Síntese:
Paolo Cugini
Primeira Dissertação
“Bom e mau” “bom e ruim”.
2.Esta é a longa história da origem da responsabilidade.A
tarefa de criar um animal capaz de fazer promessa, já percebemos, traz consigo,
como condição e preparação, a tarefa mais imediata de tornar o homem até certo
ponto necessário, uniforme, igual entre iguais, constante, e portanto
confiável. O imenso trabalho daquilo que denominei “moralidade do costume” (cf.
Aurora, S 9, 14, 16)- o autêntico trabalho do homem em si próprio,
durante o período mais longo da sua existência, todo esse trabalho pré-histórico
encontra nisto seu sentido, sua justificação, não obstante o que nele também
haja de tirania, dureza, estupidez e idiotismo: com ajuda da moralidade do
costume e da camisa-de-força social, o homem foi realmente tornado
confiável.Mas coloquemos-nos no fim do imenso processo, ali onde a árvore
finalmente sazona seus frutos, onde a sociedade e sua moralidade do costume
finalmente trazem à luz aquilo para o qual eram apenas o meio: encontramos
então, como o fruto mais maduro da sua árvore, o individuo soberano,
igual apenas a si mesmo, novamente liberado da moralidade d costume, indivíduo
autônomo supramoral (pois “autônomo” e “moral” se excluem), em suma, o homem da
vontade própria, duradoura e independente, o que pode fazer promessas –
e nele encontramos, vibrante em cada músculo, uma orgulhosa consciência do
que foi finalmente alcançado e está nele encarnado, uma verdadeira
consciência de poder e liberdade, um sentimento de realização. Este liberto ao
qual é permitido prometer, este senhor do livre-arbítrio, este
soberano – como não saberia ele da superioridade que assim possui sobre todos
os que não podem prometer e responder por si, quanta confiança, quanto temor,
quanta reverência desperta – ele “merece” as três coisas – e como, com
esse domínio sobre si, lhe é dado também o domínio sobre as circunstâncias,
sobre a natureza e todas as criaturas menos segura e mais pobre de vontade? O
homem “livre”, o possuidor de uma duradoura e inquebrantável vontade, tem nesta
posse a sua medida de valor: olhando para os outros a partir de si, ele
honra ou despreza; e tão necessariamente quanto honra os seus iguais, os fortes
e confiáveis (os que podem prometer) – ou seja, todo aquele que promete
como um soberano, de modo raro, com peso e lentidão, e que é avaro com sua
confiança, que distingue quando confia, que dá sua palavra como algo
seguro, porque sabe que é forte o bastante para mantê-la contra o que for
adverso, mesmo “contra o destino” -: do mesmo modo ele reservará seu pontapé
para os débeis doidivanas que prometem quando não podiam fazê-lo, e o seu
chicote para o mentiroso que quebra a palavra já no instante em que a
pronuncia. O orgulhoso conhecimento do privilégio extraordinário da responsabilidade,
a consciência dessa rara liberdade, desse poder sobre si mesmo o destino,
desceu nele até sua mais íntima profundeza e tornou-se instinto, instinto
dominante – como chamará ele a esse instinto dominante, supondo que necessite
de uma palavra para ele? Mas não há dúvida: este homem soberano o chama de sua consciência...
4.Mas como veio ao mundo aquela outra “coisa
sombria”, a consciência da culpa, a “má consciência”? – Com isso voltamos aos
nossos genealogistas da moral. Mais uma vez afirmo, ou será que ainda não
disse? Uma experiência própria muito estreita, “moderna”; nenhum conhecimento
do passado, nenhuma vontade de conhecê-lo, tampouco instinto nisso – e contudo
se ocupar da história da moral: isto só pode conduzir a resultados cuja relação
com a verdade é bem mais do que frágil. Esses genealogistas da moral teriam sequer
sonhado, por exemplo, que o grande conceito moral de “culpa” teve origem no
conceito muito material de “dívida”? Ou que o castigo, sendo reparação,
desenvolveu-se completamente à margem de qualquer suposição acerca da liberdade
ou não-liberdade da vontade? – e isto ao ponto de se requer primeiramente um alto
grau de humanização, para que o animal “homem” comece a fazer aquelas
distinções bem mais elementares, como “internacional”, “diligente”, “casual”,
“responsável” e seus opostos, e a levá-las em conta na atribuição do castigo. O
pensamento agora tão óbvio, aparentemente tão natural e inevitável, que teve de
servir de explicação para como surgiu na terra o sentimento de justiça, segundo
o qual “o criminoso merece castigo porque podia ter agido de outro
modo”, é na verdade uma forma bastante tardia e mesmo refinada do julgamento e
do raciocínio humanos; quem a desloca para o início, engana-se grosseiramente
quanto à psicologia da humanidade antiga. Durante o mais largo período da
historia humana, não se castigou porque se responsabiliza o delinqüente
por seu ato, ou seja, não pelo pressuposto de que apenas o culpado devia
ser castigado – e sim como ainda hoje os pais castigam seus filhos, por raiva
devida a um dano sofrido, raiva que se desafoga em quem o causou; mas mantida
em certos limites, e modificada pela idéia de que qualquer dano encontra seu equivalente
e pode ser realmente compensado, mesmo que seja com a dor do seu
causador. De onde retira sua força esta idéia antiqüíssima, profundamente
arraigada, agora talvez inerradicável, a idéia da equivalência entre dano e
dor? Já revelei: na relação contrata entre credor e devedor, que é tão
velha quanto à existência de “pessoas jurídicas”, e que por sua vez remete às
formas básicas de compra, venda, comércio, troca e tráfico.
5.Como seria de esperar após o que foi dito,
imaginar tais relações contratuais desperta sem dúvida suspeita à aversão pela
antiga humanidade, que as criou ou permitiu. Precisamente nelas fazem-se promessas;
justamente nelas é preciso construir uma memória naquele que promete;
nelas, podemos desconfiar, encontraremos um filão de coisas duras, cruéis,
penosas. O devedor, para infundir confiança em sua promessa de restituição,
para garantir a seriedade e a santidade de sua promessa, para reforçar na
consciência a restituição como dever e obrigação, por meio de um contrato
empenha ao credor, para o caso de não pagar, algo que ainda “possua”, sobre o
qual ainda tenha poder, como seu corpo, sua mulher, sua liberdade ou mesmo sua
vida (ou, em certas circunstâncias religiosas, sua bem-aventurança, a salvação
de sua alma, e por fim até a paz no túmulo: assim era no Egito, onde o cadáver
do devedor nem sequer no túmulo encontrava sossego diante do credor- mas é
certo que para os egípcios essa paz era algo especial). Sobretudo, o credor
podia infligir ao corpo do devedor toda sorte de humilhações e torturas, por
exemplo, cortar tanto quanto parecesse proporcional ao tamanho da dívida – e
com base nisso, bem cedo e em toda parte houve avaliações precisas, terríveis
em suas minúsculas, avaliações legais de membros e partes do corpo. Já
considero um progresso, prova de uma concepção jurídica mais livre, mais
generosa, mais romana, que a lei das Doze Tábuas decretasse ser
indiferente que os credores cortassem mais ou menos nesse caso “si plus
minusue secuerant, ne fraude esto” [se cortam mais ou menos, que não seja
crime]. Tornemos clara para nós mesmos a estranha lógica dessa forma de
compensação. A equivalência está em substituir uma vantagem diretamente
relacionada ao dano (uma compensação em dinheiro, terra, bens de algum tipo)
por uma espécie de satisfação íntima, concedida ao credor como reparação
e recompensa – a satisfação de quem pode livremente descarregar seu poder sobre
um impotente, a volúpia de “faire le mal le plaisir de le faire”, o
prazer de ultrajar: tanto mais estima o quanto mais baixa for à posição do
credor na ordem social, e que facilmente lhe parecerá um delicioso bocao, ou
mesmo o entegozo de uma posição mais elevada. Através da “punição” ao devedor,
o credor participa de um direito dos senhores; experimenta enfim ele
mesmo a sensação exaltada de poder desprezar e maltratar alguém como “inferior”
– ou então, no caso em que o poder de execução da perna já passou à
“autoridade”, poder ao menos vê-lo desprezado e maltratado. A
compreensão consiste, portanto, em um convite e um direito à crueldade
8. O sentimento de culpa, da obrigação pessoal,
para retomar o fio de nossa investigação, teve origem, como vimos, na mais
antiga e primordial relação pessoal, na relação entre comprador e vendedor,
credor e devedor: foi então que pela primeira vez defrontou-se, medi-se
uma pessoa com outra.Não foi ainda encontrado um grau de civilização tão baixo
que não exibisse algo dessa relação. Estabelecer preços, medir valores,
imaginar equivalências, trocar – isso ocupou de tal maneira o mais antigo
pensamento do homem, que num certo sentido constituiu o pensamento: aí
se cultivou a mais velha perspicácia, aí se poderia situar o primeiro impulso
do orgulho humano, seu sentimento de primazia diante dos outros animais. Talvez
a nossa palavra “Mensch” (manas) expresse ainda algo deste
sentimento de si: o homem [Mensch, em alemão] designava-se como o ser
que mede valores, valora e mede, como “o animal avaliador”, Comprar e vender,
justamente com seu aparato psicológico, são mais velhos inclusive do que os
começos de qualquer forma de organização social ou aliança: foi a partir da
forma mais rudimentar de direito pessoal que o germinante sentimento de troca,
contrato, débito [Schuld], direito, obrigação, compensação, foi transposto
para os mais toscos e incipientes complexos sociais (em sua relação com
complexos semelhantes), simultaneamente ao hábito de comparar, medir, calcular
um poder e outro. O olho estava posicionado nessa perspectiva e com a rude
coerência peculiar ao pensamento da mais antiga humanidade, pensamento difícil
de mover-se, mais inexorável no caminho escolhido, logo se chegou à grande
generalização: “cada coisa tem seu preço, tudo pode ser pago” – o mais
velho e ingênuo ânion moral da justiça, o começo de toda “bondade”, toda
“equidade”, toda “boa vontade”, toda “objetividade” que existe na terra. Nesse
primeiro estágio, justiça é a boa vontade, entre homens de poder aproximadamente
igual, de acomodar-se entre si, de “entender-se” mediante um compromisso – e
com relação aos de menor poder, forçá-los a um compromisso entre si.
16. Neste ponto já não posso me furtar a
oferecer uma primeira, provisória expressão da minha hipótese sobre a origem da
“má consciência”: não é fácil apresentá-la, e ela necessita ser longamente
pensada, pesada, ponderada. Vejo a má consciência como a profunda doença que o
homem teve de contrair sob a pressão da mais radical das mudanças que viveu –
mudança que sobreveio quando ele se viu definitivamente encerrado no âmbito da
sociedade e da paz. O mesmo que deve ter sucedido aos animais aquáticos, quando
foram obrigados a torna-se animais terrestres ou perecer, ocorreu a esses
semi-animais adaptados de modo feliz à natureza selvagem, à vida errante, à
guerra, à aventura – subitamente seus instintos ficaram sem valor e
“suspensos”. A partir de então deveriam andar com os pés e “carregar a si
mesmos”, quando antes eram levados pela água: havia um terrível peso sobre
eles. Para as funções mais simples sentiam-se canhestros, nesse novo mundo não
mais possuíram os seus velhos guias, os impulsos reguladores e inscoscientemente
certeiros – estavam reduzidos, os infalíveis, a pensar, inferir, calcular
combinar causas e efeitos, reduzidos à sua “ao seu órgão mais frágil e mais
falível”! Creio que jamais houve na terra um tal sentimento de desgraça, um
mal-estar tão plúmbeo – e além disso os velhos instintos não cearam
repentinamente de fazer suas exigências! Mas era difícil, raramente possível,
lhes dar satisfação: no essencial tiveram de buscar gratificações novas e,
digamos, subterrâneas. Todos os instintos que não se descarregam para fora voltam-se
para dentro- isto é o que chamo de interiorização do homem: é assim
que no homem cresce o que depois se denomina sua “alma”. Todo o mundo interior,
originalmente delgado, como que entre duas membranas, foi se expandido e se
estendendo, adquirindo profundidade, largura e altura, na medida em que o homem
foi inibido em sua descarga para fora. Aqueles terríveis bastidores com
que a organização do Estado se protegia dos velhos instintos de liberdade – os
castigos, sobretudo, estão entre esses bastidores – fizeram com que todos
aqueles instintos do homem selvagem, livre e errante se voltassem para trás, contra
o homem mesmo. A hostilidade, a crueldade, o prazer na perseguição, no
assalto, na mudança, na destruição – tudo isso se voltando contra os
possuidores de tais instintos: esta é a origem da má consciência. Esse
homem que, por falta de inimigos e resistências exteriores, cerrado numa
opressiva estreiteza e regularidade de costumes, impacientemente lacerou,
perseguir, corroeu, espedaçou, maltratou a si mesmo, esse animal que querem
“amansar”, que se fere nas barras da própria jaula, este ser carente, consumido
pela nostalgia do ermo, que a si mesmo teve de converter em aventura, câmara de
tortura, insegura e perigosa mata – esse tolo, esse prisioneiro presa da ânsia
e do desespero tornou-se o inventor da “má-consciência”. Com ela, porém, foi
introduzida a maior e mais sinistra doença, da qual até hoje não curou a
humanidade o sofrimento do homem com o homem, consigo: como resultado de
uma violenta separação do seu passado animal, como que um salto e uma queda em
novas situações e condições de existência, resultado de uma declaração de
guerra aos velhos instinto nos quais até então se baseava sua força, seu prazer
e o temor que inspirava. Acrescentemos, de imediato,que uma alma voltada contra
si mesma, tomando partido contra si mesma, algo tão novo surgia na terra,tão
inaudito, tão profundo,enigmático,pleno de contradição e de futuro, que
o aspecto da terra se alterou substancialmente.De fato, necessitava-se de
espectadores divinos, para fazer justiça ao espetáculo que então começava e
cujo fim não se prevê – espetáculo demasiado fino, portentoso e paradoxal, para
que pudesse acontecer absolutamente despercebido, num astro ridículo qualquer!
O homem se inclui, desde então entre os mais inesperados e emocionantes lances
do jogo da “grande criança” de Heráclito, chama-se ela Zeus ou Acaso – ele
desperta um interesse, uma tensão, uma esperança, quase uma certeza, como se
com ele algo se anunciasse, algo se preparasse, como se o homem não fosse uma
meta, mais apenas um caminho, um episodio, uma ponte, uma promessa...
19.A má consciência é uma doença, quanto a isso
não a duvida, mais uma doença tal com a gravidez é uma doença .Investiguemos as
condições em que essa doença atingiu a sua mais terrível e mais sublime
culminância – veremos o que realmente surgiu então no mundo. Mais isso requer
fôlego - e primeiramente devemos retornar a um ponto de vista anterior. A
relação de direito privado entre o devedor e o seu credor, da qual já falamos
longamente foi mais uma vez, e de maneira historicamente, introduzida numa relação
na qual talvez seja, para nós, homens modernos, algo inteiramente
incompreensível: na relação entre os vivos e seus antepassados. Na
originaria comunidade tribal – falo dos primórdios – a geração que se vive
sempre reconhece para com a anterior, e em especial para com a primeira,
fundadora da estirpe, uma obrigação jurídica (e não um mero vinculo de
sentimento: seria licito inclusive contestar a existência desse ultimo durante
o mais longo período da espécie humana). A convicção prevalece de que a
comunidade subsiste apenas graças a o sacrifico e a relação dos antepassados –
e de que é preciso lhes pagar isso com sacrifício e realizações: reconhecer-se
uma divida [schuld], que cresce permanentemente, pelo fato de que
os antepassados não cessam , em sua sobrevida como espíritos poderosos de
conhecer a estirpe novas vantagens e a adiantamentos apartir de sua força. Em
vão, talvez ? Mas não existe “em vão” para aqueles tempos crus e “sem alma”. O
que se pode lhes dar em troca? De sacrifícios (inicialmente para lamentação,
entendida do modo mais grosseiro), festas, musicas, homenagens, sobre tudo
obediência – pois os costumes são, enquanto obra dos antepassados, também seus
preceitos e ordens -: é possível lhes dar bastante? Esta suspeita permanece e aumenta: de quando
em quando exige um imenso resgate, algo monstruoso com um pagamento ao “credor”
(o famigerado sacrifício do primogênito, por exemplo: sangue, sangue humano, e
em todo o caso). Segundo esse tipo de lógica o medo do ancestrais e do
seu poder, a consciência de ter dividas para com ele, cresce necessariamente na
exata medida em que cresce o poder da estirpe, na medida em que ela mesma se
torna mais vitoriosa, independentemente, venerada e temida. Não ao contrario! E
todo passo para um debilitamento da estirpe, todo o acaso infeliz, todos os
indícios de degeneração, e de desagregação eminente, diminuem o medo do
espírito de seu fundador, oferenda uma imagem cada vez mais pobre de sua
sagacidade, de sua previdência e da presença de seu poder. Imaginemos essa crua
espécie de lógica conduzida até o fim: os ancestrais das estirpes mais
poderosas deverão afinal, por força da fantasia do temor crescente, assumir
proporções gigantescas e desaparecer na treva de uma dimensão divida
inquietante e inconcebível – o ancestral termina necessariamente transfigurado
Terceira Dissertação
O que significa ideais
ascéticos?
2. O que significa ideais ascéticos? – Ou,
tomando um caso individual, acerca do qual frequentemente me pedem opinião, o
que significa, por exemplo, um artista como Richard Wagner render homenagem à
castidade em sua velhice? É verdade que num certo sentido ele sempre o fez; mas
apenas bem no final em um sentido ascético. O que significa esta mudança de
“senso”, esta radical reviravolta do senso?- pois isto é o que foi: Wagner
virou o seu oposto. O que significa um artista virar seu oposto?... Aqui, fazendo
uma breve pausa nesta pergunta, de imediato nos vem á lembrança o melhor, mais
forte, mais alegre, mais valente período que houve talvez na vida de
Wagner: quando a idéia do casamento de Lutero o absorvia profundamente. Quem
sabe a que acaso se deve que hoje tenhamos os mestres cantores em vez
dessa musica nupcial? E quanto desta ainda ressoa naquela? Mas, não há dúvida,
também este “Casamento de Lutero” seria um elogia da castidade. Todavia também
um elogio da sensualidade – e assim me pareceria em ordem, assim seria
“wagneriano”. Pois entre castidade e sensualidade não há oposição necessária;
todo bom casamento, todo verdadeiro caso amoroso está além dessa oposição.
Wagner teria feito bem, me parece. Chamando uma vez mais, por meio de uma
graciosa e ousada comédia com Lutero, a atenção de seus alemães para esta
verdade agradável, pois entre os alemães há e houve sempre muitos
extratores da sensualidade; e o mérito de Lutero consistiu talvez em
simplesmente haver tido a coragem de sua sensualidade (- que então era
chamada, delicadamente, de “liberação evangélica”...). Mesmo no caso em que há
realmente oposição entre castidade e sensualidade, ela felizmente não precisa
ser uma oposição trágica. Isto deveria ao menos valer para todos os mortais
mais bem logrados de corpo e espírito que estão longe de colocar seu frágil
equilíbrio de “animal e anjo” entre os argumentos contra a existência – os maus
finos e lúcidos, como Goethe, como Hafiz, enxergaram nisso até mesmo um
estímulo mais para viver. Tais “contradições” imprecisamente são o que
nos seduz a existir... Por outro lado, compreende-se muito bem que quando
desgraçados suínos são levados a adorar a castidade – e existem tais suíno! -,
eles verão e adorarão nela apenas o seu oposto, o oposto do suíno desgraçado –
com que trágico grunhido e com que ardor, pode-se imaginar! -, aquela oposição
penosa e supérflua, que ainda no fim da vida Richard Wagner quis inegavelmente
pôr em música e levar ao palco. Mas para quê? – pode-se razoavelmente
perguntar. Pois que tinha ele, que temos nós a ver com suínos?-
8. Vê-se que são juízes e testemunhas
imparciais do valor do ideal ascético, esses filósofos! Eles pensam em si-
que lhes importa “o santo”! Pensam no que lhes é mais indispensável: estar
livre de coerção, perturbação, barulho, de negócios, deveres, preocupações;
lucidez da cabeça; dança, salto e vôo, do pensamento; um bom ar, fino, claro,
livre, seco, como é o ar das alturas, em que todo animal torna-se mais
espiritual e recebe asas; paz em todos os subterrâneos; todos os cães bem
amarrados à corrente; nenhum latido de inimizade e de cerdoso rancor; nenhum
verme roedor de ambição ferida; vísceras modestas e submissas, diligentes como
moinhos, mas distantes; o coração alheio, além, futuro, póstumo – em suma, eles
pensam no ideal ascético como o jovial ascetismo de um bicho que se tornou
divino e ao qual nasceram asas, que antes flutua sobre a vida do que nela
pousa. Sabe-se quais as três palavras de pompa do ideal ascético: humildade,
pobreza, castidade; observamos de perto as vidas dos grandes espíritos fecundos
e inventivos- todas as três serão sempre encontradas até certo grau. Não estende-se,
que sejam talvez “virtudes” suas – que tem essa espécie de homens a ver com
virtudes! – mas as condições mais próprias e mais naturais e sua existência melhor,
de sua fecundidade mais bela. Nisto, é bem possível que sua
espiritualidade dominante tivesse primeiramente de pôr freio num orgulho
indomável e suscetível e numa sensualidade caprichosa, ou que tivesse a custo
mantido sua vontade de “deserto” diante de um pendor ao luxo e ao rebuscamento,
e diante de uma pródiga liberalidade de mão e coração. Mas ela o fez,
justamente comi instinto dominante, que impôs; não o fizesse, não
dominaria. Não há nenhuma “virtude” nisso, portanto. De resto, o deserto
de que falei, onde se retiram e se isolam os espíritos fortes, de feito
independentemente – oh, que outro aspecto tem, quando os homens cultos imaginam
um deserto!- em ocasiões são eles mesmos o deserto, estes homens cultos. E è
certo que os atores do espírito não suportariam absolutamente viver nele – para
eles, está longe de ser suficientemente romântico e sírio, suficientemente
teatral! É verdade que nele não faltam também os camelos: m,as a isto se reduz
toda a semelhança. Uma aversão a barulho, veneração, jornais, influência; um
emprego modesto, um cotidiano, algo que esconda mais do que exponha;
ocasionalmente. Contato com bichos e aves inofensivos e alegres, cuja visão
distraia; montanhas como companhia, mas não mortas, e sim com olhos (ou
seja, lagos); até mesmo um quarto numa pensão sempre lotada, onde se esteja
seguro de ser confundido com outros, e de poder falar imponentemente com
qualquer um – isto é “deserto”: oh, é solitário o bastante, creiam-me! Quando
Heráclito retirou-se para os pátios e colunatas do grande templo de Ártemis,
este “deserto" era mais digno, admito: por que nos faltam hoje mais
templos? (-talvez não nos faltem: penso em meu mais belo quanto de estudo, a piazza
di San Marco, na primavera naturalmente, pela manhã, entre dez e doze
hoars) Mas aquilo a que Heráclito fugiu é ainda o mesmo qual atualmente
evitamos: o ruído e o palavrório democrático dos efésios, sua política, suas
novidades do “Império” (a Pérsia, entenda-se), suas miudezas do “hoje” – pois
nós, filósofos, necessitamos descanso de uma coisa sobretudo: do “hoje”.
Nós veneramos o que é tranqüilo , frio, nobre, passado, distante, tudo aquilo
em vista do qual a alma não tem de se defender e se encerrar – algo com que se
pode falar sem elevar a voz. Ouça-se o timbre de um espírito quando fala: cada
espírito tem seu timbre, ama-o. Aquele, por exemplo, deve ser um agitador, quer
dizer, uma cabeça oca, vasilha oca: o que quer que nele entre, sai opaco e
amortecido, carregado do eco do grande vazio. Aquele outro quase sempre fala
roucamente: teria enrouquecido pensando? É possível – pergunte-se aos
fisiólogos -, mas quem pensa em palavras, pensa como orador e não como
pensador (isto revela que ele não pensa as coisas, os objetos, não pensa
objetivamente, mas apenas a propósito da coisas; que na verdade pensa em si e
em seus ouvintes). Um terceiro é muito insistente, aproxima-se demais, seu
hálito nos toca, involuntariamente fechamos a boca, embora nos fale através de
um livre: o tom de seu estilo nos diz a razão – ele não tem tempo, ele mal crê em
si mesmo, precisa falar hoje ou nunca. Mas um espírito seguro de si mesmo fala
baixo; busca o oculta mento, deixa que esperem por ele. Reconhece-se um
filósofo o fato de evitar três coisas que brilham e fazem barulho: a fama, os
príncipes e as mulheres – o que não quer dizer que elas não o procurem. Ele
receia a luz demasiado clara: por isso se resguarda de seu tempo, e do “dia”
desse tempo. Nisto é com uma sombra: mais o sol se põe, maior ele fica.Quanto à
sua “humildade”, assim como suporta o escuro, suporta também uma certa
dependência, um certo obscurecimento: mais ainda, ele teme ser incomodado pelo
raio, recua ante a desproteção de uma arvore só e abandonada, na qual toda
intempérie descarrega seu mau humor, todo mau humor sua intempérie. Seu
instinto “maternal”, o secreto amor ao que nele cresce, mostra-lhe situações em
que é dispensado de pensar em si; no mesmo sentido em que até agora o instinto
de mãe da mulher conservou a situação dependente da mulher. Em última instância
exigem bem pouco esses filósofos, a sua máxima é: “quem possui é possuído”
–isto, como tenho de repetir vez por outra, não por virtude, por uma meritória
vontade de singeleza e moderação, mas porque o seus senhor supremo assim exige,
prudente e inexoravelmente: ele tem em conta somente uma coisa, e apenas para
ela junta e acumula tempo, energia, amor, interesse. Essa espécie de homem não
gosta de ser perturbada por inimizades, tampouco por amizades; esquece u
despreza com facilidade.Parece-lhe mau gosto fazer-se de mártir ; “sofrer
pela verdade”- isso deixa para os ambiciosos e heróis de palco do espírito, e
para todos os quem têm tempo para isso (- eles, os filósofos, têm algo a fazer
pela verdade). Eles fazem pouco isso das grandes palavras; diz-se que mesmo a
palavra “verdade” lhes refuga: soa grandiloquente... No que toca, por fim, à
castidade dos filósofos, a fecundidade desse tipo de espírito está
evidentemente em outra coisa que não crianças; também em outra parte deve estar
à sobrevivência de seu nome, sua pequena imortalidade (ainda mais imodestamente
falava-se, entre os filósofos da antiga Índia: “para que excedentes, para
daquele cuja alma é o mundo?”). Nisso nada existe de acidade por um escrúpulo
ascético ou ódio aos sentidos, como não há castidade quando um atleta ou um jóquei
se abstém de mulheres: assim o deseja, nos períodos de gravidez ao menos, seu
instinto dominante. Todo artista sabe como o coito tem efeito nocivo, nos
estados de grande tensão e preparação espiritual; entre eles, os mais poderosos
e mais seguros nos instintos não necessitam sequer da experiência, da má
experiência, para sabê-lo – é o seu instinto “materno” que, em proveito da obra
em formação, recorre inapelavelmente a todos os elementos e reservas de força,
de vigor da vida animal: a força maior gasta então a menor. –Interpretemos
agora o caso de Schopenhauer, mencionado acima, conforme estas observações:
evidentemente a visão do belo atuava nele como estímulo libertador da força
principal de sua natureza (a força da reflexão e do olhar aprofundado);
de modo que esta explodia e de imediato tomava conta da consciência. Com isso
não se deve absoluto excluir a possibilidade de que a peculiar doçura e
plenitude própria do estado estético tenha origem precisamente no ingrediente
“sensualidade” (assim como da mesma fonte vem o “idealismo” das moças núbeis)-
de que, assim, a sensualidade não seja suspensa quando surge o estado estético,
como acreditava Schopenhauer, mas penas se transfigure e já não entre na
consciência como estímulo sexual. (Voltarei uma outra vez a este ponto, com
relação a problemas ainda mais delicados da até agora intocada, inexplorada fisiologia
da estética).
9. Um certo ascetismo, como cimos, uma dura e
serena renúncia feita com a mais boa vontade, está entre as condições propícias
a mais elevada espiritualidade, e também entre as sua conseqüências mais
naturais: não surpreende, por nato,que o ideal ascético tenha sido tratado
pelos filósofos com alguma parcialidade. A um exame histórico sério, o laço
entre ideal ascético e filosofia revela-se ainda mais estreito e sólido. Pode-se
dizer que apenas na andadeiars desse ideal a filosofia aprendeu a dar
seus primeiros passinhos sobre a terra – ah, ainda tão desajeitada, de carinha
tão aborrecida, tão pronta a cair e ficar deitada sobre o ventre, essa coisinha
tímida e mimosa de pernas tortas! À filosofia sucedeu inicialmente o mesmo que
a todas as coisas boas- por muito tempo não tiveram a coragem de ser elas
mesmas, olhavam em torno de si, a ver se ninguém lhes vinha em auxilio, mais
ainda, tinham medo de todos os que as miravam. Enumere-os impulsos e virtudes
dos filósofos – seu impulso de duvidar, seu impulso de negar, seu impulso de
aguardar (“eféctico”), seu impulso de pesquisar, buscar, ousar, seu impulso de
comparar, compensar, sua vontade de neutralidade
E
objetividade, sua vontade de tudo “sine ira et studio” [sem raiva e sem
parcialidade]-: já se compreendeu que durante muitíssimo tempo tudo isso foi de
encontro às exigências primeiras da moral e da consciência? (para não falar da
razão mesma, que ainda Lutero gostava de chamar “Fraw Kluglin die Kluge Hur”
[Dona Swabida, a sábia puta]. E que um filosofo, chegando à consciência e si,
teria que sentir-se simplesmente o “ nitrimur in vetitum” encarnado – e
em consequencia se guardava de “sentir-se” de chegar à consciência?... como
disse, não foi diferente com todas as coisa boas de qeu hoje nos orgulhamos;
ainad aque metido com o metro dos antigos gregos, todo o nosso ser moderno
enquanto não é fraqueza, mas poder e consciência de poder apresentar-se como pura
híbris e impiedade: pois precisamente as coisas opostas às que hoje veneramos
tiveraam durante muito tempo a consciêncoa do seu lado, e Deus como seu
guardião. Híbris é hoje nossa atitude para com a natureza, nossa violentação da
natureza com ajuda das maquinas e da irrefletida inventividade dos engenheiros
e tecnicos, híbris é nossa atitude para com Deus, quero dizer, para com uma
presumivel aranha de proposito e moraldiade por tras da grande tela e teia da
causalidade – podemos dizer, como Carlos, o Temerário, em luta com luis XI: Je
combats l´universelle araihnée” [ eu combato a aranha universal]-; híbris é
nossa atitude para com nós mesmos, pois fazemos conosco experimentos que
não nos permitiriams fazer com nenhum animal, e alegres e curiosos vvisseccionamos
nossa alma: que nos importa ainad a “salvação” da alma! Depois curamos a nós
mesmo: estar doente é instrutivo, não temos dúvida, ainda mais instrutivo que
estar são – os que tornam doente nos pareem mesmo mais necessários do
que homens de medicina e “salvadores”. Violentamos a nós mesmo hoje em dia, não
á duvida, nós tenazes, quebra-nozes da alma, questionadores e questionaveis,
como se viver fosse aopenas quebrar nozes; assim nos devemos tornar cada vez
mais passíveis de questionamento, mais dignos de questionar, e assim
mais dignos talvez- de viver?... Todas as coisas bsoas foram um dia coisas
rins; cada pecado original tornou-se ma virtude original. O Casamento, por
exemplo, foi pro muito tempo uma ofensa aos direitos da comunidade; pagava-se
uma sanção por ser tão imodesto e ter a pretensão de uma mulher só para si
(daí, por exemplo, o jus primae noctis [direito da primeira noite],
aidna hoje no Camboja privilegio dos sacerdites, esses guardiões dos “bons
costumes antigos”). Os sentimentos brandos, benevolentes, infulgentes,
compasivos – afinal de valor tão elevado, que se tornaram quase os “valores em
si”- por longo tempo tiveram contra si precisamente o autodesprezo: tinha-se
vergonha da suavdiade, como hoje se tem vergonha da dureza (cf. Além do bem
e do mal, S 260). A submissão ao direito: oh, com que objeção da
consciencia aos estirpes nobres de toda parte renunciaram à vendetta
[vingança] e curavam-se ao direito! O “direito” foi por muito tempo um vetitum
[algo proibido], um abuso, uma inovação, apareceu com violência, como violência,
à qual somente com vergonha de so mesmo alguém se submetia. Cada pequenino
passo que se deu na terra foi conquistado ao peço de supícios espirituais e
corporais: toda essa perspectiva, “de que não apenas o avnaçar, não, o simples
andar, o movimento, a mudança, necessitaram de seus inumeráveis mártires”, soa
hoj wem dia tão estranha para nós – eu a expus em Aurora, “Nada foi
comprado tão acro”, diz-se ali (S18), como o pouco da razão humana e sentimento
de liberdade que agora cosntitui nosso orgulho.É este orgulho, porém, que nos
torna hoje quase impossivél sentir como os imensos príodos de “moralidade do
costume”, que precederam a “historia universal” como a verdadeira e decisiva
historia que determinou o carater da sumanidade: quando o sofrimento, a
crueldade, a dissimulação, a vingança, o repúdio à verdade eram virtude,
enquanto o bem-estar, a sede de saber, a apz, a compaixão eram perigo, serr
objeto de compaixão era ofensa, o rabalho era ofensa, a,loucura euma cosia
divina, a mudança algo nã ético e
prenhe de ruína.
11.Somente agora, após avistsarmos o sacerdote ascético,
atacamos seriamente o nosos problema: oq eu siginica o dieal ascético? –
agora a cosia fica “seria”: temos o próprio representante da seriedade a
nossa frente. “Que significa toda seriedade?” – esta pergunta, ainda masi
fundamental, aparece já aqui em nossos lábios: uma pergunta para fisiólogos,
claro, mas que momenyaneamente evitamos. O sacerdote ascético tem nesse ideal
não apenas a sua fé, mas também sua vontae, seu poder, seu interesse. Seu direito
a existencia se sustenta ou cai com esse ideal: como admirar que encontramos
aqui um adversario terrível, supondo-se que sejamos adversários desse idela? Um
adversario tal que luta por sua vida, combatendo os que negam esse ideal?., Por
outro lado, é improvável que uma titude tão interessada perante nosso problema
resulte especialmente proveitosa para ele; dificilmente o sacerdote ascetico
será um defensor afortunado do seu ideal, pela mesam razão por que uma mulher
não costuma se sair bem, quando pretende defender a “mulher em si” – tampouco
será ele o juiz mais imparcial da controversia aqui levantada. Portanto,
teremos que ajuda-lo a bem defender-se de nós- uma constatação palmar, a essa
altura -, em vez de recear sermos bem reutados por ele... O pensamento em torno
do qual aqui se peleja, é a valoração de nossa vida por parte dos
sacerdotes ascéticos: esta (justamente com aquilo a que pertence, “natureza”,
“mundo”, toda a esfera do vir e da transitoriedade) épor eles colocada em
relação com uam existência inteiramente outra, a qual exclui e á qual se opõe, a
menos que se volte contra si mesma, que negue a si mesma: neste
vaso, o caso de uma vida ascética, a vida vale como uma ponte para essa outra
existencia.O asceta trata a vida como um caminho errado, que se deve enfim
desnadar até o ponto onde começa; ou como um erro que se refutta – que se deve
irefutar com a ação: pois ele exige que se vá com ele, e impõe, onde
pode, a sua valoração da existencia. Quqe sgnifica isso? Um tal
mostruoso mdo de valorar não se acha inscrito como exceção e curiosidade na
história do homem: é um dos fatos mais difundidos e duradouros que existem.
Lida de um astro distante, a escrita maiúscula de nssa existencia terrestre
levaria talvez a conclusão de que a terra é a estrela ascética por
excelencia, um canto de criaturas descontentes, arrogantes e repulsivas, que
jamais se livram de um profundo desgosto de si, da terra, de toda a vida, e que
a si mesmas infligem o máximo e dor possivel, por prazer em ifligir dor –
provavelmente o seu unico prazer. Por consideremos com qeu regularidade, com
que universalidade, como em quase todos os tempos aparece o sacerdote ascetico;
ele não pertence a nenhuma raça determinada;floresce em toda parte, brota de
todas as classes. Não que ele cultive e propague seu modo de valoração através
da herança: ocorre o contrario – em geral, um profundo instinto lhe proíbe a
procriação. Deve ser uma necessidade de primeira ordem,a que faz sempre crescer e medrar essa espécie hostil a vida- deve ser nteresse da
vida mesma, que um tipo tão contraditorios não se extinga. Pois uma vida
ascetica é uma contradição: aqui domina um ressentimento ímpar, aquele de um
insacaido instinto e vontade de pdoer que sdeseja senhorear-se, não de algo da
vida mas da vida mesma, de sauss condições maiores, masi profundas e
fundamentais; aqui se faz a tentaiva de usar a força para estancar a fonte da
força; aqui o olhar se volta, rancoroso e pérfido, contra o florescimento
fisiologico mesmo, em especial contra suae xpressão, a beleza, a alegria;
enquanto se experimenta e se busca satisfação
no malogro, na desventura, no fenencimento, no feio, na perda voluntaria, na
negação de si, autoflagelação e autosacrificio. Tudo isso é paradozal no mais
alto grau: estamos aqui diante de uma desarmonia que se quer
desarmônica, que frui a si mema neste sofrimento, e torna-se inclusive
mais triunfante e confiante à medida que diminui o seu pressuposto, a
vitalidade fisológica. “O triunfo na agonia derradeira”: sob este signo
superlativo lutou desde sempre o ideal ascético; neste enigma de sedução, nesta
imagem de êxtase e tormento ele reconheceu sua luz masi intensa, sua salvação,
sau vitoria final. Crux, nux, lux [ cruz, noz, luz]- para ele são uma só
coisa.
13.Mas voltemos atrás. Está claro que uma
contraição como a que se manifesta no asceta, “vida contra vida”, é,
considerda fisiologicamente, não mais psicologicamnte, simplesmente um
absurdo,. Só pode ser aparente, deve ser uma espéce de expressão
provisoria, interpretação, fórmula, arranjo, incompreensão psicologica de algo
cja verdadeira natureza por muito tempo não pôde ser compreendida, designada tal
como era – uma mera palavra, incrustada numa velha lacuna do
conhecimento humano. Devo contrapor a ela, brevemente, a realidade dos fatos: o
ideal ascetico nasce do instinto de cura e proteção e uma vida que degenera,
a qual busca manter-se por todos os meios, e luta por sua existencia, indica
uma parcal inibição e exaustação fisiologica, que os instintos de vida mais
profundos, permanecidos intactos, incessantemente conbatem com novos meios e
invenções. O ideal ascetico é um tal meio: ocorre, portanto, exatamente o
contrario do que acreditam os adradores desse ideal- a vida luta nele e através
dele com a morte, contra a morte, o ideal ascético é um artificio para a
preservação da vida. Que ele tenha podido dispor e apoderar-se dos
homens da menira como a historia ensina, em especial onde se impôs a
civilização e domesticação do homem, nisto se expressa uma grande realdiade: a condição
doentia do tipo de home até agora existente, ao menos do homem domesticado;
a luta fisiolófica do homem com a morte (mais precisamnete: com o desgosto da
vida, com a exaustão, com o desejo do “fim”). O sacerdote ascetico é a encarnação
do desejo de ser outro, de ser-esta em outro lugra, é o mais alto grau desse
desejo, sua verdadeira febre e paixão: mas precisamente o ipoderi do seu desejo
é o grilhão que o prende aqui; precisamente por isso ele se torna o
instrumwento que deve trabalhar para a criação de condições mais propicias para
o ser-aqui e o ser-homem – precisamente com este pdoer ele mantém
apegado à vida todo o rebanho de malogrados, desgraçados, frustados,
deformados, sofredores de toda especie, ao colocar-se instintivamente á sua
frente como pastor. Já me entendem: este saerdote ascetico, este aparente
nimigo da vida, este negador – ele exatamente está entre as grandes
potencias conservadores e afirmadoras ad vida... Qual a origem dessa
condição doentia? Pois o homem é mais doente, insegro, inconstante,
indeterminado que qualquer outro animal, não há duvida – ele é o animal doente:
de onde vem isso? É certo que ele também ousou, inovou, resistiu, desafio o
destino masi que todos os outros animais reunidos: ele, o grande experimentador
de si mesmo, p insatisfeito, insaciado, que luta pelo dominio ultimo com os
animais, a natuerza e os deuses – ele, o ainda não domado, o eternamente
futuro, que não encontra sossego de uma força propria que o impele, de modo que
seu futuro, uma força propria que o impele, de modo que seu futuro, uma espora,
mergulha implacável na carne de todo presente – como não seria um tão rico e
corajoso animal também mais exposto ao eprigo, o mais lonfa e profundamente
enfermo entre todos os animais enfermos?... O homem frequentemente está farto,
há verdadeiras epdemias desse estar-farto (- como por volta de 1348, no tempo
da dança da morte): mas mesmo esse nojo, essa fadiga, essa fastio de si mesmo –
tudo isso irrompe tão poderosamente nele, que se torna imediatamente um novo
grilhão. O Não que ele diz à vida tarz a luz, como pro magica, uma profusão de
Sins mais delicados, sim, quando ele se fere, esse mestre da destruição, da
autodestruição – é a prpria ferida que em seguida o faz viver...
14.Se é normal a a condição doentia do homem –
e não há como contestar essa normalidade-, tato mais deveriam ser reverenciado
os casos raros de pujança da alma e do corpo, os acasos felizes do homem, tanto mais deveriam ser os bem
logrados protegidos do ar ruim, do ar de doentes,. Isto é feito?... Os doentes
são o maior perigo para os sãos; não é dos mais fortes que vem o infortúnio dos
ortes, e sim dos mais fracos. Isto é sábido?... Grosso modo, não é
absolutamente o temor ao homem, aquilo cuja diminuição se poderia desejar: pois
esse temor obriga os fortes a serem fortes, ocasionalmente temíveis – ele
mantém em pé o tipo bem logrado de homem. O que é de temer, o que tem efeito
mais fatal que qualquer fatalidade, não é o grande temor, mas o grande nojo ao
homem; e tambem a grande compaixãi pelo homem. Supondo que esse dois um
dia se casassem, inevitavelmente algo de monstruoso viria o mundo, a “ultima
vontade” do homem, sua vontae dao nada, o niilismo. E de fato: muita coisa
aponta para isso. Quem para farejar possui não apenas o nariz, ams também os
olhos e ouvidos, sente, em quase toda parte aonda vai atualmente, algo
semelhante a um ar de hospício, a um ar de hosital – falo, naturalmente, das
areas de cultura do homem, de toda a especie de “Europa” sobre a terra. Os
doentios são o grande perigo do homem: não oa maus, não os “animais de
rapina”. Aqueles já de inicio desgraçados, vencidos, destroçados – são eles são
os mais fracos, os que mais corroem a vida entre os homens, os que mais
perigosamente envenenam e questionam nossa confiança na vida, no homem, em
nós,. Onde se poedria escapar a ele, aquele olhar velado ue nos deixa uma
profunda tristeza, aquele olhar voltado para tras do homem deformado na origem,
que revela como tal homem fala consgo mesmo – aquele olhar que é um suspiro!
“Quisera ser alguma outra pessoa”, assim suspira esse olhar: “ mas não há
esperança”. Eu sou o que sou: como me livraria de min mesm? E no entanto – estou
fato de min!”... Neste solo de autodesprezo, verdadeiro terreno pantanoso,
cresce toda erva ruim, toda planta venenosa, e tudo tão pequeno, tão escondido,
tão insincero, tão adocicado. Aqui pulam os vermes da vingança e do rancor;
aqui o ar fede a segredos e coisas inconfessáveis; aqui se tece continuamente a
rede da mais malévola conspiração – a conspiração dos sofredores contra os bem
logrados e vitoriosos , aqui a simples vista o vitorioso é odiada. E que
mendacidade, ara não admitir esse ódio como ódio! Que ostentação de grandes
palavras e atitudes, que arte de calúnia “hionrad”! Esses malogrados; que nobre
eloqüência flui de seus lábios! Quanta resignação humilde, viscosa, açucarada,
flutua em seus olhos! Que desejam realmente? Ao menos representar o
amor, a justiça, a superioridade, a sabedoria – eis a ambição desses “ínfimos”,
desses enfermos! E como esta ambição torna hábil! Admire-se principalmente a
habilidade de falsários com que aí se imita o cunho de virtude, e mesmo o
tilintar, o tilintar de ouro da virtude. Eles agora monopolizaram inteiramente
a virtude, esses fracos e doentes sem cura, quanto a isso não há duvida: nos
somente somos os bons, “os justos”, dizem eles,” nós somente somos os homines
banae voluntatis [homens de boa vontade]. Eles rondam entre nós como
censuras vivas, como advertências dirigidas a nós – como se saúde, boa
constituição, força, orgulho, sentimento de força fossem em si coisas viciosas,
as quais um dia se devesse pagar, e pagar amargamente: oh, como eles mesmo
estão no fundo dispostos a fazer pagar, como anseiam ser carrascos!
Entre eles encontra-se em abundância os vingativos mascarados de juizes, que
permanentemente levam na boca, como baba venenosa, a palavra justiça e
andam sempre de lábios em bico, prontos a cuspir em todo aquele que não tenha
olhar insatisfeito e siga seu caminho de ânimo tranqüilo. Entre eles não falta
igualmente a mais nojenta espécie de vaidosos, os monstro de mendacidade que
buscam aparecer como “almas belas” e exibem no mercado, como “pureza do
coração”, sua sensualidade estropiada, envolta em versos e outros cruzeiros: a
espécie de onanistas morais e “autogratificadores”. A vontade dos enfermos de
representar uma forma qualquer der superioridade, seu instinto par vias
esquivas que conduzam a uma tirana sobre os sãos – onde não seria encontrada,
essa vontade de poder precisamente dos mais fracos!A mulher doente em especial:
ninguém a supera em refinamento para dominar, oprimir, tiranizar. Nisso a
mulher doente nada poupa, vivo ou morto, ela desenterra de novo as cisas mais
profundamente enterradas (os bogos dizem: “a mulher é uma hiena”). Olhe-se o
interior de cada família, de cada corporação, de cada comunidade: em toda parte
a luta dos enfermos contra os sãos – uma luta quase sempre silenciosa, com
pequenos venenos, com agulhadas, com astuciosa mímica de mártir, por vezes
também com esse farisaísmo de doente de gestos estrepitosos, que ama
mais que tudo encenar a “nobre indignação”. Até nos espaços consagrados da
ciência gostaria de fazer-se ouvir esse rouco latido de indignação dos cães
doentes, a mordaz fúria e falsidade de tais “nobres” fariseus (- aos leitores
que têm ouvidos torno a lembrar aquele apóstolo da vingança berlinense, Eugen
Duhring, que na Alemanha que de hoje faz o uso mais indecente e repugnante dos
“temores” da moral: Duhring, o maior fanfarrão da moral que existe atualmente,
mesmo entre seus iguais, os anti-semitas). Estes são todos homens do
ressentimento, estes fisiologicamente desgraçados e carcomidos, todo um mundo
fremente de subterrânea vingança, inesgotável, insaciável em irrupções contra
os felizes, e também em mascaramentos de vingança, em pretextos para vingança:
quando alcançariam realmente o seu último, mais sutil, mais sublime triunfo da
vingança? Indubitavelmente, quando lograssem introduzir na consciência dos
felizes sua própria miséria, toda a miséria, de modo que estes um dia
começassem a se envergonhar da sua felicidade, e descessem talvez uns aos
outros: “é uma vergonha ser feliz! Existe muita miséria!”... Mas não
poderia haver erro maior e mais fatal do que os felizes, os bem logrados, os
poderosos de corpo e alma começarem a duvidar assim do seu direito a
felicidade. Fora com esse “mundo ao avesso”! Fora com esse debilitamento do
sentimento! Que os doentes não tornem os sadios doentes – isto seria o
debilitamento – deveria ser o ponto de vista supremo na Terra – mas isto
requer, acima de tudo, que os sadios permaneçam apartados dos doentes,
guardados inclusive da vista dos doentes para que não se confundam com os
doentes. Ou seja por acaso sua tarefa serem enfermeiros e médicos?... Não
poderia haver pior maneira de desconhecer e negar a sua tarefa – o superior não
deve rebaixar-se a instrumento do inferior, a pathos da distância
deve manter também as tarefas eternamente afastadas! Seu direito de ser o
privilegio do sino de plena ressonância diante daquele falho, dissonante, é
afinal mil vezes maior: eles somente são os fiadores do futuro, eles
somente estão comprometidos com o futuro do homem. O que eles podem,
o que eles devem, jamais poderiam poder e dever os enfermos: mas para
que eles possam o que apenas eles devem, como poderiam ainda fazer-se de
médicos, consolados, “salvadores” dos enfermos?... Ar puro, portanto! Ar puro!
E afastamento de todos os hospícios e hospitais da cultura! Portanto boa companhia, nossa
companhia! Ou solidão, s tiver de ser! Mas afastamento dos maus odores da
degradação interna e da oculta carona da doença!... Para que nós mesmos, meus
amigos, ao menos por algum tempo ainda nos defendamos das duas mais terríveis
pragas que podem estar reservadas para nós precisamente – o grande nojo do
homem e a grande compaixão pelo homem!...
15. Compreendendo-se em toda profundidade – e
eu exijo que precisamente aqui se apreenda fundo, se vá ao fundo – o
quanto não pode ser tarefa dos sãos assistir doentes, tornar são doentes,
compreende-se assim uma necessidade mais – a necessidade médicos e enfermeiros que
sejam eles mesmo doentes: e agora temos e apreendemos com ambas as mãos o
sentido do sacerdote ascético. A ele devemos considera o salvador, pastor e
defensor predestinado do rebanho doente: somente então entenderemos a sua
tremenda missão histórica. A dominação sobre os que sofrem é o seu
reino, para ela o dirige seu instinto, nela encontra ele sua arte mais própria,
sua mestria, sua espécie de felicidade. Ele próprio tem de ser doente, tem de
ser aparentado aos doentes e malogrados desde a raiz, para entendê-los – para
com eles se entender; mas também tem de ser forte, ainda mais senhor de si do
que dos outros, inteiro em sua vontade de poder, para que tenha a confiança e o
temor dos doentes, para que lhes possa ser amparo, apio, resistência, coerção,
instrução, tirano, deus. Ele tem que defendê-lo, ao seu rebanho – contra quem?
Contra as sãos, não há dúvida, e também contra a inveja que têm dos sãos; ele tem
que ser o opositor e desprezador natural de toda saúde e toda potência
tempestuosa, dura, desenfreada, violenta e rapasse. O sacerdote é a primeira
forma do animal mais delicado, que despreza mais facilmente do que
odeia. Não lhe será poupado fazer guerra aos animais de rapina, uma guerra de
astúcia (de “espírito”) mais que de violências, está claro – para isto lhe será
necessário, em certas circunstâncias desenvolver-se quase que em um novo tipo
de animal de rapina, ou a menos representá-lo- uma nova ferocidade
animal, na qual o urso polar, a elástica, fria, expectante pantera, e também a
raposa, parecem juntados numa unidade tão atraente quanto aterradora. Supondo
que a necessidade e obrigue, ele andará entre os outros animais de rapina,
sério como urso, venerável, prudente., frio, superior-enganador, como arauto e
porta-voz poderes misteriosos, decidido a semear nesse terreno, onde puder,
sofrimento, discórdia, contradição, e, seguro bastante de sua arte, fazer-se a
todo instante senhor do s sofredores. Ele traz ungüento e bálsamo, sem duvida;
mas necessita primeiro ferir, para ser médico; e quando acalma a dor que a
ferida produz, envenena no mesmo ato a ferida – pois disso entende ele
mais que tudo, esse feiticeiro e domador de animais de rapina, em volta do qual
tudo o que é são torna-se necessariamente doente, e tudo doente necessariamente
manso. De fato, ele defende muito bem o seu rebanhado enfermo, esse estranho
pastor – ele o defende também de si mesmo, da baixeza, perfídia, malevolência
que no próprio rebanho arde sob as cinzas, e do que mais for próprio de doentes
e combalidos; ele combate, e modo sagaz, duro e secreto, a anarquia e a
autodissolução que a todo momento ameaçam o rebanho, no qual aquele mais
perigoso dos explosivos, o ressentimento, é continuamente acumulado. Descarregar
este explosivo, de modo que ele não faça saltar pelos ares o rebanho e o
pastor, é a sua peculiar habilidade, e suprema utilidade; querendo-se resumir
numa breve fórmula o valor da existência sacerdotal, pode-se dizer
simplesmente: o sacerdote é aquele que muda direção do ressentimento.
Pis todo sofredor busca instintivamente uma causa para seu sofrimento; mais
precisamente, um agente; ainda mais especificamente, uma agente culpado
suscetível de sofrimento – em suma, algo vivo, no qual possa sob alguma
pretexto descarregar seus afetos, em ato ou in effigie [simbolicamente]:
pois a descarga de afeto é para o sofredor a maior tentativa de alívio, de entorpecimento,
seu involuntariamente ansiado narcótico para tormentos de qualquer espécie. Unicamente
nisto, segundo minha suposição, se há de encontrar a verdadeira causa
fisiológica do ressentimento, da vingança e quedados, ou seja, em um desejo de entorpecimento
da dor através do afeto – de ordinário ela é procurada, muito erroneamente,
me parece, em um contragolpe defensivo, uma simples medida protetora, um
“movimento reflexo” em reposta a um súbita lesão ou ameaça, do tio que ainda
executa uma rã sem cabeça, para livrar-se de um ácido corrosivo. Mas a
diferença é fundamental: em um caso quer-se prevenir mais lesões, no outro caso
quer-se entorpecer, mediante uma emoção mais violenta de qualquer
espécie, uma torturante, secreta, cada vez mais insuportável, e retirá-la da
consciência ao menos por um instante – para isto necessita-se de um afeto, um
afeto o mais selvagem possível, e, para sua excitação, um bom pretexto qualquer
. “Alguém deve ser culpado de que eu esteja mal” – esta maneira de raciocinar é
comum a todos os doentes, tanto mais quanto lhe for desconhecida à verdadeira
causa do seu mal-estar, a fisiológica (-ela pode encontrar-se, digamos, uma
enfermidade do nervus sympathicus, numa anormal secreção de bílis, numa
pobreza se sulfato e fosfato e potássio no sangue, em estados de tensão do
baixo-ventre que impedem a circulação do sangue, ou ainda numa degeneração dos
ovários etc.) Os sofredores são todos horrivelmente dispostos e inventivos , em
matéria de pretextos para seus afetos dolorosos; eles fruem a própria
desconfiança, a cisma com baixeza e aparentes prejuízos, eles resolvem as
vísceras de seu passado e seu presente, atrás de historias escuras e
questionamentos, em que possam regular-se em uma suspeita torturante, e
intoxicar-se do próprio veneno da maldade- eles rasgam as mais antigas feridas,
eles sangram de cicatrizes a muito curadas, eles transformam em malfeitores o
amigo, a mulher, o filho e quem mais lhes for próximo. “Eu sofro: disso alguém
deve ser culpado” – assim pensa toda ovelha doente. Mas seu pastor, o sacerdote
ascético, lhe diz: “Isso mesmo, minha ovelha! Alguém deve ser culpado: mas você
mesma é esse alguém – somente você é culpada de si!...” Isto é ousado
bastante, falso bastante: mas com isto se alcança uma coisa ao menos, com isto,
como disse, a direção do ressentimento é- mundana.
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