(Síntese Paolo Cugini)
• O discurso de Lísias sobre o amor 231
233 – Queres te tornar cada vez mais virtuoso? Confia em ti e não na pessoa que te ama, pois o que ama louvará sempre as tuas palavras e teus atos sem se preocupar com a verdade e com o bem, de medo de te perder ou pela simples cegueira que é própria da paixão. São estas as ilusões do amor. O amor infeliz aflige-se com aquilo que a ninguém incomoda; o amor feliz acha que tudo é encanto, as menores e mais insignificantes coisas. O amor é mais digno de piedade do que de inveja. Se cederes aos meus desejos, não me verás à procura, na tua intimidade, de um simples prazer efêmero. Hei de estar vigilante a que nos liguem interesses duráveis, pois que, liberto do amor, sou capaz de me dominar. Sem me deixar levar por motivos fúteis a ódios furiosos, não me aborrecerei por causa de faltas insignificantes, mas só adiante de erros graves me irritei contigo. Perdoarei o que fizeres sem intenção e tentarei impedir as más ações. São estes os sinais de uma amizade duradoura.
• O primeiro discurso de Sócrates
237 – É evidente que o amor é desejo. Sabemos, porém, que os que não amam também desejam os objetos que são belos. Como, pois, distinguiremos entre o que ama e o que não ama? Devemos, além disso, examinar o seguinte: em cada um de nós há dois princípios que nos governa e conduzem, e nós os seguimos para onde nos levam: um é o desejo inato do prazer, outro a opinião que pretende obter o que é melhor. Essas duas tendências que existem dentro de nós concordam por vezes, em outras entram em conflito, por vezes vence uma e por vezes a outra. Ora, quando a tendência que se inspira na razão é a que vence, conduzindo-nos ao que é melhor, 238 – chama-se a isso temperança; quando, pelo contrário, o desejo nos arrasta sem deliberação para os prazeres, e é ele que predomina em nós, isso se chama intemperança.
Quando o desejo, que não é dirigido pela razão, esmaga em nossa alma o desejo do bem e se dirige exclusivamente para o prazer que a beleza promete, e quando ele se lança, com toda a força que os desejos intemperantes possuem, o seu poder é irresistível. Esta força Todo-poderosa, irresistível, chama-se Eros ou amor.
Naturalmente, um homem governado pelo desejo e escravo da volúpia procurará no seu amado o máximo do prazer. Hora, o apaixonado gosta de tudo ou que não lhe opõem resistência e odeia tudo o que lhe é superior ou igual. Por isso, o amante verá com impaciência um superior ou um igual no seu amado e fará tudo para que lhe seja inferior e menos perfeito. Hora, o ignorante é inferior ao sábio, o covarde ao corajoso, o incapaz de falar ao orador, o tolo ao inteligente. Quando semelhantes deficiências se instalam no espírito do amado, ou quando lhe são própria por natureza, o amante necessariamente se alegrara e procurará acentuar tais defeitos, pois do contrario correra o risco de perder seus prazeres momentâneos. É forçoso que o amante apaixonado inveje o amado, impedindo-lhe muitas convivências úteis que poderiam fazer dele um bom homem, e causando assim um grande prejuízo. O maior prejuízo, porem, que o apaixonado acarreta ao objeto do seu amor é privá-lo daquilo que daria pleno desenvolvimento à sua inteligência, isto é, a divina filosofia, da qual o amante necessariamente afasta o amado. Ele tem medo de ser desprezado pelo rapaz, e é claro que fará tudo quanto puder para que este se torne um perfeito ignorante e em tudo se oriente pelo pensar dele, amante. essa situação do amado é, para o amante, agradável, mas nociva para o próprio rapaz. Por tanto, do ponto de vista espiritual o amante apaixonado nem é bom tutor nem um companheiro útil.
Passemos agora ao corpo, à sua compleição e aos cuidados que se deve ter com ele. Qual é essa compleição?Que cuidados dará a ele ao corpo daquele de quem é senhor?
Observamos que o apaixonado vai procurar um efeminado e não um forte; que deseja possuir um homem que não tenha crescido à luz do sol mas ao abrigo de uma sombra, um homem que não conheça trabalhos masculinos nem suores fortes, um homem acostumado a um gênero de vida algo impróprio do seu sexo, um homem que procura substituir as boas qualidades que lhe faltam por cores adornos exótico. Tal fato é tão evidente que não vale a pena discuti-lo mais pormenorizadamente; mencionaremos apenas o ponto principal que a ele se prende. O aspecto de tala corp na guerra e em outras situações sérias torna os inimigos corajosos, ao passo que os amigos, e também os próprios amantes, inevitavelmente temerão por ele. isto, porem, é fato que não sofre duvida e podemos abandonar o assunto.
Agora devemos examinar que vantagens e que prejuízos, no tocante à fortuna, nos oferecerão o convívio com o amante e sua proteção. Uma coisa é evidente para todos, e em primeiro lugar par ao próprio amante: ele deseja, acima de tudo, que sés amado seja privado dos mais ambicionáveis, mais agradáveis e mais divinos bens. A esse homem convém que o amado perca o pai, a mãe, os parentes e os amigos, pois os considera como opositores e censores do gênero de convivência que a ele á mais agradável. Quando, porem, o amado possui uma fortuna em ouro ou em outros objetos de valor, afigurar-se-á ao amante que não é muito fácil conquistar o rapaz e, caso este se deixe conquistar, não será muito obediente. tudo isso se conclui que o amante inveja o amado quando este recebe uma fortuna e alegrar-se quando o mesmo a perde. O amante não deseja que o objeto do seu amor se case, que tenha filhos, que possua um lar, pois sua intenção é gozar, o mais longamento que puder, o seu prazer egoísta, o gozo do seu doce fruto.
Há muitos outros males, mas à maior parte deles um ente sobrenatural parece haver misturado algum momentâneo prazer. Assim, o lisonjeiro, por exemplo, é horrível monstro e traz sérios prejuízos, mas, simultaneamente, a natureza lhe conferiu certo atrativo que não deixa de ter seu encanto. poder-se-ia chamar nociva também a uma prostituta, e o mesmo a varias outras criaturas duvidosas, e a costumes que proporcionam um prazer deleitoso, porem efêmero. O mesmo se da com o apaixonado em relação com os seus amores. Ele não é apenas nocivo. Sua assiduidade o torna terrivelmente desagradável. Diz um velho provérbio que cada um gosta de conviver com os que são da sua idade. Segundo penso, a mesma idade conduz aos mesmos prazeres e essa semelhança engendra amizade. mas, apesar, disso, uma dessas convivências levada ao exagero resultara em saciedade também é coisa que todos consideram desagradável. Ainda mais evidente e desagradável é ela no que diz respeito à diferença da idade, sobretudo na companhia de um amante que a idade afasta daquele que ele ama. Se é velho, persegue o objeto do seu amor e não o larga nem durante o dia nem durante a noite; é aguilhoado pelo desejo intenso, sente prazer todas as vezes que vê o amado ou lhe ouve a voz, ou lhe toca, ou, enfim, o percebe por qualquer dos sentidos; com prazer se aproxima dele e incessantemente o arcaica. Masque consolação e que divertimentos poderá dar ele ao amado, para que este, que tem, de permanecer tanto tempo em sua companhia, não sinta desprazer? O moço esta diante de um ser enrugado afligido pelos achaques da velhice, e a isso adicionam outras coisas que acompanham estas visão e que de fato só são suportados com repugnância. Resguardado contra todos com desconfiança, fiscalizando no que faz e no que diz, ouve ainda do objeto amado, do seu apaixonado, elogios inconvenientes e exagerados, e também repreensões que seriam insuportáveis mesmo nos lábios de um homem sóbrio, mas quando se acrescentam à embriaguez não só são insuportáveis mas ofensivas, pois um homem desses usa expressões aborrecidas, despudoradas e atrevidas que causam magoa, raiva, dor e desprazer. Pois bem: quando o amante esta apaixonado, é desagradável é prejudicial; quando, porem, seu amor termina, ele se revela como homem indigno de confiança; trairá aquele que seduzira com promessas magníficas, com os seus juramentos e a sua devoção. Outrora, tratou de conservar o convívio de seu amado acenando-lhe com a esperança de grandes bens, porque a convivência em si era desagradável. Agora, porem, que chegou a ocasião de cumprir suas promessas, ei-lo transformado em outro homem sem que seu amado o tenha notado. Em seu intimo, rendeu-se a outro soberano e guia, à ponderação e à sobrieidade, abandonando o amor e a loucura. O amado, que agora espera gratidão pelos favores conhecidos, lembra-lhe o que ambos faziam e diziam outrora, julgando falar ainda como o mesmo homem. Mas o amante tem vergonha de dizer que se tornou outro, e, além disso, é incapaz de cumprir as promessas e juramentos feitos sob o domínio da loucura da paixão. Como adquiriu juízo e sabedoria, não quer fazer o mesmo que antes, para não se tornar de novo semelhante ao que era em outro tempo. Em conseqüência disso se torna esquivo; o antigo amante perdeu seu amor, devido às circunstancias; o caco caiu de outro modo, e o amante foge do amado, trocando-se os papeis. O outro, vendo-se na necessidade de persegui-lo, encoleriza-se contra ele e pragueja; não compreendeu, no começo que não devia ter conhecidos favores ao homem outrora apaixonado e insensato, mas sim a quem, não se achando dominado pela paixão, soubesse proceder com juízo, entregando-se ao apaixonado, abandonou-se a um homem sem palavra, de convívio desagradável, a um homem cheio de inveja, que só lhe causou desprazer, nocivo para a sua fortuna, para a sua educação física e, acima de tudo, para a sua educação espiritual, o mais estimável de todos os bens que existem ou poderão existir, tanto para os homens quanto para os deuses.
Eis, caro rapaz, o que é necessário ter em mente; devem saber que o amor de um homem apaixonado não provem um sentimento benévolo, mas, como o apetite ao comer, da necessidade de satisfazê-lo.
“Como o lobo ama o cordeiro ama o apaixonado o seu amado”.
Meu caro Fedro, eis tudo o que tenho a dizer. Nada a mais ouviras desta boca. Meu disco esta terminando.
Quando quis atravessar o regato despertou em mim o “daimónion” e manifestou-se o sinal costumeiro. Ele sempre me impede de fazer o que desejo. pareceu-me ouvir uma voz que vinha cá de dentro e que não me permitia ir embora antes de oferecer aos deuses uma expiação, como se eu houvesse cometido alguma impiedade. Sou adivinho, mas não muito hábil; sou como os que não sabem bem ler e escrever: Só faço adivinhações para mim mesmo. Agora vejo com clareza o meu pecado. Meu amigo! A alma tem o dom de profetizar. Já enquanto fazia o discurso senti certa perturbação. Para me exprimir como Ibico, tive medo de ganhar honra aos olhos dos homens cometendo um pecado contra os deuses. Mas agora percebo qual é a minha culpa.
Necessidade de saber o que é a alma
O principio do movimento é aquilo que a si mesmo se move. Não pode desaparecer nem se formar, do contrario o universo e todas as gerações parariam e nunca mais poderiam ser movidos. Pois bem, o que a si próprio se move é imortal. Quem isso considerar como essência e caráter da alma, não terá escrúpulo nessa afirmação. Cada corpo movido de fora é inanimado. O corpo movido de dentro é animado, pois que o movimento é da natureza da alma. Se aquilo que a si mesmo se move não é outra coisa senão a alma, necessariamente a alma será algo que não se formou. E será imortal.83
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