sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

FENOMENOLOGIA E HERMENÊUTICA CALENDÁRIO 2025

 






FEVEREIRO

13: Introdução ao curso. Contesto histórico e cultural na base do surgimento da fenomenologia.

20: Husserl e a sua escola (primeira parte).

27: Husserl e a sua escola (segunda parte). Primeira prova. 


MARÇO

6:   Fenomenologia alemã: realista, existencialista (Scheler, Jaspers)

13: Influência da fenomenologia em algumas correntes contemporânea: desconstrucionismo, estruturalismo. 

20: Fenomenologia francesa: Bergson

27: Fenomenologia francesa: Sartre. Segunda prova.


ABRIL

3: Nascimento da hermenêutica e método

10: Schleiermacher e o desenvolvimento da hermenêutica bíblica.

17: De Gunkel a Paul Ricoeur  

24: Hermenêutica e historicismo: Dilthey. Terceira prova. 


MAIO

8: A hermenêutica existencialista de Heidegger

15: Verdade e método de Gadamer

22: Hermenêutica e pós-moderno em Vattimo

29: Análise da hermenêutica filosófica na atualidade.


JUNHO

5: Quarta prova


quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Passagem da Concepção Mítica ao Pensamento Lógico

 





Smile, Comparação, Metáfora, Analogia


Síntese: Paolo Cugini


Xenofontes foi o primeiro a expressar a relatividade das qualidades: “se Deus não houvesse criado o louro mel, os figos pareceriam muito mais doces” (fr. 38); mais tarde, isso levara ao cepticismo em relação à percepção sensível (cf. infra, pp. 238 e ss.). Daí surgem também outros problemas, como o paradoxo do “monte” (= grande quantidade de): dois grãos já são “muitos”? Ou três? Ou então quatro? 

Uma certa ordem e uma certa possibilidade de orientação no domínio das qualidades são-nos dadas, antes de mais nada, na ordem natural das nossas percepções sensíveis: a vista distingue o claro e o escuro e as cores do vermelho ao violeta, e os outros sentidos fixam respectivamente os graus da escola correspondente. O espaço e o tempo tornaram-se acessíveis à nossa mente mediante os conceitos de “grande” e “pequeno”, e conseqüentemente, estabelecendo-se um sólido suporte sobre o qual podemos construir.

No domínio dos verbos, a dificuldade é maior. Entre as infinitas atividades possíveis, caracterizamos com verbos especiais somente algumas, típicas a amiúde recorrentes, e as inúmeras outras são, bem ou mal, indicadas com esses verbos. As múltiplas possibilidades de movimentos, ações, atitudes e estados, são colocados à força no esquema de uma classificação mais violenta e arbitrária do que aquela que estão sujeitas as qualidades ou as coisas. 

Assim exalta Safo (98. 6 e ss.) a amiga distante: “Arignota resplandece entre as mulheres lídias como a luz entre as estrelas” (cf., supra pp. 75-76). Em Homero já encontramos imagens como: Aquiles “resplandece” como o sol, o elmo como uma estrela, o escudo de Aquiles como a lua ou como o fogo do pastor, uma coisa é bela como uma estrela, e assim por diante. A comparação de safo distingue-se das outras porque não estabelece apenas um confronto entre a esplendida mulher e o astro, mas também entre ela e as outras mulheres no meio das quais vive.

Mais importante ainda é observar o valor originário e o caráter de necessidade que tem as metáforas em tudo o que diz respeito ao mundo do espírito. No grego, é diante dos nossos olhos que vemos formar-se a concepção “abstrata” de todas as coisas relativas ao espírito e à alma, de tal modo que podemos com exatidão seguir o desenvolvimento dessas denominações metafóricas. Originariamente, o espírito é concebido por analogia com os órgãos do corpo e suas funções: a vuxn (psykhe) é a respiração, o alento que mantém o homem vivo; o ovlros (thymos) é o órgão dos “movimentos” espirituais e o vous (nous), o espírito, na medida em que “vê” e “cria imagens”. O “saber” (eioevai) é um ter visto; o “conhecer” (yiywqkeiv) está em relação com o ver; o “compreender” (quvievai) com o sentir; o entender de alguma coisa (eriktaoqoai) está em relação com o conhecimento pratico. O processo, o método, o progresso do pensamento são representados pela imagem do “caminho”; mesmo antes essa imagem se ocultava em expressões como o “desenvolvimento” do discurso, “o andamento” do poema. Encontraremos com freqüência essas denominações metafóricas dos fenômenos espirituais nos estudos históricos que se seguem, pois nem mesmo o pensamento “abstrato” consegue libertar-se das metáforas e continua a mover-se apoiando nas muletas da analogia. Será interessante não só do lado em quando, o pensamento elege na tentativa de chegar a um conhecimento racional do mundo.

O pensamento racional procura representar um caráter, decompondo-o em propriedades e força diversas que também podem apresentar-se alhures; e já que distingue entre objeto e qualidade, entre matéria e força, nada lhe impede que atribua a homens diferentes uma “mesma” qualidade ou mesma força. A mente primitiva, que ainda desconhece essa distinção, recorre necessariamente às unidades intuitivas para salientar, através dos confrontos, dentro dos confins de uma figura característica, objetivando o conhecimento; não é apenas um confronto, mas pretende também designar, pelo menos na origem. Uma relação real, de tal modo que o homem encontra nessa ralação comum animal um suporte não só para seu próprio conhecimento mas também para sua própria existência.

Função semelhante à dos animais desempenham também, nos símiles homéricos, as forças elementares como a tempestade, a onda, bem em tais símiles o homem interpreta a si mesmo, baseando-se nas formas naturais fora dele. As descrições naturais, como as representações de animais, não são quadros paisagísticos; vento e intempérie, mar e rios, noite e nevoa, fogo e arvores não despertam o interesse do poeta pela vida deles em si. Mesmo eles são considerados como expoentes de forças elementares, que também podem agir no homem e que o homem experimenta, empenhando contra elas suas próprias forças. Já que a Ilíada fala da luta entre gregos e troianos e, portanto, de fatos que se desenvolvem entre homens e homens, não é de estranhar que a natureza apareça quase que exclusivamente nos símiles e raramente na narração, limitando-se a compor o pano de fundo para a ação épica.  

           Um grupo de símiles destaca-se decisivamente dos que até agora consideramos; são os chamados “exemplos míticos” é que encontramos nos discursos, ao passo que os símiles se encontram na narração. Enquanto os símiles, quando se referem a homens, servem para esclarecer o comportamento de terceiros, os exemplos míticos, ao contrario, servem para o auto conhecimento, seja quando se quer orientar a si mesmo ou a outro para o esclarecimento da própria situação. Quando, por exemplo, o velho Fênix narra a Aquiles a historia de Meleagro (Il., IX, 527-99), que tanto mal causara com sua ira e que por tanto tempo perseverara em sua indignação a ponto de perder todos os presentes que lhe foram oferecidos, isso é para que Aquiles nele se reconheça a si mesmo. Se nessas comparações são particularmente enfatizados o “valor” e a “norma”, isso não nos deve fazer crer o elemento moral neles ganha particular realce é porque os homens, em Homero, não se abandonam à contemplação mas são imediatamente ativos, e da reflexão sobre si mesmos, passam facilmente à defesa, à desculpa, à atitude de modéstia ou a expressão de uma exigência; e assim, do incitamento à reflexão passam à admoestação, ao encorajamento ou à consolação. Todavia, quando Penélope confronta sua dor com a de Aédone, apenas reconhece apropria situação a confronta com a situação semelhante da filha de Pandáreo, sem que isso nada tenha a ver com moral. Os símiles nascem das metáforas e, por isso, servem num primeiro momento, para esclarecer as atividades isoladas; porem, pelo menos aqueles que assumem como modelo o animal, pôr em evidencia as atitudes típicas de um herói. Os “exemplos míticos” vão ainda alem, na medida em que podem dar uma representação mais completa da atitude humana nas suas causas e conseqüências. Há, de fato, símiles que desempenham essa função mais ampla, como o símile em que o pranto de Penélope, comovida porque Odisseu, ainda por ela não reconhecido, lhe fala de seu marido, comparado à neve que derrete (Od., XIV, 205) ou quando a morte de Euforbo é comparada a sorte de uma oliveira, que, apesar de cuidadosamente protegida, é derrubada pela tempestade. Todavia, os exemplos míticos prestam-se, de modo mais simples e natural, a pôr em foco o destino humano e tornalo compreensível.

Esses exemplos míticos nascem da tendência a “situar” o próprio ou mediante uma comparação, para assim alcançar solidez e certeza; tendência que também esta na base das comparações com animais e que tampoucos a nós é estranha, embora busquemos orientar-nos baseado não mais no mito mas no fatos da experiência e por meio de paralelos históricos.

Como a comparação com animais, assim também a comparação mítica não é de inicio usada apenas com o objetivo de conhecimento, pois o homem sente estar ligado às personagens mítica\s também por laços reais. Não só os heróis constituem uma fase intermédia entre deuses e homens, fazendo com que as  estirpes e as famílias nobres neles reconheçam seus ancestrais: também muitas instituições se fazem remontar a eles, de modo que o homem se sente, ele próprio, parte viva desse mundo superior. Os mitos etiológicos renovam continuamente essa lembrança (cf. supra, p. 98), particularmente nas solenidades. 

Como na alta poesia, assim também na tragédia Ática e através do mito que o homem atinge o autoconhecimento. Se quisermos captar ao vivo o tipo particular de interação que se desenvolve entre o mito e o gradual descoberta que o homem faz do próprio eu, sem nos limitarmos a considera-lo como um processo grandioso de tempos remotos, será bom servimo-nos de um exemplo extraídos de épocas mais recentes. Pelas representações que Rembrandt nos da o antigo testamento, conseguimos entender sua vida, pois as velhas historias são revividas através de sua experiências individual e ele, por sua vez, adquire consciência de sua posição nas figuras do passado. Do mesmo modo os gregos descobriram o espírito, vendo-o projetado nos mitos. Assim esquilo, através do destino de Orestes, descobre o que é “ação” no verdadeiro sentido da palavra, e assim também é o primeiro a introduzi-lo no velho mito. Quanto mais humano se torna o eco, através do qual o homem compreende a si mesmo, tanto mais o homem se humaniza; quanto mais racional se torna o pensamento do homem, tanto mais decisivamente, o mito se solta dos laços do oculto. Sob dois aspectos particularmente , os símiles míticos de Homero preludiam a interpretação racional do mito. A reflexão sobre o próprio eu, para qual servem os mitos, é também, o mais das vezes, limitação do eu: a maioria das comparações ensinam o homem a reconhecer sua própria humanidade e sua própria limitação. Elas exortam ao conhecimento do eu, no sentido do mote delfico “conhece-te a ti mesmo”, e, portanto à medida, à ordem, à reflexão. A outra característica é que as figuras que servem de exemplo não são potencias demoníacas ou figuras fabulosas, e sim, personagens de claros contornos, que tem nome definido e são, por vezes, deuses mas, mais frequentemente, heróis do mito. Ligadas a um determinado ambiente e ordenadas numa certa genealogia, essas figuras aproximam-se (é exatamente essa a diferença característica entre o mito e a fabula) da historia e do mundo da experiência. A mitologia grega caracteriza-se pelo fato de temas fabulisticos tornaram-se parte de integrantes de tema. O mito distingue-se do que é empiricamente dado, na medida em que não oferece puros fatos, mas também revela o sentido e o valor dos acontecimentos, e o que é “projeto” w, portanto, “lido” nas coisas não parece como o resultado de uma interpretação humana (como tal será desmascarado pela idade iluminista subseqüente), mas apresenta-se como uma realidade em si valida e divina. É também por esse motivo que o mito, e não somente o mito dos “exemplos” homéricos, representa um caminho intermédio entre as “idéias fixas” da primitiva interpretação mágica do mundo e a problematicidade e a incerteza de interpretação histórico-empirica mais tardia.

Os destinos típicos dos mitos gregos foram mantidos vivos pelos poetas, e não só pelos poetas gregos, através de sempre novas transformações. A narrativa histórica de Tucidides, livre de todo elemento mítico, conta com um valor duradouro na medida em que “casos do gênero ou semelhantes” àqueles por ela descritos continuarem sempre também a ocorrer no futuro (1, 22).

Enquanto nas comparações de Simonides com animais revela-se a tendência par a sistematicidade, as imagens ora apontadas por nos possuem tendência contraria mais igualmente característica e importante: isto é, tentam captar o elemento individual. As qualidades opostas já não são subdivididas entre diversos portadores: pelo contrario, acham-se reunidas no individuo. Essa segunda tendência exaure-se depois que a tragédia revelou, alem do dissídio do sentimento, também o da ação, isto é, um aspecto mais profundo da problemática do mundo e do individuo; e exaure-se no sentido de que doravante se tenta captar o homem como individuo na contraditoriedade de todo o seu ser.

Foi necessário percorrer um longo e complicado caminho, com a ajuda de comparações, para encontrar resposta à pergunta: Quem é Sócrates? Se é relativamente simples estabelecermos uma comparação quando se trata de coisa designada com nome comum (quando nos perguntam, por exemplo, o que é um leão?), visto que aí, confrontando, não fazemos mais do que estabelecer puras e simples identidades, já o confronto que brota de uma questão relativa a um nome próprio acolhe, em si, temas que provem da esfera do verbo e do adjetivo: através da determinação comparativa das atividades isoladas (em que nos valemos necessariamente de metáforas de origem verbal) e de típicos modos de ser, chega-se, gradativamente, por meio de comparações e oposições expressas com adjetivos, à caracterização individual.

Um outro desdobramento tem origem na tendência em sublinhar mais acentuadamente a ação e a situação do que aquele que age, seja para pôr em relevo o efeito do acontecimento no homem seja para salientar a concatenação dos fatos.

Para o desenvolvimento do pensamento racional tem mais importância a outra serie de comparações, iniciada por Sólon.

Um período pode, portanto apresentar uma relação lógica, mesmo sem que ela seja expressa e sem que aquele que fala a tenha claramente compreendido: pode existir uma lógica no discurso sem uma forma particular que a exprima. Visto que os meios que a língua oferece ao “pensamento lógico” desenvolveram-se relativamente tarde, há um estado primitivo no qual a lógica só aparece de forma “implícita”. A capacidade de falar com sentido e coerência não nasceu apenas com o chamado “pensamento lógico”, como também não apenas com o pensamento racional nasceu a necessidade de buscar a causa e efeito. Também o pensamento “mítico” se preocupou com relação etiológica; a busca da origem das coisas está de fato no centro do mito: a busca da origem do mundo, por exemplo, dos fenômenos da natureza, dos homens, das suas intuições, usos, instrumentos, e assim por diante.    

  Entre os filósofos pré-socrático, Empédocles é aquele que, mais que os outros, deixa nas comparações transparecer sua dependência dos símiles homéricos, e visto que suas comparações preludiam os métodos usados mais tarde nas ciências naturais, nelas se patenteiam bastante claramente a passagem da poesia para a filosofia.

Empédocles não procura captar esse elemento vivo que se manifesta num dado momento, mas sim todas as suas comparações tendem a por em evidencia um processo físico (ou químico), referindo-se, portanto, a algo de duradouro. “Tornar evidente” significa aqui não apenas esclarecer, apresentar de forma mais ou menos eficaz diante dos olhos: no modelo técnico, dá-se ênfase ao mesmo processo físico que se desenvolve naquilo que Empédocles quer explicar. O fato de que através da lamina, córnea da lanterna, penetre a luz não o ar, baseia-se nas mesmas propriedades físicas, isto é, nos poros finos pelos quais o olho deixa passar a luz, mas não a água. Quando confronta um procedimento com o outro e os apresenta como iguais, Empédocles suscita aquela exigência de identidade que fazemos valer ao dizer de dois animais que cada um deles “é” um leão. Empédocles inicia sua comparação falando do homem que sai pela noite invernal, mas esse é apenas o invólucro poético do seu símile, na verdade, sua meta vai alem do homem isolado, do objeto ou de um determinado ponto do tempo: visa a algo que possa valer sempre e em todo lugar.  

Ele procura chegar exatamente e um tertium comparationis, e o valor de seu símile está exatamente nessa procura do preciso e estável elemento comum. O símile perde, assim, em linha de principio, o seu conteúdo poético, embora Empédocles o envolva no esplendor da forma bem construída e do embelezamento literário. Para Homero, o pormenor artisticamente cuidado é parte integrante do símile, ainda que isso possa parecer absurdo a uma interpretação racionalista, visto que a fundação particular da metáfora, da imagem, do símile, que é a de transmitir como que num espelho a concreta realidade das coisas, permite que certos pormenores, mesmo sem nada terem a ver com o verdadeiro confronto, possam também assumir importância a servir para ilustrar o fato.

O interesse de Empédocles jamais se volta para o processo vital; as forças que operam na natureza, da qual, de resto, ele tem uma concepção muito precisa, são desprezadas nas suas comparações e, ao que parece, deliberadamente. Compare ele a combinação dos quatro elementos no mundo às misturas que faz o pintor com suas tintas, ou a outras matérias que habitualmente apareçam combinadas. Diz ele: assim como o coalho condensa o leite (reporta-se ele aqui ao símile de Homero já citado), assim também uma matéria liquida, acrescentada a outra, pode produzir uma sólida; assim como o padeiro mistura farinha e água permanece num recipiente que é posto a girar em alta velocidade, assim também se formam as fontes quentes, quando escorrem através de zona em fogo do interior da terra; assim também da mistura dos tenros germes do cavalo e do asno, nasce um animal de forte resistência. A respiração da pele é comparada ao movimento do sifão o tímpano da orelha a um sino soante. Mesmo que muitos pormenores desses confrontos possam parecer incertos, jamais aqui se procura ilustrar a “ação” do homem ou do animal, como na maioria dos símiles homéricos, e nem mesmo a “vida” orgânica, como no símile das folhas; na base dessas comparações está uma terceira representação, que, embora também ela pertença à esfera do verbo, deve ser distinguida das outras duas: a representação do “movimento”. Também no campo do verbo existem, portanto, três categorias, como temos, no do substantivo, o nome comum, o nome próprio e o nome abstrato (cf. infra, p 231) . Nos seus símiles, Empédocles recorre àquele, segundo o qual, a natureza é concebida como matéria morta, o menos antropomorficamente possível. Busca a interpretação mecânica da natureza, a pura mutação no espaço e no tempo, aquele aspecto,, e somente aquele aspecto, pelo qual dois processos são idênticos entre si. Assim pode, no campo verbal, obtemperar àquela severa exigência do símile, que, no campo do substantivo, é satisfeita pelo nome comum, sobretudo na denominação dos seres vivos. Essa consciente exigência da filosofia, de tratar o “ser” com severidade e precisão, foi levantada por parâmetros e, a partir de então, não podemos pensá-la separada da filosofia e da ciência.

A partir desse momento, a redução de um processo a puros dados físicos assume o valor de “explicação”. Também os símiles homéricos revelam algo que está oculto, que não pode ser entendido de forma imediata; Empédocles ainda se vale, na explicação, do método da evidencia, na medida em que ilustra o que é oculto e impenetrável por meio de coisas que o próprio homem construiu, ou por meio de atividades que ele próprio desempenha: é o procedimento que também nos seguimos quando explicamos a função do olho comparando-o a uma maquina fotográfica; o que é construído pelo homem parece-nos mais compreensível do que o que é criado pela natureza.

Como Empédocles, também Heráclito esta voltado para algo que não é visível, que deve ser revelado; mas os símiles de Empédocles tendem, de certo modo, a superar a linguagem baseada em imagens, já que processo idêntico ao que se desenvolve na imagem, que serve para esclarecer o fato, e no fato, que deve ser esclarecido, pode ser apreendido com maior precisão na lei física (coisa que os gregos apenas tentaram); ao passo que o homem o que Heráclito quer exprimir só se deixa representar em linha de principio mediante de imagens. Em Heráclito compreendemos em que sentido se pode falar de metáforas “originarias”; e vemos que elas pertencem a uma zona mais profunda que não é da atividade humana ou animal; à zona da vida universal. Impossível de captar por meio do conceito ou do principio do “terceiro excluído”, esse elemento apresenta-se das mais diferentes formas, mas em cada uma delas está completo, e só através delas pode “falar” ao homem e, portanto, só através delas pode ser representado. A mente primitiva serve-se instintivamente desse meio; aplica espontaneamente sua interpretação antropomórfica da natureza e exprime-se ingenuamente em metáforas. Heráclito procura captar na sua essência particular esse universal liberto das aparências sensíveis. 

Alem de tais imagens, que buscam captar a vida em seus misteriosos contrastes, Heráclito emprega uma forma de comparação inteiramente diversa. Diz (83): “O homem mais sábio não é, diante de Deus, se não o macaco em sabedoria e em todo o resto”. Essa comparação não se baseia no verbo, mas num adjetivo. Os diferentes graus de beleza e sabedoria são cotejados como os termos de uma proporção: a beleza do macaco está para a beleza do homem assim como a do homem está para a de Deus. Em Heráclito também encontramos outras “proporções” do gênero, algumas expressa de forma completa, outras apenas esboçadas nas quais em lugar do macaco temos, ocasionalmente, o menino (70, 79), o homem que dorme (73), o bêbado (117), a pomba (34), o boi (4), o porco (13). Heráclito vale-se dessas “proporções”, para fazer ao homem compreender que não pensa na distancia que o separa da perfeição. 

A teoria da proporção foi desenvolvida na matemática sobre tudo pelos pitagoricos: Platão vale-se dela pela suas deduções analógicas mesmo fora do campo matemático; mas aqui surge um outro problema: isto é a de saber se esse método conserva a sua força demonstrativa mesmo quando transferido para um outro campo, pois, se o confronto se transforma em demonstração, a formula de igualdade deve necessariamente ser entendida em sentido rigoroso, o que vem vastos campos da língua não pode, de modo algum, acontecer, como já nos foi demonstrado por numerosos exemplos. 

Platão estabelece, no Gorgias, essa proporção: A retórica está para a filosofia como a arte culinária para a medicina. 

O contraste entre imagem mítica e pensamento lógico delineia-se  claro e preciso na interpretação causal da natureza. Nesse campo, também a passagem do pensamento mito para o lógico adquire uma evidencia imediata: aquilo que, nos primeiros tempos, era interpretado  como obra de deuses, de demônios e de heróis será mais tarde interpretado em sentido racional. A causalidade mítica não se limita, porem, aos fatos naturais, passiveis de serem explicadas pela lei de causalidade cientifica: ela diz respeito sobre tudo a origem das coisas e a vida, fenômenos cujas causas não se podem determinar exatamente. Estende-se alem do âmbito da natureza, pois também no surgir do pensamento, do sentimentos, dos desejos e das decisões, e assim por diante, é atribuído a uma intervenção dos deuses e, por tanto, a causalidade mítica também domina naquele campo em que, após a descoberta da alma, serão acolhidos os motivos psíquicos. Mas, visto que pensamento mítico não se limita a explicar as causas, e também serve, por exemplo, para o entendimento do ser humano, é evidente que o pensamento mítico e o pensamento lógico não cobre um único a mesmo campo. Assim como muitas coisas do mundo mítico e o pensamento lógico, assim também muitas coisas novas, descobertas no campo da lógica, não podem ser substituídos por nenhum elemento mítico. Fala-se impropriamente de um contraste entre mitos e logos fora do âmbito da interpretação causal da natureza, na medida em que o mito diz respeito ao conteúdo do pensamento e a lógica, à forma. Valer-nos-emos, porem, desses conceitos uma vez que eles representam com evidencia dois degraus históricos do pensamento humano, tendo presente, porem, que não exclui rigorosamente o outro; pelo contrario, no pensamento expresso de forma mítica podem ser incorporados elementos lógicos e vice-versa, e a passagem de um para o outro realiza-se lenta e gradativamente; pode-se mesmo dizer que esse processo jamais chega ao fim.

O pensamento mítico está em estreita relação como o pensamento que se exprime por imagem e similitudes. Ambos distinguem-se psicologicamente do pensamento lógico porque este se ocupa exaustivamente com a investigação, ao passo que as imagens do mito e dos símiles impõem-se à imaginação. Isso acarreta uma diferença de fato: para o pensamento lógico a verdade é algo que deve ser pesquisado, indagado e sonhado, é a incógnita de um problema do qual se busca a solução com método e precisão, com rigoroso respeito ao principio de contradição, e cujo resultado se apresenta um caráter de obrigatoriedade universal. As figuras míticas, ao contrario, apresentam-se de per si absolutamente dotadas de sentido e de valo, tanto quanto as imagens dos símiles, que falam uma língua viva imediatamente compreensível: para o ouvinte, tem elas aquela mesma evidencia imediata que para o poeta, que as recebe como um dom da Musa, isto é, por intuição, ou como quer que se diga. O pensamento mítico exige receptividade, o pensamento lógico, atividade; este se desenvolve, de fato, de pois que o homem chega à consciência de si, ao passo que o pensamento mítico é vizinho do estado de sonho, no qual imagens e pensamentos vagam sem controle por parte da vontade.

Para a mente racional, o mito surge como “inatural”, e isso quer dizer, em primeiro lugar, que ele não está isento de contradições. Já Homero busca uma motivação direta, continuada, e evita o que não é natural; o divino jamais se manifesta arbitrariamente. A dissolução do mito começa com o repudio explicito de analogias dúbias. Assim Xenófanes separa nitidamente o divino do humano e não admite que aos deuses se atribuam qualidades e, menos ainda, defeitos humanos. Consequentemente, também se tende a atribuir ao homem, e ao que é formado à imagem do homem, apenas qualidades humanas, daí por que Hecateu julgara inaturais os antigos mitos em contraste com a experiência comum e controlável, corrigindo de acordo os fatos transmitidos pela tradição. Teria tido Dânaos 50 filhas? Na realidade, não podia ele ter mais de 20. Teria Heracles trazido para a terra o cao infernal? Na verdade, devia tratar-se de uma serpente que habitava debaixo da terra e cuja mordida era mortal. Só se aceitam analogias no quadro da experiência natural que nada devera contradizer.

A era arcaica tem uma extraordinária sede de experiência. Com “incansáveis” olhos, como diz certa vez Empédocles (fr. 86), olham os gregos ao seu redor, naqueles tempos. De múltiplos modos entrelaçam-se ainda as novas descobertas aos mitos que viçosamente florescem, até que se estabeleça aquela distinção pela qual o mito oferece matéria para a poesia -, e a experiência, para a ciência nascente. Mas como na tragédia Ática o gosto de múltiplo e do vario cede diante do interesse pelas múltiplas experiências. Para os filósofos da época clássica, adquire cada vez maior importância aquele setor da experiência que se possa dominar com o pensamento, que satisfaça às severas exigências da repetibilidade, da identidade e da não contradição. Mas são assim postas de lado muitas coisas, ou seja, o fator vital propriamente dito; e não só o significado mas também o valor de cada acontecimento escapa ao controle do pensamento, como já fica evidente no fato de um confronto severo só ser possível em limitadas categorias da língua. Dentro desse campo limitado, os gregos elaboraram um severo método de pensamento; aqui as formas; aqui as formas iniciais da língua foram coerentemente desenvolvidas em relação a um fim determinado. Construíram eles, assim, a base sólida não só da ciência natural de seu tempo, mas também da dos tempos modernos. Ao revelar-se à possibilidade de um uso o mais absolutamente seguro da conclusão analógica e de um progresso cientifico conseqüente, essa forma de pensamento foi tomada como modelo de tentativa de se alcançar precisão semelhante também em outros campos (por Platão, por exemplo). Dedicando-se um acurado estudo aqueles categorias da língua que se desenvolveram no pensamento das ciências naturais, talvez se possa contribuir para abrir caminho em direção a uma nova lógica (ou talvez a duas) que também responde às exigências do que não se inclui no campo das ciências naturais.           

Historia filosofia Antiga-Aula inicial

 





Paolo Cugini




A. Problemas de método: como se estuda a filosofia antiga?


Para se dedicar ao estudo de qualquer assunto precisa conhecer o motivo daquilo que se entende fazer, ou seja, precisa ter uma resposta para esta simples pergunta: porque estudar filosofa antiga e, sobretudo como se estuda um texto de filosofia antiga? Por isso acho necessário antes de começar a folhar os textos dos filósofos gregos, tentar um esboço sobre este questionamento. Antes de tudo é preciso esclarecer que pouquíssimos textos dos filósofos gregos antigos chegaram até nós. Em muitos casos temos alguns fragmentos que nem sempre conseguem esclarecer o pensamento do autor em questão. Se conhecermos o pensamento de um filosofo da antiguidade é por causa dos assim chamados testemunhos externo, ou seja, de autores que desde os primeiros séculos do nascimento da filosofia transmitiram o pensamento. O problema que se apresenta para nós hoje é de tipo hermenêutica, ou seja, tentar com a comparação destes testemunhas indiretas, a forma mais objetiva do pensador que queremos estudar. 

Além do mais, para abordar os fragmentos dos primeiros filósofos necessita uma pratica com um jeito de pensar novo, diverso, nunca encontrado antes. Como veremos melhor ao longo do curso, a filosofia foi uma maneira nova de abordar a realidade, uma maneira inventando literalmente pelo gênio grego. 


B. Motivações do curso


1. Porque estudar filosofia antiga?


O primeiro questionamento necessário é isso: porque estudar filosofia antiga no mundo pós-moderno? Não seria melhor aprofundar o pensamento contemporâneo? Pra que perder tempo com algo de velho, passado, extremamente passado sendo que ás teorias que iremos analisar remontam aos VI° século a.C.? 

Dizia o grande filosofo romeno Mircea Eliade, que dedicou toda a sua vida a estudar os mitos das religiões ancestrais que quem conhece o passado, quem sabe a historia das origens das coisas domina o presente, não num sentido político ou econômico, quanto num sentido existencial . Um curso de filosofia antiga é um pouco como o trabalho de um arqueólogo em busca dos vestígios do passado para entender como os antepassados viviam e se as nossas noções sobre os antigos são certas ou erradas. Toda vez que nas cidades européias, por exemplo, que têm uma historia milenária, se realiza uma escavação para consertar um edifício antigo como uma igreja ou um prédio do município, encontra-se sempre algo que revela como viviam os ancestrais. Um curso de filosofia antiga é como a escavação de um arqueólogo em busca dos repertos do passado que ajudam a entender melhor o presente e, assim, entender melhor a realidade. Conhecer a realidade é importante para evitar de forçá-la, de inventá-la, de recriá-la: a realidade já existe e se por acaso não a entendemos é porque não a conhecemos. Além do mais a cultura contemporânea leva no seu interno as estruturas culturais que se formaram ao longo dos séculos. Os autores da escola das “Annales”  não cessam de nos lembrar que as mentalidades, as culturas dos povos são encharcadas de estruturas que se formaram muitos séculos antes. Mais uma vez: que quiser viver tentando de saber aonde está pisando, necessita folhar as paginas dos primeiros filósofos gregos, que inventaram a filosofia, ou seja, uma nova maneira de abordar a realidade.   



2. Porque estudar filosofia antiga no Brasil?


O segundo questionamento sobre este curso é talvez ainda mais profundo. Se, de fato, e verdade que a historia da filosofia antiga é a historia daquele pensamento que nasceu na Grécia e que está na base do pensamento Ocidental, então porque estudar no Brasil algo que não tem nada a ver com a nossa historia, a nossa cultura? Na realidade, aquela realidade escondida e que determina as coisas, a filosofia grega tem muito a ver com o Brasil e a cultura brasileira. Quem “descobriu” o Brasil foi Cabral e Cabral era um europeu, um português. O discurso dominante na sociedade colonial, razão e fé eram dois conceitos que se apresentavam intimamente entrelaçados um com o outro.  Aliás, essa era uma característica que desde o século XIII se havia afirmado na sociedade medieval, mediante a conjunção da filosofia aristotélica com a teologia tomista. Dessa forma para o conquistadores e colonizadores a união entre razão e fé era tida como algo de natural. Um individuo sem fé seria considerado menos homem. A mesma coisa valeria por aqueles que quisessem prescindir das luzes da razão. 


O discurso colonialista assumiu uma forma monolítica, não abrindo espaço para que houvesse um dialogo fecundo, em que fossem respeitadas as respectivas autonomias, ainda que relativas, da dimensão religiosa e da dimensão racional. Por outro lado, evidentemente, esse discurso unificado transformou-se num instrumento de dominação extremamente eficaz” .


Nessa altura podemos salientar que os colonizadores utilizaram bastante a filosofia platônica e aristotélica para justificar a própria supremacia sobre os povos indígenas. O massacre acontecido na entrada dos lusitanos na terra do Brasil foi ao longo de décadas justificado por razões filosóficas e teológicas. Outro dado importante que é preciso fresar em sede de introdução é que o pensamento platônico e aristotélico chega ao Portugal principalmente por meio da mediação cristã estabelecida na idade media por Agostinho e Tomás de Aquino.

Além disso, é preciso salientar que a cosmovisão, ou seja, a visão que do mundo tinham os povos indígenas não era a mesma dos colonizadores. De fato, enquanto os indígenas viam o mundo a partir de sua inserção nele, os conquistadores e evangelizadores o contemplavam a partir de um distanciamento, típico da perspectiva européia. Enquanto a filosofia platônica a cosmologia é estabelecida dentro de uma lógica em que razão e mito se complementam sem antagonismo, na filosofia aristotélica não deixa de assinalar a superioridade do espírito sobre a matéria. Da alma sobre o corpo. A ordem e a harmonia constituem os elementos básicos da percepção aristotélica do mundo natural. Na perspectiva de Aristóteles o mundo só pode ser compreendido plenamente mediante o conceito de ordem hierarquizada, em que os elementos inferiores obedecem aos superiores e a eles estão subordinados. 


Enquanto na concepção indígena de raiz agrária o cosmo é sentido como dotado de vida, do qual o próprio homem participa, na concepção européia o universo passa a ser visto como pura materialidade. Como resultado da mentalidade urbana e comercial da época, opera-se uma verdadeira “cosificação” da natureza. Esta é vista primordialmente com objeto de conquista e de posse e, ao mesmo tempo, como “material” a ser utilizado para as realizações humanas” .



3. Porque estudar filosofia antiga dentro de um curso de teologia?


O que tem a ver a teologia com a filosofia? È esta uma pergunta que merece uma resposta aprofundada.


A. O pensamento teológico que se desenvolveu no mundo cristão Ocidental foi dominado por mais de oito séculos pelo pensamento de Agostinho. Na realidade o pensamento de Agostinho nunca morreu e ainda hoje tem muitos teólogos que fazem referência ao pensamento dele para basear as próprias teses. Varias teorias teológicas de Agostinho, sobretudo aquela de cunho mais antropológico, se basearam sobre a filosofia platônica que Agostinho tinha estudado na juventude, assim como ele relata no livro “As Confissões”. A mesma influencia filosófica pode ser salientada para a teologia de SantoTomás de Aquino que dominou o pensamento teológico desde a modernidade até os nossos dias. Enquanto a teologia de Agostinho era moldada no platonismo, a teologia de Santo Tomás tinha como referência a filosofia aristotélica. 


B. Um outro motivo que deveria incentivar o estudo da filosofia antiga numa faculdade de teologia é o fato que, a elaboração teológica acontecida nos primeiros séculos do cristianismo, época da grande elaboração teológica que levou a formulação do Creio, deve muito á pesquisa filosófica dos filósofos gregos. De fato, quando os padres da Igreja – a maioria deles tinha uma excelente preparação filosófica – puseram mão a elaboração dos dados básicos do cristianismo, que naquela época estavam sendo questionados por vários movimentos heréticos, fizeram referência a elaboração filosófica. O caso mais famoso foi sobre a definição da natureza de Jesus: como é que se podia justificar que Jesus é ao mesmo tempo Deus e homem? De um lado foi utilizado o termo grego homousios, para designar que o Pai e o Filho eram da mesma substância (ousia); do outro foi necessário trazer por dentro do pensamento teológico um outro conceito filosófico – pessoa, hypóstasis – para apontar a duplicidade de naturezas na mesma pessoa (uma pessoa, duas naturezas). Mesma elaboração teológica encharcada de pensamento filosófico foi a elaboração do dogma da Santíssima Trindade. 



C- O que prepara o nascimento da filosofia? 

(Giovanni Reale, História da filosofia antiga, Vol I.)

Síntese Paolo Cugini

1] poemas homéricos:

a) não caem na descrição do monstruoso e de disforme; a imaginação homérica se estrutura segundo o sentido da humana proporção, que é uma constante da filosofia grega.


b) Arte da motivação – o poeta não narra só uma cadeia de fatos, mas busca as suas razoes, embora em nível fantástico e poético.


c) a épica homérica prefigura a filosofia dos gregos no fato que a realidade é apresentada na sua totalidade: o pensamento filosófico a apresenta de forma racional, enquanto a épica a apresenta de forma mítica.


d) Os poemas homéricos foram decisivos para a fixação de determinada concepção dos deuses.



2. Os deuses da religião pública e sua ligação  com a filosofia 


Religião: a. pública: os deuses do Olimpo.

                b. Dos místicos: orfismo.


- Para o homem grego tudo é divino: tudo o que acontece é obra dos deuses.


- Os deuses são forças naturais diluídas em formas humanas: idealizadas são quantitativamente superiores a nós, mas não qualitativamente – religião naturalista –; aqui a santidade não pode encontrar lugar, pois os deuses não querem elevar o homem acima de si mesma.


O homem mais divino é aquele que desenvolve em modo mais vigoroso as suas forças humanas.


- Os gregos não possuíam livros sagrados – não tinham uma dogmática; não tinha uma casta sacerdotal.

Tudo isso deixou a mais ampla liberdade à especulação filosófica.



3. A religião dos mistérios

Para muitos não bastava a religião oficial.

O movimento orfico é posterior aos poemas homéricos

4 preposições – ler o texto p.24


- Com o orfismo nasce a primeira concepção dualista de alma e corpo. O corpo é visto como cárcere da alma. 


4. Condições políticas, sociais e comerciais

Polis: o estado se manteve como horizonte do homem grego: os fins do estado foram percebidos com os próprios fins dos homens.


 2 elementos importantes:  a) nascimento de ordenamentos republicanos: o nascimento da Polis.

                                            b) a dispersão dos gregos para o oriente e para o ocidente – colônias.

a) a cultura é fruto e condição da liberdade.

Segundo G. Reale nunca mais na história da humanidade haverá condições de vida tais como aconteceu na época da polis grega. Era na polis que todas as pessoas eram envolvida nas decisões políticas: o interesse era o desenvolvimento das capacidades dos cidadãos. 

Zeller: nos esforços e nas lutas das revoluções políticas todas as forças deviam ser despertadas e exercitadas.

b) a filosofia nasceu antes nas colônias que não na pátria.




D. Características fundamentais do conceito grego de filosofia 


1) O objeto da filosofia antiga como o “todo” do ser

- Característica da filosofia grega é a pretensão de encontrar um principio unificador da totalidade das coisas. 


Totalidade: o problema não é a quantidade, mas a qualidade. O filosofo visa conhecer o universal no qual entram todas as coisas em particular, o universal que dá sentido aos particulares, unificando-os. A pergunta clássica do filosofo grego é a seguinte: porque existem multíplices coisas: Como é que do Uno derivam os muitos? Esta pergunta pode parecer estranha, mas é a expressão típica do pensamento grego pelo qual explicar significa unificar. O esforço do filosofo grego é um continuo processo de unificação. 


2) A filosofia como necessidade primeira do espírito humano


Aristóteles: todos os homens desejam saber.

O desejo de conhecer inscreve-se no próprio ser do homem.


Visão - nos faz conhecer – experiências – nos faz conhecer apenas o quê das coisas.

Ciência – o porque das coisas.


3.  filosofia como  contemplação do Ser


Theorein: conhecimento como atitude contemplativa do verdadeiro: diferentes técnicas.


Contemplação desinteressada


4. As vivencias prático-teóricas da filosofia

Theorein – não é um pensar absoluto, mas um pensar que invade profundamente sobre a vida ético-política.


- A contemplação grega implica estruturalmente uma precisa atitude prática diante da vida.


Carmélia do Vogel: a reflexão filosófica grega implica uma precisa atitude moral e um estilo de vida que eram consideradas essenciais.


A filosofia não foi um fato puramente intelectual, mas incidiu bastante na vida moral e política dos povos. 


5 A filosofia e a “eudeimonia” (felicidade).

Ter um bom demônio protetor.


Sócrates – é o Theorein, como atividade cognoscitiva e moral, que dá o tempero da alma e a faz se tornar virtuosa, boa. É evidente que, se o demônio é a nossa alma (ou está na nossa alma) a bondade ou virtude da alma coincide estruturalmente com a eu-deimonia.

Conseqüência: na formação da alma e do espírito do homem, na filosofia, que forma a alma mais o que qualquer outro conhecimento, está situada a felicidade. 


6. A radical confiança do filosofo grego na possibilidade de alcançar a verdade e viver na verdade.

 A filosofia considera a verdade alcançável.

Platão: o que é plenamente Ser é plenamente cognoscível o que é visto de Ser e não Ser só é parcialmente cognoscível, ou seja, apalpavel; do não ser só há ignorância.


O orfismo e a novidade da sua mensagem

 



Giovanni Reale

Síntese Pe. Paolo Cugini

digitação Winne Muryanne

1. A literatura órfica que nos chegou e o seu valor

Os estudos modernos sobre o orfismo chegaram a conclusões muito contrastantes entre si: a uma tendência que, com muita segurança, pensava poder reconstruir o fenômeno do orfismo nas suas varias dimensões e, até mesmo, explicar como o próprio orfismo não só grande parte da vida espiritual grega, mas também grande parte do pensamento filosófico (e que, conseqüentemente, foi justamente chamada de “pan-órifca”), se contrapôs uma tendência no sentido contrario e decididamente hipercrítica, a qual não só sistematicamente pôs em duvida o fundamento de uma série de convicções comumente aceitas sobre o orfismo, mas reduzir radicalmente as suas influencias até quase anulá-las, chegando a sustentar que certas teses consideradas tipicamente órficas devem, ao invés, ser consideradas invenções dos filósofos, em primeiro lugar de Pitágoras e, depois, de Empédocles e de Platão. Entre estas duas tendências extremas, a crítica busca hoje um justo equilíbrio, tentando evitar não só asserções que não sejam suficientemente críticas, mas também as hipercríticas e céticas em excesso[1].

Na verdade, trata-se de um equilíbrio bem difícil de alcançar, dado o estado verdadeiramente problemático da literatura órfica que nos chegou.

Antes de tudo deve-se observar que as obras integrais que nos foram transmitidas como órficas são falsificações de época muito tardia, situando-se provavelmente na época dos neoplatônicos e, portanto, cerca de um milênio posterior ao orfismo original. Estas obras são: 1) 87 hinos (precedidos de um poema) num complexo de 1.133 versos dedicados a varias divindades e distribuído segundo uma ordem conceitual precisa, 2) um poema com o titulo Argonautas, composto de 1.376 hexâmetros épicos, 3) um pequeno poema de 774 versos, também em hexâmetros épicos, intitulado Líticos. Nos Hinosestão contidas, além de idéias órficas, teses extraídas do Pórtico e até mesmo de Fílon de Alexandria: nos Argonautas (dedicado a mística viagem dos famosos heróis) as teses órficas são muito limitadas, enquanto nos Líticos (que tratam das virtudes mágicas das peras), de órfico não há quase nada. É evidente, portanto, que tais obras só servem para compreender as posições de alguns epígonos do orfismo[2].

Para reconstruir as posições do orfismo primitivo, nosso interesse aqui, possuímos apenas testemunhos e fragmentos. Otto Kern, na sua coletânea de 1921, que permanece até hoje canônica, apresenta 262 testemunhos indiretos e 363 fragmentos, para um montante de mais de 600 versos[3]. Mas também o valor deste material é muito heterogêneo. De fato, entre os testemunhos, só um pertence ao século VI, poucos são do século V e IV a.C., enquanto a maior parte pertence à tardia antigüidade. Quanto aos fragmentos, a sal genuinidade e antiguidade são muito dificilmente acertáveis, dado que nos foram transmitidos, na maioria dos casos por autores pertencentes ao período tardo-antigo.

A perplexidade dos estudiosos tem, pois, sérios fundamentos é, indubitavelmente, correto usar de grande cautela critica: todavia, o catecismo em excesso não parece justificado.

Deve-se observar que já o poeta Ibico no século VI a.C., fala de “Orfeu e nome famoso”, atestando assim a grande notoriedade da personagem naquela época, o que só se explica supondo a existência e a difusão do movimento religioso que a ele se remetia[4]. Eurípides e Platão atestam que na sua época corria um grande numero de escritos sob o nome de Orfeu, referentes aos ritos e purificações órficas[5]. De ritos e iniciações órficas nos falam Heródoto e Aristófanes[6]. Mas talvez o mais interessante de todos os testemunhos é o de Aristóteles, segundo o qual Onomácrito pôs em versos doutrinas atribuída a Orfeu[7]. Ora, dado que Onomácrito viveu no século VI a.C., temos um ponto de referencia seguro: no século VI a.C. se compunham seguramente escritos em versos sob o nome do mítico poeta e, portanto, existia um movimento espiritual que reconheceria e Orfeu o seu patrono e inspirador[8].

Mias difícil se apresente a situação no que concerne a doutrina, dado que, de um lado, certas crenças que, como veremos, só podem ser órficas, nem sempre são qualificadas como tais pelas nossas fontes, e, de outro lado, os fragmentos diretos muito amiúde não são datáveis. Todavia, como veremos considerando alguns testemunhos paralelos pode-se chegar a uma elevada probabilidade de atribuir aos órficos certas doutrinas. Os numerosos versos órficos pertencente a assim chamada teogonia rapsódica (Discursos sacros em vinte e quatro rapsódias), primeiro considerados genuínos, depois considerados falsificações de época tardo-antiga, são hoje considerados sob nova luz: o autor da teogonia rapsódia parece ter utilizado um material antigo, sistematizando-o e completando-o[9]. Mas um fato particularmente importante demonstrou recentemente que a hipercrítica não se sustenta: um fragmento de teogonia, típica expressão do sentimento “panteísta! órfico, reportado no Tratado sobre o cosmo por Alexandre atribuído a Aristóteles, considerado como composição da época helenística, assim como Tratado, resultou muito mais antigo, a partir da descoberta de um papiro de Derveni, ocorrida em 1962. O papiro, de fato, pertence à época socrática, mas, dado que o carme é submetido a um comentário, isso quer dizer que, naquela época, ele já gozava de autoridade e notoriedade consideráveis e, portanto, pertencia a uma época ainda mais antiga[10].

Estas especificações eram indispensáveis para esclarecer a objetiva complexidade da situação, assim como a necessidade de fornecer uma abundante documentação mesmo num trabalho de síntese como é o nosso.

2. A novidade de fundo do orfismo

Nos documentos literários gregos que nos chegaram aparecer pela primeira vez em Píndaro uma concepção da natureza e dos destinos do homem praticamente desconhecida aos gregos das épocas precedentes, e expressão de uma crença revolucionaria sob muitos aspectos, a qual, justamente, foi considerada como elemento de um novo esquema de civilização. De fato, começa-se a falar da presença no homem de algo divino e não normal, que provém dos deuses e habita no próprio corpo, da natureza antiética a do corpo, de modo que este algo só é ele mesmo quando o corpo dorme ou quando se separa para morrer e, portanto, quando enfraquecem os vínculos com ele, deixando-o em liberdade.

Eis o célebre fragmento de Píndaro:

O corpo de todos obedece à poderosa morte, em seguida permanece ainda viva uma imagem da vida, pois só esta vem dos deuses: ela dorme enquanto os membros agem, mas em muitos sonhos mostra aos que dormem o que é furtivamente destinado de prazer e de sofrimento[11].

Os estudiosos[12] há tempo observam que esta concepção tem paralelos exatos, mesmo terminológicos, além de conceituais, pro exemplo em Xenofonte, no final daCiropédia, e num fragmento que nos chegou da obra exotérica de Aristóteles, Sobre a filosofia.

Eis a passagem de Xenofonte:

Quanto a mim, filhinhos, jamais consegui persuadir-me disso: que a alma, enquanto se encontra num corpo mortal, viva; quando e libertou dele, mora. Vejo, com efeito, que a ala torna vivos os corpos mortais por todo o tempo em que neles reside. E tampouco jamais me persuadir de que a alma seja insensível, uma vez separada do corpo, o qual é insensível. Antes, quando o espírito se separa do corpo então, livre de toda mistura e puro, é logicamente mais sensível do que antes. Quando o corpo do homem se dissolve, vemos as partes individuais juntarem-se aos elementos da sua própria natureza, mas não a alma: só ela, presente ou ausente, foge a vista. Observai em seguida – prosseguiu – que nenhum dos estados humanos é mais próximo da morte que o sono: e a alma humana então, melhor do que nunca, revela com clareza a na sua natureza divina, prevendo o futuro, sem duvida porque então é quando se encontra mais livre[13].

Eis o fragmento aristotélico:

Aristóteles diz que a noção dos deuses tem nos homem uma dupla origem, do que acontece na alma e dos fenômenos celestes. Mais precisamente do que acontece na alma em virtude da inspiração e do poder profético, próprios a ela, que se produzem no sono. Quando, de fato, diz ele, no sono a alma se recolhe em si mesma então, assumindo a sua verdadeira e própria natureza, profetiza e vaticina o futuro. Assim também ela é quando, no momento da morte, separa-se do corpo. E assim ele aprova o poeta Homero por ter observado o seguinte: representou a Pátroclo que, no momento de ser morto, vacinou a morte de Heitor, e Heitor vaticinou o fim de Aquiles. De fatos deste gênero, diz ele, os homens suspeitam que existe algo divino, q eu é em si semelhante à alma e, mais di que todas as outras coisas, é objeto da ciência[14].

O novo esquema de crenças consiste, pois, numa concepção dualista do homem, que contrapõe a alma imortal ao corpo mortal e considera a primeira como o verdadeiro homem ou, melhor dizendo, o que no homem verdadeiramente conta e vale. Trata-se de uma concepção, como foi bem notado, que inseriu na civilização européia, uma nova interpretação da existência humana[15].

Não parece dubitável que esta concepção seja de origem órfica. Com efeito, Platão refere uma concepção, ligada estreitamente a esta, expressamente aos órficos, como fica claro desta passagem do Crátilo:

De fato alguns dizem que o corpo é tumulo [sema] da alma, como se esta tivesse nele enterrada: e dado que, por outro Aldo, a alma exprime [semainei] com ele tudo o que exprime, também por isso foi chamado justamente “sinal” [sema]. Todavia, parece-me que foram, sobretudo os seguidores de Orfeu a estabelecer este nome, como se a alma expiasse as culpas que devia expiar, e tivesse em torno de si, para ser custodiada [sozetai], este recinto, semelhante a uma prisão. Tal cárcere, portanto, como diz o seu nome, ´”custódia” [soma] da alma, enquanto esta não tenha pago todos os seus débitos, e não há nada a mudar, nem mesmo uma só letra[16].

O conceito da divindade da alma resulta também central nas “lâminas áureas” encontradas nalguns túmulos, da quais e extrai que tal conceito constituía o fulcro da fé órfica.

Eis uma das lâminas encontrada em Turi:

Venho pura dos puros, ó rainha dos infernos,

Eucles e Eubuleu e vós, deuses imortais,

Pois me orgulho de pertencer a vossa estirpe feliz;

Mas a moira me suplantou, e outros deuses imortais

... E o fulgor arrojado pelas estrelas.

Voei para fora do circulo que traz afano e opressora dor,

E subi com pés velozes para alcançar a desejada coroa

Depois emergi no seio da Senhora, rainha das profundezas,

E desci da desejada coroa com pés velozes,

”Feliz e bem-aventurado, serás e não mortal”.

Cordeiro, caí no leite[17].

Esta solene proclamação de que a alma pertence à estirpe dos deuses resulta ser também a ser tematizada em outras lâminas, e é expressa até com a mesma fórmula ou com uma fórmula de o significado totalmente análogo; “eu sou filha da terra e do céu cintilantes” [18]. Mas sobre isto voltaremos adiante.

Este novo esquema de crença estava destinado a revolucionar a antiga concepção da vida e da morte, como diz de modo paradigmático um célebre fragmento de Eurípides:

Quem sabe se o viver não é morrer

E o morrer, viver?[19]

E Platão, no Górgias, partindo exatamente desta idéia, mostra toda a carga revolucionária da nova mensagem: ela postula uma nova concepção d e toda a existência, e, em particular, postula uma mortificação do corpo e de tudo o que é própria do corpo, e uma vida em função da alma e do que é a alma. [20]

3.O orfismo e a crença na metempsicose

Já acenamos ao fato de que a opinião mais difundida dos estudiosos é que, na Grécia, foram os órficos a difundir a crença na metempsicose. Já Zeller, embora resistindo muito admitir que os mistérios tivessem uma incidência de relevo sobre a filosofia escrevia: “[...] em todo caso, parece seguro que, entre os gregos, a doutrina da transmigração das almas não veio dos filósofos aos sacerdotes, mas dos sacerdotes aos filósofos” [21]. Todavia, como alguns estudiosos contestaram este ponto, vale a pela e esclarecê-lo, porque entre a vozes de dissenso (que, contudo, não são muitas) elevou-se a autorizada voz de Wilamowitz- Moellendorff[22].

Nenhuma fonte antiga nos diz expressamente que foram os órficos a introduzir a crença na metempsicose; antes, algumas fontes tardias dizem até mesmo que foi Pitágoras.

Todavia, deve-se observar o seguinte: a) Pindaro conhece esta crença e não se pode demonstrar que El a tenha derivado dos pitagóricos e não dos órficos; b) as antigas fontes, ademais, quando falam de metempsicose, referem-na como doutrina revelada por “antigos teólogos”, “adivinhos” e “sacerdotes”, ou usam expressões com as quase comumente aludem aos órficos; c) numa passagem do Crátilo, Platão menciona expressamente os órficos, atribuindo-lhes doutrina di corpo como lugar de expiação da culpa original da alma, que pressupõe estruturalmente a metempsicose, e também Aristóteles refere expressamente aos órficos doutrinas que implicam a metempsicose; d) algumas fontes antigas fazem depender expressamente Pitágoras de Orfeu e não vice-versa.

a) Eis dois fragmentos de Píndaro, cujo teor é já por si eloqüente, enquanto não parece remeter ao pitagorismo:

E daqueles de quem Perséfones aceitará a punição

Pelo antigo luto, no nono ano restitui novamente

As almas ao esplendor do sol, no alto; delas surge

Reis augustos e grandes homens, subitâneos por força e sabedoria:

E heróis sagrados são chamados pelos mortais do tempo vindouro[23].

... Sim, se quem possui a riqueza conhece o futuro, se sabe que os ânimos violentos dos mortos daqui logo pagaram à pena – enquanto sob a terra alguém julga os erros neste reino de Zeus , declarando a semelhança com hostil necessidade; mas gozando da luz do sol em noites sempre iguais e em dias iguais, os nobres recebem da sua mão, nem a água marinha, por uma vazia subsistência; e, ao invés – junto aos favoritos dos deuses que goraram da fidelidade aos juramentos – ele percorrem um trecho de vida sem lagrimas, enquanto os outros suportam uma prova que o olhar não suporta. E os que tiveram a coragem de permanecer por três vezes em um e no outro mundo, e guardar totalmente a alma de atos injusto, percorrem até o fim a estrada de Zeus para a torre de Crono: lá as brisas oceânicas sopram ao redor da ilha dos bem-aventurados...[24].

b) Já o pitagórico Filolau – e isto é muito indicativo – escrevia:

Atestavam também os antigos teólogos e adivinhos que a alma está unida ao corpo para pagar alguma pena; e nele como numa tumba está sepultada[25]

Platão, no Ménon , ao reportar a primeira passagem de Pindaro acima lida, escreve:

[...] Dizem, de fato, que a alma do homem é imortal, e que às vezes chega a um fim – o que chamam morte – às vezes ressurge novamente, mas nunca é destruída: justamente por isso é preciso transcorrer a vida da maneira mais sensata possível [...] [26]

E noutras passagens ele usa expressões análogas e, em particular a expressão “discurso antigo”, com qual só se podem entender os discursos sagrados dos órficos.

Análogas conclusões devem ser tiradas do seguinte fragmento aristotélico do Protético:

Considerando estes erros e estas tribulações da vida humana, parece às vezes que viram algo aqueles antigos, seja profetas, seja interpretes dos desígnios divinos na narração das cerimônias sagradas e das iniciações, os quais disseram que nascemos para pagar o preço de algum delito cometido numa vida anterior, e parece verdade que se encontra em Aristóteles, ou seja, que sofremos um suplicio semelhante ao que sofreram aqueles que em outros tempos, quando caiam nas mãos dos piratas etruscos, eram mortos com uma crueldade refinada: os corpos vivos eram atados ao mortoscom a máxima precisão, adaptando a parte posterior de um vivo a parte posterior de um morto. E como aqueles vivos eram conjugados com os mortos, assim as nossas almas estão estreitamente ligadas aos corpos.[27]

c) Já lemos acima passagem platônica do Cratilo no qual os órficos são mencionados expressamente. Mas não menos interessante é a seguinte passagem aristotélica, tirada do tratado Sobre a alma, onde claramente se diz que os órficos admitiam uma preexistência da alma :

A tal erro confronta-se também o discurso que se encontra na assim chamada poesia órfica: esta diz , com efeito, que a alma, levada pelos ventos, do universo penetra nos seres quando respiram, e não é possível que isto ocorra com as plantas, e nem mesmo com certos animais, enquanto nem todos os animais respiram: mas isto escapou aqueles que tem tais convicções[28] .

d) Depois o fato de antigas fontes afirmarem que Pitágoras pois inversos certas doutrinas ,atribuindo-as a Orfeu, se não pode ser considerado literalmente testemunhas, todavia, qual era a mais antiga convicção sobre as relações entre os dois personagens [29] .

A metempsicose tem, fundamentalmente, um significado moral, o qual é bem destacado já por Platão, além das paginas do Fédon conhecidas por todos [30], em duas personagens das Leis que convém ler.

Isto seja dito como prelúdio ao tratamento desta matéria, e acrescente-se a isso a tradição, a qual, quando ouvem falar disso, muitos daqueles, que nas iniciações aos mistérios se interessam por estas coisas, prestam muita fé, ou seja, que no Hades se dá uma punição por tais erros, e que os seus autores, voltando novamente, devem necessariamente pagar a pena natural, isto é, aquela de padecer o que fizeram, terminando assim por mãos de outros a nova vida[31].

Aquele mito, portanto, ou tradição, ou como quer que se o deva chamar, diz claramente, como nos foi transmitido por antigos sacerdotes, que a vigilante justiça, vingadora do sangue dos parentes, segue a lei há pouco referida;, portanto, estabeleceu que quem comete um delito deste gênero, deve necessariamente padecer o mesmo que fez: se mata o pai, deve suportar que o mesmo tratamento lhe seja um daí violentamente infligido por obra dos filhos; e se a mãe, ele deve necessariamente renascer como mulher e, mais tarde, deixar a vida por obra dos filhos: pois não há outra expiação do sangue delituosamente derramado, sem a mácula pode ser lavada sem que a alma culpada tenha pagado o assassinato com o assassinato, o semelhante com o semelhante, e tenha aplacado a ira de toda a parentela[32].

Entre os estudiosos modernos, Dodds esclareceu melhor do que todos o significado destas passagens, do seguinte modo: “O castigo de além-túmulo [...] não conseguia explicar por que os deuses aceitam a existência da dor humana e, em particular, a dor imerecida dos inocentes.A reencarnação, ao invés, o explica: para esta não existem almas inocentes, todas pagam, em diversos graus, culpa de várias gerações, cometidas nas vidas anteriores. E toda esta soma de sofrimentos, neste mundo e no outro, é só uma parte da longa educação da alma, que encontrará o seu ultimo termo na libertação do ciclo dos renascimentos e no retorno da alma a sua origem divina. Só deste modo, e sob a medida do tempo cósmico, pode ser realizada completamente, por cada alma, a justiça entendida no sentido arcaico, isto é, segundo a lei do “que pecou pagará” [33].

4.O fim da alma segundo o orfismo

Se o corpo é prisão da alma, ou seja, lugar onde paga a pena de uma antiga culpa, e se a reencarnação é como a continuação desta pena, é claro que a alma deve libertar-se do corpo e, justamente, este é os eu fim último, o “prêmio” que lhe compete.

A literatura grega anterior ao século VI a.C. fala de castigos e prêmios no além, mas só em sentido muito restrito: trata-se com efeito, de castigos por algumas culpas excepcionalmente graves e prêmios por méritos igualmente excepcionais; e , sobretudo, num e noutro caso, trata-se de destinos que tocam exclusivamente a alguns indivíduos, a pouquíssimos e, ademais, a indivíduos de épocas passadas. Em Homero, aos homens do presente, como já foi observado, não cabe nem premio nem castigo[34].

A revolução da orfismo é, pois evidente, e é errado supervalorizar os antecedentes dos quais falamos: de fato, segundo a nova concepção, a todos os homens, sem exceção, compete um premio ou uma pena, segundo o modo como tenham vivido. Assim aquilo que era a exceção tornar-se a regra, aquilo que era o caso privilegiado torna-se o destino comum a todos.

Desta nova crença, Píndaro, mais uma vez, nos oferece a primeira expressão completa. Na segunda Ode olímpica fala explicitamente de um além no qual os maus são implacavelmente julgados pelos seus erros e, conseqüentemente, condenados, enquanto os bons são premiados:

Par este refulge o poder do sol,

Enquanto aqui embaixo é noite;

Junto à cidade está a sua sede, nos prados das rosas vermelhas,

De sombrias plantas de incenso [...] e é carregada

[de arvores] de frutos de ouro; e uns se alegram

Com os cavalos e os exercícios do corpo, outros com os jogos de xadrez,

Outros com o som da lira, e entre eles prospera em plenitude

A abundância: um perfume amável se difunde sobre aquela terra,

Enquanto levam sempre ao fogo, que de longe se distingue

Ofertas de todas as espécies sobre os altares dos deuses[35].

Pindaro, na verdade , vivifica o além com a sua acesa fantasia valendo-se das cores do aquém (como é sabido, os estudiosos consideram que esta não foi à pessoal crença do poeta, as, antes, a da pessoal a qual a sua poesia era dirigia) e, sobretudo, não nos diz qual é o destino supremo das almas dos bons. Isto, ao invés, é dito com toda a clareza nas lâminas órficas.

Na lamina encontrada em Hipônio, diz-se que a alma purificada no além fará um longo caminho pelas vias que percorrem também os outros iniciados e possuídos por Dionísio. Na Lâmina encontrada em Petélia, diz-se que a alma reinará junto com outros heróis. Em uma das laminas de Turi, diz-se que a alma purificada, assim como originariamente pertencia à estirpe dos deuses, será Deus e não mortal. Enfim, em outra lamina de Turi, diz-se que de homem ela se tornará Deus.

Eis o texto desta bela lamina:

Mas, apenas a alma abandona a luz do sol

À direita... encerrando, ela que conhece tudo junto.

Alegra-te, tu que sofreste a paixão: antes não havias ainda sofrido isto

De homem te tornaste deus: cordeiro caíste no leite.

Alegra-te, alegra-te, tomando o caminho à direita

Para os prados sagrados e os bosques de Perséfone[36].

“De homem, nasceras Deus, porque do divino derivas”: eis a mais revolucionaria novidade do novo esquema de crenças, cujo acolhimento estava destinado a transformar o mais antigo significado da vida e da morte.

5. A teologia órfica, o mito de Dionísio e os Titãs e a gênese da culpa original que a alma deve expiar

Não é tarefa nossa aprofundar-nos neste ponto na reconstrução da teogonia órfica. Pois só indiretamente interessa ao tema principal que estamos tratando. Tal reconstrução resulta, ademais, muito complexa e incerta, pois apresenta diferentes variantes. Recordemos que a antigüidade tardia[37] distinguia tres diferentes teogonias órficas: a) a referida a Eudemo, discípulo de Aristóteles, b) a assim chamada de Jerônimo de Helânico e c) a dos Discursos sagrados em vinte e quatro rapsódias (assim chamada teogonia rapsódica), da qual já falamos. Dos poucos acenos de Platão e Aristóteles, unidos são que nos restou de Eudemo, extraem-se apenas poucos traços, totalmente insuficientes[38]; da teogonia de Jerônimo e de Helênico possuímos um breve resumo transmitido por Damásio[39]. Da teogonia rapsódica possuímos numerosos fragmentos, sobre os quais, porém, gravam as pesadas hipotecas sobre as quais falamos no inicio,

A idéia de fundo das teogonias órficas é, em grande parte, a mesma da teogonia e Hesíodo. Bela se explica em nível mitológico e, portanto, fantástico-poético, o que era no principio de tudo, como nasceram progressivamente os vários deuses e se instauraram os seus vários reinos, e a geração de todo o universo.

Com relação à teogonia hesiodiana, todavia, duas parecem ser as diferenças, uma e outra de considerável importância.

Em primeiro ligar, aquela parece se, embora sob a capa mítica, mais conceitual, como já notava Rohde: “Atendo-se claramente aquela antiqüíssima teologia grega que se recolhera no poema hesiodiano, estas Teogonias órficas descreviam o devir e do desenvolvimento do mundo, dos obscuros impulsos primitivos até a variedade bem determinada dos cosmo ordenado a unidade; e o descreviam como a historia e uma longa serie de potencia e figura divinas que, desenvolvendo-se uma de outra e uma superando a outra, revezam-se na obra de formar e governar o mundo e observem em si o Todo, para restituí-lo, depois, animado por único espírito e Uno na sua infinita pluralidade. Certamente estes não são mais deuses do antigo tipo grego. Não só as divindades recriadas pela fantasia órfica e subtraída, pela força do símbolo, a possibilidade de uma clara representação sensível, mas também as figuras tiradas do Olimpo grego são aqui pouco menos que personificações de conceitos. Quem reconheceria o Deus de Homero no Zeus órfico, o qual, absorvendo em si o deus que está em toda parte, e tendo ‘assumindo a força de Eripeu’. Tornou-se por sua vez o Todo: ‘Zeus é o principio, o meio é Zeus, em Zeus o Todo se cumpre’? aqui o conceito alarga de tal modo a personalidade, que ameaça fazê-la explodir; ele tira os contornos às figuras individuais com sábia ‘mistura de deuses’, confunde-os entre si” [40].

Ora, o que dizia Rohde, a nosso ver, adquire hoje importância ainda maior, pois o fragmento da teogonia ou, pelo menos o carme em que Zeus é chamado de principio, meio e fim, e no qual parece perder as suas aparências míticas para se tornar o Todo e o fundamento do Todo, resulta ser do século V a.C., como já recordamos.

Eis o fragmento:

Zeus nascer primeiro, Zeus do fulgurante brilho e o ultimo;

Zeus é a cabeça, Zeus é o meio: por Zeus tudo se cumpre;

Zeus é fundo da terra e do céu brilhante;

Zeus nasceu varão, Zeus imortal foi menina;

Zeus é o sopro de todas as coisas, v é o ímpeto do fogo imperecível.

Zeus é a raiz do amor, Zeus é o sol e a lua;

Zeus é o rei, Zeus do fulgurante brilho é o dominador de todas as coisas: de fato, depois de ter escondido todos, novamente do coração sagrado trouxe-os a luz cheia de alegria, operando ruínas[41].

Em segundo lugar, como sobretudo Guthrie observou, as teogonias órficas, diferentemente da hesiodiana, terminavam com o mito de Dionísio e os Titãs (do qual logo falaremos) e com a explicação das origens dos homens, assim como do bem e do mal que neles existem. Por conseqüência, enquanto “uma [isto é, a teogonia hesiodiana] não poderia nunca se tornar uma doutrina de base para a vida espiritual, a outra [isto é, a teogonia órfica] podia constituir esta doutrina, e com efeito a constituía” [42].

Ora, a idéia de fundo da parte final da teogonia era a seguinte. Dionísio, filho de Zeus, foi triturado e devorado pelos Titãs, s quais, por punição, fora queimados e incinerados pelo próprio Zeus, e das suas cinzas nasceram os homens[43].

É evidente em que sentido a medida este mito pode constituir a base de uma ética. Ele explica a constante tendência ao bem e ao mau presente nos homens: a parte dionisíaca é a ala (e liga-se a ela a tendência do mal). Daqui deriva a nova tarefa moral de libertar o elemento dionisíaco (a alma) do elemento titânico (o corpo). A reencarnação e o ciclo dos renascimentos são, portanto, a punição desta culpa, e estão destinados a continuar até que o homem se liberte da própria culpa.

Alguns estudiosos puseram em duvida a antiguidade deste mito, não considerando suficiente o testemunho de Pausânias, que pó relaciona a Onomácrito (portanto, ao século Vi a.C.) e notando que a expressa conexão do elemento dionisíaco com alam só se encontra nos neoplatônicos. Mas, ao contrario, foi observado que a natureza seguramente arcaica do mito, assim como alguns acenos de Platão (que não se podem explicar a não ser supondo que aludam a este mito) garantem a sua autenticidade[44].

O mistério do homem e o seu sentimento de ser um misto de divino e beluíno, com os opostos impulsos e as contrastantes tendências, eram assim explicados de modo verdadeiramente radical. Platão tirará inspiração desta intuição e, transpondo-a e fundando-a no plano metafísico, construirá a visão do homem “em duas dimensões”, da qual falaremos amplamente[45], que condicionou largamente o pensamento ocidental.

6. As iniciações e as purificações órficas

Para concluir, devemos ainda acenar às praticas que os órficos uniam a estas crenças, e as quais atribuíam essencial importância.

Nessa praticas podemos distinguir dos momentos: o que implicava a participação em ritos e cerimônias e o que comportava a adesão a um certo tipo de vida, cuja regra fundamental era abster-se de comer carne[46]

Nas cerimônias de iniciação, provavelmente, representava-se e imitava-se o assassinato e o dilaceramento de Dionísio pelos Titãs, realizavam-se ritos e pronunciavam-se fórmulas de caráter mágico[47].

A purificação da culpa, em suma, era em larga medida confiada ao elemento não racional ou, como dissemos, mágico[48].

Já Pitágoras e os pitagóricos, embora conservando ainda muitos elementos deste gênero, começaram a atribuir a musica e, posteriormente, a ciência o meio de purificação, como vimos acima[49]. Mas a grande revolução foi operada, mais uma vez, pro Platão, o qual, numa passagem exemplar doFédon teorizou, de maneira esplêndida, que a verdadeira força purificadora está na filosofia,e apresentou esta sua asserção como a verdade da antiga intuição órfica.

Eis a célebre passagem:

E certamente não foram tolos aqueles que instituíram os Mistérios: e na verdade já dos tempos antigos nos revelaram de maneira velada que aquele que chega ao Hades sem ter-se iniciado e sem ter-se purificado jazerá em meio à alma; ao invés, aquele que se iniciou e se purificou, chegando lá, habitará com os deuses. De fato, os interpretes dos mistério dizem que ‘os portadores de tirso são muitos, mas são poucos os Bacantes’. E estes, penso eu, não são senão aqueles que pratica retamente a filosofia[50]. (pag.371-386)


[1] O leitor poderá orientar-se igualmente sobre o modo diferente de afrontar e tratar a complexa problemática do orfismo lendo as seguintes obras: E. Rohde, Psyche, seelenkult und unsterblichkeitsglaube der Griechen, 2 vols., Friburgo em N. 189-1894, trad. Italiana de E. Codignola e A. Oberdorfer com o título:Psiche. Culto delle anime e fede nell’imortalità presso i Greci, 2 vols., Florença 1930; W.K.C. Gurthrie, Orpheus and Grek Religion,Londres 1935 (1952), trad. Francesa de M. Guillemin com o tituloOrphée et La religion grecque. Étude sur la pensée orphique, Paris 1956; K. Ziegler, Orpheus, in Pauly – Wissowa, realencyclopadie der classischen Altertumswissenschaft, XVIII, 1 (1939), col. 1200-1316; Idem, orphische Dichtung, ivi, XVIII, 2 (1942), col. 1321-1417; I. M. Linforth, The Arts of Orpheus, Berkeley 1941 (Nova Iorque 1973); M.P. Nilsson, Geschichte der griechischem religion,vol. I. Monique 1941 (1967); E. Dodds, the Greeks and the Irrational, Berkeley-Los Angeles 1951, trad. De V. Cacca de Bosis com o titulo I Greci e I’ irrazionale, Florença 1959. Nestes volumes se encontrará mais bibliografias.

[2] Cf. Orphica. Irec. G, Hermannus, cum notis H. Stephani, A chr. Eschenbachii, J.M. Gesneri, The Tyrwhitti, Lipsiase 1805 (reimprressão anastática, Olms, Hildesheim 1969); Aglaophamus sive de Theologie mysticae Graecorum causis libri tres conscripsitC.A. Lobeck idemque poetarum orphicorum dispersas reliquias collegit, Regimontti prussorum 1829; Orphica, Rec. E. Abel, Lipsia e Praga 1885 (uma boa seleção dos mesmos com texto, tradução italiana e anotações foi preparada por G. Faggin, Inni orfici, Fussi, Florença 1949). Para os Argonautas ver também a edição de G. Dottin, paris 1930, com tradução frâncesa.

[3] Orphicorum Fragmenta, Collegit O. Kerns, Berlim 1922 (1963). Uma seleção de fragmentos desta edição foi introduzida para o italiano por G. Arrighetti, Orfici Frammenti, Borringhieri, Turim 1959. Uma nova coletânea dos fragmentos fundamentais, em edição critica, com tradução italiana e anotações encontra-se em G. Colli,La sapienza greca. I: Dioniso, Apollo, Eleusi, Museo, Ipebore, Enigma, Adelphi, Milão 1977, PP. 117-289. Dada a validez desta coletânea, indicaremos a sua numeração, junto com a numeração canônica de kern, também porque contém novos materiais.

[4] Ibico, fr. 17 Diehl (= kerns, test. 2 = Colli, 4 A la).

[5] Eurípides, Alcesti, 962-972 e, Hipólito, 952-954 (Kern, test. 82e 312 = Colli, 4 A 14 e A 16); Platão Republica, II, 64 e SS. (= kern, fr, 3 = Colli, 4 A 41).

[6] Heródoto, II, 81 (= Kerns, test. 216 = Colli, 4 A 12); Aristófanes, Rãs, 1032s. (= Kern, test. 90 = Colli, 4 A 25).

[7] Aristóteles, de philos., fr. 7 Ross (= kern, test. 188 = Colli, 4 A 56).

[8] Cf. Zeller- Mondolfo, I, 1, p. 119, nota 1.

[9] Ver, sobre isto, Jaeger, La teologia..., pp. 98-122.

[10] Ver as indicações que damos, sobre isto, no volume: G. reale,Aristóteles Trattato sul cosmo per Alessandro, Loffredo, Nápoles 1974, PP. 273 s. reproduzimos o hino, mais adiante, pp. 386s.

[11] Píndaro, fr. 131 b Snell (= Colli, 4 A 9).

[12] Cf., por exemplo, Dodds, I Greci e l’ irrazionale, pp. 159s.

[13] Xenofonte, Ciropédia, VIII, 7, 21.

[14] Aristóteles, de philos., fr. 12a Ross.

[15] Cf. Dodds, I Greci e l’ irrazionale, pp. 159ss.

[16] Platão, Crátilo, 400 c (= Kern, fr. 8= Colli, 4 A 34).

[17] Kern, fr. 32 c = Colli, 4 A 65.

[18] Kern, fr. 32 b. I-II = Colli, 4 A 70 a.

[19] Eurípides, Polyidos, fr, 638 Nauck, reportado por Platão, Górgias, 492 e (= Colli, 4 A 23)

[20] Cf. vol. II: “A imortalidade da alma, seus destinos ultraterrenos e a sua reencarnação”, 3ª seção da 1ª Parte.

[21] Zeller- Mondolfo, I, 1, p. 137.

[22] U. von Wilamowitz-Moellendorff, Der Glaue der Hellenen, 2 vols. Darmstadt 1959 (1932), vol. II, pp. 190.

[23] Píndaro, fr. 133 Snell (= Colli, 4 A 5)

[24] Píndaro, olímpicas, II,56-72(= Colli,4 A6).

[25] Diels-Kranz, 44 B 14.

[26] Platão, Menon, 81 b-c.

[27] Aristóteles, Protretico, fre.10 b (= Colli, 4 A 55).

[28] Aristóteles,sobre a alma , A , 5, 410 b 27 -41 a 1(= Colli, 4 A 60).

[29] Diógenes Laércio, VIII, 8 = Diels-Kranz, 14 A 19.

[30] Cf. Platão, Fédon , 80 c ss.

[31] Platão, Leis, IX, 870 d-e.

[32] Platão, Leis, IX, 872 d-e.

[33] Dodds, I Greci e l’irrazionale, p.196

[34] Cf. Guthrie Orphée..., pp. 167ss.

[35] Pindaro, fr. 129 Snell (=Colli, 4 A 7).

[36] Lâmina encontrada em Turi, 4 (kern, fr. 32 f= Colli, 4 A67)

[37] Sobre o tema ver: Guthrie, Orphée..., pp. 83ss.; jeager, La teologia..., pp. 100ss.

[38] Cf. Eudemo de Rodes, fr. 150 Wehrli (= Kern, fr. 28 = Colli, 4 B 9).

[39] Damásio, de principiis, 123 bis, I, 317, 15ss. Ruelle (=Kern, fr. 54 = Colli, 4 B72).

[40] Kern, fr. 21 = Colli, 4 A 71.

[41] Kern, fr. 21 = Colli, 4 A 71.

[42] Guthrie, Orphé...p. 100.

[43] Cf. Rohde, Psiche...pp. 447ss. E as passagens aí referidas.

[44] Este ponto é demonstrado muito bem por Dodds, I Greci e l’irrazionale, pp. 205s.

[45] Cf. vol. II: toa a 3ª Seção da 1ª Parte.

[46] Cf. Guthrie, Orphée..., pp. 216ss.

[47] Sobre algumas fórmulas do ritual órfico cf. Guthrie, Orphée..., pp. 231 ss.

[48] Cf. Dodds, I Greci e l’ irrazionale, p. 202.

[49] Cf. supra, pp. 87-89s.

[50] Platão, Fédon, 69 c-d.


FENOMENOLOGIA E HERMENÊUTICA CALENDÁRIO 2025

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