(Aulas de filosofia da religião-2008)
Paolo
Cugini
A fenomenologia como perspectiva de pesquisa
A fenomenologia pede para a filosofia uma disponibilidade para acolher a realidade no seu oferecer-se á consciência qual “dato originário”, qual “fenômeno” que se automanifesta pra si mesmo. É o mundo vivido que na fenomenologia é colocado em destaque e precede qualquer reflexão bíblica. É considerado fenômeno tudo aquilo que se oferece á consciência no interno de uma situação experiêncial. Do seu lado o homem se percebe como uma consciência imediatamente colocada num preciso contexto histórico e espacial, em contato direto com o mundo concreto dos objeto da sua percepção. Neste sentido podemos dizer que a consciência é radicalmente intencionalidade, ou seja sempre consciência de algo, contato sobre o mundo e ponto de vista sobre o mundo. A intencionalidade pode ser considerada bipolar: a consciência é intencionada ao dato, mas também o dato é intencionado á consciência. Do ponto de vista fenomenológico a prioridade não pode ser atribuída nem ao dato nem á consciência mas a intencionalidade que os interliga.
O método fenomenológico
O método fenomenológico consiste de dois momentos:
1.
epoché: é a
suspensão de qualquer julgamento de valor o de verdade (colocar entre aspas
qualquer pressuposto), que permita a abertura á globalidade do fenômeno.
2. momento da revelação (eidetico):
É necessário colocar entre aspas tudo aquilo que as
opiniões dizem sobre o objeto em questão, junto também com qualquer forma de
conhecimento que pode atrapalhar a percepção do objeto assim como ele é, ou
seja, assim como ele se manifesta na realidade. De uma certa forma é preciso
uma catarse uma abstinência da cultura, para captar o aspecto originário de um
determinado fenômeno. Isso não quer dizer que para que o método fenomenológico
funcione precisa abandonar as próprias convicções, as próprias idéias: nada
disso! Se trata simplesmente de fazer espaço ao evento para que se manifesta na
sua objetividade. O trabalho prévio da libertação dos preconceitos é em função
da revelação da datidade, do se abri da evidencia eidetica. A fenomenologia é
uma espécie de arqueologia em busca das fontes ultimas do mundo da vida. Este
método permite de captar a estrutura de sentido do objeto, a sua mesma
inteligibilidade. Sendo, pois que esta estrutura não coincide de forma alguma
com a factualidade historio empírica, Husserl define a essência a priori,
absoluta e objetiva em quanto pertence ao objeto assim como ele se mostra na
relação com a consciência, no âmbito da intencionalidade. A fenomenologia tende
a captar o sentido das coisas. É baseado sobre a capacidade intuitiva do ser
humano. A essência é captada nos fenômenos através de uma intuição imediata.
A linguagem da experiência religiosa
O símbolo
O símbolo é a primeira e mais originaria objetivação da
experiência religiosa. Encontramos símbolos seja nos mitos que ns ritos.
Todo símbolo é um sinal visível e ativo que se revela
portador de forças psicológicas e sociais.
Símbolo deriva de symbolon: era um pedacinho de barro ou
de madeira partido em pedacinhos que os assinantes de um pacto guardavam com
muito cuidado. Encostando as duas partes
quebradas permitia de reconhecer a amizade e testemunhava que a aliança
realizada era intacta. A imagem proclamava a unidade na diversidade.
A função originaria do símbolo é aquele de criar uma
ligação entre os homens, de determinar um ato social. Aquilo que é importante
num símbolo não é a forma ou o material, mas sim o relacionamento ao qual
aquele material envia.
A função do símbolo não é apenas de instituir uma
ligação entre os homens, mas também entre o homem e o cosmo. O símbolo entra
como mediador em todos os relacionamentos que o homem realiza com o mundo que o
circunda e com os outros. É claro que neste sentido podemos dizer que o símbolo
é uma linguagem, que nasce da experiência vivida, da intuição do sentido nela
percebida, e permanece ligada á vida, sem chegar á formalização abstrata
própria da linguagem lógica.
Na criação simbólica o espírito humano carrega o objeto
sensível de um sentido ulterior comparado com o sentido natural e primário do
mesmo objeto. É neste sentido que Ricoeur fala de símbolo como “a região do
dúplice sentido”. É preciso salientar que, um símbolo autentico é aquele que
chama imediatamente a atenção sobre o sentido que quer expressar. Quando, pelo
contrario, o nível simbólico não é primário, significa que o símbolo é fraco.
Simbólicos são todos aqueles significados que de uma
qualquer maneira implicam a partilha de um juízo de valor afetivo e moral.
Funções do símbolo:
1.
evocativa: permite de indicar a ordem de sentido como evidencia primeira.
2. operativa ou performativa: é relativa a capacidade do símbolo de produzir uma transformação, induzindo emoções, solicitando sentimentos e imagens, gerando novas relações.
Originado pela experiência o símbolo gera também
experiência. Com justamente falou E. Ortigues: “O símbolo não reenvia, com faz o signo, para algo de uma ordem
diferente de si, mas tem a função de nos introduzir numa ordem da qual também
ele faz parte”.[1]
A relação simbólica determina uma verdadeira
transfiguração de sentido; de fato no riso percebemos a alegria e no vermelho
do rosto, a vergonha.
A. O símbolo religioso
No símbolo religioso são acentuados os elementos
analógicos e dialético, porque aquilo que é simbolizado permanece sempre além,
nunca é plenamente presente naquilo que aparece. Os símbolos religiosos nunca
se substituem ao divino. “O símbolo não é
um ídolo, não se identifica com a mesma divindade, permanece uma realidade
mundana compreendida, porém, como manifestação de algo de completamente
diferente, que não pertence ao nosso mundo”.[2]
Segundo a fenomenologia da religião a fonte do símbolo
religioso é a ierofania (algo de sagrado é mostrado). A historia das religiões pode ser considerada
como um cumular-se de ierofanias, ou seja, de manifestações de realidades
sagradas.
Mircea Eliade distingue três elementos da estrutura da ierofania:
1.
objeto natural
2.
a realidade invisível e
transcendente
3. o objeto mediador.
Entre este três elementos o mais importante é o
terceiro, ou seja o objeto mediador. “Na
manifestação do sagrado um qualquer objeto se torna uma outra coisa, sem cessar
de ser ele mesmo, em quanto continua fazendo parte do próprio ambiente cósmico”.[3]
O Sagrado, manifestando-se, transfigura simbolicamente a realidade do mundo do homem, tornando-a capaz de deixar entrever, na sua precariedade, o ser absoluto.
O símbolo religioso se constitui por dois cominhos:
1.
objetivo-revelativo: pertence a
decisão de Deus de entrar na historia.
2.
subjetivo-comunicativo:depende
da iniciativa humana.
O espaço sagrado e a sagralização do mundo na teoria de Mircea Eliade
Homogeneidade espacial e hierofania
Para o homem religioso o espaço não é homogêneo. O
espaço sagrado é percebido com real. Esta é considerada por Mircea Eliade como
uma experiência religiosa primaria, não ligada a nenhuma teorização. A
hierofania é sempre a manifestação de uma realidade, de uma verdade que se opõe
a uma não realidade. A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo. A
revelação de um espaço sagrado permite de obter um “ponto fixo” de se orientar
dentro da homogeneidade caótica, de “fundar o Mundo” e de viver realmente. Ao
contrario a experiência profana mantem a homogeneidade e a relatividade do
espaço.
Teofanias e signos
Cada espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado. O simbolismo conteúdo na expressão: “Porta do Céu” é rica e complexa. A teofania consagra um lugar para rendê-lo “aberto”para o alto, comunicando com o Céu, ponto paradoxal de passagem de um mundo para o outro. Neste sentido podemos afirmar que os santuários são uma espécie de Portas do Céu, de passagem entre o Céu e a Terra.
Caos e Cosmos
Se todo território com moradores é um “Cosmo”, é porque
foi consagrado. A consagração de um território coincide com a sua cosmisação.
Ocupando um território e se instalando o homem o transforma simbolicamente em
Cosmo. Na perspectiva das sociedades arcaicas tudo aquilo que ainda não é o
“nosso mundo” ainda não é um mundo. Um território se torna o nosso território
somente consagrando-o (cf. a Cruz e a missa do portugueses logo que chegaram no
Brasil).
Consagração de um lugar: repetição da cosmogonia
A existência humana é possível somente através uma
constante comunicação com o Céu. Se instalar num território significa
participar da criação original.
Algumas idéias chave:
v Um lugar sagrado constitui uma ruptura na homogeneidade do espaço
v Esta ruptura é simbolizada para um abertura
v A comunicação com o Céu é expressa por um certo numero de imagens
que se referem todas ao “eixo do mundo”: escada, arvore, montanha...
v Este eixo é identificado com o centro do Mundo.
Em todo lugar encontra-se o simbolismo do “Centro do
Mundo” e é este centro que nos ajuda a entender o comportamento tradicional
sobre o espaço no qual o povo vive.
Todas as crenças sobre os lugares sagrados expressam o
mesmo sentimento profundamente religioso: o “nosso mundo” é uma terra santa
porque e muito próximo ao Céu, porque deste lugar podemos participar do Céu.
Este simbolismo do Centro explica outras imagens
cosmológicas e crenças religiosas:
v As cidades santas e os santuários se encontram no Centro do Mundo
v Os templos são replicas da Montanha cósmica e constituem a ligação
por excelência entre o Céu e a Terra
v Os alicerces dos templos são ligadas as regiões inferiores.
O “Nosso Mundo’ é
sempre situado ao Centro
O homem das sociedades pré-modernas aspira a viver o mais perto possível do “Centro do Mundo”. A instalação num território equivale a fundação de um mundo.
Cidade-Cosmo
Se é verdade que o nosso mundo é um cosmo todo ataque exterior visa transforma o cosmo em Caos. Sendo que o “nosso mundo” foi fundado imitando a obra exemplar dos deuses, qualquer ataque é fruto do inimigo dos deuses, ou seja os demônios, os dragões. Qualquer destruição de uma cidade equivale a uma regressão no Caos.
É claro que nessa altura dá pra perceber o nível de
dessacralização que a nossa época está vivendo, que por isso não percebe mais o
valor simbólico de uma moradia, de uma casa ou mesmo de um templo, de um
santuário.
Templo, Basílica, Catedral
Nas grandes civilidades orientais o templo não é apenas
uma imago mundi, mas uma verdadeira
reprodução terrestre de um modelo transcendental. O templo é copia do arquétipo celeste. É
graça ao templo que o mundo é santificado na sua totalidade. Isso quer dizer
que os modelos arquitetônicos se encontram no Céu, participem da sacralidade
original.
A Jerusalém celeste foi criada ao mesmo tempo que o
Paraíso. A cidade de Jerusalém é a reprodução aproximativa de um modelo
transcendente.
A basílica cristã e mais tarde a catedral reproduz este simbolismo.
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