quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Simone Weil Carta a um Religioso

 



(aulas de filosofia da religião 2009)

 

Síntese: Paolo Cugini

 

 

Quando leio o catecismo do Concílio de Trento me parece de não ter nada em comum com a religião que ali está exposta. Quando leio o Novo Testamento, os místicos, a liturgia, quando vejo celebrar a missa, sinto como uma espécie de certeza que esta fé é a minha, ou mais precisamente o seria sem a distância que a minha imperfeição põe entre ela e mim... farei o elenco de um certo número de pensamentos que habitam em mim a anos  (pelo menos alguns deles) e são de obstáculos entre mim e a Igreja.

 

1. Se assumirmos o momento da história anterior a Cristo e suficientemente distante dele – por exemplo distante cinco séculos -, se além disso não levamos em conta aquilo que aconteceu depois, naquele momento Israel é menos participe de Deus e das verdades divinas de muitos povos circunvizinhos (Índia, Egito, Grécia, China). De fato, a verdade essencial sobre Deus é que Ele é bom. Crê que Deus possa ordenar aos homens atos atrozes de injustiça e de crueldade é o erro maior que podemos cometer falando dele.

Na Ilíade, Zeus não ordena nenhuma crueldade. Segundo os gregos, seus intercessores habitam em cada desgraçado que implora piedade. Iavé é o Deus dos exércitos. A história dos hebreus demonstram que não se trata apenas de astros, mas também dos guerreiros de Israel. Heródoto cita numerosos povos helênicos e asiáticos, mas destes só um tinha um Zeus dos exércitos. Esta blasfêmia era desconhecida a todos os outros. Os livros dos mortos dos egípcios, que tem pelo menos 3 mil anos – mas provavelmente muito mais -, é encharcado de caridade evangélica...

Os hebreus, que por quatro séculos viveram em contato com a civilidade egípcia, se recusaram de adotar este espírito de doçura. Eles queriam o poder... Isso deixaria crer que Israel aprendeu a verdade mais essencial sobre Deus (ou seja, que Deus é bom antes de ser poderoso) das tradições estrangeiras – caldeia, persa ou grega – e graça ao exílio.

 

3- A prova que o conteúdo do cristianismo existia antes de Cristo é que depois dele não aconteceram mudanças muito relevantes no comportamento dos homens.

 

9- Quando o Cristo disse: “Ensinai a todas as nações e levais a elas o anúncio” ordenava de levar um anúncio e não uma teologia... A Igreja levou demais frutos errados para que não tinha acontecido um erro no começo. A Europa foi desenraizada espiritualmente, cortada daquela antiguidade na qual todos os elementos da nossa civilidade tem origem; e, a partir do século XVI partiu para desenraizar os outros continentes.

Depois de vinte séculos, o cristianismo não se difundiu praticamente além da raça branca; o catolicismo é ainda mais limitado. A América ficou dezesseis séculos sem ouvir falar de Cristo e os seus povos foram destruídos entre as mais horríveis crueldades antes de ter o tempo de conhecê-lo. O zelo dos missionários não cristianizou a África, a Ásia e a Oceania, mas levou estas terras debaixo do domínio frio, cruel e massacrador da raça branca que acabou com tudo.

 

10- A ação missionária assim como é conduzida de fato (sobretudo depois da condenação da política dos jesuítas na China no século XVII) é errada, a não ser em alguns casos particulares. Os missionários, também se mártires, são acompanhados muito perto pelos canhões e pelas naves de guerra pra ser verdadeiros testemunhos do Cordeiro.

 

11- A religião Católica contém explicitamente verdades que outras religiões contém de forma implícita... As diferentes tradições religiosas autenticas são diferentes reflexos da mesma verdade, e talvez em igual medida preciosos.  Mas disso ninguém se dá conta, porque cada um vive uma só dessas tradições e percebe as outras do externo. Então uma religião se conhece só do interno, como os católicos justamente não se cansam de repetir aos não-crentes.

 

25- As lágrimas de um santo em situação de autêntica contemplação são sobrenaturais... A cruz sozinha me basta. Pra mim a prova, a coisa verdadeiramente milagrosa é a perfeita beleza das narrações da paixão, junto com algumas palavras fulgurantes de Isaías: “Injuriado, maltratado, não abria a sua boca”, e de São Paulo: “não considerou a igualdade com Deus como privilégio...ele se esvaziou... se fez obediente até a morte, a morte de cruz...”, “foi feito maldição”. É isso que me obriga crer.

Sem a condenação lançada pelo Concílio, a indiferença sobre os milagres não seria pra mim nenhum obstáculo, do momento em que a cruz produz sobre mim o mesmo efeito que sobre outros a ressurreição.

 

26- Os mistérios da fé não são um objeto pela inteligência enquanto faculdade que permite de agarrar ou de negar. Não pertence à ordem da verdade, mas a uma ordem superior. A única parte da alma capaz de um contato real com eles é a faculdade do amor sobrenatural. Só esta é então capaz de uma adesão a estes mistérios.

A tarefa das outras faculdades da alma, começando com a inteligência, é somente aquela de reconhecer que aquilo com o qual o amor sobrenatural entra em contato é real, que tais realidades são superiores aos objetos que elas podem captar; é de calar não apenas o amor sobrenatural acorda de modo atual na alma.

A virtude da caridade é o exercício do amor sobrenatural. A virtude da fé é a subordinação de todas as faculdades da alma à faculdade de amor sobrenatural. A virtude da esperança é uma orientação rumo a transformação depois da qual ela será inteiramente e exclusivamente amor. Para se subordinar à faculdade de amor as outras faculdades devem encontrar-se cada uma o próprio bem; de forma especial a inteligência, que é a mais preciosa depois do amor. E as coisas estão certamente assim. Quando a inteligência volta a exercitar-se de novo, depois de ter feito silencia para consentir o amor de invadir toda a alma, se encontra possuir mais luz do que antes, uma maior atitude a captar os objetos, as verdades que cabem a ele.

Não só isso: eu acho que este silêncio constitui pela inteligência uma educação que não tem comparação e permite a ela de captar verdades que de outra forma ficariam escondidas para sempre. Existem verdades que ficam ao alcance da inteligência, que ela pode colher, mas só depois de ter passado em silêncio através do intelegível.

A inteligência pode conhecer as vantagens dessa subordinação ao amor somente por experiência, a coisas feitas. Antes, não tem nenhum pressentimento. Não tem inicialmente nenhum motivo razoável de aceitar essa subordinação. Assim esta subordinação é algo sobrenatural, que só Deus opera.

O primeiro silêncio, longo apenas um instante, que se produz através de toda a alma em prol do amor sobrenatural é a semente jogada pelo Semeador, é o grão de mostarda quase invisível que um dia se tornará a Arvore da Cruz.

 

27- Ás prescrições das quais a Igreja pensou de contornar os mistérios da fé, em particular as suas condenações, se deve uma atitude permanente incondicionada de respeitosa atenção, mas não uma adesão. A adesão da inteligência não é mais devida à algo de qualquer. Porque não é mais de alguma forma algo de voluntário. Só a atenção é voluntária. Portanto só ela é matéria de obrigação.

 

28- Em matéria de fé, a jurisdição da Igreja é boa enquanto impõe à inteligência uma certa disciplina da atenção... mas ela é totalmente errada se impede a inteligência, na busca das verdades que a ela pertence, de utilizar com uma liberdade total da luz difundida na alma mediante a contemplação amorosa. A liberdade total no próprio âmbito é essencial à inteligência. A inteligência deve se exercer em total liberdade, senão deve calar. No seu âmbito a Igreja não tem nenhum direito de jurisdição, e portanto são ilegítimas, em particular, todas as “definições” nas quais se trata de provas.

No cristianismo até no começo existe um mal-estar da inteligência. Tal mal-estar é devido à maneira na qual a Igreja concebeu o seu poder jurisdicional, em particular o uso da formula “anathema sit”. Sempre que tiver o mal-estar da inteligência existe opressão do indivíduo da parte do social, que tende a tornar-se totalitário. No século XIII, sobretudo, a Igreja estabeleceu um começo de totalitarismo. Assim ela não é alheia de responsabilidade nos atuais acontecimentos. Os partidos totalitários se formaram por efeito de um mecanismo análogo ao uso da fórmula “anathema sit”. Esta fórmula e o uso que foi feito dela impedem a Igreja de ser Católica a não ser pelo nome.

 

29- Antes do Cristianismo, em Israel e fora de Israel, o número indeterminado de homens talvez foram longe tão quanto os santos cristãos no amor e no conhecimento de Deus, o mesmo vale, depois de Cristo, por aquela parte da humanidade que foram da Igreja Católica (“infiéis”, “heréticos”, “não-crentes”). E mais em geral é duvidoso que depois o Cristo tinha sido mais amor e o maior conhecimento de Deus na cristandade que em certos países não cristãos, como a Índia.

 

32- Se poderia formular um postulado: é falsa cada concepção de Deus incompatível como um movimento de caridade pura.

São verdadeiras em diferentes graus todas as outras. O amor e o conhecimento de Deus não são realmente separáveis, porque no Eclesiástico é dito: “O Senhor deu a sabedoria àqueles que o ama” (1,8).

 

35- A compreensão do cristianismo é quase impossível por causa do profundo mistério que envolve a história dos primeiros tempos.   

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