[anotações]
Antropoceno (ou Antropocénico em português europeu) é
um termo usado por alguns cientistas para descrever o período mais recente na
história do Planeta Terra. Ainda não há data de início precisa e oficialmente
apontada, mas muitos consideram que começa no final do Século XVIII, quando as
atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima da
Terra e no funcionamento dos seus ecossistemas. Esta data coincide com a
aprimoração do Motor a vapor por James Watt em 1784. Outros cientistas consideram
que o Antropoceno começa mais cedo, como por exemplo no advento da agricultura.
As tentativas de datação precisam revelam, porém, o problema do necessário
distanciamento histórico na ponderação de eventos e grandezas relevantes para a
escala de tempo geológico. Um hipotético observador distanciado milhões de anos
no futuro poderá, munido de suficiente informação, melhor determinar uma data e
uma tipologia para o Antropoceno. Perante o alcance das consequências da ação
do Homem na evolução do Planeta Terra, o Antropoceno poderá ser reconhecido e
classificado, por exemplo, como um novo período ou era geológica. Nesta
perspectiva, é plausível apontar o seu início a partir do surgimento do Homo
sapiens.
O termo Antropoceno é uma combinação das raízes das
palavras em grego anthropo- (ἄνθρωπος) que significa "humano" e -ceno que
significa "novo". Todas as épocas da Era Cenozóica terminam em -ceno.
O biólogo Eugene F. Stoermer originalmente cunhou o
termo, mas foi o químico vencedor do Prêmio Nobel Paul Crutzen que
independentemente o reinventou e popularizou. Stoermer escreveu, "eu
comecei a usar o termo 'antropoceno' na década de 1980, mas nunca formalizei
até ser contatado pelo Paul".[ Crutzen explicou, "Eu estava numa
conferência onde alguém disse alguma coisa sobre o Holoceno. De repente, eu
pensei que isso estava errado. O mundo mudou demais. Então eu disse: 'Não, nós
estamos no Antropoceno'. Eu criei a palavra no calor do momento. Todos se
chocaram. Mas ela parece ter ficado." O termo foi usado pela primeira vez em uma
publicação em 2000 por Crutzen e Stoermer em um informativo do Programa
Internacional da Geosfera-Biosfera.
Ainda em 1873, o geólogo italiano Antonio Stoppani
reconheceu o aumento do poder e do efeito da humanidade nos sistemas da Terra e
se referiu a uma 'era antropozoica'. Um termo similar, Homogenoceno (do grego
antigo: homo-, mesmo, geno-, tipo, kainos-, e -ceno, novo [período]), foi usado
pela primeira vez por Michael Samways em seu primeiro artigo editorial no
Journal of Insect Conservation (1999) intitulado, "Translocating fauna to
foreign lands: here comes the Homogenocene". Samways utilizou o termo para
definir nossa época geológica atual, na qual a biodiversidade está diminuindo e
os ecossistemas ao redor do globo se tornaram mais similares uns aos outros. O
termo foi usado por John L. Curnutt em 2000 em Ecology, em uma pequena lista
intitulada, "A Guide to the Homogenocene". Andrew Revkin cunhou o
termo Antroceno em seu livro Global Warming: Understanding the Forecast (1992),
no qual escreve, "nós estamos entrando em uma era que pode um dia ser
referida como, poderia dizer, o Antroceno. No final das contas, é uma era
geológica de nossa própria autoria." O nome evoluiu para
"Antropoceno", que geralmente é considerado como um termo técnico
mais apropriado.
Efeitos da atividade humana
Biodiversidade
Extinção de espécies (em milhares por ano).
Muitas espécies foram extintas devido ao impacto
humano. A maioria dos especialistas concorda que as atividades humanas têm
acelerado a taxa de extinção de espécies. Desde 1950, biomassa de algas
diminuiu cerca de 40%, provavelmente em resposta ao aquecimento do oceano,
sendo que o declínio ganhou ritmo nos últimos anos. Alguns autores postulam que
sem impactos humanos a biodiversidade do planeta continuaria a crescer a um
ritmo exponencial.
Inseparável do declínio da biomassa, o problema da paz
é uma questão central no pensamento de gurus como Jiddu Krishnamurti e o Dalai
Lama. É também preocupação maior do reputado filósofo e sociólogo francês Edgar
Morin, preocupação essa pela primeira vez expressa no seu livro Terre-Patrie
(Terra-Pátria, de 1993), “a nossa casa e o nosso jardim”, pondo em destaque uma
questão com implicações globais. (Ver
‘Notícias’ no final do texto)
Na edição aberta de 13 de julho de 2012 do New York
Times, o ecologista Roger Bradbury previu o fim da biodiversidade marinha,
dizendo que os recifes de coral estão condenados, "Os recifes de coral
serão os primeiros, mas certamente não o último grande ecossistema, a sucumbir
ao Antropoceno". Este artigo rapidamente gerou muita discussão entre os
ambientalistas e foi refutada no site da The Nature Conservancy, defendendo sua
posição de proteger os recifes de coral, apesar de impactos humanos continuaram
causando quedas de recife.
Destaca-se também uma mudança na variedade de animais,
já que áreas onde várias espécies de animais superiores viviam anteriormente
foram modificadas para a criação de animais que servissem para a alimentação
humana, diminuindo a diversidade da área; isto é especialmente verdade para
pastos e fazendas marinhas. Alteração similar houve nas regiões urbanas, onde
alguns animais foram expulsos de seus habitats, enquanto outros se adaptaram,
tornando-se por vezes pragas. A diversidade de plantas comestíveis e não-comestíveis
foi sensivelmente afetada pela seleção humana, que priorizou alguns poucos
cultivares em detrimento de uma grande diversidade natural; enormes áreas
povoadas com centenas de espécies vegetais diferentes são degradadas para
originar plantações de um só ou de poucos espécimes de plantas, o que também
afeta a fauna, em um outro plano. Biomas inteiros são ameaçados, e processos
como desertificação e savanização modificam paisagens de forma agressiva e
rápida.
Composição da atmosfera
Concentração de dióxido de carbono atmosférico (em
ppm).
O aumento do teor de dióxido de carbono atmosférico
(CO2) na atmosfera é resultante das atividades humanas. Durante os ciclos
glaciais-interglaciais dos últimos milhões de anos, os processos naturais têm
variado CO2 em cerca de 100 ppm (a partir de 180 ppm a 280 ppm). A partir de
2013, as emissões líquidas antrópicas de CO2 aumentaram sua concentração
atmosférica por uma quantidade comparável de 280 ppm (Holoceno ou
"equilíbrio" pré-industrial) para aproximadamente 397 ppm. A maior
parte deste aumento é devido ao manejo de animais para a alimentação humana,
notoriamente o gado, e à queima de combustíveis fósseis, como o carvão,
petróleo e gás, embora frações menores sejam o resultado da produção de cimento
e as mudanças de uso do solo (por exemplo, desmatamento).
Mudanças do clima
Já somos mais de 7 bilhões de seres humanos vivendo e
consumindo os recursos da Terra. A queima continuada de combustíveis fósseis,
como o petróleo e o carvão, tem sido responsável por um dos impactos mais
sensíveis do Antropoceno: o aquecimento global. O clima está mudando. As
geleiras e as calotas polares estão derretendo, o nível do mar aumentando, e
começam a ocorrer grandes alterações no regime de chuvas e nos processos biológicos.
[carece de fontes]
Alteração dos rios
No Antropoceno, o curso dos grandes rios do planeta e
o seu padrão de sedimentação foram amplamente alterados. Barragens, usinas e
canais mudaram de forma radical estes caminhos de água. Estamos cada vez mais
sujeitos a secas e inundações. A disponibilidade de água potável atual e futura
também está em risco, devido ao desperdício, à falta de manutenção nas
tubulações e a poluição de fontes, rios, lagos e aquíferos. As grandes
metrópoles são as primeiras a sofrer com a crise crônica de água. Em todo o mundo,
apenas 4% dos esgotos domésticos são adequadamente tratados, e a maior parte da
água utilizada nas residências e nas indústrias é despejada nos rios sem
qualquer tipo de tratamento.[carece de fontes]
Geleira do pico do monte Fremont.
Em termos de oligoelementos, há assinaturas distintas
deixadas pelas sociedades modernas. Por exemplo, na geleira do monte Fremont,
em Wyoming, há uma camada de cloro presente nos núcleos de gelo que remonta aos
programas de testes de armas atômicas da década de 1960, bem como uma camada de
mercúrio associado às usinas termoelétricas a carvão dos anos 1980.[carece de
fontes]
Limite temporal do antropoceno
Teoria do "Antropoceno Precoce"
Embora suspeite-se que grande parte da mudança
ambiental seja uma conseqüência direta da Revolução Industrial, William
Ruddiman propõe que o Antropoceno começou aproximadamente 8.000 anos atrás, com
o desenvolvimento da agricultura e das culturas sedentárias. Neste ponto, os
seres humanos foram dispersos em todos os continentes (exceto a Antártica), e a
Revolução Neolítica estava em andamento. Durante este período, os seres humanos
desenvolveram a agricultura e pecuária para complementar ou substituir o sistema
de subsistência do tipo caçador-coletor. Tais inovações foram seguidos por uma
onda de extinções, começando com grandes mamíferos e aves terrestres. Esta onda
foi impulsionada tanto pela atividade direta dos seres humanos (por exemplo, de
caça) e as consequências indiretas da mudança no uso da terra para a
agricultura.[carece de fontes]
Este período (de 10.000 anos até o presente) é
normalmente referido como o Holoceno pelos geólogos. Durante maior parte da
Holoceno, as populações humanas foi relativamente baixa e as suas atividades
muito discretas quando comparadas à dos últimos séculos. No entanto, muitos dos
processos que estão alterando o ambiente da Terra já estavam ocorrendo durante
este período. No que diz respeito a melhor data de partida para Antropoceno
muitas propostas têm sido criadas. Do passado ao presente, alguns autores consideram
o Antropoceno e o Holoceno como o mesmo intervalo de tempo geológico outros
defendem que o Antropoceno seria apenas o período mais recente. Na verdade,
discutindo a hipótese de início de Antropoceno, William Ruddiman alega que o
Antropoceno, conforme definido pelo impacto humano significativo nas emissões
de gases de efeito estufa, não começou na era industrial, mas há 8.000 anos,
como antigos agricultores derrubando florestas para o cultivo. O trabalho de
Ruddiman, por sua vez, foi contestado pelo facto de que a comparação com a
interglaciação anterior (cerca de 400.000 anos atrás) sugere que 16.000 mais
anos devem decorrer antes que a atual interglaciação do Holoceno chegue ao fim,
e que, portanto, a hipótese antropogênica precoce é inválida. Ruddiman
argumenta, para refutar isso, que isso resulta de um alinhamento inválido de
recente máxima insolação com insolações mínimas do passado, entre outras
irregularidades, o que invalida a crítica. Além disso, o argumento de que
"alguma coisa" é necessária para explicar as diferenças no Holoceno é
desafiado por pesquisas recentes que mostram que todos os períodos
interglaciais são diferentes.
Contudo, considerando que há 8 mil anos o planeta
sustentada alguns milhões de pessoas e ainda assim era fundamentalmente
intocado, é uma constatação que serve como base para a afirmação de que uma
data para o termo "Antropoceno Precoce" não leva em conta os impactos
humanas mais substanciais na Terra.[carece de fontes]
Revolução industrial
Crutzen propôs a Revolução Industrial como o início do
Antropoceno. Embora seja evidente que a Revolução Industrial marcou o início de
um impacto humano global sem precedentes no planeta, grande parte da paisagem
da terra já havia sido profundamente modificada pelas atividades humanas. A
datagem do início do um período Antropoceno, por conseguinte, deve ser
atribuído ao momento em que a humanidade une-se as outras forças ambientais a
moldar o planeta. Fazer isso é difícil, talvez seja mesmo irrealista para identificar
um ano zero de uma era Antropoceno. Na verdade, o impacto humano sobre a Terra
tem crescido progressivamente, com algumas desacelerações substanciais.
Lovelock propõe que o Antropoceno começou com a primeira aplicação do motor a
vapor de Newcomen, em 1712. Até então, o maior nível de energia disponível ao
longo da história humana havia sido limitada a 1 kW por metro quadrado, a
partir do sol
Antiguidade
Um ponto de partida plausível para o Antropoceno
poderia ser há cerca de 2 mil anos, o que coincide aproximadamente com o início
da fase final do Holoceno, a fase climática do Subatlântico.
Neste momento, o Império Romano abrangia grande parte
da Europa, Oriente Médio e Norte da África. Na China, as dinastias clássicas
estavam florescendo. Os Reinos Médios da Índia já tinha a maior economia do
mundo antigo e medieval. O reinos Napata/Meroítico se estendia pelos atuais
Sudão e Etiópia. Os Olmecas controlavam a região central do México e da
Guatemala, e os povos pré-incaicos Chavín se estendia por grandes áreas do
norte do Peru. Embora muitas vezes afastados uns dos outros e misturados com os
ecossistemas de tamponamento, as áreas diretamente afetadas por essas
civilizações e outros eram grandes. Além disso, algumas atividades, como a
mineração, implicavam numa forma muito mais generalizada de perturbação das
condições naturais.
Marcador
Terraplenagem feita na tentativa de restaurar a praia
em Biloxi (Mississippi) que foi danificada pelo furacão Katrina em 2005. Um
marcador que represente algum impacto substancial dos seres humanos sobre o
ambiente como um todo, em escala comparável àquelas associadas a perturbações
significativas do passado geológico, é necessário, em lugar das pequenas
alterações na composição da atmosfera.
Um candidato útil para este fim é a pedosfera, que
pode reter a informações histórias climática e geoquímica com características
que duram séculos ou milênios. A atividade humana está agora firmemente
estabelecida como o sexto fator de formação do solo. Ela afeta a pedogênese,
quer diretamente, através de, por exemplo, terraplenagem, abertura de valas e
construção de aterro para diversos fins, o enriquecimento de matéria orgânica
de adições de esterco ou outros resíduos, o empobrecimento de matéria orgânica
devido ao cultivo continuado, a compactação de sobrepastoreio ou,
indiretamente, por arraste ou erosão, ou acúmulo de poluentes. Solos
antropogênicos são aqueles muito afetados pelas atividades humanas, como a
aragem repetida, a adição de fertilizantes, a contaminação, a
impermeabilização, ou enriquecimento com artefatos (na Base de Dados Mundial de
Referência recursos do solo são classificados como Antrosol e Technosol). Eles
são repositórios recalcitrantes de artefatos e propriedades que testemunham o
domínio do impacto humano e, portanto, parecem ser um marcador confiável do
Antropoceno. Alguns solos antropogênicos deve ser, portanto, vistos como
estratos por geólogos (Global Boundary Stratotype Section and Point), que são
locais onde há sucessões estratos com claras evidências de um evento mundial,
incluindo a aparência de fósseis distintos.
A Grande Aceleração
Em estudo publicado por Will Steffen, professor da
Universidade Nacional da Austrália e do Centro sobre Resiliência de Estocolmo,
na Suécia, era esperado que fossem encontradas evidências de grandes alterações
desde 1750. contudo, um forte aumento nos indicadores só ocorreu a partir de
1950. Segundo ele, essas alterações seriam evidência que entramos em uma nova
época geológica, em que o sistema econômico global é o principal motor por trás
das mudanças que a Terra vem sofrendo. "É difícil superestimar a escala e
velocidade destas alterações. No tempo de uma única vida a Humanidade se tornou
uma força geológica em escala planetária".
Desafios para o futuro
Ao longo da história, a humanidade enfrentou desafios
perante o ambiente em níveis locais e regionais. Atualmente, pesquisa-se
evidências de base para responder a desafios em âmbito global. Novas
iniciativas de pesquisa buscam evidências de que a ciência pode responder aos
desafios futuros do Antropoceno por meio da sustentabilidade. À medida que o
conceito e a consciência sobre o Antropoceno se torna conhecido no debate
público, espera-se que uma mudança no sistema mundial seja possibilitada a fim
de manter a viabilidade das sociedades humanas e mesmo da espécie humana para o
futuro.[carece de fontes]
Em 2009, foi criado um grupo de trabalho a quem foi
solicitado coletar provas da peculiaridade do Antropoceno. O grupo de trabalho
estabeleceu que há evidências inequívocas de que o planeta, sua atmosfera,
oceanos e natureza foram permanentemente modificados pelos seres humanos. A
partir desta nova época, pode ser observado no planeta um pico repentino de
novos minerais e, além disso, foram encontrados em todos os lugares isótopos
radioativos derivados de numerosos testes nucleares e os níveis perigosamente
altos de fosfatos e nitratos nos solos constituem uma prova adicional (como no
filme Erin Brockovich, de Steven Soderbergh).
O efeito de nossa atividade no sistema Terra, no
entanto, não se limita a isso, mas também atua na direção oposta: em direção ao
nosso corpo. Vybarr Cregan-Reid mostra como o corpo humano do Antropoceno
mudou, não como resultado da evolução, mas em resposta ao ambiente que ele
mesmo criou. Com as novas descobertas científicas, experimentos in vivo,
diferentes modalidades de trabalhar, transformações do panorama social e
inúmeras outras mudanças, melhorias e inovações, o mundo que foi modificado,
por sua vez, silenciosamente nos mudou.
As revoluções que marcaram a história da humanidade na Terra (cognitiva, agrícola, científica) mudaram o ambiente externo, mas também o nosso modo de vida teve profundas mudanças, que introduziram ou aceleraram significativamente muitas das patologias existentes: obesidade, doenças mentais, mortes prematuras.
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