quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

O MUNDO DA VIDA NA ANALISE FENOMENOLOGICA

 




Paolo Cugini

É o mundo no qual nós vivemos. É o mundo em que estamos familiarizados e não colocamos em questão. 

O mundo da vida foi esquecido e reprimido pela ciência. Apesar disso, a ciência está fundada no mundo da vida.

A fenomenologia não é hostil a ciência. Husserl questiona a inclinação científico-natural para o cientismo e para o objetivismo.

Cientismo: somente a ciência define o que pode ser considerado como real e efetivo. A realidade efetiva é idêntica àquilo que se deixa conceber e descrever pelas ciências naturais. 

A classificação entre qualidades primarias e secundarias foi radicalizada de maneira consequente no correr do tempo. Logo se colocou em dúvida tudo aquilo que em geral aparece. A aparição enquanto tal foi vista como subjetiva e a ciência tinha de superar justamente essa aparição, em caráter fenomenal, ela precisava aceder a um lugar por detrás desse caráter, a fim de conhecer lá o modo essencial verdadeiro das coisas. 

O mundo em que vivemos é totalmente diferente do mundo das ciências naturais. Para os cientistas só o mundo descrito pelas ciências naturais é o autêntico mundo, o outro é subjetivo. 

A realidade efetiva matemática não é a verdadeira realidade efetiva, mas ao contrário, ela é o resultado de uma idealização ulterior e cheia de preconceitos. 

Objetivismo: A realidade efetiva subsiste no sentido absoluto independentemente da subjetividade, de toda e qualquer interpretação e da comunidade histórica, que nós respectivamente formamos. 

É importante lembrar que toda objetividade, toda explicação, toda formação conceitual e teórica pressupõe a perspectiva de primeira pessoa como seu fundamento constante. 

É mera ilusão a crença em que a ciência teria a oferecer uma descrição absoluta da realidade efetiva, livre de toda e qualquer perspectiva conceitual e empírica. 

A ciência se enraíza no mundo da vida.

Pela fenomenologia a ciência não é simplesmente uma coletânea de sentenças bem fundamentadas e sistematicamente ligadas. A ciência é exercida pelos homens, ela significa uma determinada relação com o mundo, um determinado posicionamento teórico em relação ao mundo, e esse posicionamento não caiu do céu, ele tem seus pressupostos determinados e sua origem determinada: ela forma uma tradição, uma determinada tradição cultural. 

Mérito da fenomenologia: tornar compreensível a cientificidade mesma, a racionalidade e a práxis científicas por meio de uma análise detalhada das formas de intencionalidade do sujeito que conhece. 


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

AS COISAS MESMAS

 





Paolo Cugini


A fenomenologia gostaria de retornar às coisas mesmas. Nossa investigação deve ser crítica e não dogmática, deve ter aversão a preconceitos metafísicos e científicos. Ela deveria ser determinada pelo que se encontra faticamente diante de nós e não por aquilo que se precisa esperar a partir do nosso ponto de vista teórico. 

Heidegger: rigor científico não pode ser identificado com exatidão matemática. 

É preciso deixar que as coisas mesmas falem. 

Por isso, è preciso reformular a pergunta: O que é X? na pergunta: como X pode ser reduzido à física, à química, à neurofisiologia...? 

Só enquanto um fenômeno pode ser reduzido se alcança com certeza uma posição sobre se ele de fato existe. 

Somente uma explicação reducionista da consciência pode nos comunicar a intelecção factual do tipo da essência e da consciência.


A EPOCHÉ FENOMENOLÓGICA E A REDUÇÃO




 Paolo Cugini


Epoché: 

a. suspender, neutralizar um determinado posicionamento dogmático em relação ao mundo, a fim de dirigir o olhar expressa e diretamente para o fenomenologicamente dado, para os objetos e como exatamente eles aparecem. Só desta maneira o ser do mundo se monstra acessível. 

b. Possibilitar uma investigação do mundo que possa desentranhar seu sentido propriamente dito.

c. Designação para a nossa suspensão do posicionamento metafisico ingênuo e pode ser considerada como a porta de entrada da filosofia.


Redução transcendental: a epoché é condição de possibilidade da redução.

Tanto a epoché quanto a redução podem ser consideradas como momentos de uma reflexão transcendental, que nos liberta do nosso dogmatismo natural e que nos traz a consciência a nossa própria parcela constitutiva. 

O posicionamento fenomenológico nos torna conscientes da dação do objeto. Mas nós mesmo também despontamos como aqueles para os quais os objetos aparecem. Epoché e redução não nos sequestram e nos levam para além do mundo e de deus objetos, mas elas nos permitem precisamente sondá-los de uma maneira nova e surpreendente, em sua aparição ou manifestação para a consciência. 

Heidegger: a existência humana é caracterizada por sua tendencia para o autoconhecimento e para a auto objetivação: nós tendemos a deixar que nossa autocompreensão seja marcada e configurada por nossa compreensão do objeto. 

As mesmas categorias que nós usamos para a descrição e explicação de objetos e eventos intramundanos, nós também empregamos para a compreensão de nós mesmos. 

A fenomenologia pode ser designada como um desafio para a luta feito contra esse auto esquecimento nivelador.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O SIGNIFICADO DA PERSPECTIVA DA PRIMEIRA PESSOA NA FENOMENOLOGIA

 



Paolo Cugini: Aulas de fenomenologia



Esta atenção da fenomenologia pela primeira pessoa deriva do respeito das condições e possibilidade da experiencia e do conhecimento enquanto tais. 

A primeira pessoa é um pressuposto indispensável para compreender as condições principais do conhecimento, da verdade, do sentido, do significado. 

Compreender a historicidade, a temporalidade da subjetividade era fundamental para entender a investigação exaustiva dos fenômenos. 

Antes de todo fenômeno, todo aparecer de um objeto sempre apresenta um aparecer de algo para alguém. 

Pela compreensão de qualquer tipo de objeto é preciso levar em conta a subjetividade.

A fenomenologia nos torna atentos para o aparecer do objeto e do correlato subjetivo de sua aparição e, com isso, do modo da intencionalidade, que está em obra e deixa aparecer o objeto, tal como respectivamente o caso.

Quando investigamos objetos, nós também nos mostramos a nós mesmos como aqueles, para os quais os objetos aparecem. 

Por isso podemos dizer que o interesse da fenomenologia está voltado para a consciência, precisamente porque ela forma o âmbito no qual o mundo aparece.

Com sua análise do fenômeno a fenomenologia gostaria de pensar além da dicotomia sujeito-objeto, a fim de investigar o nexo entre o mundo e a subjetividade. 

O mundo aparece, e a estrutura da sua aparição é condicionada e possibilitada pelo sujeito que só tem como ser compreendido em sua relação com o mundo. 

O sujeito só tem como ser compreendido em sua relação com o mundo e nós só podemos dar sentido ao mundo na medida em que ele aparece a um sujeito e é compreendido por ele. 

Husserl: a realidade efetiva não é algo meramente subsistente em si, que existiria de maneira completamente independente de todo e qualquer contexto de experiencia, de toda e qualquer rede conceitual. 

A realidade efetiva constitui um nexo de validade e de significado, que necessita da subjetividade, de uma perspectiva empírica e conceitual para se manifestar e desdobrar. 

Husserl: não é possível falar de uma realidade efetiva absoluta.


O FENOMENO

 





Síntese: Paolo Cugini


Fenomenologia: ciência dos fenômenos. 

Fenômeno: é o modo como se mostra o objeto imediatamente, como ele é aparente. É como o objeto nos aparece, como ele se apresenta à nossa visão, não como ele é em si mesmo. 

Heidegger: é preciso compreender o fenômeno como o modo de aparição do próprio objeto. O fenômeno é aquilo que se mostra por ele mesmo, o que se manifesta, o que se revela. 

Fenomenologia: análise filosófica dos diversos modos de aparição e como uma investigação reflexiva das estruturas compreensivas, que permitem aos objetos se mostrarem como aquilo que eles são. 

Há diferencias substanciais entre os modos de aparição, por exemplo, de uma coisa física, de um objeto de uso, de uma obra de arte, de uma melodia, de um estado de coisas, de um número ou de uma relação social. Nesse caso o objeto pode aparecer de maneiras muito diversas: segundo esse ou aquele aspecto, em uma iluminação fraca ou forte, como percebido, imaginado ou lembrado, posto em dúvida ou comunicado. 

O objeto pode ser dado de maneira mais ou menos direta, pode estar mais ou menos presente. 

O de aparição modo mais baixo e mais pobre de um objeto é formado pelos atos significativos. Os atos imaginativos são dotados de um conteúdo intuitivo. 

O ato significativo intenciona o objeto por meio de uma representação casual, o ato imaginativo por meio de uma representação que possui certa semelhança com o objeto. 

Característico para a fenomenologia é a concepção de que o mundo, tal como ele aparece para nós, seria o mundo unicamente real e afetivo. A fenomenologia rejeita de maneira categórica a doutrina dos dois mundos.

Fenomenologos não pretendem suspender a distinção entre aparição e realidade efetiva. Todavia, para eles não se trata de duas regiões diversas, mas de uma diferenciação interna, que pertence ao mundo aparente enquanto tal. 

A realidade de um objeto não é buscada na frente ou atrás de sua aparição como se essa aparição fosse de algum modo esconder o objeto efetivamente real. 

A fenomenologia não é uma teoria da mera aparição, pois fenômenos não são meros fenômenos. 

Importante: o tipo essencial propriamente dito do objeto não se encontra em algum lugar velado por detrás dos fenômenos, mas se desdobra precisamente neles. 


O MUNDO DA VIDA NA ANALISE FENOMENOLOGICA

  Paolo Cugini É o mundo no qual nós vivemos. É o mundo em que estamos familiarizados e não colocamos em questão.  O mundo da vida foi esque...