1. O problema que tentaremos enfrentar ao longo do curso é a busca da
essência da religião. Precisamos saber, para isso, se o homem é equipado para
viver uma experiência religiosa. Antes de proceder por este caminho será
necessário delimitar o campo da nossa pesquisa –momento epistemológico- e
pesquisar de que forma a religião é interpretada –momento hermenêutica-. É a
partir destas duas delimitações da pesquisa, que poderemos iniciar a nossa
analise da religião do ponto de vista filosófico. Só que também a este nível,
será necessário realizar uma escolha metodológica. Vários, de fasto, são os
caminhos filosóficos que tentaram desvendar a religião. Aquilo que, a nosso
aviso, oferece os instrumentos mais respeitos do nosso objeto de pesquisa é a
fenomenologia.
2. A nossa abordagem filosófica á religião é fenomenológico. Segundo a fenomenologia o fenômeno é
simplesmente aquilo que se dá á consciência. È a consciência o primeiro
testemunho de um fenômeno de qualquer tipo ele seja. Segundo J.L Marion nessa
altura, podemos encaixar do ponto de vista filosófico também os fenômenos assim
chamados religiosos, antes excluídos do debate filosófico em quanto
considerados sem alguma objetividade especifica. Do ponto do vista fenomenológico,
a verdade de um fenômeno não depende da sua possibilidade de ser captada pelos
sentidos, mas sim pela consciência. Aquilo que aparece é em quanto se doa, se
oferece. “Tanta aparência, tanto ser”[1].
Heidegger afirmava que o fenômeno é aquilo que “se
mostra de si mesmo”, também somente por indícios. Esse é o ser que pode se
manifestar somente através de indícios que o manifestam, o anunciam (cf a
fenomenologia do inaparente de Heidegger). Por isso também o invisível pode ser
considerado um fenômeno autêntico. É por essa razão que, segundo Marion, a
revelação divina, pode entrar no âmbito dos fenômenos e a fenomenologia parece
oferecer os instrumentos capazes de elaborar o seu conhecimento. O dar-se de um fenômeno pressupõe sempre um
eu que receba, apesar de que não se reduz a ele. De uma certa forma, a dinâmica
fenomenológica parece limitar a liberdade da manifestação do fenômeno
religioso, da revelação divina. Deveria existir um fenômeno que oferece
infinitamente mais da intenção, ou seja, dos dados elaborados pelo eu.
3. Van der Loow nas suas pesquisas de fenomenologia da religião, afirma
que qualquer homem busca algo que possa estendera sua vida, ou seja, uma
potência. Por isso o homem vive angustiado até que não encontre esta potência,
que, no plano horizontal pode ser identificado com a arte, a política, etc. Do
ponto de vista fenomenológico podemos afirmar que, quando o homem é em busca de
uma potência de vida, experimenta algo que vem ao seu encontro manifestando-se
como uma potência suprema: é o fenômeno religioso. Somente o homem aberto ao
transcendente acolhe este tipo de fenômeno, porque o reconhece como tal.
4. Como acontece o encontro do fenômeno com o sujeito? Sem duvida não
de forma imediata, mas sim, mediata. Esta mediação é o símbolo. A possibilidade
de uma fenomenologia do invisível tramite indícios e o aprofundamento
filosófico da realidade fenomênica com doação, leva a refletir sobre o
horizonte simbólico que é o dato mais típico da experiência religiosa. Segundo
a fenomenologia da religião, os indícios do invisível não são outra coisa que os
símbolos. Do ponto de vista epistemológico os símbolos devem ser considerados
autenticas manifestações ierofanicas, com uma peculiar valência revelativa.
Nessa altura, podemos afirmar que a condição da possibilidade do homem de
conhecer o transcendente é dato e mediato da dimensão simbólica. Os símbolos
religiosos revelam e, ao mesmo tempo, escondem o Sagrado.
Segundo Luis Pareyson[2]
o dato físico e o dato transcendente que se encontram no símbolo são
inseparáveis.
Cada símbolo religioso é abitado por uma valência
positiva de revelação. A operação simbólica entra para suprir a deficiência de
conhecimento imediato da realidade divina.
5. O tipo de conhecimento que nos conseguimos na experiência religiosa
é evidente? O conhecimento simbólico, apesar de ter a sua origem absoluta na
livre vontade revelativa do divino, se realiza através de um circulo que vá do
símbolo á realidade simbolizada para voltar ao símbolo. Só através dos símbolos
se abre a realidade simbolizada. Só á luz da transcendência os símbolos são
percebidos como tais e se tornam revelativos.
Por isso, podemos afirmar que o tipo de conhecimento do
divino que obtemos no conhecimento simbólico é sim evidente, mas de uma
evidencia de tipo intuitivo, ou seja, não de tipo dedutivo nem de tipo
indutivo. Aquilo que na experiência religiosa é captado imediatamente não é o
ser de Deus, mas o indicio dEle. O símbolo manifesta algo de totalmente alheio:
isso torna-se evidente no conhecimento simbólico. Para isso torna-se necessário
um relacionamento que envolva totalmente a pessoa.
6. Segundo Max Scheler[3]
a relação simbólica tem uma característica especial: é o objeto simbólico mesmo
que anuncia e torna presente o divino transcendente. O exemplo disso
encontramos no conhecimento do outro. De fato, as expressões do rosto são
revelativas dos sentimentos da pessoa encontrada (cf. Levinas). Assim a revelação do
transcendente é a expressão de uma liberdade soberana que não pode ser
demonstrada, mas si reconhecida
intuitivamente nas suas expressões. Na medida em que o homem se deixa guiar do
movimento intencional das mediações simbólicas dos eventos revelativos, é capaz
de captar a realidade do divino e a sua comunicação.
O objeto dos atos religiosos é ao mesmo tempo a origem da existência deles. Tudo aquilo que sabemos de Deus o sabemos por meio dEle.
[1] J.L. Marion, Filosofia e rivelazione, in Studia
Patavina 36 (1989) 3, 1-19.
[2] L. Pareyson, filosofia edd esperienza religiosa,
in Annuario filosófico I, 1985, 25.
[3] M Scheler, L’eterno nell’uomo.
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