso chegamos
ao segundo ponto), assim como a natureza contempla e produz enquanto a alma,
assim nas almas particulares contemplação e ação devem ser estruturalmente
articuladas. Não somente a ação depende da contemplação e é tanto mais rica
quanto mais rica é a contemplação (tese obvia no contexto do sistema
plotiniano), mas ela tende igualmente a retornar na contemplação, ainda no seu
grau, mas a práxis, mesmo sem sabê-lo, tende a uma contemplação.
A verdadeira força criadora não é,
pois, mas é a theoria, a contemplação. Assim como as almas, no Fedro platônico,
tem uma riqueza interior proporcionada à visão daquilo que contemplaram na
“planície da verdade”, assim, em medida incomparavelmente maior, essa intuição
platônica, levada as ultimas conseqüências, torna-se Plotino com conceito metafísico
geral. A atividade espiritual do “ver norma em criar”.
O Uno é uma espécie de
autocontemplação; a inteligência é contemplação do Uno e, de si, planificada
pelo Uno; a alma é contemplação da inteligência e, de si, planificada pela
inteligência; a natureza, orla extrema da alma, é contemplação de si; a própria
não é senão um grau mais débil de contemplação.
E a contemplação é silencio.
Toda realidade, portanto, é
“contemplação e silêncio”.
Nesse contexto, o “retorno” ao Uno
por meio do êxtase não e outra coisa senão ao retorno do Uno pro meio da
contemplação. Recordemos que Êxtase é um termo que ocorre somente uma vez nas
Enéadas e que o termo mais apropriado seria “simplificação”, que, como vimos, é
eliminação da alteridade, separação de tudo o que é terreno e múltiplo,
contemplação na qual justamente se fundem o sujeito contemplante e o objeto
contemplado: é a famosa fuga do “só para o Só”.
Eis a vida dos deuses e dos homens
terrenos e bem-aventurados:
Separação da outras coisas aqui
debaixo, vida a qual nada das coisas daqui causa prazer, fuga do só para o Só.
De um
lado, portanto, o conceito de liberdade como o “por que do Uno”, lança uma luz
inteiramente nova sob a necessidade da processão e, de outro, o conceito de
“contemplação” como conceito cosmogônico, vem a ser, o conceito de contemplação
criadora, ajudam-nos a redescobrir a face verdadeira da metafísica de Plotino
(uma das mais altas e complexas criações do gênio humano), cuja riqueza
certamente ainda não foi inteiramente desvelada, uma vez que ela é como uma
face para usar uma imagem cara ao próprio plotino, resplendentes de inúmeras
faces no seu interior. E a história do pensamento que veio depois fixou-se,
pelo menos até agora, apenas em algumas delas.
OS DESENVOLVIMENTOS DO
NEOLATONISMO E O FIM DA FILOSOFIA ANTIGA GREGO-PAGÃ
Visão geral das escolas, expoentes
e tendências do neoplatonismo.
Observações metodológicas referentes à reconstrução
da história do neoplatonismo
Por
numerosas razões, é difícil escrever a historia do neoplatonismo
pós-plotiniano.
Em
primeiro lugar, a s contribuições dos pensadores individuais tendem a tornar-se
nível especulativo, sempre mais analíticas e, frequentemente, a complicar o
sistema plotiniano, sobre tudo com a multiplicação, até o inverossímil, das
hipóstases.
Em
segundo lugar, o gênero literário do comentário tenda a fundir-se sempre mais,
no qual a feição acima ressaltada é exagerada e leva aos limites de uma
dispersão verdadeira e efetiva.
Em
terceiro lugar, sobretudo a partir de Jâmbico, o neoplatonismo abraça a causa
do politeísmo, incorporando uma série de motivos próprios da religião pagã, com
a agravante ulterior derivada ao fato de se pretender fazer corresponder esse
ou aquele Deus, essa ou aquela deusa, às várias hipóstases; ou ainda, em geral,
o mundo das hipóstases tende a tornar-se não só o mundo da totalidade das
realidades metafísicas, mas um verdadeiro Olimpo, e mesmo um panteão.
Em
quarto lugar, enquanto de uma parte os filósofos pagão fazem do neoplatonismo,
o fundamento teórico do politeísmo, os filósofos cristãos usam os mesmos
princípios do neoplatonismo para repensar a nova religião em nível teórico, com
resultados bastante priginais.
Existem
também, pois, um neoplatonismo cristão: o de Orígenes, de procedência amoniana,
o de Mario Vitorino, de procedência porfirina, o de santo Agostinho, de procedência
plotiniana, além de porfirina, e do seu pseudo-Dionísio, de procedência procliana.
Ora. No
plano da síntese, não podem ser retomadas as peculiaridades que referimos nos
três primeiros pontos, que encontram lugar apenas em monografias amplas e
especializadas. Além disso, numa historia da filosofia antiga assim como a
entendemos (de resto, em acordo com a maioria dos estudiosos), ou seja, como
historia do pensamento filósofo greco-romano que não acolheu ou não conheceu a
mensagem cristã, não pode ter lugar à exposição da elaboração filosófica do
cristianismo feita sobre o fundamento das categorias neoplatôncias. Tal
elaboração, com efeito, como já tivemos ocasião de afirmá-lo, constitui a
premissa necessária para a história da filosofia medieval, não a coroa do
pensamento clássico e helenístico.
Reservando-nos
voltar eventualmente em outra obra a percorrer o duplo itinerário, pagão e
cristão, do neoplatonismo, não nos resta aqui senão a possibilidade de traçar
um quadro geral, que permitia acabar sem dispersão as varias escolas, os vários
expoentes e as várias, tendências do neoplatonismo pagão. Também as citações
dos autores, nessa seção, ficarão necessariamente restritas, já que os textos mais
belos desde filosofo (se excetuamos os elementos de teologia de Proclo)
encontra-se, sobretudo no terreno da análise.
Mas,
pelas razões explicadas, não é possível aqui penetrar nos meandros dessas análises.
Escolas e
expoentes do neoplatonismo
Um
esquema interpretativo bem-sucedido da historia do neoplatonismo (que foi por
muito tempo acolhido pelos manuais e deles ainda não desapareceu de todo,
conquanto já largamente superados pelos estudos especializados), foi proposto por
Zeller.
Segundo
o estudioso alemão, as escolas neoplatôncias seriam três, e a elas
correspondiam outras tendências diferentes: a primeira seria a de Plotino, caracterizada
pelo predomínio do interesse filosófico; a segunda seria a de Jamblico (escola
Seríaca) na qual prevaleceria o interesse religioso, a terceira seria a escola
de Atenas, caracterizada pela fusão das outras duas. Mas, numa contribuição que
remota a 1910 e depois em outros trabalhos, Praechter denunciou a inadequação
desse esquema e o caráter em grande parte apriorístico da sua gênese; com
feito, é evidente que Zeller, inspirou-se no esquema hegeliano da tese antítese
síntese. Plotino corresponderia em certo sentido à tese, jamblico e a sua
escola a antítese e a escola de Atenas à síntese. Praechter demonstrou como, de
fato, a realidade é bastante mais complexa. Ele distingui seis escolas e três tendências.
No seu
esquema, ele não inclui acertadamente, pelas razões acima aplicadas, as escolas
e tendências neoplatônico-cristãs, mas também não inclui a escola de Amônio.
Saca, o que é muito discutido e, a nosso parecer, não justificável, uma vez que
a gestão do neoplatonismo nasceu, sem duvida justamente no círculo de Amônio.
Completando,
assim as conclusões de Praechter (que estudos sucessivos substancialmente
confirmaram) podemos traçar o seguinte quadro das escolas neoplatônica:
1) Primeira escola da Alexandrina, fundada
por Amônio Sacas provavelmente em torno de 200.C e que floresceu no curso da
primeira meada do século III. Como já sabemos, os membros mais famosos dessa
escola foram Herênio, Origens, o pagão, e plotino, alem do celebre literato
Longino (provavelmente também Origenes, o cristão foi ouvinte de Amônio).
2) A escola fundada po Plotino em Roma em
244 e que floresceu na segunda metade do século III. Os membros que mais se distinguiram
nessa escola Amélio e Porfírio (esse ultimo desenvolveu sua atividade igualmente
na Sicília).
3) Escola de Síria fundada por Jamblico
pouco depois de 300 e que floresceu no curso dos primeiros decênios do IV
século. Entre os expoentes dessas escolas estão Teodoro e Asina, Sópratos de
Ampaméia e Dexipo.
4) Escola de Pérgamo, fundada por Edésio, discípulo
de Jamblico, pouco depois da morte desse ultimo. Expoente dessas escolas foram
máximo, Prisco, Eusébio de Minda, Eunápio, o imperador Juliano chamado o
Apóstata e seu colaborador salústio.
A dissolução dessa escola coincide com a morte de
Juliano (363).
5) Escola de Atenas fundada por Plutarco de
Atenas entre os fins do século IV e começos do século V e consolidada por
Siliano. Proclo foi seu expoente mais insigne. Outros representantes foram
Domnino, Isidoro, Damáscio, Simplício e Prisciano. A escola foi fechada como conseqüência
de um edito de Justiniano em 529.
6) Segunda escola de Alexandria, entre cujo
os expoentes devem ser enumerados Hipatia, Sinésio de Cirene, Hierócles de
Alexandria, Hermias, Amônio, filho de Filopono. Asclépio, Olimpiodorom, Elias,
David e Estevão de Alexandria. Essa escola nasce, ou melhor, renasceu
contemporaneamente a escola de Atenas e sobreviveu até inícios do século VII.
7) Um circulo a parte. Senão uma escola
propriamente dita, é constituído pelos assim chamados neoplatonicos do ocidente
latino do século IV e V, entre os quais contam, sobretudo, eruditos como
Calcídio, Mario Vitoriano, Marciano capela e Boécio, esses pensadores foram
quase todos cristãos ou então se converteram ao cristianismo; toda via eles não
realizaram (excetuando-se Vitoriano e Boécio) consistentes tentativas de
síntese entre platonismo e cristianismo e tiveram importância (em certos casos
bem grande) como intermediários entre a antiguidade e a idade média.
As varias
tendências das escolas neoplatônica
As tendências
das escolas neoplatôncias, segundo Praechter, poderiam ser reduzidas a três:
1) Uma tendência especulativa;
2) uma tendência teúrgica;
3) Uma tendência sobre tudo erudita.
A
tendência especulativa seria representada pela escola de Plotino, pela escola
de Síria e pela escola de Atenas; a tendência teúrgica se encontraria sobre
tudo na escola de Pergamo; a tendência erudita, por sua vez, encontraria na
escola Alexandria e nos neoplatonicos do ocidente latino. A esse propósito, o
mérito principal de Praechter consiste sobretudo em ter revalorizado o papel de
Jamblico e em ter mostrado, sobretudo, em ter valorizado o papel de Jamblico e
em ter mostrado que, justamente com esse filosofo acontece a reviravolta
essencial na historia segundo neoplatonismo. As características de Zelle
julgava típico de Jamblico e da escola da Síria, a saber, a redução dos
interesses especulativos e filosóficos ao interesse mistico-teúrgicos são ao
contrario, segundo Praechter, típicos da escola de Pergamo.
Com
efeito, os documentos que a nós chegaram não dão razão a Zelle e, sim,
amplamente a Praechter, com as pesquisas mais recentes demonstram-no
claramente.
Segundo
nosso parecer, no entanto, o esquema deve ser modificado. Com efeito, entre a
escola de Plotino de um lado, e a de Jamblico e a do Proclo de outro, subsiste
uma diferença bastante nítida. Na medida em que somente na primeira prevalece a
pura especulação, ao passado, que nas outras duas os interesses
religiosos-teurgicos se juntam, como veremos, aos interesse especulativos. Será
oportuno distingue não apenas três, mas quatro tendências:
1)Plotino
com a sua escola (como tal vez Amônio com o seu circulo) representa a tendência
metafísica especulativa pura, com efeito, ele mantém bem distinta a sua
filosofia seja da religião “positiva” seja das práticas “teóricas”, e mesmo a
sua religiosidade teve um caráter marcamente especulativo é bem conhecida a sua
resposta a Amélio, que o convidara para uma cerimônia religiosa: “cabe aos
deuses vir ter comigo; não a min a eles”. Também os seguidores imediato de
Plotino, embora admitindo algumas atenuações, não lograram transformar senão de
modo parcial e não substancialmente, como veremos, a orientação do mestre.
2)A
escola de Jâmbico e a de Atenas representam, ao invés, como que uma síntese-
ou, se preferimos uma combinação- entre a tendência especulativa e a
mistica-religiosa-teurgica: neoplatonismo, além de especulação filosófica,
tornou-se fundação e defesa apologética da religião politeísta chegando mesmo a
incorpora a teurgia como complemento e até mesmo como coroa da filosofia.
1) A escola de Pergamo representa um momento
de acentuada involução religioso-teurgica e de clara tendência da componente filosófica
especulativa.
2) Nos Neoplatonicos alexandrinos bem como
nos do ocidente latinos prevaleceu, enfim, a componente erudita e a construção metafísica
foi notavelmente simplificada e, em alguns casos, reduzida no sentido medios-platonicos.
Examinaremos
agora mais especificadamente cada uma dessas escolas e as respectivas tendências.
A segunda escola neoplatônica de Alexandria
Característica da
ultima fase do neoplatonismo Alexandrino
Assim nós chamamos à atenção sobre
oportunidade de se distingui as duas escolas neoplatônica de Alexandria ou,
pelo menos, duas fases distintas do neoplatonismo naquela cidade. Com efeito,
depois da morte de Amônio (pela metade do século III) seu circulo se dispersou:
Plotino fundou sua própria escola em Roma; Origenes, o pagão, e Herenio, como
aprece não formaram pólos particulares de atração.
Em Alexandria não havia condições para um
desenvolvimento especulativo ulterior do neoplatonismo nas direções segundo as
quais vimos moverem-se as outras escolas neoplatônica. Naquela cidade, com
efeito, o pensamento cristão lançaram rapidamente raízes profundas e, como
antes recordamos a escola catequista como Clemente e como Origenes, o cristão,
tinha começado a elaborar um sistema filsofico-teologico propriamente dito com
um cunho cristão e destinar-se a tornar-se alternativa vencedora.
Além disso, deve-se notar que em
Alexandria desde muito tempo, já se formaram e consolidaram o espírito das
ciências particulares e da pesquisa Empirico-Erudita nessa direção, portanto,
podiam refugiar-se os espíritos sedentos e saber, no momento no qual se
dissolvia a antiga visão do mundo e uma nova visão nascia e, por conseguinte,
não era fácil escolher na desorientação geral.
Essas condições históricas explicam as características
particulares que o neoplatonismo assume nos séculos V VI d.C.
A) de um lado encontramos alguns
pensadores que recebem idéias cristãs e mesmo se convertem ao cristianismo.
b) De outro, temos um grupo de pensadores e
estudiosos que parecem ter mais o gosto erudição do que o da especulação e que
se dedicaram de preferência ao comentário no qual exegese prevalece sobre a
reelaboração filosófica.
c) Tanto em uns quanto em outros,
encontra-se numa espécie de simplificação do neoplatonismo. Os primeiros se
redimensionam a especulação neoplatônica, de modo a fazer compatível com a
mensagem cristã u capaz, de alguma maneira, de receber instâncias cristãs. Mais
ainda, como há tempos já foi observado, alguns desses tendem, até a reconduzir
o platonismo a posições do platonismo médio ou em todo o caso, a simplificá-lo
o mais possível de resto, não por acaso justamente de dois representantes dessa
corrente nos vem os únicos testemunhos que possuímos sobre a doutrina sobre a
doutrina de Amônio Sacas: e essa doutrina note-se constituía justamente a forma
mais simples do neoplatonismo, já fecundado mesmo pelo criacionismo cristão. Da
sua parte, os comentadores orientaram-se a compreender os textos num sentido
que hoje chamaríamos tendencialmente historico-filsofico, em sentido mais
objetivo renunciado, como já indicamos, a muitas das superconstruções que se
encontra na escola de jâmbico e na era de Atenas.
d) Encontramos mesmo nos comentadores uma preferência
pelas obras aristotélicas. Considerando bem, isso implica uma escolha, num
certo sentido, de neutralidade exatamente no nível programático. Com efeito,
vimos como desde a sua origem a escola de Atenas já havia compreendido
Aristóteles como via de acesso a Platão e, portanto, de uma maneira em certo
sentido instrumental ou, se preferirmos, propedêutico-experimental. Portanto, a
leitura e o comentário de Aristóteles podiam ser tolerados ou mesmo utilizados
mesmo pelos cristãos. Assim se compreende que a escola de Alexandria tinha
podido sobreviver mesmo ao fechamento da escola de Atenas.
e) Os neoplatonicos alexandrinos tiveram,
desde o inicio, relações com a escola de Atenas: Hierócles foi discípulo de Plutarco
de Atenas, hermias foi ouvinte de Siriano, e Amônio freqüentou proclo. Mas tarde,
membros da escola de Atenas foram ouvintes de expoentes da escola de Alexandria;
por exemplo, Damáscio e Simplício ouviam Amônio.
No entanto, não o bastante essas
relações, as diferenças permaneceram bem nítidas, havendo até certa aversão
entre as duas escolas.
O ano 529 d.C, Justiniano proibiu aos
pagãos todo oficio publico e, portanto, manter escola e ensinar.
A sorte dos neoplatonicos da escola de Atenas
depois do edito de Justiniano
Nem Platão nem nenhum grego teria podido
qual fosse a “embarcação mais resistentes” e “qual a travessia segura através
do mar da vida”. Sob esse aspecto, a mensagem cristã se apresentava como a mais
desconcertante, mais radical e mais avançada nas questões ultimas; e justamente
por essa razão foi à vencedora.
Referindo-se evidentemente a passagem
platônica acima lida, diz santo Agostinho:
Ninguém [...] ninguém pode atravessa o
mar desse século se não é levado pela crus de cristo.
Justamente esse que se realiza sobre o
lenho da cruz, é a “terceira navegação”.
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