sexta-feira, 30 de maio de 2025

CURSO FENOMENOLOGIA E HERMÊNEUTICA - TERCEIRA PROVA - 5 JUNHO 2025

 



O estudante responde a pelo menos 4 destas perguntas:


1.      a temporalidade da compreensão descoberta nas estruturas previas da compreensão implica que todos os nossos preconceitos vieram do passado. Estamos sempre dentro de uma tradição (Gadamer). A importância da tradição, do preconceito e da autoridade na hermenêutica de Gadamer.

 

2.      “A tarefa da interpretação psicológica é o compreender toda a estrutura de pensamentos dada como um momento da vida de uma pessoa particular”. O contexto histórico-cultural e o valor de entender a psicologia do autor na perspectiva hermenêutica de Schleiermacher.

 

3.      “A ontologia só é possível com fenomenologia” (Martin Heidegger). Qual é o sentido desta frase de Heidegger e porque ele sustenta isso?

 

4.      A metafisica é a história do enfraquecimento do ser segundo Heidegger, pois a metafisica Ocidental analisa o ser com algo de abstrato, objetivo e não na sua manifestação no evento. Explica a maneira de Heidegger entender e interpretar o ser.

 

5.      Como, porém, Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras (Dei Verbum, 12). A Dei Verbum, o documento do Concilio Vaticano II, resgata a importância da hermenêutica para abordar o texto sagrado. Quais são as características principais da maneira indicada pelo Concilio de interpretar a Sagrada Escritura?

 

6.      A interpretação do enfraquecimento do ser de Heidegger e a ideia de que a história do ser tivesse como fio condutor o enfraquecimento das estruturas fortes, não é outra coisa que a transcrição da doutrina cristã da Encarnação do Filho de Deus (Vattimo Gianni). É neste sentido que Vattimo explica que a secularização e o nihilismo, longe de ser algo de externo ao cristianismo, são a sua mesma produção. Explicar esta afirmação de Vattimo. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

PROVA FILOSOFIA POLÍTICA 2 junho 2025

 




 

Elaborar uma redação sobre um dos seguintes assuntos:

 

1.      A esquerda hegeliana foi um fenômeno filosófico que teve consequências também no âmbito da filosofia política. Carl Marx foi um dos maiores exponentes desta corrente. Apresentar o pensamento político de Carl Marx, levando em conta as reflexões do Manifesto do Partido Comunista.

 

2.      Comunismo e igreja católica. A percepção da igreja identificada com a classe burguesa e a perca dos pobres. O clima político do século XX e a tensão entre Estado e Igreja. A importância do Concilio Vaticano II no resgate de uma Igreja pobre e dos pobres.

 

 

3.      O debate Conciliar e post conciliar sobre a Igreja dos pobres e o Pacto das Catacumbas. A importância de Medellin e a opção preferencial para os pobres.

 

4.      O caminho eclesial das CEBs na América Latina e de modo especial no Brasil e a proposta política elaborada nos anos ’80 do século passado durante os Intereclesiais. A diferentes posições de Clodovis Boff, José Comblin e Frei Betto.

 

 

5.      Hanna Arendt. Apresentação do pensamento da filosofa alemã. Contextualização histórica. A época dos totalitarismos de direita e de esquerda: comunismo, fascismo e nazismo. A origem do totalitarismo e a banalidade do mal na reflexão da Arendt.

 

6.      A Nova Ordem Econômica Internacional elaborada depois da II Guerra Mundial. Os organismos que foram ativados para regular a economia mundial: Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. As criticas de Chassudosky, Noam Chomsky, Dambisa Moyo e Piketty. 

domingo, 25 de maio de 2025

AUTORES DE ECONOMIA POLÍTICA CONTEMPÔRANEA

 




 

Michel Chossudovsky é filho de Evgeny Chossudovsky (1914-2006), um russo de origem judaica que foi acadêmico universitário e diplomata das Nações Unidas.

Após se formar na Universidade de Manchester, Inglaterra, obteve um doutorado na Universidade da Carolina do Norte, EUA; é professor emérito de Economia na Universidade de Ottawa.

Chossudovsky foi professor visitante em muitos países da Europa Ocidental, Sudeste Asiático e América Latina. Além disso, ele atuou em conselhos de diversas organizações internacionais e como consultor de governos de países em desenvolvimento. Chossudovsky foi signatário da Declaração de Kuala Lumpur para criminalizar a guerra. Ele é autor de A globalização da pobreza e a nova ordem mundial (2003) e A "guerra ao terrorismo" da América (2005).

Michel Chossudovsky é presidente e diretor do Centro de Pesquisa sobre Globalização (CRG), uma organização independente de pesquisa e informação sediada em Montreal, Canadá. O CRG opera o site GlobalResearch.ca, que promove uma visão crítica da política externa dos EUA e da OTAN e do Estado Profundo, bem como teorias da conspiração sobre os ataques de 11 de setembro de 2001 e a guerra contra o terror, a desinformação da mídia, a pobreza e a desigualdade social, a crise econômica global, a política e a religião.

 



Noam Chomsky (nascido em 7 de dezembro de 1928 na Filadélfia) é um linguista, filósofo e ativista americano. Professor emérito de linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ele é reconhecido como o fundador da gramática gerativa-transformacional, frequentemente citada como a contribuição mais importante à linguística teórica do século XX. Além disso, Chomsky é conhecido por seu ativismo e comprometimento político, inspirado por socialistas libertários.

Suas críticas constantes e duras à política externa de vários países, especialmente dos Estados Unidos da América, bem como sua análise do papel da mídia de massa nas democracias ocidentais, fizeram dele um dos intelectuais da esquerda radical mais famosos e seguidos no mundo todo.

Desde a década de 1960, o ativismo de Chomsky o levou a participar ativamente de inúmeros encontros e debates sobre as mais diversas questões sociais e, graças ao seu notável comprometimento político e social, Chomsky também se consolidou como um intelectual anarquista e socialista libertário.

Ele analisou diversas questões da política internacional na crítica ao neoliberalismo (tema central de seus encontros e escritos), entendido como uma doutrina econômica baseada na radicalização da centralidade do mercado que, segundo Chomsky, levou a vários desastres sociais, como o crescente abismo entre ricos e pobres (especialmente nos países latino-americanos) e a perda do controle do poder estatal pelos cidadãos. No debate sobre a pena de morte, Chomsky declarou-se um ferrenho oponente.

Chomsky assumiu uma posição firme sobre a Guerra do Vietnã, declarando que o conflito foi um desastre e que foi muito custoso para os Estados Unidos, analisando os erros cometidos por vários governos americanos durante a guerra.

É um defensor fervoroso e membro-chave do conselho da Internacional Progressista, uma organização fundada formalmente em 2020 para formar um movimento popular pela justiça global, mobilizando trabalhadores, mulheres e pessoas desfavorecidas ao redor do mundo com uma visão compartilhada de democracia, prosperidade, sustentabilidade e solidariedade.




Thomas Piketty (7 de maio de 1971 em Clichy) é um economista francês, professor de economia na École des hautes études en sciences sociales, presidente associado da École d'économie de Paris - Paris School of Economics e "Centennial Professor" de Economia no International Inequalities Institute da London School of Economics.

Famoso por seus estudos sobre desigualdades econômicas e desenvolvimento das nações, além de ter fundado e coordenado o World Inequality Database. Ele é autor de 18 obras, das quais a mais notável é O Capital no Século XXI (2013), que vendeu mais de 2,5 milhões de cópias em todo o mundo e foi adaptado para um documentário, assim como sua sequência Capital e Ideologia (2019).

Sua pesquisa se concentra em questões de desigualdade de renda e riqueza. É professor na École des hautes études en sciences sociales (EHESS) e na École d'économie de Paris. Ele é responsável pelo método de mensuração de desigualdades utilizando estatísticas de receita tributária e indicando como resultado as parcelas de renda recebidas por diferentes quantis da população.

Usando o mesmo princípio, Piketty também indica as parcelas de riqueza detidas pelos diferentes quantis da população, considerando neste caso os impostos sobre a riqueza. Dessa forma, Piketty oferece uma visão geral de quem ganha as maiores rendas e quem detém os ativos mais significativos. Ele colaborou em alguns trabalhos com Anthony Barnes Atkinson e Emmanuel Saez.

 



Joseph Eugene Stiglitz (nascido em 9 de fevereiro de 1943 em Gary, Missouri) é um economista e ensaísta americano que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2001.

Contribuições da Microeconomia. Sua produção teórica e técnica tem se dedicado principalmente à microeconomia: a contribuição mais famosa de Stiglitz diz respeito ao (screening), uma técnica inteligente utilizada por um agente econômico que deseja adquirir informações, de outra forma privadas, de outro. Foi por essa contribuição à teoria da "informação assimétrica" ​​que ele dividiu o Prêmio Nobel com George A. Akerlof e A. Michael Spence.

Em consonância com suas publicações técnicas, Stiglitz é autor de Whither Socialism, um livro popular que fornece uma introdução às teorias sobre o fracasso econômico do socialismo na Europa Oriental, o papel da informação imperfeita nos mercados e concepções errôneas sobre o quão livre o mercado realmente é no sistema capitalista-liberal.

Críticas ao FMI. Em 2002, publicou Globalização e seus descontentamentos (Einaudi), no qual analisa os erros das instituições econômicas internacionais, em particular as do Fundo Monetário Internacional, na gestão das crises financeiras ocorridas na década de 1990 na Rússia, nos países do Sudeste Asiático, na Argentina e em outros lugares. Stiglitz ilustra como a resposta do FMI a essas situações de crise sempre foi a mesma, baseada na redução dos gastos do governo combinada com uma política monetária deflacionária e a abertura dos mercados locais ao investimento estrangeiro. Essas escolhas políticas foram efetivamente impostas aos países em crise, mas não responderam às necessidades das economias individuais e se mostraram ineficazes ou até mesmo um obstáculo para superar as crises.

Stiglitz afirma que o Fundo Monetário Internacional, seguindo o chamado consenso de Washington, não protege as economias mais fracas nem garante a estabilidade do sistema econômico global, mas, na verdade, atende aos interesses de seu "maior acionista", os Estados Unidos, em detrimento dos interesses das nações mais pobres. Os argumentos de Stiglitz são particularmente notáveis ​​porque vêm de um economista com experiência em instituições financeiras internacionais e ajudam a explicar por que a globalização gerou oposição dos movimentos sociais que organizaram os protestos em Seattle e Gênova (os eventos do G8 em Gênova em julho de 2001).




Dambisa Felicia Moyo (nascida em 2 de fevereiro de 1969 em Lusaka) é uma economista e escritora zambiana-americana, analista de macroeconomia e assuntos globais. Atualmente, ele atua nos conselhos de administração do Barclays Bank, Seagate Technology, Chevron Corporation, Barrick Gold e 3M Company. Ela trabalhou por dois anos no Banco Mundial e oito anos no Goldman Sachs antes de se tornar uma escritora e palestrante internacional. Ele escreveu quatro livros best-sellers. Ele é bacharel em Química e mestre em Administração de Empresas pela American University, mestre em Administração Pública pela Harvard Kennedy School e doutor em Economia pela University of Oxford.

Depois de obter seu mestrado em Administração de Empresas pela American University, Moyo trabalhou no Banco Mundial de maio de 1993 a setembro de 1995. Ela foi consultora do Departamento da Europa e Ásia Central e do Departamento da África e foi coautora do relatório anual do Banco Mundial sobre o desenvolvimento mundial.

Depois de obter seu MBA e doutorado em Harvard e Oxford, Moyo ingressou no Goldman Sachs como economista pesquisadora e estrategista em 2001. Ela trabalhou na empresa até novembro de 2008, principalmente em mercados de capital de dívida, cobertura de fundos de hedge e macroeconomia global. Parte de sua gestão no Goldman Sachs foi dedicada a aconselhar países em desenvolvimento sobre a emissão de títulos no mercado internacional. Ela também foi responsável pela pesquisa econômica e estratégia para a África Subsaariana.




Muhammad Yunus

 (nascido em 28 de junho de 1940 em Chittagong, Bengali) é um economista e banqueiro de Bangladesh que é primeiro-ministro de Bangladesh desde 8 de agosto de 2024. Ele é o criador e implementador do microcrédito moderno, um sistema de pequenos empréstimos para empreendedores que são pobres demais para obter crédito nos circuitos bancários tradicionais. Por seus esforços neste campo, ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2006.

Yunus também é o fundador do Grameen Bank, onde foi diretor de 1983 a 2011. Seu pensamento, nesse sentido, baseava-se na suposição de que as pessoas não deveriam trabalhar para outra pessoa, mas sim começar seu próprio negócio.

Em 6 de agosto de 2024, após semanas de protestos violentos e da fuga da primeira-ministra Sheikh Hasina, ele foi nomeado, por proposta dos manifestantes, como primeiro-ministro interino de Bangladesh, a fim de conduzir o país a novas eleições de forma ordeira e pacífica.

Em 1976, continuando a expandir sua visão, Yunus fundou o Grameen Bank, o primeiro banco do mundo a emprestar aos mais pobres entre os pobres com base não na capacidade de crédito, mas na confiança, tendo desde então desembolsado mais de US$ 5 bilhões para mais de 5 milhões de tomadores.

Para garantir o pagamento das hipotecas, o banco utiliza grupos solidários, ou seja, pequenos grupos informais de beneficiários do financiamento, cujos membros apoiam uns aos outros em seus esforços individuais de desenvolvimento econômico e têm responsabilidade conjunta pelo pagamento do empréstimo.

Com o tempo, no entanto, o Grameen Bank desenvolveu soluções diversificadas para financiar pequenas empresas. Além do microcrédito, o banco oferece financiamento imobiliário para habitação e para a construção de sistemas modernos de irrigação e pesca, bem como serviços de consultoria na gestão de capital de risco e, como qualquer outro banco, na gestão de poupanças.

O sucesso do Grameen inspirou inúmeras outras experiências semelhantes em países em desenvolvimento e até mesmo em muitas economias avançadas. O modelo de microcrédito criado pelo Grameen foi aplicado em mais de 20 países em desenvolvimento: muitos desses projetos, como é o caso do próprio Grameen, concentram-se principalmente no financiamento de negócios administrados por mulheres. De fato, mais de 90% dos empréstimos do Grameen são destinados às mulheres: essa política é motivada pela ideia de que os lucros obtidos pelas mulheres são usados ​​com mais frequência para sustentar suas famílias.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

POLÍTICA ECONÔMICA CONTEMPORÂNEA

 




A Nova Ordem Econômica Internacional foi imposta por um conjunto de propostas elaboradas e expressas pela Assembleia Geral das Nações juntamente com nossos documentos "Declaração do Governo da Nova Ordem Econômica Mundial" (Resolução 3.201, de 1º de maio de 1974), "Plano de Ação para o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Mundial" (Resolução 3.202, de 1º de maio de 1974) e "Carta de Direitos e Deveres dos Estados" (Resolução 3.281, de 12 de Dezembro de 1974).

A crescente importância dos problemas económicos e o seu impacto nas relações internacionais contemporâneas estão refletidos nas resoluções, adotadas em maio de 1974 pela Assembleia Geral da ONU, na sua VI Sessão Extraordinária, incorporando a "Declaração do Estabelecimento de Nova Ordem Económica Internacional" e ou "Programa de Ação sobre o Estabelecimento de Nova Ordem Económica Internacional".

O objetivo era reduzir a disparidade de poder nas relações econômicas entre países industrializados e países em desenvolvimento.

As propostas situam-se em torno de algumas indicações específicas dos países em desenvolvimento, entre as quais podemos citar:

- estabilidade de preços de commodities e matérias-primas;

- transferência de recursos dos países locais para as pessoas pobres;

- industrialização e tecnologia;

- corporações transnacionais;

- acesso aos mercados;

- reforma o Sistema Monetário Internacional;

- maior poder nas discussões internacionais.

 

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional criada em 1944 na Conferência de Bretton Woods (formalmente criada em 27 de dezembro de 1945 por 29 países-membros e aprovada pela ONU em abril de 1966) com o objetivo inicial de auxiliar a reconstrução do sistema monetário internacional no período após a Segunda Guerra Mundial.

Os países contribuem com uma pequena quantia para o fundo por meio de um sistema de cotas, a partir do qual membros com desequilíbrios de pagamento podem solicitar fundos emprestados temporariamente.

 Por meio dessas e de outras atividades, como a supervisão das economias de seus membros e a exigência de políticas de autocorreção, o FMI trabalha para melhorar as economias dos países.

O FMI considera-se “uma organização de 191 países, que trabalha para promover a cooperação monetária global, garantir a estabilidade financeira, facilitar o comércio internacional, promover níveis mais elevados de emprego e crescimento económico sustentável e reduzir a pobreza no mundo”.

Os objetivos declarados pela organização são promover a cooperação econômica internacional, o comércio internacional ou a estabilidade financeira, inclusive por meio da disponibilidade de recursos financeiros para que os países membros ajudem a equilibrar seus saldos de pagamento. Sua sede está localizada em Washington, D.C., Estados Unidos

O Banco Mundial é uma instituição financeira internacional que realiza medidas emergenciais para países em evolução. É o maior e mais reconhecido desk de desenvolvimento do mundo, podendo ao mesmo tempo obter status de observador no Grupo das Nações Unidas para o Desenvolvimento e em outros fóruns internacionais, como o da instituição financeira G-20. A filial está localizada em Washington, D.C., Estados Unidos da América. O Banco Mundial faz parte do Grupo do Banco Mundial.

A missão do banqueiro é atingir o duplo objetivo de erradicar a pobreza extrema e construir prosperidade compartilhada. O Banco Mundial é composto por duas organizações que funcionam sob a mesma estrutura: o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA ou AID).

 

História

John Maynard Keynes (diretamente) representa o Reino Unido na conferência e Harry Dexter White (diretamente) representa os Estados Unidos.

O Banco Mundial começou com a criação do BIRD nas Conferências de Bretton Woods em 1944, juntamente com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT). Por tradição, a presidência das duas instituições é dividida entre Europa e Estados Unidos, já que o Banco Mundial é presidido por um norte-americano, enquanto o FMI é presidido por um europeu.

Logotipo Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e o Reino Unido dominarão as negociações nas Conferências de Bretton Woods e, neste contexto, as questões relativas ao financiamento de conflitos armados serão aprofundadas.

A missão inicial do Banco Mundial, ao mesmo tempo que o BIRD, era financiar a reconstrução dos países devastados pela Segunda Guerra Mundial. Ao longo do tempo, a missão evoluiu para o financiamento do desenvolvimento de mais países pobres e para a assistência financeira.

 

Os Acordos de Bretton Woods incluíram propostas definidas nos Estados Unidos, Canadá, países da Europa Ocidental e Austrália, dentro de 44 países, implementadas entre 1 e 22 de julho de 1944, que elaboraram pagamentos para o sistema monetário internacional. O sistema idealizado nas negociações recebeu o mesmo nome do local onde o evento ocorreu, em Bretton Woods, no estado norte-americano de New Hampshire. Uma conferência criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Na reunião, os participantes aprovarão os estatutos de funcionamento do FMI e do Banco do Mundo, chamados Artigos de Entendimento. Esses acordos foram ratificados há muito tempo, em 1945, e entraram em vigor no final daquele ano, depois de 30 países. O resultado é um marco muito positivo na história da diplomacia, já que naquela época os acordos multilaterais eram improvisados. Rever as propostas dos anos anteriores na conferência dos economistas John Maynard Keynes, do Reino Unido, e Harry Dexter White, dos Estados Unidos, ajuda a obter o consenso necessário na reunião. Elas foram publicadas separadamente em 1942 e foram discutidas principalmente entre economistas, banqueiros e empreendedores.

Com delegados de 44 países, a conferência foi organizada em três países. A Comissão I, programada para discutir o FMI, foi presidida por White. No II, sob a responsabilidade do Banco Mundial, que era a responsabilidade de Keynes, e no III, que cuidava de outras formas de cooperação financeira internacional, era supervisionado pelo mexicano Eduardo Suárez, ministro da Economia e chefe da delegação de seu país. Cada comissão, por sua vez, trabalhou em diferentes comitês específicos. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, anfitrião do evento, prepara as transcrições dos debates. A ata do evento foi publicada em 1948, mas as transcrições completas não foram processadas para publicação em 2013, quando o material foi editado por dois observadores do Centro de Instituições Financeiras.

O Sistema

No sistema de Bretton Woods, os países que aderem ao Fundo Monetário Internacional concordam em estabelecer uma taxa de câmbio fixa, mas ajustada para corrigir um "desequilíbrio fundamental", expresso no artigo IV de seu estatuto. A expressão, no entanto, não estava claramente definida. No rascunho original, os países devem consultar o FMI antes de alterar sua taxa de câmbio. Ou processo automático sério se a variação for menor que 10%. Na maioria dos casos, a propriedade rural é motivo de confusão, mas na prática isso raramente é visto.

Cada uma de suas taxas de câmbio fixas vale US$ 35 por dólar. Os países industrializados, que em geral passavam por grandes mudanças, tiveram pouca alteração em sua base tributária a partir de 1960, mas em 1949 experimentaram um grande aumento de valores, associado à desvalorização da libra esterlina. Quando fazíamos as coisas, ao mesmo tempo, nos comunicávamos com pouco conhecimento prévio ao FMI, dificultando a supervisão da organização. No início, usamos diferentes mudanças de regras, algumas com taxas diferentes para certas operações e outras, em menor número, com taxas flutuantes.

O sistema durou até 15 de agosto de 1971, quando os Estados Unidos, de forma unilateral, reconheceram a conversibilidade do nosso dinheiro, o que voltou a nos dar uma forma de confiança. Essa decisão, conhecida como Nixon Choke (Choque de Nixon), cria uma situação em que o dólar americano retorna ao modo de reserva, usado por muitos países. Ao mesmo tempo, outros métodos que antes eram fixos (como a libra esterlina, por exemplo), passarão a ser flutuantes.

Além da letra de câmbio, um acordo prévio de que o FMI concederá crédito aos países para suportar dificuldades temporárias de pagamento. A cada país é atribuída uma quota de participação no Fundo, que estabelece uma proporção do que pode obter em financiamento e do seu poder de voto nas resoluções do organismo.

 

O Consenso de Washington é uma combinação de grandes medidas, que são compostas pelos recursos financeiros básicos, formuladas durante uma reunião, em novembro de 1989, por economistas de instituições financeiras localizadas em Washington D.C., como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, com base em um texto do economista John Williamson, do Instituto Internacional de Economia, como novas medidas que estimularam a competição entre taxas cambiais, deram incentivos às exportações e anteciparam a gestão das finanças públicas e retornaram à política oficial do Fundo Monetário Internacional nos Estados Unidos de 1990, momento em que se passariam por "receitas" para promover o "ajuste macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades. 

No encontro em que precisamos ajustar o Consenso, foram feitas recomendações aos países da América Latina visando sua desconcentração e expansão do neoliberalismo. O consenso foi convocado pelo Instituto de Economia Internacional, sob o nome de "Ajuste Latino-Americano: Quanto Aconteceu?", com a participação de instituições e economistas neoliberais, bem como alguns representantes de países latino-americanos. Além disso, foram discutidas as reformas consideradas necessárias para que a América Latina vivesse uma estagnação econômica ao longo do tempo, como consta em "Época Perdida" (1980), que se caracterizou por baixo crescimento do PIB, alta inflação e volatilidade dos mercados em diferentes países, entre eles o Brasil.

De acordo com o próprio Banco Mundial, em texto de 2005, “o Consenso de Washington não era o único ponto de vista dos economistas, mas era dominante, dificultando que outros fossem ignorados”.

Segundo Dani Rodrik, no ano 2000: "Por mais que os proponentes (do Consenso de Washington) e os críticos discordem, é legítimo dizer que ninguém jamais dá crédito ao Consenso de Washington. Neste momento, não se sabe se o Consenso de Washington ainda existe; o que se sabe é se ele terá ou não que substituí-lo."

HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA - PROVA FINAL

 




27 maio 2025


Responder de forma argumentativa  a seis perguntas entre estas:

1.      A ideia de Deus na teologia aristotélica e as diferenças com o Deus da revelação bíblica.

2.      Como Aristóteles explica o ser: a ideia de substância e as suas determinações.

3.      Os 55 círculos do sistema astronômico de Aristóteles e o éter como aporia do seu sistema, que brota do seu mesmo método.

 

4.      A visão antropologia do platonismo e neoplatonismo: sintonia e divergências. As consequências na mística cristã desta visão antropológica.

 

5.      As três hipóstases de Plotino: qual foi o objetivo desta impostação metafisica.

6.      A síntese médio- platônica: o resgate da segunda navegação e a nova colocação das deias platônicas.

7.      Como Plotino explica a matéria e qual a diferença com a explicação platônica.

8.      As etapas da subida ao Uno na metafisica neoplatônica e porque é possível esta subida.

9.      Qual é a maior diferença entre a impostação metafisica de Plotino com aquela de Platão?

10.  Explica o que mais chamou a tua atenção no curso de filosofia antiga.

11.  Porque a metafísica aristotélica não consegue explicar os mistérios da revelação cristã?

12.  O novo contexto histórico causado pelas conquistas de Alexandro Magno muda, também, a maneira de fazer filosofia, comparado com a produção dos grandes sistemas metafísicos da época anterior, ou seja, os sistemas platônico e aristotélico.

 

terça-feira, 6 de maio de 2025

Filo de Alexandria

 



 

Gênese, componentes e problemas fundamentais da filosofia de Filo

 

A gênese do pensamento filoniano e o seu papel na historia da filosofia antiga

 

Filo constituiu, sem duvida, um personagem que, com linguagem de hoje, poderemos definir “de ruptura”.Eles se encontrou a cavaleiro de duas épocas e duas culturas; não foi imune a uma serie de contradições (devidamente ampliadas por alguns estudiosos), as quais brotaram sobre tudo do fato de terem expressado idéias novas em muitos casos contermos velhos e pelo fato de que as idéias novas que quis impor derivava de uma tradição e de uma mentalidade muito diferente (e, em certos aspectos, antitética) da cultura helênica, da qual ele extraiu o seu léxico e seus instrumentos conceituais. Todavia, além dessas contradições, “a ruptura” da qual falavam evidente quase em todas as paginas de suas conspícua obra.Filo abalou nas raízes justamente o fundamento que por três séculos tinham sustentado o pensamento das grandes escolas helenísticas.De fato, ele irrompeu sobre o imperante materialismo com a recuperação da dimensão de incorpóreo, que proclamou e defendeu de modo bastante energético; a visão imanesista contrapôs uma concepção transcedentalista até mesmo avançada com relação a todas as que a Grécia tinha até então conhecido; ademais, redimensionou drasticamente a incondicionada fé na “autarquia” do homem, mostrou a necessidade de transcender a razão e de ligá-la a Deus a divina revelação do poder. Verdadeiramente, resolver os problemas últimos; enfim, fez irromper na visão do mundo e da vida profundamente imanesista e naturalista própria do helenismo uma corrente forte religiosidade de intenso misticismo destinada a mudar a Tempra do pensamento filosófico de maneira radical.

Tão conspícua renovação aconteceu com Alexandria e por obra de um homem que não era grega mas hebreu educado na cultura helênica porém embebido da fé do seu povo e firmamento conhecido da inspiração divina da Bíblia.

Todas as circunstancias são essenciais não só para compreensão de filo, mas de todo o pensamento do qual resta falar.

Em Alexandria tiveram lugar as mas notáveis tentativas de síntese entre o espírito racionalista tipicamente helênico e as instancias orientais que eram, ao invés, de natureza tipicamente religiosa e mística.Ora, entre as varias correntes da filosofia grega, duas eram particularmente hedônicas para garantir a mediação entre o racionalismo helênico e a religiosidade o misticismo orientais: o pitagonismo e, sobretudo, o platonismo. E justamente estas duas filosofias, exatamente em Alexandria, começaram a ressurgir tentando sair daquele magma estoicizante.

A tentativa de fusão entre teologia hebraica e filosofia grega operada por Filo, mesmo com todas as incertezas e numerosas aporias, constituiu um acontecimento de alcance excepcional não só no âmbito espiritual da grecidade e a do hebraísmo, mas também em geral, enquanto inaugura a aliança entre fé bíblica e razão filosofia helênica, destinada a ter tão amplo sucesso com a difusão do discurso cristão, e da qual deviam brotar as características do pensamento dos séculos posteriores. Com Filo, em uma, como foi justamente observado, começa, em certo sentido, a historia da filosofia cristão e, portanto “européia”.

 

A componente helênica

Acima de todas aquelas afirmações que tinham então se tornado patrimônio de quase todas as escolas e que constituíam uma verdadeira koiné filosófica, assim como acima das doutrinas particulares extraídas de cada uma das escolas, predomina em Filo, muito amiúde, como já antecipamos, o espírito do platonismo. Os numerosos conceitos estóicos dos quais se valeu, como observamos, são sistematicamente separados dos seus fundam netos materialistas e imanentistas e reincididos no contexto de uma metafísica espiritualista. O próprio pitagonismo sé é utilizado em certa medida, explorando sobretudo a interpretação simbólica nos números a serviço da exegese alegórica de certas passagens da Sagrada Escritura: em particular coisas muito indicativa não é acolhida à identificação das Idéias com os números e é mantido o aspecto edidético paradigmático da doutrina platônica das idéias em todo o seu alcance. De Aristóteles são acolhidas doutrinas de acordo ou facilmente concordáveis com o platonismo. Portanto, parece correto falar de um platonismo de Filo.

Mas que tipo de platonismo é reproposto pelo nosso filosofo? Trata-se de uma nova forma de platonismo, reformado em alguns pontos essenciais. Filo reconquista plenamente o conceito do incorpóreo, e, assim reúne-se ao autentico espírito do platonismo, pondo-se alem das incompreensões da Academia aclética, mas reforma o conceito de Deus, pondo-o acima das idéias, reforma a concepção das idéias, fazendo delas produções e pensamentos de Deus, transforma em sentido cracionista a atividade demiurgica da divindade, reforma o conceito de lei moral fazendo dele um “mandamento” de Deus, transforma a antropologia, introduzindo algumas novidades revolucionarias na concepção da alma, que não só os esquemas da psicologia platônica, mas também os de todas a grecidade.

 

A componente hebraica

O texto da bíblia ao qual Filo se remete não é o originário hebraico, mas a Sepuaginta, Tradução grega iniciada em lexandaria sob o reinado de Ptolomeu Filadelfo (248-246 a.C.) para responder a necessidade da comunidade hebraica que se tinha formado em Alexandria e tinha então apropriado da língua grega.

Toda tradução, em particular, se é feita de modo aprofundado, é, de algum modo, uma reinterpretarão, isto é, uma mediação. Mas Filo estava convencido de que, como a originaria em língua hebraica, assim também a bíblia em língua grega, ou seja, a própria tradução era inspirada por Deus e que, por isso, ela tinha o mesmo valor. Deus, diz expressada mente Filo, inspirou os tradutores na escolha das palavras gregas com as quais transpuseram as originárias, de modo que, propriamente falando, eles não foram tradutores, mas hierofantes e profetas.

Filo conhecei e meditou a bíblia praticamente por inteiro, dado que cita passagens de pelo menos dezoito dos livros dos quais ela é constituída, mas privilegio de maneira absoluta o Pentateuco, ou seja, a lei (Torah em hebraico, Nomos em grego), considerou Moises, o seu autor, o maior profeta e a palavra mosaica, enquanto inspirada por Deus, a amais elevada saída da boca de um homem. A palavra de Moises constituiu, pra ele, conseqüentemente, a verdade com a qual devia ser medida e a qual devia ser subordinada a palavra de todos os filósofos. De resto, ele considerou que algumas das doutrinas fundamentais dos filósofos gregos tinham antecedentes precisamente em Moises. A qualificação das filosofia mosaica, com as devidas especificações acima feitas, é a que melhor parece caracterizar a especulação filoniana.

 

O alegorismo filoniano e os seus precedentes gregos e hebraicos

O alegorismo constituí o verdadeiro taco espiritual do nosso autor. O método de filosofar filoniano coincide com o alegorismo, o qual, consiste articulamente, em encontrar e explicar o significado oculto sob as figuras, os atos e os acontecimentos narrados no Pentateuco.

Qual é a gênese, a natureza e o alcance do alegorismo filoniano?

Deve-se logo observar que o método da interpretação alegórica, na época de Filo, era difundido seja em ambiente pagão, seja, também, em alguns ambientes judaicos.

No âmbito da cultura helênica, os gramáticos alexandrinos interpretavam Homero e Hesioso em chave alegórica, e no amputo do antigo pórtico, a mitologia pagã era interpretada como símbolo de verdades fisico-teologiocas. Todavia, para os estóicos, a interpretação alegórica constituía um método complementar, ou seja, acessório e por anda essencial ao se procedimento propriamente filosófico.

Filo atribui, ademais, a comunidade hebraica dos essênios, que vivia na palestina, a pratica da meditação da maior parte das passagens da bíblia, justamente, mediante símbolos. Também da comunidade hebraica dos Terapeutas, que tinha estabelecido no Egito, Filo diz que praticava sistematicamente a interpretação alegórica, e que comparava o sentido literal ao corpo do ser vivo e o alegórico a alma.

Antes de prosseguirem, restam a observar ainda dois pontos muito importantes para a correta compreensão do alegorismo filoniano. A) Filo considera que mesmo a letra da bíblia tenha um sentido; de fato, ele rejeita, como norma, a identificação do relato bíblico com o puro mito. O sentido literal se situa, contudo, a seu ver, num plano nitidamente inferior,a permanecendo por assim dizer, extrínseco a mensagem mosaica, enquanto a interpretação alegórica sitia-se num plano decididamente superior, alcançado a própria alma da mensagem.

Ambos os significados devem ser considerados divina Revelação. B) o próprio Filo, como interprete alegórico considera-se participe da divina inspiração.

 

Filo e o prelúdio de uma grande virada do pensamento ocidental 

A primeira formulação do problema das relações entre a Revelação divina e a filosofia, ou seja, entre a fé e a razão

É evidente que aqui nos encontramos diante de uma virada essencial do pensamento ocidental, enquanto a especulação filosófica encontra-se não só diante de problemas novos, mas de problemas de tal natureza a alcance, que, para poderem ser resolvidos. Comportavam estruturalmente a crise do conceito clássico da filosofia e o desenvolvimento de perspectivas inéditas. Tratava-se, em substância, de estabelecer quais as relações entre a Revelação divina e a filosófica, ou seja, entre a fé, que é a única a poder crer numa superior Revelação divina, e a razão filosófica, que ao logos humano pede a explicação e a justificação de todas as coisas. E tratava-se, por conseqüências, de estabelecer de que e de quem dependiam as concordâncias encontráveis entre as doutrinas contidas nos textos revelados, de um lado, e nos escritos fruto da autônoma especulação filosóficas dos gregos, por outro, e de estabelecer de quem cabia a primazia: se a fé na Revelação, ou se a autônoma pesquisa da razão humana.

Para compreender a novidade desses problemas e a sua relevância, convém relembrar que o pensamento grego da era clássica, assim como o da era helenística, nunca se tinha encontrado na situação de dever defrontar-se com uma verdade ou com doutrinas consideradas reveladas, com as da bíblia, com as quais Filo é o primeiro a defrontar-se; ou com as do evangelho, com as quais se defrontarão os padres da igreja, ou as do Corão, com mas quais se medirão os pensadores Árabes. A religião helênica não tinha dogmas imutáveis comparáveis a outras religiões, nem uma casta sacerdotal com a tarefa precípua de custodiá-los; e, o que mais importa, as crenças pagãs não eram de modo nenhum consideradas “doutrinas Reveladas por Deus” no sentido bíblico, como já dissemos no primeiro volume.

É justamente Filo o pensador que por primeiro interpreta as relações entre filosofia e Revelação, em termos de subordinação ancilar das primeira a segunda, formulando uma doutrina que, através dos padres da igreja, passará para a escolástica e para o pensamento ocidental, e que permanecerá, por séculos, canônica.

O fundamento da sapiência de que fala Filo-nota-se bem é precisamente a fé, entendida como convicção sólida e indestrutível, e contraposta à incerteza dos raciocínios humanos.

 

Resumo a ruptura dos quadros helenísticos do saber filosófico: a ascensão da teologia ao primeiro plano e a proclamação do primado da spência sobre a sabedoria

 

O que dissemos até aqui é suficiente para explicar que a tripartição da filosofia, que vimos ser à base de todos os sistemas da era helenística, não podia mais fornecer quadros idôneos para conter o pensamento filoniano na verdade, o nosso filosofo acolhe formalmente a tripartição da filosofia em lógica, física e ética, mas aporta-lhe uma correção que a transforma e que, antes, acabasse por desagregá-la.

Filo, de fato, transporta a teologia do âmbito da física (que se torna pura cosmologia) para o da ética e põe expressamente como momento culminante da ética “o conhecimento do criador”, do qual deriva a santidade, a mais bela de todas as aquisições. Isso significa, como veremos, separar a concepção de Deus na concepção dos cosmos e ligá-la a do homem, contrariamente a toda tradição grega.

Mas também a concepção tipicamente helenística da superioridade da phronesis ou sabedoria sobra a sophia ou sapiência é rejeitada.  Sapiência é, para Fio, o conhecimento e o oculto de Deus, em       quanto à sabedoria diz respeito ao conduta moral, a vida prática do homem.

Mas é claro que sendo a sapiência condição da sabedoria, sendo, como se disse, a teologia (que sapiência) momento culminante da ética a sapiência acaba por incluir a própria sabedoria, ou, em todo o caso, por ligá-la estreitamente a si: poder-se ia que em Filo a sabedoria e o momento pratico da sapiência.

Esse caminho real que é a sapiência em outro lugar é afirmado como a própria palavra de Deus, ou seja, a sua revelação, a lei mosaica geral.

Essa concepção da sophia, que é ao mesmo tempo subida do homem a Deus , através de Moises e dos profetas, aos homens, rompem tanto os elementos helenísticos, como, também, os clássicos: ela inaugura um novo de entender a filosofia e abala pelas raízes as convecções da grecidade.

 

A metafisica, a teologia e a ontologia de Filo 

A superação dos pressupostos materialistas e imanentistas dos sistemas helenísticos e a reafirmação do incorpóreo e da transcendência

 

A modificação dos quadros helenísticos do saber filosófico, devia depender diretamente da erosão dos fundamentos sobre as quais se apoiavam. Com efeito, Filo tira a teologia da âmbito da cosmologia e a vida a ética, porque repudia a concepção materialista e imanentista de Deus e do divino, sustentadas por todas as escolas helenísticas, em particular pelo Pórtico, e até mesmo redimensiona radicalmente o sentido e o alcance da própria cosmologia.

De fato, do inicio ao fim dos escritos do nosso filosofo, reafirma a realidade do incorpóreo, justamente com aquela valência e com aquela densidade ontológica e metafísica que tinha ido intensa e concordemente negadas pelos expoentes não só d jardim, do Pórtico e dos céticos, mas pelos próprios seguidores degenerados da academia e do Peripato. No incorpóreo é indicada por Filo à verdadeira causa do corpóreo, e por conseqüência, invertendo a perspectiva comum a todas as escolas helenísticas, ao corpóreo, é negada toda autonomia ontológica, ou seja, capacidade de dar razão a si mesmo. As conquistas metafísicas de Platão são, assim, não só plenamente recuperadas, mas, ulteriormente fecundadas e desenvolvidas em função de alguns elementos essenciais extraídos da escritura.

Ser incorpóreo é Deus, entes incorpóreo são os logos, as potencias, as idéias e os mundos das idéias. E realidade incorpóreas são também as almas. Ora Deus, o logos, as potencias e o cosmo inteligível, as almas tem a titulo diverso e em diferentes níveis um papel bem preciso de causa e de fundamento diante d sensível, de modo que se pode dizer que o corpóreo só existe porque existe um incorpóreo e porque esse o produz, o sustenta e o mantém.

A incorporeidade de Deus coincide, com a sua absoluta simplicidade (absoluta falar de composição e de partes, as quais são, ao invés, características peculiares do corpóreo) e absoluta incorruptibilidade.

E como o conceito de incorporeidade é perfeitamente reconquistado e expresso, assim também o de transcendência, com conseqüências e clareza até mesmo superior com relação a Platão e Aristóteles.

Da existência necessária de idéias incorporais, vale dizer, de paradigmas arquétipos incorpóreos, que servem de causa exemplar das realidades corpóreas, filo está de tal modo convencido, que chega a sustentar essa doutrina como um dos fundamentos da revelação mosaica.

No que diz respeito à alma, filo não só tende a distinguir acentualmente psyché do nos para ressaltar o estatuto privilegiado desse ultimo, mas introduz novidades que o levam a posições mais avançadas com relação a Platão.

 

A nova concepção de Deus

O centro do sistema filoniano é constitui por um sentimento e por uma concepção de Deus radicalmente novos com relação à precedente tradição grega, como logo veremos.

Contudo, ele distingue, de modo mais claro e, sobretudo, de modo teoricamente mais consciente do que foi feito em precedência , dois diferentes problemas: o da demonstração da existência de Deus e b) o da determinação da sua natureza e da sua essência. O primeiro problema, diz ele, não é difícil; o segundo, ao invés, não só difícil, mas ate mesmo insolúvel.Noutros termos, segundo o nosso filosofo, a existência de Deus é compreensível, a sua essência, ao contrario, é incompreensível para o homem.

Ora, malgrado o fato de que a existência de Deus seja compreensível nota filo, nem todos os homens conseguem compreende-la, ou nem todas chegam a isso de maneira adequada. Não conseguem compreende-la, os ateus, que negam sem mais a existência de Deus, ao invés, os supersticiosos, os quais, em vez de fundarem-se sobre o uso sadio do raciocínio, confiam-se indiscriminalmente (ou seja acriticamente) as tradições. Ademias, a compreendem mal os que pretendem explicar todas as coisas com a ciência física e acabam por identificar Deus com o mundo, ou seja, os panteístas. Também a compreendem mal os que põe o mundo como incriado, acabano desse modo por admirá-lo mais que o criador e, portanto, por admitir a existência de um Deus inativo. E, enfim, compreendem mal a existência de Deus os politeístas, que introduzem uma quantidade de deuses, masculinos e femininos, velhos e jovens, e que, portanto, não compreendem a idéia do ser uno, o único a existir verdadeiramente.

As provas que Filo aduz a existência de deus são fisico-teologico, ou, se prefere, cosmológico, teológico, e são todas derivadas da tradição filosófica grega, particularmente de Sócrates, de Platão e de Aristóteles.

Esse procedimento a posterior, ou como diz filo, “de baixo para cima”, consiste numa interferência da razão, que parte das coisas, e julgando-as incapazes de si justificar a si próprias, sobe a causa que é a única a poder explicá-las, ou seja, consiste num complexo trabalho de mediação. Mais Filo considera que existe ainda outro modo de cegar ao conhecimento da existência de Deus. Trata-se de um tipo de conhecimento que não vai de baixo para cima, mas que provem diretamente e imediatamente do alto. Tal conhecimento, porém, é reservado aos eleitos, e, precisamente, aos que são verdadeiros servidores e amantes de Deus, e é um conhecimento que, por sua iniciativa, deus concede como dom a quem lhe pode e se faz digno dele, como aconteceu, de modo paradigmático, com Moises.

Nesse conhecimento privilegiado da existência de Deus não é, propriamente, o homem que vê a Deus, mas, antes, é Deus que se diz vera o homem. Em suma, trata-se de uma iniciativa de Deus que em ao homem e lhe faz dom, como dizíamos, da visão de si.

Estamos, aqui, diante de uma idéia completamente desconhecida ao pensamento filosófico grego: a do dom gratuito que Deus pode fazer aos homens por amor a eles.

O conhecimento imediato, que Deus pode dar ao homem “dando-se a ver” refere-se nota-se bem – apenas a sua existência e não a sua natureza ou essência que, como já recordamos, permanece incompreensível ao homem, pois o transcende infinitamente.

A natureza de Deus não pode ser compreendia pelo homem por causa da sua absoluta transcendência: ele transcendem não só a natureza humana, mas também a natureza do céu e de todo o universo. Deus é totalmente outro cm relação a tudo quanto conhecemos, ou, para dizê-lo com a própria terminologia filoniana, “não a nada que seja semelhante a Deus”.

Antes filo diz até mesmo que Deus esta acima (do próprio uno ou Mônada, que está acima da vida,à cima da virtude, acima da ciência, acima do próprio bem. As repetidas asserções do nosso filósofo de que Deus “é sem qualidade”, querem dizer justamente isso: que ele está acima de todas as possíveis determinações qualitativas (Deus está acima de qualquer forma e qualidade).

Deus transcende não só o ser e o mundo sensível, mas também os entes e o mundo inteligível, na medida em que como veremos é o criador de um e do outro. Portanto, Deus é fonte de toda realidade; não esta em parte alguma e, ao mesmo tempo, esta em toda parte, preenche tudo de si e tudo contem.

A transcendência ontológica de Deus comporta, necessariamente, também a sua transcendência gnoelógica, tornando-o incognoscível ao homem e, por conseqüência, tornando-o também inefável, ou seja, inexprimível e na designavel com nomes.

Essa doutrina, da qual existem traços na padecente especulação, mas sem adequadas motivações e sem os relativos desenvolvimentos, pode ser considerada uma novidade de Filo, pelo mesmos na precisa formulação que ele lhe deu (a absoluta transcendência depende, em ultima analise, do conceito de criação, ausente na especulação anterior), e constitui a fundação daquela que mais tarde, no âmbito da especulação cristã, será chamada “teologia negativa”.

È importante notar o fato de que Filo recomenda prosseguir constantemente na busca da essência de Deus; de fato, embora esta permaneça estruturalmente incompreensível, no entanto, diz ele, o homem pode chega a captar algumas propriedades que se referem a ela, justamente como acontecem com os olhos, os quais, sendo incapazes de ver o sol em si, conseguem todavia captar os seus reflexos sobre a terra e a ponta do esplendor de seus raios.

Com efeito, as varias propriedades de deus as quais Filo se refere nos seus escritos, ou exprimem, de vários modos, a diferença radical d’ele com relação a todas as outras coisas, ou exprimem alguns aspectos da sua atividade: nesse sentido seu é dito incorpóreo, único, simples, auto-suficiente, perfeito imóvel, imutável, eterno, onipresente, (e, portanto infinito), criador e pai de todas as coisas, providente, revelador da lei e assim por diante.

Já contudo, um nome que, segundo Filo, designa Deus de maneira privilegiada, no sentido que não exprime simplesmente uma das duas atividades, ou uma das suas potencias, mas, de algum modo, aproxima-se da própria origem da sua atividade e do seu poder.

Esse nome é o Ser ou o Ente ou O que possui Ser.A celebre passagem do êxodo, na qual Deus responde a Moises que queria saber seu nome, soa assim na Seputuagiana: “eu sou aquele que é”, “eu sou o ser”. Filo não explora a fundo a Valencia metafísica da expressão; todavia, não só usa este nome de modo sistemático, mas aqui e acolá parece considerar que Deus se auto define como o ser por excelência, enquanto e aquele ser que é e será sempre, e ademais é o ser que, pela sua própria natureza, faz se também as outras coisas, o ser que, seno plenamente ser, é fonte de todo outro ser.

 

A primeira formulação filosófica da doutrina da criação 

Filo é o primeiro pensador ao introduzir na filosofia a doutrina da criação, extraindo-a da bíblia e tentando media-la com a doutrina platônica do Tineu. A especulação pagã subseqüente se desfará completamente dessa posição, que, ao invés, constituirá o fundamento do pensamento cristão.

Deve-se observar que o próprio Filo evidencia dois pontos muito importantes: a) a atividade de deus produz coisas que não eram, produz todas as cosias a partir do não ser; b) Deus não é, portanto, apenas demiurgo, mas criador.

Filo sustenta a sublinha muitas vezes que tudo é graça e dom de Deus; ninguém pertence a si, mas tudo e todos a ele: tudo é livre e gratuitamente dado pela sua bondade. Trata-se de um modo de pensar e de sentir possível num contexto criacionista.

 

A doutrina do logos

 Conceito comporta de novidades, em primeiro lugar, no nível metafisico-ontologico, a começar pela teoria do logos, que assume valências verdadeiramente inéditas.

Infelizmente Filo fala freqüentemente do logos, mas prevalentemente por alusões, e, ademais, em diferentes contextos e a partir de diferentes pontos de vista, de modos que se explica bem que os estudiosos tenham proposto exegeses diversas e às vezes opostas.

Nesta sede é impossível proceder apenas pó acenos, dada à complexidade da matéria e o caráter problemático das teses.

Deus, explica Fio, querendo criar o mundo sensível de modo adequado, produz, primeiro, o mundo inteligível, que tem a função de modo incorpóreo segundo o qual deve ser realizado o mundo corpóreo, assim como faz o arquiteto, o qual, quirim construir uma grande cidade, construí primeiro o projeto dela com a sua inteligência e o fixa na sua alma, para depois traduzi-lo na sua realidade. Ora, o logos divino é, precisamente, a atividade ou potencia de Deus que cria as realidades inteligíveis, cuja a função é a de modelos e paradigmas ideais.

 

A doutrina das “potências”

Deus é atividade indefectível; ora, as potencias são, precisamente, as múltiplas manifestações dessa atividade. É evidente que nesse contexto “potencia” não significa potencialidade em sentido aristotélicos, mas força, ação, atividade. Vimos também que o logos se reduz a uma dessas atividades ou potencias, a que é própria do pensar (que veremos ser uma potencia privilegiada, que reuni todas as outras).

Ora, também para as opulências são distinguíveis os três níveis encontrado no logos. La, de fato, se consideradas em Deus, são as propriedades de Deus mesmo; mas Filo não fala expressamente desse aspeto das potencias. Consideradas, ao invés, em si, são, em certo sentido, entes incorpóreos “intermediários” enter Deus e o mundo, são as próprias junturas do universo físico.

Dado que Deus não é finito, inumeráveis são as manifestações da sua atividade, ou seja, as suas potencias., Filo menciona, porém, apenas em numero limitado e, como regar geral, só apela para as duas principais, e a estas subordina todas as outras. As duas potencias principais são: a potencia criadoura, ou seja, a potencia com a qual deus produz o universo e apotencia real com a qual o criador governa o que criou.

Essas duas potencias correspondem, como só estudiosos observam, aos dois aspectos da divindade que a antiga tradição hebraica indicava com nomes Elohim e yahweh. Elohim exprimia a potencia, e a força do bem, portanto, da criação; Yahweh, a força legisladora e punitiva. A potencia criadora ligam-se, pro exemplo, a potencia Benfeitora e a Propiciadora. A potencia criadora ligam-se, por exemplo, a potência Legisladora.

É evidente que, sendo Deus único, as potencias , que são múltiplas, revelam apenas aspectos ou projeções de Deus. Isso vale, naturalmente também para as duas principais.

A relação entre o logos e as duas supremas potencias (e, portanto, entre o logos e todas as outras potencias, que as duas principais, como vimos, são subordinadas) é expressamente te matizada por Filo.

Em alguns textos, ele considera o logos como fonte das outras potencias; noutros, ao invés ele atribui ao logos à função de reunir as outras potencias.

 

A doutrina das idéias e a reforma filoniana

As idéias, de ingênitas tornam criadas por Deus no ato do seu pensar, como arquétipos do mundo sensível, elas se tornam, desse modo, pensamento de Deus, no sentido em que Deus as cria pensando-as, mas não se esgotam na meta atividade do pensar e são também seres, ou seja, realidades, no sentido que vimos. O “lugar das idéias” torna-se o logos, que as escolhe na sua totalidade como “cosmo inteligível”.

Para transformar as platônicas idéias num cosmo inteligível produzido por uma mente e nela contido, era preciso conquistar o conceito de criação. Antes de Filo existiram seguramente algumas tentativas de situa idéias no pensamento divino, mas é igualmente seguro que faltou o fundamento que pudesse garantir o sucesso da tentativa. Depois que Filo, ao invés, a redução das idéias a pensamentos divinos tornar-se-á um dogma sempre mais difundido; mas para encontrar filósofos que a repropunham com adequadas motivações metafísicas é preciso chegar aos médio-platonicos (em particular Albino), que as situa na sua vão hipostática do supra sensível, e até mesmo até Plotino, que, não por acaso, provêm do ambiente alexandrino.

Naturalmente, enquanto criadas, as idéias cessam de ser o “Ser que verdadeiramente é”, ou seja, o ser absoluto, e o ser absoluto torna-se Deus, o Deus que, sendo justamente o ser por excelência, pode suscitar a totalidade das coisas a partir do não-ser, como vimos acima.

E, sempre enquanto criadas, as idéias deixam também de ser paradigmas absolutos e se tornam imagens que são, por sua vez, paradigmas. O modelo absoluto é Deus. O logos é já a primeira imagem, uma imagem perfeita, que, por sua vez, serve de modelo ao seres que se segue,. E enquanto o logos é a imagem perfeita de deus e o modelo de todas as coisas, as idéias são imagens particulares e, portanto, modelos particulares das coisas individuais.

É necessário observar eu a criação das idéias por pacto de Deus não é uma to temporal (como não é a geração do logos e das potencias), enquanto não acontece na dimensão do tempo.

Deus é interior no sentido ontológico as idéias que cria, enquanto é a fonte delas e, portanto, é anterior também em sentido hierárquico. Analogamente, as idéias são anteriores ao mundo em sentido ontológico e axiológico, enquanto são o seu modelo e principio paradigmático, enquanto o mundo é posterior a Deus e as idéias também em sentido cronológico, justamente porque, como se disse, a dimensão do tempo nasce com o mundo.

Filo, ademais, ligou as idéias às potencias de vários modos. Magardo a mobilidade da linguagem que ele usa e a este respeito, pode-se dizer que as idéias em geral diferem das potencias pelos seguintes motivos: a) tem uma função mais imitida (as potencias apresentam aspectos da atividade de Deus, como vimos, enquanto as idéias, na acepção mais própria do termo, são, mais especificamente, a de ser particulares da atividade pensante de Deus); b) essa função é, precisamente, a de ser modelos ou causas exemplares. Por outro lado, é preciso ulteriormente observar que, na medida em que o logos no qual elas se encontram serve também de causa instrumental e eficiente na criação do mundo, como já dissemos, então, também sob esse aspecto particular, as idéias, enquanto produzem as coisas, podem ser consideras e ditas potencias ou atividades produtoras.

 

As almas sem corpo e os anjos

Filo interpreta os anjos como o correlativo daqueles que no pensamento pagão eram chamados “Demônios”. Os anjos são “almas incorpóreas” que vivem sobre tudo na esfera do ar. Almas totalmente privadas da parte irracional, e servem de monstros de Deus. Não que deus, observa oportunamente Filo, tenha necessidades de informantes e ajudantes; somos nós que temos necessidades de intermediários e de arbítrios diante da força imensa.

 

A antropologia e a moral de Filo

 

Nova concepção da natureza do homem, ou o homem em três dimensões 

Pouco a pouco, Filo amadurece uma concepção mais avançada, fazendo irromper no homem, por assim dizer, uma terceira dimensão, da natureza tal, capaz de transformar radicalmente o significado. O valor e o alcance das outras duas. Segundo a essa nova concepção, na qual a componente bíblica torna-se dominante, o homem é constituído de: a) corpo, 2) alma-intelecto e 3) espírito que provem de Deus. Segundo essa perspectiva, o intelecto humano é corruptível, enquanto é intelecto “terrestre”, a não ser que Deus inspire uma potencia de verdadeira vida, que é o seu espírito.

O intelecto humano, considerado em si, seria cosia miserável se Deus não soprasse nela o seu espírito; O momento que realiza o entrelaçamento do homem com o divino, para Filo, não é mais, como para os gregos, a alma, nem a sua parte mais elevada, o intelecto, mas é o espírito que vem diretamente de Deus. Por conseqüência, o homem tem uma vida que se desenvolve em três dimensões, como acima se dizia: 1) seguindo a dimensão física puramente animal (corpo), 2) segundo a dimensão racional (alma intelecto), 3) segundo a superior, divina, transcendente dimensão do espírito. A alma intelecto, por si mortal, torna-se imortal na medida em que Deus lhe da o seu espírito e vive segundo o espírito. Caem assim os pontos de sustentação sobre as quais Platão tentou fundar a imo0ratalidade da alma. A alma não é por si imortal, mas pode se tornar tal na medida em que sabe viver segundo o espírito.

Justamente dessa terceira dimensão o espírito de Deus, que deriva diretamente da interpretação da doutrina bíblica da criação, dependem todas as consideráveis novidades que Filo introduz na ética. A moral torna-se inseparável da fé e da religião e desemboca numa verdadeira união mística com Deus e numa visão extática.

 

A superação do intelectualismo ético da filosofia grega e a proclamação da fé como suprema virtude

Toda ética estava baseada, como vimos amplamente no curso dessa obra, sobre dois pressupostos fundamentais: a) o homem, só com a potencia da sua razão, pode conhecer a physis, o ser, o absoluto, e, por conseqüência, pode extrair, só com o uso da razão, as normas da sua vida moral, fundadas nas próprias leis da physis; b) a “virtude” ou “aretè” humana tem a sua raiz na razão e no conhecimento, e, antes, é conhecimento no sentido de que a razão é entendida como condição necessária e suficiente da ação moral.

Fio contrapõe a estas enraizadissimas convicções dos gregos concepções de caráter nitidamente oposto.

a)      a razão humana não basta para alcançar a verdade e todos os que, obstinadamente, agarram-se a ela caem numa forma de soberba atéia da qual Cam é símbolo. Não a razão humana, mas a Deus se agarra a sapiente, com humildade, e desse tipo de homem o símbolo é Abel.

O homem não alcança a verdade se a verdade não vem a ele.

O deus bíblico não só criou o mundo e se revelou nas suas obras, mas também revelou, a alguns diretamente e a outros através desses eleito (profetas), a própria existência. Não só deu as leis do viver, estabelecendo as leis da natureza, mas explicitou essas leis, mas uma vez, através dos profetas por ele inspirados.

b) a razão, ademais, e o conhecimento são, sem duvida, necessários para poder operar o bem; todavia, eles não são as condições suficientes; é preciso ainda a liberdade e a vontade de escolher o bem e de recusar o mal. O homem pode muito bem o melhor e ficar com o pior, justamente porque foi criado livre para escolher entre o bem e mal.

Ademais, deve-se observar que, pela primeira vez, a obrigatoriedade da lei moral era justificada e fundada. Todos os filósofos gregos se afadigaram para deduzir do ser (da physis) o dever ser, obrigação moral; para Filo, ao invés, essa dedução não constitui mais um problema, por que as leis morais são o mandamento de Deus, uma vontade que, ele impõe como criador, e que, ademais, também revela diretamente além de indiretamente. E,. Pela primeira vez, são adquiridos todos os elementos necessários para explicar o pecado, ou seja a culpa moral. O pecado se apresenta, não como erro da razão, calculo mal feito, mas desobediência a um mandamento, ou seja, um não-querer de deus.

Estamos diante de uma verdadeira inversão de perspectiva com relação ao racionalismo moral dos gregos, que depende, mais uma vez, do conceito de Deus criador e revelador e de nova concepção das relações subsistentes entre o criador e a criatura privilegiada que é o homem.

Enfim, deve-se notar que a ruptura com o racionalismo helênico comporta a introdução de uma nova virtude, a da fé, situada no vértice mesmo de todas as virtudes. A virtude “teologal” da fé em Deus torna-se assim a “rainha das virtudes”, ela se reduz a própria sapiência, sapiência que, para Aristóteles, era a suprema virtude dianoética.

O novo sapiente é o homem que tem fé em Deus, que nele põe toda a sua confiança, a ele tudo entregar, buscando com todos os sentidos segui-lo e intimá-lo.

Ao lado da fé emerge a esperança o amor. Delineiam-s assim, pouco a pouco, as que são virtudes teologias do pensamento cristão.

 

O itinerário para Deus, a união mística com ele e o êxtase

Toda a filosofia de Filo é, em ultima analise, um itinerários para Deus e a própria interpretação alegórica dos personagens e dos acontecimentos narrados na bíblia, como já dissemos, é justamente uma historia da qual aqueles personagens e acontecimentos são símbolos das etapas percorridas pela alma no seu itinerário para Deus.

Nesse itinerário, três são as etapas fundamentais, no interior das quais, ulteriormente, diferentes momentos são distinguidos.

1)      A primeira etapa consiste em abandonar a contemplação e a adoração do cosmo (mentalidade caldaica, como a chama Filo) para entrar em si mesmo, com a finalidade de conhecer a si próprio. A fragilidade da contemplação do cosmo, embora corretamente contemplada, consiste no fato de que, se o cosmo pode nos levar a subir a deus como seu criador, não nos permite alcançar o ulterior conhecimento da real relação de Deus com o homem,e , portanto, não permite realizar a união com Deus. Estamos também aqui diante de uma ruptura com o espírito predominante na filosofia grega, que é em larga medida cosmocêntrico.

2)      A segunda etapa consiste, justamente, no conhecimento de si próprio, com a finalidade de definir, diz Filo com verso homérico, “que a de bem e de mal no ser palácio”, ou seja, em si próprio. Essa segunda etapa implica um conhecimento a) do nosso corpo, b) dos nossos sentidos e c) da nossa linguagem e o conseqüente afastamento desses três domínios, que se revelam enganadores. A) o corpo, de fato, revela-se como uma espécie de prisão infamante, que tem como carcereiros os prazeres e os desejos B) os sentidos nos alienam, por assim dizer, e nos atraem para os objetos dos seu desejos, fazendo-nos renunciar ao que nos é próprio em beneficio do que nos é exterior e estranho. C) a linguagem nos engana como beleza aparente dos nomes, os quais ocorrem o risco de esconder, antes que revelar, a beleza real, ou seja, correm o risco de apresentar a parecia em lugar da realidade, a copia em vez dos arquétipos. Distanciar-se e afastar-se dessas três realidades, evidentemente, não quer dizer deixar de usá-las, o que só seria possível com a morte, mas que dizer adquirir uma “mentalidade de estrangeiro” diante delas.

3)      A terceira etapa consiste em refugiar-se na nossa alma e, ao mesmo tempo, em dar-se em conta que a nossa própria alma (ou seja, o nosso intelecto) deve ser transcendência, pois, se ela não levanta os olhos acima de si, isto é, para as realidades incorpóreas e para Deus, fatalmente se encontra em situação civil com relação a alguma coisa que é apenas humana e terrena.

Essa “saída de si”, ou seja, da própria alma ou intelecto que é um “dar” o nosso pensamento a quem é a sua causa, coincide com uma união mística e extática com Deus.

O sentido desse itinerário do homem a Deus é claríssimo: do conhecimento do cosmo veremos passar ao conhecimento de nós mesmos; mas o momento essencial consiste em tomar consciência de que somos uma nulidade; é exatamente no momento em que se reconhece o próprio nada, ou seja, no momento em que se compreende que tudo o que temos não é nosso e o damos a quem no-lo deu, que Deus se dá a nós.

A vida feliz consiste, justamente, nesse transcender do humano do divino, no “viver inteiramente para Deus mas do que para si próprios.

PLATÃO – FEDON (96-99)

  Necessidade de uma segunda navegação   (É Sócrates que está falando). O facto, Cebes, é que, na minha juventude, me senti extraordinariame...