quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

O CONTRATO LIBERAL DE JOHN LOCKE

 





Anotações de Paolo Cugini


Poder político: direito de formular leis que contemplem a pena de morte e todas as penas menores, em vista de uma regulamentação e conservação da propriedade; de usar a força da comunidade para tornar executivas essas leis e para defender o estado de ataques externos: tudo isso para fins do bem público. 

Salvaguarda da sua propriedade: é o fundamental objetivo pelo qual os homens se unem em Estados e se submetem a um governo.

Segundo L. os homens são por natureza iguais. Não relações de subordinação ou de sujeição por natureza e o poder monárquico não deriva nem do divino nem do paterno.

Se os homens são por natureza iguais então ninguém deve lesar os outros na vida, na saúde, na liberdade ou nos bens. 

A lei da natureza vige porque, mesmo no estado da natureza, os modos de punir quem a transgrede existem: não há um poder instituído que aplique sanções aos transgressores, mas cada um tem o direito de punir os que atentam contra a lei e isso deveria desencorajar sua violação. No estado de natureza cada um tem o direito de punir quem transgrida as normas da razão e da justiça.

Como funciona concretamente esta punição numa situação em que não há órgãos especiais destinados a esse fim.




É necessário distinguir entre:

 estado de natureza: estado de paz, benevolência, assistência e defesa recíproca. Existe quando os homens vivem juntos segundo razão. 

 estado de guerra: é estado de inimizade, maldade, violência e recíproco extermínio.  

O estado de natureza corre sempre o riso de degenerar em estado de guerra. No estado civil intervém a polícia e a lei.

Locke: para afastar o risco de cair constantemente no estado de guerra, os homens devem associar-se entre si, abandonando o estado de natureza e instituir um poder soberano e um juiz comum que possa resolver imparcialmente as controvérsias. 

Estado civil: tem como objetivo garantir e defender aquela propriedade que já se pode adquirir no estado de natureza. Para L. a propriedade privada precede o estado.

Cada um tem a propriedade da sua pessoa: sobre esta ninguém tem direito algum fora dele. Assim, se o homem é proprietário da sua pessoa é também proprietário do seu trabalho e aquilo que com seu trabalho produz. Cada um pode tomar dos frutos da natureza, tanto quanto pode consumir. Quanto terreno um homem lavra, semeia, melhora e cultiva e de quanto pode usar o produto, tanto é propriedade sua. 

Pergunta: por que o direito à apropriação privada que vem do trabalho prevalece sobre o originário direito de propriedade em comum?

Resposta: o valor dos bens é dado muito mais pelo trabalho do que pela matéria prima e, portanto, quem entrou com o, trabalho tem muito mais direito sobre um bem do que o proprietário da matéria prima, cujo valor, se ela não é trabalhada, tende a zero.

Enquanto não havia dinheiro não se podia acumular mais que um tanto. Com o dinheiro torna-se possível uma acumulação ilimitada.

A legitimidade desta mais extensa desigualdade não repousa sobre um pacto, mas sobre o fato do que os homens concluíram um tácito acordo entre si sobre o uso do dinheiro.

Pontos fracos da teoria de Locke:

1. Conceito de propriedade em si não parece convincente, porque nenhum homem pode legitimamente vender-se como pode vender as suas propriedades. 

2. As habilidades de cada um não lhe pertencem de modo exclusivo porque ele as aprendeu de outros

3. Problema das gerações: quem chega depois deveria aceitar o fato de que com o dinheiro se tenha tornado possível a propriedade sem limites.

Resposta ao ponto3: até o mais pobre braçal inglês é mais rico do que os mais ricos dos reis selvagens e, por isso, não tem nada de que lamentar-se.

O estado nasce para salvaguardar aqueles direitos que os indivíduos já possuem por força da lei da natureza. 

O poder absoluto em vez de separar o estado de natureza o reinstaura no ponto decisivo: na relação entre os súditos e o soberano. 

Locke: não se sai verdadeiramente do estado da natureza se não há uma salvaguarda também em relação ao poder soberano.

Pacto político: o objetivo não é somente sobreviver, mas viver bem, na tranquilidade e na paz recíproca, assegurando-se o gozo das suas propriedades e uma maior proteção.

Unindo-se no estado os indivíduos instituem um supremo poder, o poder de fazer leis e resolver as controvérsias: este é o poder legislativo.

Este poder legislativo para alcançar seus objetivos, deve estar sujeito a regras ou a limites bm precisos:

1. Direitos inalienáveis: deve mover-se no âmbito fixado pela lei de natureza, e em respeito aos direitos inalienáveis que dela descendem. 

2. Princípio de legalidade: o poder deve governar através de leis gerais certas e não através de decretos extemporâneos. 

3. Intangibilidade da propriedade

4. O legislativo não deve nem pode transferir a outros o poder de legislar. 

Teoria da articulação dos poderes. A barreira contra o perigo da degeneração tirânica é a clara distinção entre poder legislativo e poder executivo. Quem dispõe da coação não dispõe da lei e está a ela vinculado, enquanto quem legisla não tem nenhum poder direto de coação. 

O legislativo é o poder supremo, mas a coação compete ao executivo que está subordinado ao primeiro. 

Direito de resistência: faltando um juiz superior o povo tem direito de apelar ao céu ou a uma lei superior à lei positiva que o autoriza a derrubar o governo que descumpre o mandato. O direito de resistência não pode ser lei positiva, mas em última instancia se funda na lei natural, que é superior à própria lei positiva. 


O PACTO DEMOCRATICO DE SPINOZA

 





Anotações de Paolo Cugini


No estado de natureza o direito e o poder coincidem e o direito de cada um se estende justamente até onde chega o seu poder. Cada um tem direito a conservar-se a si mesmo e a buscar sua própria utilidade em toda medida que seu poder lhe permite. 

Por isso no estado da natureza não só não há pecado, mas também não há o mal e o bem, o justo e o injusto.

Bem e mal só existem quando são estabelecidos por leis civis que exprimem uma vontade comum. 

Não é agradável permanecer no estado da natureza, pois a sabedoria não é a condição normal dos homens. 

Se os homens querem buscar realmente sua utilidade e a sua segurança, devem sair do estado natural e renunciar ao direito a tudo de que gozavam naquele estado e cedê-lo à coletividade, firmando com todos os outros um pacto social.

Nessa maneiro se dá vida ao estado e, desse momento em diante, só a autoridade estatal tem o direito de impor as leis e de punir. 

Problema: como deve se organizar o estado? Segundo Spinoza a melhor forma de governo é a democracia, pós é na coletividade de todos aqueles que subscrevem o pacto social, se encontra o direito do qual cada um gozava no estado da natureza.

O ordenamento democrático é o que mais respeita a liberdade que a natureza concedeu a cada um.

Spinoza: o pacto social uma vez subscrito, não é absolutamente irrevogável. De fato, se a sociedade não atua aquela utilidade comum que é a verdadeira razão do pacto, ele não tem mais nenhum motivo de existir.

Além disso, a autoridade soberana que com o pacto é instituída não tem um poder absoluto sobre os súditos. 

Direitos inalienáveis:

a. Liberdade de pensamento

b. Liberdade de palavra

c. Liberdade de ensinamento

Contra estas liberdades p estado não tem nenhum direito, pois cada cidadão tem direito ao livre exercício da sua razão. Ainda que se servisse dele para criticar os decretos do estado. 


terça-feira, 7 de janeiro de 2025

A FILOSOFIA POLÍTICA DE THOMAS HOBBS

 




Anotaçôes de Paolo Cugini


Os homens estão constantemente em competição entre si e desejam serem superiores aos outros 

H. sustenta a tese do natural igualdade entre os homens e da sua conflitualidade. H. demostra que os homens são iguais por natureza e, por isso, não é possível sustentar qualquer relação de tipo hierárquico entre eles. 

Os homens pensam iguais. 

Duas linhas de raciocínio:

1. Indivíduos que se achassem num estado de natureza entrariam em conflito por desconfiança:

2. Os homens entram em conflito porque animado pela paixão da gloria, o desejo de ser melhor dos outros. 

Enquanto não houver uma lei comum, cada um tem direito a tudo, mas, porque todos tem direito a tudo, esses direitos entram em conflito e a consequência é que os homens se reencontram pois, a viver num estado de guerra, no qual nem sequer o menor direito é garantido. 

A raiz mais profunda do conflito está na fundamental igualdade entre os homens: sendo que os homens são iguais ninguém aceitará naturalmente submeter-se ao outro e, por isso, o conflito pode estourar a cada momento. 

O estado pré-político, ou natural, não pode eu ser um estado de guerra de todos contra todos. 

O homem deseja conservar-se a vida e, por isso, busca a paz.

Lei da natureza: regra geral, descoberta pela razão que proíbe ao homem fazer o que é lesivo à sua vida. 

Segundo H. os comportamentos justos são aqueles que para os homens são convenientes, porque constituem justamente a condição de uma pacífica convivência. 

A lei da natureza nos impõe de renunciar ao nosso direito sobre todas as coisas e conservar só a liberdade conforme a concedemos aos outros. 

Até quando faltar um poder comum as leis da natureza não são vinculantes. Por isso existe uma só saída:

Fazer entre os homens um pacto por força do qual cada um deles renuncia a todos os direitos que tinha no estado de natureza e os transfere a um soberano, sob o império do qual todos viverão seguros e os males serão punidos. 

Através do pacto os indivíduos instituem um poder soberano de modo a poderem viver num ordenamento de paz e de justiça.

A leu natural é substituída pela lei civil ou positiva.

O poder que os indivíduos conferiram a um só, torna-se um poder absoluto e não pode estar sujeito a limites por estas razões:

1. O pacto é estipulado somente entre os indivíduos; o soberano é apenas beneficiário do pacto.

2. O poder soberano não pode ser limitado no seu exercício pelas leis da natureza;

3. O poder soberano não pode ser limitado por outro poder.

Para Hobbes liberdade significa ausência de impedimentos. A liberdade dos súditos estende-se por todas aquelas ações que o soberano deixa de regular.

Modelo contratualista: cada individuo deve despojar-se totalmente dos próprios direitos em favor do soberano. Neste modelo algumas questões permanecem abertas:

1. É difícil pensar que os homes, cheios de pulsões e de desejos que os levam a querer ser superiores dos outros, se afastem destas paixões;

2. Como não pensar a possibilidade de um grupo de pessoa que toma conta de um povo e não entregar a liberdade para um único soberano.

3. Fundamentar o sucesso deste modelo no temor do soberano é insuficiente.

Último questionamento é este: se os indivíduos devem despojar-se do próprio poder sobre si, porque deveria cedê-lo a um indivíduo particular e não a coletividade democrática de todos os cidadãos? 



sábado, 4 de janeiro de 2025

A teoria da experiência hermenêutica de Gadamer

 




Anotações de Paolo Cugini


A história da H.

A H. moderna desenvolveu-se na interpretação bíblica e nas investigações filológicas dos clássicos. Objetivo da H. é compreender a verdade que o texto contém.

 Schleiermacher: G. reconhece o valor da H. de S. mas critica a intepretação psicológica dele, pois esta ênfase psicológica na interpretação implica que o assunto é ignorado na compreensão de um texto. G. sustenta que um ato divinatório da recriação é impossível.

Dilthey: erroneamente transcende a historicidade e finalidade da compreensão humana como experiencia vivida. O historiador está incrustado na história e isso significa que não pode escapar do círculo H. Além disso, D. repete as mesmas pressuposições falsas de S. 


Preconceitos e autoridade da tradição

Debate sobe iluminismo e romantismo sobre o valor da tradição. 

O caráter arremessado da compreensão significa que a tradição herdada forma o ponto de partida inicial para todos os atos da compreensão. 

Tarefa de G.: demostrar como se pode obter a compreensão correta fundamentando as estruturas prévias da compreensão nas coisas em si. 

G. utiliza a palavra preconceitos para designar as estruturas prévias da compreensão de H. 

Em qualquer momento particular nossos preconceitos como nossas estruturas prévias da compreensão herdadas, incluem tudo o que sabemos consciente o inconscientemente. 

Toda compreensão parte dos nossos preconceitos. O caráter arremessado da compreensão implica que todos os nossos preconceitos são herdados de nosso passado no processo de aculturação. 

Pergunta epistemologicamente fundamental: qual é a base para a legitimidade dos preconceitos? O que diferencia preconceitos legítimos daqueles vários outros cuja superação é a tarefa indubitável da razão crítica?

A primeira tarefa de G. é reabilitar a autoridade da tradição para provar que podemos encontrar nela preconceitos legítimos. 

Valor da autoridade: nós reconhecemos a autoridade de outras pessoas porque consideramos que o outro é superior a nós mesmos em juízo e percepção e por isso o juízo dele tem precedência. Este reconhecimento é um ato da razão. 

As tradições legam juízos e costumes de uma geração a outra. 

G. rejeita a antítese iluminista entre razão e tradição. Ele afirma que uma tradição precisa ser afirmada, acolhida, cultivada. El é preservação, que é um ato da razão. 

G. discute o exemplo dos clássicos para demostrar a autoridade da tradição. 

Importante: a temporalidade da compreensão descoberta nas estruturas previas da compreensão implica que todos os nossos preconceitos vieram do passado. Estamos sempre dentro de uma tradição. Por isso, a compreensão precisa começar de nossos preconceitos herdados, e trata apenas de alguns poucos deles, enquanto o resto constitui o pano de fundo não questionado da compreensão.


O círculo H. e a história efetiva

A tradição, enquanto linguagem herdada, oferece a antecipação do significado, enquanto o intérprete, através do seu juízo crítico, continua a formar a tradição. 

Concepção prévia da completude (H.): o intérprete inicialmente precisa pressupor que o texto tem uma unidade imanente de significado. 

A distância temporal entre um intérprete e o texto não é um golfo a ser atravessado w sim uma condição positiva e produtiva que permite a compreensão. 

Um texto que foi preservado na tradição será valioso ou verdadeiro por duas razões:

a. Certas fontes de erros são excluídas automaticamente;

b. Novas fontes de compreensão emergem continuamente revelando elementos de significado insuspeitos. 

O passado influencia a compreensão de duas formas:

a. Através da aculturação e do aprendizado de uma linguagem herdamos nosso conjunto de preconceitos que inicialmente guia a compreensão;

b. A tradição preserva uma série de interpretações de textos significativos que herdamos. 

Nossa consciência é assim efetuada historicamente no sentido amplo nossos preconceitos herdados sempre constituem a base a partir da qual compreendemos. 

Horizonte: denota tanto os limites momentâneos estabelecidos pelo horizonte quanto a ideia de que nosso horizonte se transformará enquanto nos movemos. 

A vida de uma tradição é ela mesma o movimento de um grande horizonte dentro do qual meu próprio horizonte pode ser diferenciado de um horizonte passado como estágios no movimento contínuo da tradição.


A dialética da pergunta e da resposta

Gadamer relata três relações Eu/Tu possíveis a três formas diferentes de se relacionar com um texto.

a. O Eu trata o outro como um objeto onde o comportamento do TU é substituído em três categorias de comportamento típico pala torná-lo previsível. 

b. Reconhece o outro como uma pessoa, mas afirma conhecer o outro a partir do ponto e vista dele e de conhecê-lo melhor do que ele próprio se conhece.

c. Experimenta o Tu realmente como Tu. O Eu escuta o outro e está aberto às suas reivindicações. 

O modelo de G. para a compreensão é um diálogo sobre um tópico onde o objetivo é chegar a um acordo sobre esse tópico. 

A forma logica de abertura para a compreensão de um texto é a pergunta. Fazer e responder perguntas forma um diálogo. Ao interpretar um texto o intérprete deve fazer com que o texto fale com outra pessoa em diálogo consigo. 

G. descobre duas perguntas que são feitas:

a. é colocada ao intérprete pelo texto histórico. O texto será interpretado a partir do horizonte da pergunta colocada pela tradição. 

b. Reconstrução histórica que se mistura com a pergunta que a tradição é para nós.

Gadamer desenvolve a H. filosófica a partir da descrição ontológica da compreensão de Heidegger. 

Pergunta epistemológica: como podemos diferenciar os preconceitos legítimos através dos quais compreendemos corretamente dos preconceitos legítimos?


Resumo

A experiência H. começa quando o intérprete é questionado pela tradição sobre alguma coisa e busca encontrar uma resposta examinando um texto. O intérprete está inserido na tradição, já que ele herdou um conjunto de preconceitos que constitui seu horizonte de compreensão.

A compreensão ocorre quando ele consegue legitimar seus preconceitos fundamentando-o nas coisas em si. 

O círculo hermenêutico da compreensão implica que um intérprete não pode fugir do efeito da história para um ponto de vista objetivo: ele deve fazer com que um texto fale expandindo seu horizonte de significado, escutando o que o texto tem a dizer. 

Toda compreensão incluía aplicação do texto ao horizonte do intérprete através da projeção do horizonte do texto para seu próprio horizonte, agora expandido. 

Compreensão: é o evento da fusão destes dois horizontes onde os preconceitos são legitimados e descobrimos uma resposta à pergunta original. 


A linguagem e a experiência hermenêutica

A linguagem é o meio pelo qual compreendemos textos. 

Compreender um texto: compreender o que o texto tem a dizer e não recriar como ele surgiu.

A linguagem é a revelação do mundo. 


A universalidade da H.

A experiência H. é um evento da linguagem.

Ao se dirigir ao intérprete a tradição transfere aquilo que tem a dizer para o pensamento do intérprete. A interpretação traz algo novo para a linguagem ao escutar o que a tradição tem a dizer. Desta forma o intérprete preserva a tradição e aumenta seu efeito. 

Importante: nós herdamos nossos preconceitos da tradição e eles constituem nosso horizonte linguístico de significado possível.

Cada interpretação correta só representa uma visão ou aspecto da coisa em si. Interpretações diferentes, mas corretas, de um texto em horizontes históricos diferentes são especulativas no sentido que esta multiplicidade de aspectos trata do mesmo assunto expresso no texto.

Gadamer demostrou que a linguagem é ao mesmo tempo o meio e o objeto da compreensão e que ela é o modo de ser da tradição.

No evento hermenêutico da compreensão a coisa em si se endereça ao intérprete. 

Ser especulativo significa que o mesmo assunto chega à linguagem em interpretações diferentes, mas corretas.

A universalidade da H. é confirmada pelo fato de que qualquer compreensão do ser sobre a qual os intérpretes chegam a concordar ocorre na linguagem, e a compreensão da linguagem requer intepretação e aplicação, ou seja, a H.

O mundo revelado é a parte do ambiente que os seres humanos compreendem reflexivamente, pensam e interpretam em seu horizonte de linguagem. Uma linguagem particular, uma visão da linguagem, apresenta uma visão do mundo. 

Toda compreensão começa com nossos preconceitos herdados.

Importante: uma intepretação ou preconceito brilha como interpretação evidente ou correta convence os interlocutores de sua veracidade. 

O maior impedimento para reconhecer o que Gadamer propõe é nosso preconceito em favor do método científico. 

A compreensão sempre ocorre dentro do círculo H., de onde não podemos fugir para uma posição objetiva.

O diálogo hermenêutico entre pergunta e resposta pode levar a um evento da verdade onde os interlocutores conseguem chegar a um acordo sobre o caráter evidente da verdade que eles experimentaram. 


sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A ontologia hermenêutica de Heidegger

 




Anotações de Paolo Cugini


Dois problemas da ontologia moderna:

1. Examina somente objetos objetivos

2. Não trata do ser dos seres humanos

Dasein: ser aí. 

O como do ser é nosso modo de viver. Como estamos vivendo sendo aí. Nossa forma de ser inclui uma compreensão de nossa própria maneira de ser. 


Hermenêutica e fenomenologia

A H. é o anúncio e o fazer conhecer do ser de um ser em seu ser em relação a mim. 

A verdade trata de trazer aquilo que estava previamente escondido para a abertura do aí do dasein, não mais escondido. 

O significado é encontrado na própria vivência vivida. 

O que importa para Heidegger é que o significado ou verdade como descobrimento ocorre na própria experiencia vivida, ou é parte de sua constituição e não um juízo posterior de um sujeito sobre um objeto já experimentado. 

Heidegger entende a história da H. como um afastamento do significado verdadeiro e original da H. 

A H. de Heidegger é uma autointerpretação da facticidade, onde a facticidade está sendo encontrada, vista, entendida e expressada em conceitos. 

A H. é usada para trazer a mostra vários aspectos da facticidade. 

Tarefa da H.: interpretar o Dasein por si mesmo. 

H. no sentido grego: o modo de ser se um ser (Dasein) é anunciado e feito conhecer: é uma realização de logos na linguagem e descobre algo que havia sido coberto (a tradição ontológica encobria o modo de ser real de Dasein).

Compreensão: o como do próprio Dasein. 

Existenciais: formas diferentes de como Dasein existe; eles são descobertos na análise do ser fatual de Dasein.

Fenomenologia: método através do qual ganhamos acesso a Dasein sem pressuposições.

Fenômeno: estar presente como um objeto a partir de si mesmo.

Nós encontramos um objeto pela forma que nos é familiar, ou seja, como nos é transmitido pela tradição. Por isso é necessário um regresso as fontes da filosofia grega.


A análise hermenêutica de Ser e tempo

A pergunta ontológica sobre o significado do ser precisa ser feita novamente. 

Três preconceitos:

a. Ser é o conceito mais universal. 

b. O conceito de ser é indefinível 

c. Ser é um conceito evidente por si mesmo.

Heidegger responde que ser o conceito mais universal indica na verdade sua obscuridade, ser indefinível indica que o ser não é um ente e que por isso precisamos perguntar sobre o seu significado e, finalmente, ser evidente por si mesmo indica que nós já compreendemos o ser de uma forma particular que pode ser incorreta, e por isso precisamos perguntar o que realmente significa o ser. 

“A formulação explicita e lucida da questão do significado do ser requer uma explicação anterior apropriada de um ser (Dasein) em relação ao seu ser”.

Heidegger separa os níveis ontológicos e ônticos do ser.

Ontologia: significa o corpo de conhecimento organizado sobre as formas diferentes que as entidades são.

Ôntico: se refere as formas reais que seres individuais são. 

Existência: significa o próprio ser ao qual Dasein pode se relacionar de uma forma ou de outra e que de algum modo sempre se relaciona.

Dasein se relaciona ao seu próprio ser.

Compreensão existencial: se refere ao reconhecimento das estruturas diferentes da existência, chamadas de existenciais.  Se refere á forma particular pela qual cada Dasein se compreende em seu modo real de ser, nas escolhas que ele faz em relação as formas possíveis que ele poderia ser. 

Problema: o acesso apropriado ao significado do ser do Dasein deve vir das próprias coisas e não das pressuposições do investigador. Por isso é necessário voltar para o grego e entender melhor os termos logos e fenômeno. 

Fenômeno: aquilo que se mostra em si mesmo, aquilo que é manifesto.

Logos: seu significado central é fala, mas num sentido particular. “Logos enquanto discurso significa deloun, tornar manifesto na fala aquilo sobre o eu estamos falando”.

Fenomenologia: “deixar o eu e mostra ser visto a partir de si mesmo, no momento em que ele se mostra a partir de si mesmo”. 

“A ontologia só é possível com fenomenologia”

Por causa da prioridade do Dasein, que sua autocompreensão é a precondição para qualquer outra ontologia, “a hermenêutica atual é ao mesmo tempo h. no sentido que ela detalha as condições da possibilidade de toda investigação ontológica”.

Com Heidegger a H. em seu sentido primário é análise da existencialidade da existência e, como tal, uma precondição para responder a pergunta filosófica sobre o significado do ser. 


O ser-no-mundo de Dasein

A H. é a compreensão interpretativa das estruturas, os existenciais, do modo de ser de Dasein. Um desses é a própria compreensão. 

A existência é o ser do Dasein ao qual ele sempre se relaciona. As estruturas dos modos de ser possíveis do Dasein são chamadas de existenciais. 

Dasein está no mundo como eu vivo na minha casa mesmo quando estou fora dela.

Heidegger identifica quatro significados para mundo:

1. Totalidades dos seres objetivamente presentes no mundo, o conjunto de todas as coisas

2. todas as formas que as coisas são no mundo. 

3. O conjunto das coisas como são encontradas por Dasein em sua vida cotidiana.

4. Mundanidade.

As coisas do mundo se mostram para Dasein primeiro como coisas úteis. 

O modo de ser de uma coisa útil é chamada manualidade. 

a. Algo pode ser inutilizável para a tarefa que desejamos.

b. Pode estar faltando algo necessário para a tarefa. 

c. Algo pode estar interferindo com a tarefa.

Heidegger quer afirmar que uma ontologia hermenêutica apropriada demostra que o ser ontológico e primário das coisas é a manualidade. 

A mundanidade do mundo, seu caráter ontológico é a totalidade da relevância eu Dasein descobre em termos de totalidade de referências das coisas úteis e seus próprios pelos-bem-de-que. 

A caracterização ontológica do mundo é composta de todas as coisas e pessoas relevantes que o Dasein descobre um sua situação pragmática, que por sua vez é constituída por todas as referências das coisas úteis contidas nela e em termos dos próprios projetos de Dasein. 

Teoria do significado de Heidegger: as coisas têm significado dependendo de terem a relevância para Dasein através de suas referências. 

Importante: outros Daseins são tão originalmente dados no mundo como as coisas úteis e o próprio Dasein. 

A característica existencial ontológica do Dasein é ser-com. 

Ser-com é um modo de ser do Dasein. Ao estar no mundo com outras pessoas, eu mantenho relações diferentes com os outros. 


A compreensão hermenêutica como um existencial

Dasein como ser-em existe no aí.

O aí é a clareia enquanto revelada por Dasein mesmo. 

Dasein está lançado no mundo no sentido que ele pode perceber que existe e precisa ser. 

Três características da afinação:

a. Modo de voltar-se para longe evasivo

b. A afinação revela nosso estar-no-mundo como um todo e possibilita nos dirigirmos na direção de algo.

c. Na afinação há uma submissão reveladora ao mundo em que coisas que importam para nós podem ser encontradas.


Exemplo de afinação é o medo. 

O segundo fator constitutivo na revelação do aí é a compreensão. Toda compreensão é interpretativa. 

A compreensão e a afinação são equiprimordiais. Toda afinação envolve compreensão e vice-versa. A compreensão enquanto existencial, é a condição ontológica da possibilidade da minha distinção ontica entre compreensão e explicação. 

Tipo de ser que Dasein tem: ser possível. “Dasein é um ser possível confiado a si mesmo, possibilidade lançada a todo tempo”. Dasein se compreende dentro de sua situação pragmática. A compreensão tem a estrutura de um projeto. 

A compreensão pode ser autêntica ou inautêntica. 

A compreensão é um projeto lançado. A partir de uma situação particular de ser-no-mundo Dasein projeta uma certa possibilidade para si mesmo. O desenvolvimento das possibilidades projetadas na compreensão é a interpretação. 

A própria compreensão como interpretação é o entendimento explicito daquilo que era compreendido anteriormente. 

Três estruturas previas diferentes que caracterizam a situação inicial da compreensão:

a. Posição prévia, aquilo que temos antes. 

b. Visão prévia

c. Concepção prévia. 

“A interpretação nunca é um entendimento sem pressuposições de algo dado anteriormente”.

Toda compreensão é compreensão hermenêutica já que ela necessariamente envolve a interpretação. 


Verdade hermenêutica

O significado e a confirmação da verdade são descobertos na experiencia da situação e não num ato de um sujeito independente. 

“O ser verdadeiro de um enunciado deve ser entendido como descoberta... O ser verdadeiro enquanto descoberta é por sua vez ontologicamente possível apenas como base no ser-no-mundo”.

É porque Dasein é um ser no mundo que a confirmação e a verdade ocorrem. 

“Ser verdadeiro enquanto descoberta é um modo do ser do Dasein”. Isso significa que o sentido primário da verdade é a descoberta e, por isso, é parte de como o Dasein é. Somente num sentido secundário a verdade trata do conteúdo, do a ser descoberto. 


Além de Ser e tempo

O pensamento fracassou porque o método da h. fenomenológica, a ontologia fundamental de Dasein, ainda estava preso à linguagem e ao método da metafisica. 

A história do esquecimento do Ser é o erro da compreensão central do significado do Ser na tradição filosófica. O encobrimento do Ser e do significado do Ser na história da metafisica ocidental não fora compreendida apropriadamente. 

Nesta segunda fase do pensamento de Heidegger o que aparece na clareia vem a se de forma diferente. Na nova perspectiva as coisas vêm a ser através de uma interação ente o Ser e os seres humanos onde o Ser é mais ativo. O próprio Ser existe através do tempo e condicionado ativamente.

Condicionamento: épocas na história do Ser.

O Ser não determina completamente o que vem a Ser porque ele precisa de seres humanos para responder a seu condicionamento, que Heidegger chama de envio ou chamado do Ser.

Ereignis (E): evento, acontecimento por meio do qual os seres vem a ser.

A interação do Ser e dos seres humanos ocorre na linguagem e os seres humanos atingem seu ser essencial na fala.

“A linguagem é a casa do ser. Nesta habitação do ser mora o homem”

Agora Dasein é chamado pelo Ser para escutar o Ser para descobrir e preservar a verdade do Ser na clareia de aí (da). Dasein participa na revelação da verdade. Dasein deve agora revelar a verdade do Ser na casa da linguagem. O ser humano realiza sua essência verdadeira ao participar da linguagem na E. do Ser e seres humanos. Agora o homem é arremessado na clareia do Ser para que ele guarde a verdade do Ser, para que na luz do Ser o ser se manifeste como o ser efetivamente é. 

“O advento do ser repousa no destino do Ser” 

Ao guardar a verdade do Ser o “homem não é o senhor do ser. O homem é o pastor do Ser”. O destino do mundo se anuncia na poesia, sem que ainda se torne manifesto como a história do Ser.


A H. desaparece

Do ponto de vista etimológica Heidegger nos revela que a palavra H. significa trazer mensagem e dar notícia. Na nova perspectiva heideggeriana a linguagem define a relação H. 


O caminho para a linguagem

O caminho para a linguagem começa pela fala, mas agora precisamos prestar mais atenção à situação da fala. Ao falar, os oradores estão presentes, mas não como a causa da fala como antes, e sim, na fala os que falam se presenciam. 

Presenciar: se refere à situação em que ao falar nos descobrimos entre outras pessoas e com as coisas enquanto elas importam para nós. 

Ao falar os seres humanos descobrem ou revelam e por isso trazem à presença aquilo sobre o qual se fala, de sua posição escondida. 

Com tudo aquilo que surge na fala há uma unidade que Heidegger chama de rasgadura.

Rasgadura: é o todo dos rasgos daquele riscado que articula o entreaberto e o livre da linguagem. A totalidade dos rasgos se refere a todos os tios diferentes de distinções que a linguagem nos permite compreender. 

Cada linguagem tem sua própria matriz conceitual. Ao falar, uma estrutura particular ou riscado é trazida à presença na ligação destes rasgos. À rasgadura é o riscado da presença da linguagem, a articulação de um mostrar. 

Num certo sentido a coisa já deve ter vindo a ser em seu presenciar para que possa falar dela. Temos que escutar a saga do dizer silenciosa da linguagem. Nós falamos usando a linguagem que aprendemos, o que nos faz já estarmos em casa nessa linguagem. Portanto a linguagem fala dizendo, mostrando. 

A essência dos seres humanos é falar e falar escutando a linguagem, que ocorre na E.  O que é mostrado na E. dentro da clareia da saga do dizer se move para encontrar expressão completa nos seres humanos. 


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