Anotações de Paolo Cugini
Dois problemas da ontologia moderna:
1. Examina somente objetos objetivos
2. Não trata do ser dos seres humanos
Dasein: ser aí.
O como do ser é nosso modo de viver. Como estamos vivendo sendo aí. Nossa forma de ser inclui uma compreensão de nossa própria maneira de ser.
Hermenêutica e fenomenologia
A H. é o anúncio e o fazer conhecer do ser de um ser em seu ser em relação a mim.
A verdade trata de trazer aquilo que estava previamente escondido para a abertura do aí do dasein, não mais escondido.
O significado é encontrado na própria vivência vivida.
O que importa para Heidegger é que o significado ou verdade como descobrimento ocorre na própria experiencia vivida, ou é parte de sua constituição e não um juízo posterior de um sujeito sobre um objeto já experimentado.
Heidegger entende a história da H. como um afastamento do significado verdadeiro e original da H.
A H. de Heidegger é uma autointerpretação da facticidade, onde a facticidade está sendo encontrada, vista, entendida e expressada em conceitos.
A H. é usada para trazer a mostra vários aspectos da facticidade.
Tarefa da H.: interpretar o Dasein por si mesmo.
H. no sentido grego: o modo de ser se um ser (Dasein) é anunciado e feito conhecer: é uma realização de logos na linguagem e descobre algo que havia sido coberto (a tradição ontológica encobria o modo de ser real de Dasein).
Compreensão: o como do próprio Dasein.
Existenciais: formas diferentes de como Dasein existe; eles são descobertos na análise do ser fatual de Dasein.
Fenomenologia: método através do qual ganhamos acesso a Dasein sem pressuposições.
Fenômeno: estar presente como um objeto a partir de si mesmo.
Nós encontramos um objeto pela forma que nos é familiar, ou seja, como nos é transmitido pela tradição. Por isso é necessário um regresso as fontes da filosofia grega.
A análise hermenêutica de Ser e tempo
A pergunta ontológica sobre o significado do ser precisa ser feita novamente.
Três preconceitos:
a. Ser é o conceito mais universal.
b. O conceito de ser é indefinível
c. Ser é um conceito evidente por si mesmo.
Heidegger responde que ser o conceito mais universal indica na verdade sua obscuridade, ser indefinível indica que o ser não é um ente e que por isso precisamos perguntar sobre o seu significado e, finalmente, ser evidente por si mesmo indica que nós já compreendemos o ser de uma forma particular que pode ser incorreta, e por isso precisamos perguntar o que realmente significa o ser.
“A formulação explicita e lucida da questão do significado do ser requer uma explicação anterior apropriada de um ser (Dasein) em relação ao seu ser”.
Heidegger separa os níveis ontológicos e ônticos do ser.
Ontologia: significa o corpo de conhecimento organizado sobre as formas diferentes que as entidades são.
Ôntico: se refere as formas reais que seres individuais são.
Existência: significa o próprio ser ao qual Dasein pode se relacionar de uma forma ou de outra e que de algum modo sempre se relaciona.
Dasein se relaciona ao seu próprio ser.
Compreensão existencial: se refere ao reconhecimento das estruturas diferentes da existência, chamadas de existenciais. Se refere á forma particular pela qual cada Dasein se compreende em seu modo real de ser, nas escolhas que ele faz em relação as formas possíveis que ele poderia ser.
Problema: o acesso apropriado ao significado do ser do Dasein deve vir das próprias coisas e não das pressuposições do investigador. Por isso é necessário voltar para o grego e entender melhor os termos logos e fenômeno.
Fenômeno: aquilo que se mostra em si mesmo, aquilo que é manifesto.
Logos: seu significado central é fala, mas num sentido particular. “Logos enquanto discurso significa deloun, tornar manifesto na fala aquilo sobre o eu estamos falando”.
Fenomenologia: “deixar o eu e mostra ser visto a partir de si mesmo, no momento em que ele se mostra a partir de si mesmo”.
“A ontologia só é possível com fenomenologia”
Por causa da prioridade do Dasein, que sua autocompreensão é a precondição para qualquer outra ontologia, “a hermenêutica atual é ao mesmo tempo h. no sentido que ela detalha as condições da possibilidade de toda investigação ontológica”.
Com Heidegger a H. em seu sentido primário é análise da existencialidade da existência e, como tal, uma precondição para responder a pergunta filosófica sobre o significado do ser.
O ser-no-mundo de Dasein
A H. é a compreensão interpretativa das estruturas, os existenciais, do modo de ser de Dasein. Um desses é a própria compreensão.
A existência é o ser do Dasein ao qual ele sempre se relaciona. As estruturas dos modos de ser possíveis do Dasein são chamadas de existenciais.
Dasein está no mundo como eu vivo na minha casa mesmo quando estou fora dela.
Heidegger identifica quatro significados para mundo:
1. Totalidades dos seres objetivamente presentes no mundo, o conjunto de todas as coisas
2. todas as formas que as coisas são no mundo.
3. O conjunto das coisas como são encontradas por Dasein em sua vida cotidiana.
4. Mundanidade.
As coisas do mundo se mostram para Dasein primeiro como coisas úteis.
O modo de ser de uma coisa útil é chamada manualidade.
a. Algo pode ser inutilizável para a tarefa que desejamos.
b. Pode estar faltando algo necessário para a tarefa.
c. Algo pode estar interferindo com a tarefa.
Heidegger quer afirmar que uma ontologia hermenêutica apropriada demostra que o ser ontológico e primário das coisas é a manualidade.
A mundanidade do mundo, seu caráter ontológico é a totalidade da relevância eu Dasein descobre em termos de totalidade de referências das coisas úteis e seus próprios pelos-bem-de-que.
A caracterização ontológica do mundo é composta de todas as coisas e pessoas relevantes que o Dasein descobre um sua situação pragmática, que por sua vez é constituída por todas as referências das coisas úteis contidas nela e em termos dos próprios projetos de Dasein.
Teoria do significado de Heidegger: as coisas têm significado dependendo de terem a relevância para Dasein através de suas referências.
Importante: outros Daseins são tão originalmente dados no mundo como as coisas úteis e o próprio Dasein.
A característica existencial ontológica do Dasein é ser-com.
Ser-com é um modo de ser do Dasein. Ao estar no mundo com outras pessoas, eu mantenho relações diferentes com os outros.
A compreensão hermenêutica como um existencial
Dasein como ser-em existe no aí.
O aí é a clareia enquanto revelada por Dasein mesmo.
Dasein está lançado no mundo no sentido que ele pode perceber que existe e precisa ser.
Três características da afinação:
a. Modo de voltar-se para longe evasivo
b. A afinação revela nosso estar-no-mundo como um todo e possibilita nos dirigirmos na direção de algo.
c. Na afinação há uma submissão reveladora ao mundo em que coisas que importam para nós podem ser encontradas.
Exemplo de afinação é o medo.
O segundo fator constitutivo na revelação do aí é a compreensão. Toda compreensão é interpretativa.
A compreensão e a afinação são equiprimordiais. Toda afinação envolve compreensão e vice-versa. A compreensão enquanto existencial, é a condição ontológica da possibilidade da minha distinção ontica entre compreensão e explicação.
Tipo de ser que Dasein tem: ser possível. “Dasein é um ser possível confiado a si mesmo, possibilidade lançada a todo tempo”. Dasein se compreende dentro de sua situação pragmática. A compreensão tem a estrutura de um projeto.
A compreensão pode ser autêntica ou inautêntica.
A compreensão é um projeto lançado. A partir de uma situação particular de ser-no-mundo Dasein projeta uma certa possibilidade para si mesmo. O desenvolvimento das possibilidades projetadas na compreensão é a interpretação.
A própria compreensão como interpretação é o entendimento explicito daquilo que era compreendido anteriormente.
Três estruturas previas diferentes que caracterizam a situação inicial da compreensão:
a. Posição prévia, aquilo que temos antes.
b. Visão prévia
c. Concepção prévia.
“A interpretação nunca é um entendimento sem pressuposições de algo dado anteriormente”.
Toda compreensão é compreensão hermenêutica já que ela necessariamente envolve a interpretação.
Verdade hermenêutica
O significado e a confirmação da verdade são descobertos na experiencia da situação e não num ato de um sujeito independente.
“O ser verdadeiro de um enunciado deve ser entendido como descoberta... O ser verdadeiro enquanto descoberta é por sua vez ontologicamente possível apenas como base no ser-no-mundo”.
É porque Dasein é um ser no mundo que a confirmação e a verdade ocorrem.
“Ser verdadeiro enquanto descoberta é um modo do ser do Dasein”. Isso significa que o sentido primário da verdade é a descoberta e, por isso, é parte de como o Dasein é. Somente num sentido secundário a verdade trata do conteúdo, do a ser descoberto.
Além de Ser e tempo
O pensamento fracassou porque o método da h. fenomenológica, a ontologia fundamental de Dasein, ainda estava preso à linguagem e ao método da metafisica.
A história do esquecimento do Ser é o erro da compreensão central do significado do Ser na tradição filosófica. O encobrimento do Ser e do significado do Ser na história da metafisica ocidental não fora compreendida apropriadamente.
Nesta segunda fase do pensamento de Heidegger o que aparece na clareia vem a se de forma diferente. Na nova perspectiva as coisas vêm a ser através de uma interação ente o Ser e os seres humanos onde o Ser é mais ativo. O próprio Ser existe através do tempo e condicionado ativamente.
Condicionamento: épocas na história do Ser.
O Ser não determina completamente o que vem a Ser porque ele precisa de seres humanos para responder a seu condicionamento, que Heidegger chama de envio ou chamado do Ser.
Ereignis (E): evento, acontecimento por meio do qual os seres vem a ser.
A interação do Ser e dos seres humanos ocorre na linguagem e os seres humanos atingem seu ser essencial na fala.
“A linguagem é a casa do ser. Nesta habitação do ser mora o homem”
Agora Dasein é chamado pelo Ser para escutar o Ser para descobrir e preservar a verdade do Ser na clareia de aí (da). Dasein participa na revelação da verdade. Dasein deve agora revelar a verdade do Ser na casa da linguagem. O ser humano realiza sua essência verdadeira ao participar da linguagem na E. do Ser e seres humanos. Agora o homem é arremessado na clareia do Ser para que ele guarde a verdade do Ser, para que na luz do Ser o ser se manifeste como o ser efetivamente é.
“O advento do ser repousa no destino do Ser”
Ao guardar a verdade do Ser o “homem não é o senhor do ser. O homem é o pastor do Ser”. O destino do mundo se anuncia na poesia, sem que ainda se torne manifesto como a história do Ser.
A H. desaparece
Do ponto de vista etimológica Heidegger nos revela que a palavra H. significa trazer mensagem e dar notícia. Na nova perspectiva heideggeriana a linguagem define a relação H.
O caminho para a linguagem
O caminho para a linguagem começa pela fala, mas agora precisamos prestar mais atenção à situação da fala. Ao falar, os oradores estão presentes, mas não como a causa da fala como antes, e sim, na fala os que falam se presenciam.
Presenciar: se refere à situação em que ao falar nos descobrimos entre outras pessoas e com as coisas enquanto elas importam para nós.
Ao falar os seres humanos descobrem ou revelam e por isso trazem à presença aquilo sobre o qual se fala, de sua posição escondida.
Com tudo aquilo que surge na fala há uma unidade que Heidegger chama de rasgadura.
Rasgadura: é o todo dos rasgos daquele riscado que articula o entreaberto e o livre da linguagem. A totalidade dos rasgos se refere a todos os tios diferentes de distinções que a linguagem nos permite compreender.
Cada linguagem tem sua própria matriz conceitual. Ao falar, uma estrutura particular ou riscado é trazida à presença na ligação destes rasgos. À rasgadura é o riscado da presença da linguagem, a articulação de um mostrar.
Num certo sentido a coisa já deve ter vindo a ser em seu presenciar para que possa falar dela. Temos que escutar a saga do dizer silenciosa da linguagem. Nós falamos usando a linguagem que aprendemos, o que nos faz já estarmos em casa nessa linguagem. Portanto a linguagem fala dizendo, mostrando.
A essência dos seres humanos é falar e falar escutando a linguagem, que ocorre na E. O que é mostrado na E. dentro da clareia da saga do dizer se move para encontrar expressão completa nos seres humanos.