quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O MOMENTO FENOMENOLOGICO DA FILÓSOFIA DA RELIGIÃO

 


 


(Aulas de filosofia da religião-2008) 

Paolo Cugini

  

A fenomenologia como perspectiva de pesquisa

A fenomenologia pede para a filosofia uma disponibilidade para acolher a realidade no seu oferecer-se á consciência qual “dato originário”, qual “fenômeno” que se automanifesta pra si mesmo. É o mundo vivido que na fenomenologia é colocado em destaque e precede qualquer reflexão bíblica. É considerado fenômeno tudo aquilo que se oferece á consciência no interno de uma situação experiêncial. Do seu lado o homem se percebe como uma consciência imediatamente colocada num preciso contexto histórico e espacial, em contato direto com o mundo concreto dos objeto da sua percepção. Neste sentido podemos dizer que a consciência é radicalmente intencionalidade, ou seja sempre consciência de algo, contato sobre o mundo e ponto de vista sobre o mundo. A intencionalidade pode ser considerada bipolar: a consciência é intencionada ao dato, mas também o dato é intencionado á consciência. Do ponto de vista fenomenológico a prioridade não pode ser atribuída nem ao dato nem á consciência mas a intencionalidade que os interliga. 

O método fenomenológico 

O método fenomenológico consiste de dois momentos:

1.    epoché: é a suspensão de qualquer julgamento de valor o de verdade (colocar entre aspas qualquer pressuposto), que permita a abertura á globalidade do fenômeno.

2.   momento da revelação (eidetico):

É necessário colocar entre aspas tudo aquilo que as opiniões dizem sobre o objeto em questão, junto também com qualquer forma de conhecimento que pode atrapalhar a percepção do objeto assim como ele é, ou seja, assim como ele se manifesta na realidade. De uma certa forma é preciso uma catarse uma abstinência da cultura, para captar o aspecto originário de um determinado fenômeno. Isso não quer dizer que para que o método fenomenológico funcione precisa abandonar as próprias convicções, as próprias idéias: nada disso! Se trata simplesmente de fazer espaço ao evento para que se manifesta na sua objetividade. O trabalho prévio da libertação dos preconceitos é em função da revelação da datidade, do se abri da evidencia eidetica. A fenomenologia é uma espécie de arqueologia em busca das fontes ultimas do mundo da vida. Este método permite de captar a estrutura de sentido do objeto, a sua mesma inteligibilidade. Sendo, pois que esta estrutura não coincide de forma alguma com a factualidade historio empírica, Husserl define a essência a priori, absoluta e objetiva em quanto pertence ao objeto assim como ele se mostra na relação com a consciência, no âmbito da intencionalidade. A fenomenologia tende a captar o sentido das coisas. É baseado sobre a capacidade intuitiva do ser humano. A essência é captada nos fenômenos através de uma intuição imediata.


A linguagem da experiência religiosa

O símbolo

O símbolo é a primeira e mais originaria objetivação da experiência religiosa. Encontramos símbolos seja nos mitos que ns ritos.

Todo símbolo é um sinal visível e ativo que se revela portador de forças psicológicas e sociais.

Símbolo deriva de symbolon: era um pedacinho de barro ou de madeira partido em pedacinhos que os assinantes de um pacto guardavam com muito cuidado.  Encostando as duas partes quebradas permitia de reconhecer a amizade e testemunhava que a aliança realizada era intacta. A imagem proclamava a unidade na diversidade.

A função originaria do símbolo é aquele de criar uma ligação entre os homens, de determinar um ato social. Aquilo que é importante num símbolo não é a forma ou o material, mas sim o relacionamento ao qual aquele material envia.

A função do símbolo não é apenas de instituir uma ligação entre os homens, mas também entre o homem e o cosmo. O símbolo entra como mediador em todos os relacionamentos que o homem realiza com o mundo que o circunda e com os outros. É claro que neste sentido podemos dizer que o símbolo é uma linguagem, que nasce da experiência vivida, da intuição do sentido nela percebida, e permanece ligada á vida, sem chegar á formalização abstrata própria da linguagem lógica.

Na criação simbólica o espírito humano carrega o objeto sensível de um sentido ulterior comparado com o sentido natural e primário do mesmo objeto. É neste sentido que Ricoeur fala de símbolo como “a região do dúplice sentido”. É preciso salientar que, um símbolo autentico é aquele que chama imediatamente a atenção sobre o sentido que quer expressar. Quando, pelo contrario, o nível simbólico não é primário, significa que o símbolo é fraco.

Simbólicos são todos aqueles significados que de uma qualquer maneira implicam a partilha de um juízo de valor afetivo e moral.

 

Funções do símbolo:

1. evocativa: permite de indicar a ordem de sentido como evidencia primeira.

2. operativa ou performativa: é relativa a capacidade do símbolo de produzir uma transformação, induzindo emoções, solicitando sentimentos e imagens, gerando novas relações. 

Originado pela experiência o símbolo gera também experiência. Com justamente falou E. Ortigues: “O símbolo não reenvia, com faz o signo, para algo de uma ordem diferente de si, mas tem a função de nos introduzir numa ordem da qual também ele faz parte”.[1]

A relação simbólica determina uma verdadeira transfiguração de sentido; de fato no riso percebemos a alegria e no vermelho do rosto, a vergonha.


A. O símbolo religioso

No símbolo religioso são acentuados os elementos analógicos e dialético, porque aquilo que é simbolizado permanece sempre além, nunca é plenamente presente naquilo que aparece. Os símbolos religiosos nunca se substituem ao divino. “O símbolo não é um ídolo, não se identifica com a mesma divindade, permanece uma realidade mundana compreendida, porém, como manifestação de algo de completamente diferente, que não pertence ao nosso mundo”.[2]

Segundo a fenomenologia da religião a fonte do símbolo religioso é a ierofania (algo de sagrado é mostrado).  A historia das religiões pode ser considerada como um cumular-se de ierofanias, ou seja, de manifestações de realidades sagradas.

Mircea Eliade distingue três elementos da estrutura da ierofania:

1.   objeto natural

2.   a realidade invisível e transcendente

3.   o objeto mediador.

Entre este três elementos o mais importante é o terceiro, ou seja o objeto mediador. “Na manifestação do sagrado um qualquer objeto se torna uma outra coisa, sem cessar de ser ele mesmo, em quanto continua fazendo parte do próprio ambiente cósmico”.[3]

O Sagrado, manifestando-se, transfigura simbolicamente a realidade do mundo do homem, tornando-a capaz de deixar entrever, na sua precariedade, o ser absoluto.

O símbolo religioso se constitui por dois cominhos:

1.   objetivo-revelativo: pertence a decisão de Deus de entrar na historia.

2.   subjetivo-comunicativo:depende da iniciativa humana.

 

O espaço sagrado e a sagralização do mundo na teoria de Mircea Eliade 

Homogeneidade espacial e hierofania

Para o homem religioso o espaço não é homogêneo. O espaço sagrado é percebido com real. Esta é considerada por Mircea Eliade como uma experiência religiosa primaria, não ligada a nenhuma teorização. A hierofania é sempre a manifestação de uma realidade, de uma verdade que se opõe a uma não realidade. A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo. A revelação de um espaço sagrado permite de obter um “ponto fixo” de se orientar dentro da homogeneidade caótica, de “fundar o Mundo” e de viver realmente. Ao contrario a experiência profana mantem a homogeneidade e a relatividade do espaço.

 

Teofanias e signos

Cada espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado. O simbolismo conteúdo na expressão: “Porta do Céu” é rica e complexa. A teofania consagra um lugar para rendê-lo “aberto”para o alto, comunicando com o Céu, ponto paradoxal de passagem de um mundo para o outro. Neste sentido podemos afirmar que os santuários são uma espécie de Portas do Céu, de passagem entre o Céu e a Terra.

 

Caos e Cosmos

Se todo território com moradores é um “Cosmo”, é porque foi consagrado. A consagração de um território coincide com a sua cosmisação. Ocupando um território e se instalando o homem o transforma simbolicamente em Cosmo. Na perspectiva das sociedades arcaicas tudo aquilo que ainda não é o “nosso mundo” ainda não é um mundo. Um território se torna o nosso território somente consagrando-o (cf. a Cruz e a missa do portugueses logo que chegaram no Brasil).

 

Consagração de um lugar: repetição da cosmogonia

A existência humana é possível somente através uma constante comunicação com o Céu. Se instalar num território significa participar da criação original.

 

Algumas idéias chave:

v      Um lugar sagrado constitui uma ruptura na homogeneidade do espaço

v      Esta ruptura é simbolizada para um abertura

v      A comunicação com o Céu é expressa por um certo numero de imagens que se referem todas ao “eixo do mundo”: escada, arvore, montanha...

v      Este eixo é identificado com o centro do Mundo.

 

Em todo lugar encontra-se o simbolismo do “Centro do Mundo” e é este centro que nos ajuda a entender o comportamento tradicional sobre o espaço no qual o povo vive.

Todas as crenças sobre os lugares sagrados expressam o mesmo sentimento profundamente religioso: o “nosso mundo” é uma terra santa porque e muito próximo ao Céu, porque deste lugar podemos participar do Céu.

Este simbolismo do Centro explica outras imagens cosmológicas e crenças religiosas:

 

v As cidades santas e os santuários se encontram no Centro do Mundo

v Os templos são replicas da Montanha cósmica e constituem a ligação por excelência entre o Céu e a Terra

v Os alicerces dos templos são ligadas as regiões inferiores.

 

O “Nosso Mundo’ é sempre situado ao Centro

 O homem das sociedades pré-modernas aspira a viver o mais perto possível do “Centro do Mundo”. A instalação num território equivale a fundação de um mundo.

 Cidade-Cosmo

Se é verdade que o nosso mundo é um cosmo todo ataque exterior visa transforma o cosmo em Caos. Sendo que o “nosso mundo” foi fundado imitando a obra exemplar dos deuses, qualquer ataque é fruto do inimigo dos deuses, ou seja os demônios, os dragões. Qualquer destruição de uma cidade equivale a uma regressão no Caos. 

É claro que nessa altura dá pra perceber o nível de dessacralização que a nossa época está vivendo, que por isso não percebe mais o valor simbólico de uma moradia, de uma casa ou mesmo de um templo, de um santuário.

 

Templo, Basílica, Catedral

Nas grandes civilidades orientais o templo não é apenas uma imago mundi, mas uma verdadeira reprodução terrestre de um modelo transcendental.  O templo é copia do arquétipo celeste. É graça ao templo que o mundo é santificado na sua totalidade. Isso quer dizer que os modelos arquitetônicos se encontram no Céu, participem da sacralidade original.

A Jerusalém celeste foi criada ao mesmo tempo que o Paraíso. A cidade de Jerusalém é a reprodução aproximativa de um modelo transcendente.

A basílica cristã e mais tarde a catedral reproduz este simbolismo.



[1] Lê discurs e le symbole, Aubier-Montaigne, Paris, 1962, p. 65.

[2] M. ELIADE, O sagrado e o profano,

[3] Ivi, p.15.

[4] Cf. M. ELIADE, Lê sacré et lê profane, Gallimard, Paris 1965, pp. 63-100.

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